ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
A minha ignorância
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Na Toca do Coelho?
Portugal 2011
Sócrates – o filósofo ateniense – viu o seu nome usurpado durante anos no meu país de doutores e engenheiros. E ninguém veio defender o homem (apesar de ambos serem ligados de modos completamente distintos no espaço e no tempo, com razão ou não, à homossexualidade).
Já vamos para 2011 e lá continua “o outro” – o das habitações de emigrantes na zona da Covilhã –, pronto a refazer com o seu habitual carinho cretino e mau humor, o servicinho que nós lhe recomendamos: pretende servir a pátria, como muitos outros que se encontram em fila de espera e recusa-se a abandonar o árduo trabalho, que o seu país lhe pediu para cumprir.
Estes mártires sabemos hoje nunca nos abandonam. E a prova disso, é a sua conta bancária na face oculta da Lua, que esta justiça cega e virgem tanto protege – como um OVNI dos ficheiros secretos.
E todos sabem que a inveja é um traço comum dos portugueses – porque a verdade anda por aí!
E agora vêm aí os coelhos – mamífero que por vezes se reproduz, em quantidades insuportáveis.
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Negação
O Mundo
Não chove mas podia estar a acontecer. É de dia mas podia ser de noite. O que eu digo pode ser negado que ninguém se sente enganado. Nem ouvem o que dizemos e mesmo quando perguntam já lá não estão quando damos a resposta. O dia pode ser bom ou mau que não interessa o que tem significado é a proximidade do fim, hora de comer, hora de dormir, tempo de trabalhar. Os escravos nem conseguem parar às vezes mesmo para obrar mas sempre serão insultados porque nem se sentem escravizados. O gajo que nos tramou, merece o nosso respeito – um dia poderemos precisar dele e ele nem que não se lembre de nós pelo menos nos desprezará e nos deixará sós, tranquilos, agonizantes, de esperança em punho. Sem chefes o mundo estaria desorientado e perdido, face à nossa destreza na imbecilidade decretada, pelas instituições de mestres e de alunos. O cúmulo da nossa decadência está na corrupção generalizada e no amor que temos pelos nossos “fornica dores”: adoramos o que nem o espelho consegue reflectir apenas porque alguém ganhou dinheiro com a nossa imagem, nos disse nada e nos ignorou, como alguém um dia fez a Judas, o nosso melhor amigo e companheiro. E ficamos todos contentes por sermos transparentes!
Nós somos a decadência do mundo – só nos resta a esperança de um dia qualquer, recuperarmos à força do nosso corpo e alma a nossa infância perdida e exigirmos o fim da violação sistemática do mundo com que sempre sonhamos e acreditamos.
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Mar
Albufeira - Praia dos Pescadores - Pontão - Foto do Blog "Passeio dos Tristes"
À noite vem o silêncio.
E o Mar faz o seu trabalho.
Em casa, bem lá no fundo, ouço o seu respirar ofegante, persistente, convincente, aproveitando a calada e o negrume da noite.
Mas é só de uma normal escuridão que se trata, às vezes premiada por um luar de noites fantásticas.
É de noite que se vê a vida, a preto e branco, corrigida de uma poluição que nos é imposta como verdade, clara e apresentada de dia.
Num museu, podemos colocar este pontão, que tão bem descreve a nossa sociedade em construção e destruição, muito bem programada por doutores e engenheiros.
Antigamente fazia-se o mesmo, mas com armas na mão.
Aqui a arma é o Mar!
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Vergonha
Fome
A barriga está cheia de peru, recheio, batatas, arroz, farofa, bolo rainha, chocolate, torta e comida, tudo bem regado por tinto, champanhe, Vinho do Porto e bebida. Ainda estou à espera que me chamem, para uma douta opinião, sobre a crise e a pobreza em Portugal. Não escolho caminhos e sou modesto no trajecto – RTP, SIC, TVI, TV Cabo, tudo serve para angariar fundos, para a minha Passagem de Ano; e antes que faça a digestão e o respectivo comprovativo, inspiração é o que não me falta. Como patriota e português que sou, recuso o Whisky, aceito o bagaço ou então, o medronho. E dou uma esmola a quem me apoiar!
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Mosca & Abelha
Paisagem - António Mongiello
A Maria Mosca era prima da Isabel Abelha.
Tinham ido comer as duas a casa da Joaninha dos Campos e regressavam tagarelando sobre a vida de cada uma delas.
