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Mestre Álvaro e Os Extraterrestres

Quinta-feira, 24.01.13

Ficheiros Secretos – Albufeira

Casos Arquivados

Contactos referenciados mas não reconhecidos

 

Albufeira – porto de abrigo

 

Quando partimos naquela noite amena de Primavera no barco de pesca artesanal de Mestre Álvaro, nunca iríamos adivinhar o que aquele convívio entre amigos pescadores iria originar, nem a extraordinária aventura que todos iríamos viver – e em que poucos iriam acreditar e os próprios tardariam a aceitar.

 

Éramos ao todo quatro pescadores que tinham partido do porto de abrigo da cidade de Albufeira, apetrechados de todos os utensílios necessários ao exercício da nossa actividade piscatória e ainda de uns pequenos utilitários extras, fundamentais à elaboração de uma boa caldeirada, acompanhada por uma boa garrafa de vinho adquirida no Bananeiro.

 

O nosso satélite em fase de Lua Cheia iluminava tranquilamente a superfície do oceano que banhava a costa litoral da região, enquanto que o mar diante de nós se perdia no horizonte distante, pontuado lá ao fundo por pequenas luzinhas tremeluzindo irrequietas, como se esperassem impacientes pela nossa chegada.

 

O mar à volta da embarcação estava calmo e silencioso, com todos os seus tripulantes admirando o espectáculo nocturno que lhes ia sendo graciosamente proporcionado e que só era perturbado pelo ruído um pouco incómodo – mas ao qual se iam habituando por supressão progressiva – do motor de apoio e em funcionamento, da embarcação utilizada. Passadas algumas horas já nos teríamos afastado do porto de abrigo mais de uma dezena de milhas.

 

A nave alienígena em forma de alforreca

 

Os quatro tínhamos combinado previamente que quando estivéssemos perto das duas da madrugada pararíamos o barco e iniciaríamos aí a nossa grande noite de pescaria. Antes disso não nos poderia faltar no entanto a garrafinha de medronho para nos aquecer o corpo dos efeitos da humidade do mar – que se entranhava progressivamente nos nossos ossos enquanto permanecíamos inactivos – e para nos reconfortar a alma dos sacrifícios da vida deixando-nos um pouco toldados pelos efeitos secundários do álcool, mas conscientes de todos os procedimentos básicos a cumprir para a execução correcta das nossas tarefas seguintes.

 

Lançamos as canas de pesca e os anzóis mergulharam todos na água. Fartámo-nos de rir nessa altura porque na verdade tinha sido – para o Aleixo, um pescador e autodidacta em filosofia e fenómenos misteriosos – um verdadeiro lançamento, com a cana quase a fugir-lhe das mãos e a afundar-se definitivamente sob a superfície do mar. Lá muito ao fundo avistávamos as luzinhas vindas das urbes situadas na costa e ainda a presença dos faróis de sinalização. Nas proximidades da embarcação tudo estava tranquilo e os peixes pareciam querer iniciar o processo de caça ao desgraçado do isco.

 

Eu, o Álvaro, o Américo e o Aleixo estávamos de tal maneira absorvidos com uma história que envolvia sereias e marinheiros – e diga-se também com uma segunda garrafinha de medronho – que mal nos apercebemos de início do fenómeno que se desenrolava por cima de nós. Talvez por ser Lua Cheia não tenhamos de início visto o ponto luminoso a deslocar-se no céu na nossa direcção, mas ao virar-se para oeste o Américo soltou um “vejam” um pouco aflito, ficando de boca aberta a olhar fixamente para cima: um objecto de aspecto e de origem desconhecida acabara por chegar às imediações do local onde nos encontrávamos e pairava agora sobre nós como se nos estivesse a observar e a decidir o que fazer connosco.

