ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Alienígenas de Natal
Ficheiros Secretos – Albufeira
Anexo – História do Natal Solidário do Zé e do João na Companhia dos Alienígenas
(história que nunca mas mesmo nunca deveria ser imaginária)
A quadra natalícia já está aí a chegar e a cidade de Albufeira ainda se encontra mergulhada na escuridão miserável e aterradora em que os nossos governantes mergulharam o país, com a prática sistemática de roubos milionários ao Estado, mas considerados pelos estadistas e seus associados, tecnicamente legais. Falida – e com o ex-Presidente fugido para outras paragens mais prometedoras – a Câmara Municipal nem sequer se dá ao trabalho de editar uma nota oficial explicativa para o sucedido, numa cidade sempre tão bem iluminada e decorada por altura do Natal, em épocas ainda muito recentes. Mas – como nossos anjos da guarda – os alienígenas estiveram sempre atentos e solidários, com os atuais e graves problemas que afetam o nosso quotidiano.
O vendedor alienígena veio propositadamente a Albufeira oferecer gratuitamente o conjunto de música ligeira Europa para atuar na próxima Passagem de Ano
O senhor Zé de Monchique era um sexagenário entusiasta em astronomia, que tendo sido forçado a abandonar a sua arte artesanal de produção de aguardente de Medronho no tradicional Alambique (por imposição da CEE), resolveu “reconverter-se” e dedicar-se exclusivamente à observação e estudo do céu e de todo o espaço exterior em seu redor.
Para tal decidiu adquirir um telescópio com umas características técnicas já muito apreciáveis para um iniciado nestas lides – que um amigo seu alemão lhe ficou de arranhar a preço de saldo, numa próxima visita à Alemanha – ao mesmo tempo que se mudou de armas e bagagens para uma habitação bem lá no alto da Foia, onde pensava instalar a sua nova base de vida e o local privilegiado de observação, investigação e estudo.
De início a adaptação ao novo local tornou-se um pouco difícil, não só pelo frio e pelo vento que assolava amiúdes vezes a montanha, como pelo isolamento a que agora se encontrava entregue, longe da turbulência do litoral algarvio e do convívio dos seus velhos colegas de infância, ainda vivos e residentes na serra de Monchique. Mas o prazer associado à solidão mental desejada – e dedicado unicamente à observação da serra que o acolhera e do Universo que a envolvia e protegia – suplantava todas as dores físicas que pudessem afetar, o seu normal processo cognitivo.
E foi numa dessas noites dedicadas à observação do esplendoroso céu noturno que se abria sem limites visíveis por cima de si – na companhia do seu telescópio e contando com a ajuda do seu colega João do Malhão, também um entusiasta em astronomia – que sucedeu aquilo que ele nem ninguém esperaria mas que lá no seu íntimo e inconscientemente há muito desejava. Numa das suas observações astronómicas efetuadas regularmente aos anéis de Saturno – era fantástica a visão de uma esfera longínqua guardada por uma profusão de anéis que a circundavam e pareciam querer proteger – as indicações introduzidas no computador do seu telescópio, tinham-no enviado por erro e inadvertidamente, para as coordenadas do vizinho planeta Júpiter.
E aí ficara perplexo ao avistar um pequeno ponto não identificado e apresentando uma tonalidade um pouco esbatida, deslocando-se rapidamente na escuridão do espaço e não parecendo com as características que apresentava, ser qualquer tipo de corpo celeste até agora descoberto e conhecido. E mais espantado ficou – após alguns cálculos matemáticos realizados pelo seu colega João, muito bom em cálculo mental – quando verificou que este objeto não identificado teria origem no satélite de Júpiter Europa e como destino final de viagem o nosso planeta Terra.
Tal como o nome sugere o grupo Europa é oriundo de um dos satélites do planeta Júpiter optando o grupo por atuar em Albufeira para fugir ao gelo e ao frio do seu planeta
Isto pôs Zé de Monchique num estado de grande alvoroço que desde logo contagiou o seu colega de aventura: parecia uma criança que descobrira um novo brinquedo e que só pensava em lhe começar a mexer, mesmo antes de saber como se fazia ou mesmo do que se tratava. A primeira coisa que fez foi informar-se o mais possível sobre a lua de Júpiter Europa e tentar ver em ilustrações qual seria o seu aspeto. De resto não descobriu nada de anormal, nem histórias sobre a possível existência de vida nas redondezas destes corpos celestes. Que se soubesse apenas alguns cientistas apostavam na existência de vida na lua Europa – nas profundezas dos seus oceanos e como na Terra – e até alguns deles, numa futura colonização de Europa pelos humanos.
