ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
O Encontro de Tó e Mané com os Extraterrestres
Ficheiros Secretos – Albufeira
Historiazinhas ao Contrário
“História contada por um extraterrestre ao seu filho e passada com extraterrestres”
Os amigos de infância Tó e Mané viveram a sua infância na aldeia de Paderne
Eram como matéria e antimatéria: sempre que estavam juntos a vida explodia de novo e sendo assim só pensavam em repetir
O Tó e o Mané eram dois jovens naturais do barrocal algarvio agora residentes na cidade de Albufeira – onde trabalhavam na área da hotelaria e da restauração, desde que os seus pais tinham abandonado respectivamente a arte da pesca e os campos agrícolas do Algarve – que hoje em dia e face à grave crise que sua região atravessava, se sentiam cada vez mais abandonados à sua sorte e desgraça, face à crise e ao desprezo a que a maioria da sua família e da sua população estava votada.
Na sua juventude tinham vivido na bonita aldeia de Paderne, tendo sido colegas nos anos felizes em que frequentaram conjuntamente a escola primária da terra e parceiros em muitas das brincadeiras e aventuras aí vividas, desde os raides realizados à noite pelos campos à pesca das laranjas e das clementinas, até à caça aos fantasmas e outros seres misteriosos que o povo dizia habitarem – do anoitecer até longe na madrugada – o castelo de Paderne.
Albufeira – Praia dos Pescadores
Um dia sentados numa esplanada de um café virado para o areal da Praia dos Pescadores, resolveram recordar os anos felizes da sua infância, enquanto bebiam uma deliciosa amêndoa amarga debaixo dos raios reconfortantes do Solzinho algarvio. O tempo estava convidativo a uma troca amena de palavras e de emoções, apesar da tristeza que era ver o que agora era a zona do cais e recordar todo o movimento dos pescadores na sua faina diária e o corrupio das gentes todas as manhãs, à volta do mercado do peixe.
Resolveram nessa manhã fazer brevemente uma visita à aldeia de Paderne e aproveitar a viagem para dar uma volta pelo interior da sua freguesia, de modo a recordarem e tentarem reviver um pouco dos seus saudosos tempos aí passados e das belas paisagens campestres que esta terra sempre ofereceu. Combinaram com o Carlos para o dia seguinte – já que estavam todos disponíveis nesse dia – que iriam no seu jipe passar um dia em Paderne, visitando vários locais frequentados na sua juventude e almoçando por esses lados.
No dia seguinte ao amanhecer lá foram todos até à aldeia. Estava um claro e lindo dia de Primavera com o Sol da manhã a querer começar a aquecer-lhes o corpo ainda gelado com o frio do início da manhã, quando arrancaram de Albufeira no jipe do Carlos, dirigindo-se às Ferreiras e depois apanhando na rotunda o desvio para Paderne. A estrada a partir das Ferreiras parecia abandonada, sem trânsito visível e raramente se vendo alguém nas suas proximidades, o que os transportava progressivamente para um estado de letargia observativa e para um mundo tranquilo de absorção de sensações, proporcionadas pela acção exercida conjuntamente pelas paisagens que iam surgindo e pelas recordações do que já tinha passado. Resolveram então parar num conhecido café situado no Purgatório – à entrada de Paderne – e ir lá tomar o pequeno-almoço.