 

Mestre Álvaro ficara paralisado com a estranha e inesperada aparição – sabia muito bem que aquilo nunca poderia ser um avião pois já vira muitos a passar e até fora visitar o filho à Alemanha embarcando num avião da TAP no aeroporto de Faro –   e nem um sussurro lhe saía da boca; eu e o Américo até deixamos cair as nossas canas de pesca, os iscos e os peixinhos que começavam a puxar a linha de nylon do carreto, de tal modo fomos apanhados de surpresa na nossa actividade prática de meditação nocturna; quanto ao Aleixo parecia hipnotizado com a ocorrência do misterioso fenómeno e só me lembro de vê-lo nervoso e a tremer balouçando sobre o barco, parecendo entusiasmado com algo neste acontecimento – conforme me confirmou posteriormente – que comprovava definitivamente as suas loucas teorias sobre a existência de outros mundos paralelos ao nosso.

 

A nave alienígena que pairava sobre nós apresentava uma forma, cores e contornos que nos deixaram por momentos arrebatados com a integração quase que perfeita da sua beleza no ambiente oceânico e celeste que a envolvia, parecendo fazer parte desde sempre desse ambiente e até assemelhando-se muito a um seu numeroso e conhecido habitante – existindo à superfície e nas grandes profundezas dos oceanos – as alforrecas.

E no meio daquela loucura ainda ouvi Aleixo balbuciar que “agora o besugo somos nós”!

 

A Entidade em forma de anjo e restantes alienígenas

 

Durante uns minutos a nave alienígena manteve-se numa atitude passiva. Começou então a agitar freneticamente os apêndices situados na sua parte inferior, enquanto toda essa zona envolvente ia alterando as cores que emitia, movimentando verticalmente e em direcção à superfície do mar – onde nos encontrávamos – os seus extensos apêndices, que pareciam um casulo protector de onde sairia a qualquer momento um ser vivo nele residente.

 

E na realidade o que viram foi um ser vivo certamente de origem alienígena e personificando talvez uma das Entidades Superiores, sair de um desses casulos em forma de tubos deformados, fazendo lembrar um anjo flutuando no ar – talvez como no milagre de Fátima, chegou a pensar o crente do Américo – e acompanhado lateralmente por outros seres vivos deslocando-se rapidamente em todas as direcções com movimentos (e formas) que faziam lembrar uma centopeia – talvez os responsáveis pela segurança ou por outras missões de acompanhamento.

 

O Américo pusera-se em altos berros no preciso momento em que as malditas centopeias iniciaram o seu louco rodopio na sua direcção. Enquanto isso eu e o mestre – quase como por instinto – procuramos refúgio desta inopinada loucura enfiando-nos parcialmente na caixa do barco e aí nos escondendo. O Aleixo entretanto metera-se debaixo de uma das tábuas que servia de banco, colocando-se de lado de modo a poder ver o que ia acontecendo. As centopeias rodearam então e como que instantaneamente todo o corpo do Américo – que se agitava de uma forma violenta e desesperada, tentando livrar-se da presença destes insectos maléficos – cobrindo toda a sua extensão numa pequena fracção de segundos.

 

O que se passou a seguir ainda foi mais estranho do que tudo o que já tinha acontecido e passado já algum tempo sobre a data em que ocorreu este episódio, ainda nenhum de nós compreende bem o que aconteceu nesse instante. Até porque verificamos algum tempo decorrido sobre esta experiência haver uma certa discrepância de tempo entre factos ocorridos connosco, em espaços não idênticos apresentados alternadamente. E então uma grande luz como que explodiu à nossa frente surgindo de imediato e directamente sobre nós um buraco que pareceu inicialmente ausente de cor, mas que no milésimo de segundo seguinte sugou toda a luz e a matéria nas suas proximidades. Aí perdemos os sentidos.

 

O sonho faz parte do nosso consciente

 

Durante o período em que estivemos inconscientes sonhamos todos com a mesma coisa. Talvez o Américo tenha tido um sonho um pouco mais perturbado do que o nosso, mas isso compreende-se dada a situação em que esteve envolvido e o estado de terror por que passou. Na sala ocupava mesmo um lugar um pouco afastado de nós e via-se que estava ainda um pouco alucinado, um pouco afastado da realidade. Apesar de tudo isto ser um sonho e da fronteira que separa o real do imaginário ser aqui inexistente.

