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Psicose

Sexta-feira, 25.11.11

Definição

(WWW)

 

 

“Estado psíquico no qual se verifica certa "perda de contacto com a realidade". Nos períodos de crises mais intensas podem ocorrer (variando de caso a caso) alucinações ou delírios, desorganização psíquica que inclua pensamento desorganizado e/ou paranóico, acentuada inquietude psicomotora, sensações de angústia intensa e opressão e insónia severa. Tal é frequentemente acompanhado por uma falta de "crítica" ou de "insight" que se traduz numa incapacidade de reconhecer o carácter estranho ou bizarro do comportamento. Desta forma surgem também, nos momentos de crise, dificuldades de interacção social e em cumprir normalmente as actividades de vida diária.”

 

Artigo

Caro funcionário público quer trocar?

 

 

Caro funcionário da República: hoje sou apenas o portador de uma mensagem do meu primo (sim, as bestas reaccionárias também têm primos). O meu primo trabalha numa empresa que, como tantas outras, enfrenta imensas dificuldades. A hipótese da falência deixou de ser uma coisa longínqua e, por arrastamento, o desemprego passou a ser um cenário possível. E é assim há muito tempo. Há muito tempo que este pesadelo está ali ao virar da esquina. Portanto, a mensagem do meu primo começa assim: V. Exa. está disponível para trocar o seu vínculo vitalício ao Estado por um contracto ameaçado pela falência e pelo desemprego? Quer trocar 12 meses certíssimos por 14 meses incertos?

Depois, o meu primo gostava de compreender uma coisa. Se a empresa dele fechar, ele cairá no desemprego e terá de procurar emprego novo. Mas se a repartição pública de V. Exa. fechar, o meu caro funcionário da República irá para o "quadro de excedentários". Por que razão V. Exa. tem direito a esta rede de segurança que mais ninguém tem? Porquê? Em anexo, o meu primo gostava de propor outra troca: V. Exa. está disponível para trocar a ADSE pelo SNS? Sim, porque o meu primo tem de ir aos serviços públicos (SNS), mas V. Exa. pode ir a clínicas e hospitais privados através da ADSE. Quer trocar? E, depois de pensar na ADSE, V. Exa. devia pensar noutro pormenor: a taxa de absentismo de V. Exa. é seis vezes superior à das empresas normais, como aquela do meu primo. E, ainda por cima, o meu primo não tem uma cantina com almoços a 3 euros, nem promoções automáticas. Mas vai ter de trabalhar mais meia hora por dia.

Para terminar, o meu primo está muito curioso sobre uma coisa: de milhares e milhares de famílias que deixaram de pagar a prestação da casa ao banco, quantas pertencem a funcionários públicos? Quantas? Eu aposto que são pouquíssimas. Portanto, eu e o meu primo voltamos a colocar a questão inicial: V. Exa. quer trocar? V. Exa. quer ir trabalhar para uma empresa real da economia real que pode realmente entrar em falência e atirar os empregados para a realidade do desemprego? V. Exa. quer trocar a síndrome do funcionário público pela síndrome do desemprego?

 

Henrique Raposo – Jornal Expresso

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 22:30

Memórias

Sexta-feira, 25.11.11

Deixem falar os calhaus!

 

Cheguei a Albufeira em 1984. Já por cá tinha passado nos anos 70, mas pouco me lembro duma terra que, para quem estava a chegar de automóvel, lhe parecia enterrada num buraco. Passava-se de lado e continuava-se para Faro, visitava-se a Ilha com o mesmo nome e esfomeados, lá íamos comer bom peixinho a Tavira. Ao fundo ficava Espanha e um barco para atravessar o Guadiana e aproveitar-se a proximidade entre as duas margens do rio, para ir visitar outro país e comprar uns chocolatinhos. Assim, passados alguns anos aqui me fixei e passei a dar mais atenção ao dito cujo buraco: uma terra de pescadores que após o 25 de Abril e com o arranque definitivo e brutal da industria turística, se modificou completamente, abandonando todas as suas tradições e cultura, concluída com a destruição progressiva e inevitável de todos os vestígios arquitectónicos das casas típicas da região e na exterminação por deslocação dos seus naturais, agora transformados em verdadeiros indígenas, ainda por cima em vias de extinção – mais outra vantagem turística. Ainda cheguei a conhecer e a conviver com alguns deles, mas já se desvaneceram na minha memória face à força do progresso.