Os dois estranhos cartazes afixados nas paredes do café do Purgatório num cenário misto de realidade e manipulação
Eram cerca de oito horas e meia da manhã quando chegaram ao Purgatório e aí fizeram a primeira paragem dirigindo-se ao café. Entraram, sentaram-se ao balcão e pediram uma bebida bem quente, uma torrada com manteiga e um medronho a acompanhar. A sala estava quase deserta, apenas com a presença de um casal de alemães sentados e a conversar acaloradamente num dos cantos e contando com outros dois indivíduos muito silenciosos – um deles a ler o jornal – que pela roupa de trabalho que usavam, se deviam dirigir para alguma obra situada nas proximidades. Enquanto tomava o seu pequeno-almoço o Carlos ia ouvindo as notícias que iam passando na TV, enquanto o Tó e o Mané observavam atentamente a decoração do café que já não frequentavam há muito e que parecia ter definitivamente parado no tempo. Já quando estavam na fase do medronho o Mané resolveu levantar-se, dirigindo-se de imediato para a entrada do café e voltando-se de seguida para uma das paredes laterais, onde se pôs a olhar com alguma curiosidade – e até com um sorriso nos olhos – para qualquer coisa que não se percebia o que era e que se encontrava aí afixada. Voltou-se então para o Tó, chamou-lhe a atenção para o que estava na parede e começou a simular que acariciava o seu peito, como se por acaso possuísse umas boas mamas. O Tó lá se levantou e foi ter com o amigo: não percebeu o que representava o cartaz da esquerda, mas o da direita – e agora percebia o Mané – presenteava-os com um bom par de mamas!
Purgatório – O café Zip-Zip
O Carlos veio ter com os dois amigos e juntou-se a apreciar os cartazes, especialmente o que se apresentava à sua direita. Pôs-se a gozar connosco, ainda se riu um bom bocado com o dono do café e em seguida esclareceu-nos rindo-se de uma forma convulsiva que essa imagem (duplicada) se referia a um vulcão inactivo situado num dos planetas do nosso sistema solar. Quanto ao outro cartaz este representaria – pelo que tinha ouvido falar em visitas anteriores – dois dos elementos básicos que constituiriam a matéria, fosse o que isso fosse ou pudesse representar para eles. Era no mínimo esquisita a presença destes dois cartazes. E no meio de mais uns medronhos que ajudaram a soltar a língua, o dono lá lhes explicou a sua origem e a razão por que lá tinham ido parar:
- Um certo dia há já uns bons anos atrás – e por altura do Carnaval – um grupo de jovens estrangeiros residindo na época nas imediações do castelo de Paderne entrou pelo seu estabelecimento dentro gritando serem extraterrestres e terem vindo de outro planeta. Como estávamos ainda na semana do Carnaval ninguém lhes ligou muita importância, excepto um grupo de forasteiros que na brincadeira e como resposta lhes respondeu “que então fossem dar cabo das cabeças para a sua terra, que por cá já tinham gente a f**** a deles”! Os jovens não entenderam o que lhes tinham dito, mas como os forasteiros lhes tinham retribuído com um sorriso bem divertido – ajudando a criar um bom ambiente na sala – acabaram por se instalar numa das mesas perto do balcão, enquanto olhavam famintos para as iguarias regionais que se encontravam expostos diante de si no expositor junto ao balcão. Durante o convívio estabelecido com o dono e os clientes do café, ouviram-se muitas conversas umas verdadeiras e outras delirantes, desde os feitos de caça relatados por um caçador aí presente – e que muito incomodou os jovens que o escutaram – até às divagações quase que psicadélicas destes jovens estrangeiros, que continuavam a repetir incessantemente serem extraterrestres em missão de reconhecimento e formação enviados ao planeta Terra. A sua vinda a esta zona dever-se-ia à necessidade de estabelecer contactos com estruturas de informação e apoio aqui estabelecidas. E foi nessa altura que um dos jovens teria retirado da sua mochila dois rolos de papel, num dos quais aparecia um conjunto de círculos de diversas cores com umas quantas legendas (por isso eles terem dito uma palavra muito parecida com leitão – que todos entendemos como se fossemos feitos de muitos leitões – e que pôs no momento toda a gente a rir sem conseguir parar) e no outro uma imagem que fazia mesmo lembrar um seio de uma mulher (que eles afirmavam ser do planeta de onde vinham). Só depois de muitos copos e de algumas confusões mais ou menos radicais – que terminaram sempre cordialmente e devidamente impregnadas pelo vapor do álcool – é que os estrangeiros abandonaram o local e regressaram a casa. Deixaram para trás os citados cartazes e um envelope com um código postal que só se poderia referir à freguesia de Paderne. O dono do café nunca mais lhes pusera a vista em cima.