 

No sonho em que estávamos colocados víamo-nos sentados em cadeiras transparentes suspensas no ar, cercados inicialmente por um ambiente sem referências e com ausência de cor, quase que nos fazendo passar por uns indigentes senis, esperando a morte assistida em qualquer lar da terceira idade. Este estado mental por que passávamos no momento talvez fosse uma consequência lógica da incompreensão e instabilidade da posição em que nos encontrávamos, estupefactos, perdidos e sem apoio.

 

Então num local anteriormente neutro da ampla sala onde nos encontrávamos e num ponto situado muito perto de nós, começou a surgir “uma forma vaga e um pouco difusa nos parâmetros pluridimensionais do espaço” – como certamente diria o Aleixo nas suas divagações cientifico-filosóficas – que progressivamente foi tomando forma, transformando-se num ser alongado e de tonalidades acastanhadas e deslocando-se através de pequenos impulsos no ar efectuados com a extremidade longilínea do seu corpo. A sua imagem – que nos fez lembrar o calmo e belo cavalo marinho – transmitia sabedoria e tranquilidade e a sua presença justificava-se como uma manifestação cordial de acompanhamento e aconselhamento – como se fosse um mensageiro enviado para nos preparar e acalmar para a entrada num outro mundo do nosso mundo. E sem que nada o fizesse prever o ser falou, não se mexendo minimamente e não emitindo qualquer som – o seu corpo movia-se lentamente como se estivesse a emitir uma melodia e o seu verbo chegava de um modo compreensível a todos os nossos órgãos dos sentidos, impregnando-os profundamente de toda a informação necessária.

 

O cavalo marinho aconselhou-os a serem receptivos a tudo o que fossem encontrar no futuro e que procurassem entender sem qualquer tipo de reserva mental, tudo o que pudesse ter sucedido por mais incompreensível que lhes parecesse à primeira vista, já que todas as transformações que se evidenciassem diante dos seus olhos, seriam também uma responsabilidade deles, atribuindo-lhes a obrigação de se possível e futuramente, ainda poderem ajudar o seu mundo a recuperar.

 

O navio POLARCUS inicialmente utilizado na prospecção sísmica

 

Recuperamos a consciência algum tempo após o nascer do Sol com a nossa embarcação a vaguear num mar que continuava calmo mas que ainda mal reconhecíamos. Estávamos ainda um pouco atordoados com tudo o que tinha até aí acontecido connosco, quando um barco de grandes dimensões nos viu e nos acabou por recolher. Chamava-se POLARCUS e mais tarde ficaríamos a saber que anteriormente teria trabalhado para companhias internacionais na prospecção de petróleo e de gás natural na costa do Algarve, sendo posteriormente – já passados uns largos anos – vendido a um operador português que o terá recuperado e reconvertido nos estaleiros navais de Viana do Castelo, para actividades ligadas ao estudo da biologia marinha e patrocinadas por uma organização secreta estrangeira sediada no Algarve.

 

Passamos umas largas horas a repousar na unidade de saúde do navio, recuperando de algumas mazelas sofridas e pondo em ordem as nossas refeições em atraso. Ainda não nos tínhamos debruçado muito sobre o sucedido até agora com os quatro, apenas nos preocupando para já com a nossa recuperação completa especialmente no caso do Américo, o que mais parecia ter sofrido com esta estranha aventura, mas que por outro lado melhor disposição e descontracção demonstrava. Ao fim da tarde fomos convidados pelo comandante do navio a fazermos uma visita à ponte, onde este estaria disponível para nos receber e tentar perceber melhor a situação em que nos encontrávamos de modo a poder-nos auxiliar em tudo o que fosse possível.

 

Ao certo ficamos a saber através de um dos imediatos do navio e responsável intermédio pelas comunicações, que o mais plausível de ter acontecido connosco passaria pelo atravessamento de zonas do espaço contíguas – sequenciais ou paralelas – com autorização deliberada ou não de alguma Entidade com autorização para o fazer. E que controlaria um portal que se teria aberto temporariamente, fazendo deslocar esta tripulação vinda do porto de abrigo de Albufeira para o mesmo ponto de referência espacial, mas com parâmetros que proporcionariam outros parâmetros proporcionais e semelhantes – mas não idênticos – colocando-os sobre a acção de um outro parâmetro abstracto de ligação, o tempo.