 

Albufeira passa a cidade no ano de 1986

 

Lembro-me ainda de se ter que percorrer nas descidas até ao Algarve, a sinuosa estrada da Serra do Caldeirão, fronteira com o Alentejo e início do fim da viagem até se começar a ver o mar. Parava-se no alto da serra e retemperavam-se forças antes do assalto final, muitas vezes feita de noite. E da estrada para Silves, caminho de muitos outros passeios de carro e ladeada por extensos campos cobertos de intermináveis laranjais que, com instinto maternal, cobriam a estrada e protegiam-nos das inesperadas intempéries ou dos fortes raios de sol. E da aldeia de Paderne, do seu misterioso e solitário castelo, do rio sobre a ponte romana, dos citrinos à mão de semear e até de ter morado no Purgatório. Hoje nada disto existe, desapareceu ou foi reformado, como a estrada principal de acesso à cidade de Albufeira, com as suas árvores a receberem-nos à chegada, em homenagem ao viajante acabado de conhecer, mesmo antes de nos apresentarem, a sua linda praia e o seu lindo mar. A própria cidade já se desvirtuou e foi abandonando as suas origens: destruiu-se a praia dos pescadores, que agora tem pedra polida para se deslizar até ao mar; destrui-se o jardim da parte antiga da cidade de tal maneira, que o centro e a alma desta terra, teve que se deslocar para a rua dos bares da Oura, para todos podermos em conjunto, portugueses e estrangeiros, esquecer todos os males com uma grande bebedeira – mais outra vantagem turística. E que dizer dos critérios paisagísticos adoptados, da opção por escolhas dúbias na distribuição das pessoas e das suas habitações, ou seja, no tratamento dos espaços ocupados, todos referenciados ou subsidiados em torno de rotundas bem distribuídas pela cidade, de preferência com locais de alto grau de consumo na proximidade e comodidade na deslocação a efectuar até eles – cimento, mais cimento, alguma verdura e vários centros comerciais. No topo do bolo a cereja e o disco voador municipal, que jamais levantará voo, devido a um erro fundamental – nenhuma máquina de brindes nos dará algo em troca, se não metermos lá a moedinha e o que de lá se receberá, nem mesmo o esforço merecerá.

 

Albufeira – Praia da Falésia – 1984

 

Albufeira ainda dispõe de zonas bonitas e coloridas, que foram preservadas do assalto/sobressalto do homem, isto porque a natureza ainda dispõe de armas para se defender e sobreviver, sendo uma delas a força bruta do mar, que banha com delicadeza e amor, as praias que se oferecem para o receber. O mar não suporta a violação do tubo de dejectos da Praia do Inatel, o pontão usurpador das águas da Praia dos Pescadores, odeia o elevador marginal da Praia do Peneco e como vingança contra os doutores e engenheiros da marina, entope com areia a saída do porto de abrigo, prejudicando a saída dos barcos mais importantes. Os pescadores – com dezenas de anos de espera por melhores condições de vida e de trabalho e sempre esquecidos e esmagados pela obsessão única pelo turismo – lá se vão safando, desde que engulam logo o peixe ou o façam desaparecer, por falta de câmaras de refrigeração. Mas ainda dá muito prazer ver Albufeira antiga na descida para o Inatel; usufruir da transição pacífica e colorida entre a terra e o mar, para quem vem do interior para apenas sentir e mergulhar os pés, nesta praia sempre renovada pela passagem constantes das águas; ou então, como último bastião da tolerância e como derradeira desculpa para o pobrezinho, o quentinho agradável deste ameno destino do sul de Portugal – mais outra vantagem turística!

 

Feira Franca de Albufeira - 2011

(Foto do Blogue Passeio dos Tristes)

 

A vida pode ser bela e vivida num espaço bonito, se elevarmos as pessoas e a generalidade dos seus jovens, à categoria de crianças, felizes e divertidas.

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 22:06