A velhinha que vendia as meloas e melancias junto à Ribeira do Algibre, seria tia-avó por parte da mãe das duas irmãs gémeas Clementina e Tangerina
Teria cedido temporariamente a habitação – e por solicitação expressa de familiares com influência – às suas sobrinhas e restante família
Com toda a conversa tida com o dono do café, os três só saíram do estabelecimento lá para as dez horas da manhã. O dia estava limpo e com um Sol deveras apetitoso, com algumas pessoas atravessando a ponte sobre a ribeira que os conduziria a Paderne. O Carlos saltou para o jipe e pôs o motor em funcionamento. O Tó e o Mané juntaram-se a ele logo a seguir sentando-se no banco de trás do jipe, começando de imediato a indicar-lhe com gestos rápidos e precisos, o caminho a seguir após passarem a ponte e entrarem na aldeia: queriam ir directamente até à zona das laranjas e das estufas e para tal teriam que atravessar a terra indo pela estrada da esquerda. Caso contrário teriam que dar uma volta muito maior e inverter o sentido do passeio. Passaram rapidamente pela terra – passagem apenas interrompida pela rápida ida do Carlos aos correios – que a esta hora do dia já demonstrava alguma vida e movimento, enfiando-se pelas ruas estreitas da aldeia e começando de seguida a descer e a afastar-se em direcção ao campo profundo.
Uma teoria de que se falava muito em sectores marginais – e considerados pouco credíveis – da agricultura local, basear-se-ia na exploração intensiva da terra (apoiando-se em grandes áreas de estufas) a que os campos a norte de Paderne estariam a ser sujeitos, com um impacto e resultados comerciais muito provavelmente insuficientes.
“Só se tivessem uma mina de ouro debaixo da terra” – diziam os velhos no gozo
Pararam o jipe ao lado da estrada mesmo junto a um grande pomar de citrinos e de um canal de água de distribuição, antigamente utilizado para a rega mas agora inactivo. Estava uma manhã cada vez mais agradável e o ar do campo convidava-os a relaxar e a absorver tudo o que os seus órgãos dos sentidos lhes ofereciam. O Carlos resolveu esticar-se um pouco ao Sol expondo-se preguiçosamente ao calor dos seus raios e aproveitando a ocasião para reflectir um bocado sobre a sua vida e já agora, sobre o que já vira e ouvira hoje – e que ficara na cabeça: aquela dos jovens tinha a sua piada e a morada que segundo o dono do café tinham deixado para trás, ainda lhe despertava mais a sua curiosidade. Pegou então no panfleto com os códigos postais da zona – que tinha obtido nos correios da terra quando se dirigia para este local – e tentou encontrar o número que estava registado no envelope. Na realidade referia-se a uma zona situada para os lados do castelo, como tinha ouvido dizer na conversa ao pequeno-almoço. Tinha que ir dar uma volta por ali. Ao fundo surgindo da curva uma carrinha de caixa fechada que se deslocava na sua direcção, virou repentinamente à direita, embrenhando-se de imediato no meio das estufas que inundavam o terreno e desaparecendo num abrir e fechar de olhos como se nunca tivesse existido: talvez fosse um erro qualquer de paralaxe, provocado pelos efeitos (secundários) dos medronhos.
Ribeira de Paderne – azenha
Depois de apanharem umas quantas laranjas e clementinas resolverem ir ver como estava a praia fluvial. Carlos era um dos visitantes assíduos deste local sobretudo no Verão – terreno situado entre a estrada municipal 1274 a norte e a estrada 1176 a sul – já que pertencia a uma empresa de safaris que organizava passeios ao barrocal e serra algarvia. Passava muito por ali no caminho para Alte, já que os estrangeiros (e nacionais) gostavam muito de usufruir do local com a sua praia de rio e do local reservado para os grelhados de porco – de preferência entremeada e de entrecosto – ou então de sardinha, cavala ou carapau. Nunca se esquecendo da misteriosa velhinha escondida no meio das árvores perto do trilho dos jipes, vendendo os seus melões e melancias deliciosas para os sequiosos apreciadores de viagens e da gastronomia do Algarve. Sempre pensara que a velhinha poderia ser uma Bruxa-Boa vinda das galáxias do interior, com o objectivo de mostrar aos perdidos do mundo a sua força e longevidade, de modo a atraí-los para outros mundos e outras vidas e vivências. Naquele dia a estrada estava deserta, a velhinha estava de férias e até o ribeiro clamava por água. Mesmo assim ainda deram uma volta pelo ribeiro, molharam os pés e viram uns sapos e uma cobra entretendo-se na água. O Tó e o Mané aproveitaram ainda um tempinho para dar uma fumaça e para descansar até ao meio-dia naquele sítio tão tranquilo. Saíram quando já passava do meio-dia e a fome começava a apertar.