 

      

Parente do polvo e adivinho alemão de nome Paul com a sua prole de descendentes

 

Estávamos assim no ano de 2052, com a costa algarvia pejada de enormes plataformas petrolíferas – a esmagadora maioria das quais já desactivada, devido ao agravar da crise económica mundial que terminou com a Grande depressão de 2036, coincidindo com a passagem do cometa APOPHIS e as suas profecias catastróficas – e o turismo completamente obliterado pelas toneladas de produtos tóxicos chegados à sua costa e praias, vindas das explorações de petróleo e de gás natural, autorizadas sem critérios mínimos de segurança e preservação ambiental.

 

Fomos então recebidos pelo comandante na ponte do navio, onde observamos com muita curiosidade todos os instrumentos modernos que equipavam a embarcação – alguns deles muito familiares aos conhecimentos técnicos do nosso colega Aleixo que chegara a prestar serviço enquanto jovem na marinha mercante – e onde nos foram dadas algumas explicações básicas sobre o seu funcionamento e nos propuseram uma visita guiada às suas instalações principais. Foi o que fizemos de imediato marcando uma reunião posterior com o comandante do navio, a realizar após o jantar e no seu gabinete privado.

 

Foi nessa altura que visitamos a parte nevrálgica do navio onde se situava o grande viveiro de espécies nativas da região e que tinham entrado há já muitos anos atrás num processo irreversível de extinção maciça – que só tinha sido evitada integralmente devido ao trabalho voluntário de muitos jovens cientistas pertencentes ao quadro alternativo da Nova UALG – e que tivemos o privilégio de assistir em directo ao resultado de todo este processo, como se de um verdadeiro milagre se tratasse – o milagre da ressuscitação das espécies. Conhecemos nessa ocasião um polvo ainda parente do polvo-adivinho Paul – que nos “apresentou” orgulhosamente todos os seus descendentes – ficando nós a saber a partir do seu tratador a triste história desse animal ainda parente do polvo que agora acompanhava e que se tinha transformado numa figura do mundo do futebol por um mero acidente: há quase cinquenta anos atrás num assalto ocorrido num oceanário privado localizado no Sotavento algarvio e que se ocupava com a investigação da fauna e da flora da região – tanto terrestre como marinha – muitos animais teriam sido roubados, tendo os polvos sido uma das principais vítimas e acabando por desaparecer, alguns deles na panela. Paul terá tido a sorte de não acabar cozinhado, mas a vida que levou também em nada favoreceu a sua vida e a sua saúde, acabando por morrer ainda novo. “Idade limite” que os polvos de hoje já em muito ultrapassaram.

 

Plataforma petrolífera concessionada à REPSOL/RWE situada na costa algarvia

 

O arranque da exploração na costa algarvia começou com a prospecção realizada no Barlavento algarvio, estendendo-se até Espanha e à baía de Cádis.  Os primeiros blocos analisados e possíveis de oferecerem uma boa rentabilização – após estudos profundos do subsolo marinho concessionado, situado numa zona alargada na sua orla marítima – foram localizados nos pontos referenciados como bloco 13 e bloco 14 (a uma profundidade de 200m). Inicialmente dirigida – a prospecção – para uma prometedora exploração de poços situados no mar e considerados como potenciais pontos de extracção lucrativa do petróleo, a sua utilização acabou por ser partilhada também pela exploração e extracção de uma outra matéria-prima valiosa o gás natural. Com o tempo e devido a estratégias de investimento e de produção intensiva de mais-valia com prazos de actividade/validade muito limitados, as plataformas foram-se espalhando por toda a costa como cogumelos, acabando muitas delas por ser definitivamente abandonadas e entregues à guarda das autoridades locais.

 

Foi para uma dessas unidades que fomos transportados ainda antes da meia-noite transportados de helicóptero a partir do navio POLARCUS, após todas as despedidas e agradecimentos dispensados a toda a sua simpática tripulação e depois de uma pequena conversa – como combinado – com o seu comandante no seu gabinete privado. A conversa ainda foi bastante extensa e no seu final o comandante focou-se essencialmente na nossa viagem de regresso e de como iria proceder para que tal sucedesse rapidamente e com todo o sucesso possível para nós. Com este objectivo iria colocar-nos numa dessas instalações parcialmente desactivada onde nos poriam a par de todos os procedimentos técnicos a tomar para que tudo se cumprisse segundo o programado e sem nenhum tipo de acidentes. Todos nos recordamos ainda daquela conversa tida naquele fim de noite, da troca de opiniões livres que nos uniram ainda mais, dos conselhos partilhados e retransformados e acima de tudo, da ligação que esta gente do futuro ainda sentia com a sua mãe-natureza.