Nada podia ser melhor que um dia de Sol, sem sombra, sem vento e com bichinhos por todo o lado.
A relva estava verde de cor, as flores faiscavam de felicidade e o caminho serpenteava feliz, ao lado do rio.
Maria Mosca era a mais velha, esvoaçando apressada ao lado da prima, rechonchuda e gordinha de tanta doçura.
Nesse dia de ocasional reencontro, o destino juntara-as no mesmo percurso, no mesmo espaço, à mesma hora, no mesmo instante.
O trabalho de uma era o prazer da outra, mas se uma virava à direita, a outra logo rodava à esquerda, evitando pequenos e inadvertidos deslizes, contrapondo em contraponto, toda a beleza irradiante do seu corpo.
A terra castanha estendia-se por todo o lado, a água escorria por sulcos abertos pela força da natureza, as folhas caíam debaixo da força da luz intensa da estrela, o céu gritava no seu mais profundo e original azul e lá iam elas, sussurrando ao tempo e contando-nos histórias de encantar.
Isabel Abelha ficara de estar na Casa da Colmeia pouco depois, do nascer do dia.
A tia preparara-lhe um saboroso bolo de mel e toda a noite tivera o pesadelo de se deixar esquecer: a vida era doce demais para se deixar escapar qualquer momento de felicidade e seria uma pena atrasar-se e deixar escapar esta oportunidade.
Na época das grandes cidades, tudo se revolveu sobre a terra, os corpos foram crescendo, os trilhos derivando, os animais esquecendo, os corpos desaparecendo e no contexto completo da vida, andando sempre em frente e tropeçando, sem ver obstáculos.
No fim do caminho trocaram carinhos e despedidas, juras e risadinhas: o espelho de água reflectia as suas imagens e o Sol aquecia todo o mundo.
Que bom que era viver!
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Hoje fui ao campo
Bicharoco
Hoje fui ao campo, dar de comer aos bichinhos. Passei pelo Solar para almoçar, mas já não havia pezinhos – lá nos contentamos com uma vitela estufada e cozido à portuguesa. De seguida passei pelo super e trouxe mais umas coisinhas, umas para mim, outras para a bicharada. O dia estava frio mas não chovia, o campo estava verde e molhado e o caminho lá estava, entre buracos de água, que por aqui e ali, serpenteava entre casas, muradas e paradas. O tempo cinzento rodeia este mundo com a chuva sempre à espreita. No início do asfalto virei à esquerda e ao fundo, lá apareceu o Noddy a correr: abri o portão com o cão sempre à perna, tentando-me dar as boas tardes com as patas no ar, chafurdadas de lama, prestes a saltar. Parei a Ford e lá fui na minha rotina inicial de chegada – sacos, casa do cão, chaves, abrir a porta, entrar, liga o aquecedor na sala, ligar a TV, ir à cozinha preparar de tudo um pouco e pôr a comida a fazer, isto tudo sempre a andar e com pouco tempo a perder. É que o cão pequeno ao sentir a chegada, nunca mais para de berrar e é vê-lo a atirar-se à vedação, abanando-a freneticamente, com todas as unhas e dentes. Ao abrir a porta sai tudo em debandada e num abrir e fechar de olhos, deixa-se de se avistar os cães. Os ratos tiveram sorte e lá resolvemos limpar as gaiolas – todas arrumadinhas, que até ao voltarem, até estranharam. Enquanto a comida se faz a menina vai fazendo companhia aos bichinhos, tropelias seguidas umas às outras, saídas e entradas a correr, brincadeiras de dar cabo de tudo, rosnadelas barulhentas e até, por vezes, para educar o mais novo, umas mordidelas, mas só de raspão, passando muitas vezes ao lado. Esperamos todos pela papa, cheira bem, mas não me deixam comer. À vez, cada um come a sua parte da panela, enquanto se renova a água e os biscoitos de cão. O dia cai depressa, a escuridão espalha-se pelo campo, a humidade e o frio começam a instalar-se e a luz agora é a dos candeeiros exteriores. Por vezes a Lua Cheia dispensa a iluminação e o campo torna-se diferente e irreal, exteriorizando a sua beleza naquela escuridão iluminada. O Inverno começara há poucos dias, o Natal era amanhã e era preciso ir fazer o bacalhau. Fechei tudo, desliguei a água e parti do Algoz para Albufeira. No caminho não choveu e à chegada, lá estava a festa no acampamento cigano de Natal. Depois veio o frio e começou a chover mas a festa continuou.