Lendária cidade peruana situada no topo da montanha
(antes do arqueólogo Hiram Bingham iniciar escavações em 1911)
A beleza do contraste expressa nesta imagem, obtida apenas utilizando o preto e o branco como cores, é um exemplo magnífico de que o mundo se estrutura em profundidade e de que, a simples aplicação de duas cores fortes, chegam para definir toda uma paisagem – e com a sua interpretação, tentar reconstruir o passado. Temos a sensação de uma certa dispersão no caos organizativo da montanha e neste urbanismo vertical, que parece agarrar-se-lhe de modo a acompanhá-la desde a base até ao seu cume.
Antepassados nossos habitaram estes mundos, que ainda não há muitos anos nem suspeitávamos terem alguma vez existido. A profusão de casas escarpando as encostas e com os seus caminhos serpenteando entre elas, transmitem por outro lado uma imagem de força dos habitantes locais, de modo a poderem lutar contra as forças adversas da natureza – aqui desafiando-as – e ainda a união segura e íntima de um povo, na luta pela preservação dos seus objectivos económicos, sociais e logicamente culturais.
Algo ficou do seu passado, para o registo da sua memória futura. Ao mesmo tempo que uma nostalgia por vidas passadas que não podemos compartilhar, nos invade lenta e profundamente a nossa alma, deixando para trás vestígios de vida das feridas de tantas lutas passadas pela sobrevivência da nossa espécie – que ainda hoje se mata, sem remorsos nem preconceitos – surge a alegria da persistência feroz que temos pela vida e pela sua preservação e por toda a beleza que ela ainda nos pode proporcionar, assim como aos nossos descendentes. A imagem da luta passada de outros para alcançarem a sua felicidade, pode ser a rampa de lançamento para a descoberta e conquista de outros espaços.
(imagem – NGM)