 

A simpática e bela alienígena responsável pelo nosso regresso a casa sãos e salvos

 

O helicóptero aterrou suavemente sobre o local sinalizado na plataforma, enquanto dois indivíduos uniformizados aguardavam tranquilamente pela nossa saída da cabine, de modo a indicarem-nos o caminho a seguir até chegarmos aos nossos alojamentos temporários. A noite estava fria e as poucas luzes que iluminavam o trajecto escolhido não chegavam para nos dar uma sensação de maior segurança e protecção, já que a escuridão e a altura a que estávamos do mar nos atirava para cenários de quedas vertiginosas e fatais nas profundezas geladas e desconhecidas do oceano. Chegados ao nosso destino os dois funcionários deixaram a nossa companhia, sem que antes nos tivessem informado das ordens que lhes tinham sido transmitidas pelos seus superiores e que nos solicitava que aguardássemos um pouco por uma chamada a efectuar brevemente – cerca de uma hora que poderíamos dispor à nossa vontade.

 

À uma hora da manhã fomos recebidos por uma estranha mas bela criatura alienígena, denotando ser ainda jovem e do sexo feminino. Aguardava-nos de pé à entrada do seu grande alojamento, numa sala de entrada de grandes dimensões e guarnecida com diversas estantes cheias de livros e de outros documentos e completada com diversos aparelhos electrónicos com diversos tipos de utilização. No tecto da sala um enorme candeeiro com dezenas de lâmpadas iluminava regularmente todo este conjunto e contribuía decisivamente para a sua magnífica decoração. Cumprimentamo-nos, sentando-nos de seguida à volta da sua secretária e deixando-nos ficar silenciosos a aguardar a sua primeira palavra, enquanto que inconscientemente nos íamos deixando levar pela força e pela juventude que dela emanava e que nos proporcionava partilhar apenas com a sua presença.

 

A constelação do Escorpião terra natal da criatura alienígena

 

A bela criatura começou por nos dizer ser originária da constelação do Escorpião, localizada numa região muito próxima de uma nuvem escura denominada de LUPUS 3, onde muitas estrelas novas se tem vindo a formar nos últimos milhões de anos – o seu sistema de origem seria um deles – e situada mesmo ao lado de outro imenso grupo de estrelas, extremamente brilhantes por já terem emergido definitivamente da sombra dessa nuvem.

 

De seguida – e talvez para nos libertar de todos os constrangimentos que a situação em que nos encontrávamos nos colocava – a nossa anfitriã confidenciou-nos em privado ter sido uma das primeiras colaboradoras ao serviço da RTA (Rede de Telecomunicações Aeroespaciais dirigida pelo ex-autarca algarvio Dióspiro Silva) na segunda década do século XXI, tendo iniciado a sua função específica de Inspectora Colateral na concessão Lagosta situada no offshore profundo da Bacia do Algarve. Opção de que se teria arrependido rapidamente – aderindo a uma organização não governamental e não comportamental da região, ligada ao estudo da biologia marinha e a um grupo de apoio à rede clandestina de pescadores artesanais – transportando-se de imediato e por obrigação ética, à clandestinidade oficial.

 

E então entramos num cenário diferente.

 

A mulher curvou-se lentamente para a frente, enquanto as partes laterais do seu corpo pareciam distender-se em seu redor, envolvendo-a numa áurea brilhante que se ia alargando proporcionalmente, em diferentes planos intersectando-se no espaço.

 

O espectáculo que os quatro visionávamos tinha-nos deixado estáticos, sem falar e estupefactos, quase que sem nos sentirmos respirar ou percepcionarmos o pulsar do nosso coração – era como se fossemos personagens apenas presenciais actuando num espaço solitário fechado e sem denotarmos a mínima preocupação com os cenários, como se a nossa simples presença, fosse suficiente para a confirmação e referência ao nosso trilho de passagem.