Numa das noites seguintes de observação noturna – registada no seu diário como a terceira – e dirigida para o mesmo setor do espaço onde se surpreendera anteriormente, tentara arranjar outros vestígios que comprovassem a sua observação inicial, um ponto, um rasto, uma diferença, mas talvez pela sua falta de experiência e limitação técnica do seu aparelho de observação, nada de diferente ou estranho detetara, o que o estava lentamente mas inexoravelmente a deixar num estado lastimável de ânsia e de alguma irracionalidade.
Fora então que João do Malhão tocara levemente no ombro de Zé de Monchique e balbuciando algumas palavras incompreensíveis, lhe apontara o objeto estranho que silenciosamente ali aterrara, enquanto um ser desconhecido descia apressadamente a rampa de acesso à sua nave, indo urinar ao lado dela e na base de uma árvore.
O espanto foi imediato. Ambos ficaram paralisados a observar, enquanto apenas se ouvia em redor, o som galopante dos seus corações. O certo é que esta cena foi-a de pouca duração, já que o alienígena se rebelou como um espetacular relações públicas, induzindo imediatamente os seus interlocutores a um estado de espírito capaz de aceitar até o impossível, num ambiente de amizade criado com a ajuda solidária de um inocente psicotrópico de largo espectro e associando conjuntamente parâmetros fundamentais para o cumprimento da sua missão, como o da aceitação e o do prazer.
O grupo Europa manifestou-se solidário com o agravar das condições de vida dos residentes em Albufeira, decidindo optar pela nossa terra e contando com todo o apoio da RTA
O objetivo desta missão era mostrar a solidariedade da lua Europa para com todos os seres habitando o planeta Terra – neste caso o Algarve e mais particularmente a cidade de Albufeira – nestes tempos de dor e sofrimento generalizado, em que viviam a maioria das populações empobrecidas e abandonadas por um poder egocêntrico, inapto e revoltante. Por isso tinham decidido levar até Albufeira o mais destacado grupo de música ligeira também denominado Europa, propondo-se abrilhantar a quadra natalícia com concertos abertos a toda a população, incluindo mesmo o momento da comemoração da Passagem de Ano.
Sempre muito cordiais e atenciosos com todos os presentes, os elementos do grupo alienígena comprometeram-se a colaborar na instalação da Iluminação de Natal em todo o concelho – para muita gente já perdida pela falência financeira da câmara – prontificando-se de imediato a emprestar um dos reatores portáteis e de urgência que equipavam a sua nave e a cederem alguns milhares de lâmpadas economizadoras, que tinham sobrado de um contrato anteriormente estabelecido com uma delegação alemã dos Alienígenas Anónimos.
Quanto ao fogo-de-artifício a ser utilizado durante a cerimónia e espetáculo da passagem de ano foi extremamente precioso o conhecimento que João do Malhão tinha sobre alguns profissionais do setor da pirotecnia residentes no norte de Portugal, conseguindo por um lado contratos vantajosos para os produtores deste evento – já que não seria dada nenhuma explicação credível e aceitável pelo Fisco para a origem do dinheiro – e ainda ajudar cidadãos trabalhadores e competentes a mostrarem as suas competências e a ganharem o seu justo e merecido salário.
Espera-se que as autoridades locais que agora se ofereceram para um novo protagonismo meramente económico e pessoal, esquecendo quem os elegeu e mostrando apenas interesse na conquista de novos cargos entre as elites privilegiadas deste país em tudo empobrecido – como é o caso do sucedido na RTA (Rede de Telecomunicações Aéreo-Espaciais) e na AdP (Alienígenas desiludidos de Plutão) – não se venham agora intrometer nesta planificação independente, em procura de protagonismo ou de alguma possibilidade de reforço da sua receita pessoal.
Até as crianças e os velhinhos se podem tornar violentos, estando dispostos a colocarem as suas pistolas de brincar a disparar raios laser e as suas bengalas de apoio, a atacarem como as espadas luminosas da Guerra das Estrelas.
(imagens – retiradas da Web)