 

Ouviu-se por essa altura um levíssimo sussurro e simultaneamente as luzes apagaram-se e a mulher desapareceu. E perante nós surgiu a altura do espaço se expor à sua constante e cíclica transformação – conjugando energia e matéria num movimento omnidireccional – daí emitindo decisivamente um jacto de luz a grande velocidade e lançando-nos num voo aventureiro por este Universo longínquo e misterioso, até ao ponto de encontro desse planeta para nós já tão familiar, apesar de nunca o termos sentido e de estar situado a mais de 600 anos-luz do nosso planeta.

 

      

O planeta da bela alienígena era árido e desértico o que não impedia que a raça que o habitava o transformasse constantemente – e até o expandisse – preservando sempre a sua beleza original

 

Era um planeta seco e desértico pontuado aqui e ali por não mais do que uma vintena de lagos de diferentes formas e dimensões, sendo que pelo menos em metade deles, uma densa camada de vegetação rodeava geometricamente esses depósitos de água, decorando a paisagem com cores vivas e berrantes e tornando-a quase irreal. Sobre o planeta e como que suspensas do ar, um número indeterminado de estruturas artificiais – montadas por sobreposição – ofereciam aos nossos olhos uma visão formidável e demolidora, da vontade e determinação de qualquer ser vivo em se transformar transformando-se, mantendo ao mesmo tempo e como padrão evolutivo, a cadência da beleza natural.

 

A toda a nossa volta as estrelas e galáxias rodavam numa loucura infernal e irresistível – característica patológica dos mundos jovens, cruéis e rebeldes – acabando por nos lançar como resposta numa vertigem sem fim à procura da miragem perfeita. E então tudo explodiu e se vaporizou, num choque violento e de titãs, ocorrido entre duas jovens galáxias que progressivamente se foram aproximando, devorando e destruindo, terminando com os parâmetros do mundo anterior e recriando outro na mesma zona do espaço. Aí compreendemos que a nossa bela alienígena era uma órfã apátrida do mundo que nos levara intencionalmente numa viagem pedagógica até uma recordação muito importante para ela, apesar de hoje já não passar de um mero e limitado vestígio, de um registo do seu mundo passado e agora virtual.

 

E então voltamos ao cenário anterior.

 

Finalmente direccionaram-nos para um novo piso da plataforma petrolífera onde fomos colocados à espera num amplo e bem equipado gabinete, que dava entrada directa a uma outra dependência e cujo acesso era reservado e protegido por um sistema electrónico de segurança. Ao fim de pouco tempo surgiu um técnico ligado aos CTT (Comunicações e Transportes Terrestres) que respeitosamente nos cumprimentou como um verdadeiro anfitrião e nos pôs ao corrente de todos os procedimentos técnicos a cumprir, para efectuarmos em segurança a nossa viagem de regresso ao ponto de partida do qual tínhamos sido abduzidos. A operação final de instalação e transporte realizou-se em muito pouco tempo: fomos os quatro introduzidos numa pequena cápsula, suspensa no ar através da aplicação de fortes cabos extensíveis e controlada do exterior por um operador especializado, trabalhando lateralmente numa consola portátil aí colocada e responsável pelo cumprimento da tarefa da nossa recolocação nos parâmetros espácio-temporais iniciais.

 

No regresso o nosso pensamento era só um – o que fazer com esta experiência?

 

Só ouvimos inicialmente um pequeno ruído de fundo, tendo subitamente surgido um grande clarão que nos engoliu e deixou completamente atordoados, acabando nós por cair de seguida num estado letárgico e de semi-inconsciência. Acordamos na nossa embarcação com todo o espaço que nos rodeava inalterado e com os relógios a marcarem a hora da partida. Ainda ficamos por ali umas horas tentando digerir e compreender o melhor possível o que nos tinha acontecido, bastante perturbados e receosos das reacções que as pessoas poderiam ter se contássemos tal história. E contra tudo o que tínhamos prometido à bela criatura alienígena, calamo-nos!

 

(imagens – google.com)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 16:54