A ribeira do Caboiço nasce no Cerro da Cabeça Gorda e desagua em Vale de Lobo
Na saída o Carlos resolveu dirigir-se em direcção à estrada que ligava Paderne a Boliqueime, seguindo por um caminho de terra que nunca tinha percorrido, mas que parecia estar na direcção correcta para atingir o destino pretendido. Até era bom para descobrir percursos alternativos para os seus safaris, de modo a torná-los mais interessantes e menos repetitivos. De início tudo correu bem. O caminho estava em bom estado de conservação – apesar de parecer ser pouco utilizado – e parecia dirigir-se para onde o Carlos pretendia. Mas passadas umas largas centenas de metros terminou abruptamente, embrenhando-se depois por um carreiro que se prolongava entre um denso emaranhado de árvores e de arbustos selvagens, com uma notória elevação a surgir a oeste – tendo ultrapassado a zona do Montinho, seria este o Cerro da Cabeça Gorda? O Tó e o Mané resolveram então sair do jipe e ir dar uma volta de reconhecimento, até para ver onde estariam e se haveria outra saída alternativa por aqueles lados. E foi aí que surpreenderam uma família no exterior da sua casa a cozinhar o seu almoço, que pelo cheiro parecia mesmo um grelhado à maneira. O problema é que ao surpreenderem esta família foram surpreendidos por ela: era uma família de certeza com origem extraterrestre – constituída por três adultos e uma criança – que se fazia acompanhar por um animal, que aos três fazia lembrar um tipo de cão. A família ficou especada e sem saber o que fazer perante a presença dos três desconhecidos, deixando-se ficar a olhar fixamente para eles. O que valeu a todos para desbloquearem esta situação surpreendente foi a chegada das duas belas gémeas Clementina e Tangerina, filhas de uma anterior ligação – há quase vinte anos – do único ser de sexo masculino ali presente com uma formosa donzela da região, abandonada por adultério pelos seus familiares e recolhida com afecto e paixão pelo extraterrestre. E foram elas que se expuseram a todas as dúvidas e questões levantadas pelos três jovens algarvios, que não paravam de se deliciar com a presença e a figura perfeita destas gémeas de outro mundo – e de cor verde como os jovens citrinos!
Os extraterrestres eram originários de um mundo desconhecido, afirmando terem vindo dum Universo constituído por antimatéria – numa nave funcionando com tecnologia adaptada – e feito a transição por retransformação e adaptação das partículas constituintes do seu corpo
A conversa já se prolongava há quase uma hora após o fim da refeição. Tinham sido convidados para o almoço – o que tinham aceite de imediato – instalando-se à volta da mesa aberta de propósito no centro do jardim e sobre a qual já se encontravam as bebidas e uns pratos de comida. Durante o início o ambiente criado pela presença de estranhos ainda esteve dependente do impasse comunicacional existente entre as partes, mas rapidamente a forte curiosidade de todos, aliada à irrequietude crescente revelada pelas gémeas, transportou-os para um momento único de gastronomia e troca de ideias e impressões. De tudo se falou um pouco naquele almoço atípico e poucas questões aí colocadas ficaram sem resposta ou foram esquecidas: como o que faziam eles aqui e como cá tinham vindo parar. Não foi assim de admirar que todos se tenham deixado levar por esta amena cavaqueira, não querendo facilmente e por sua própria iniciativa, abandonar esta ocasional e produtiva tertúlia. Muito dificilmente se levantaram os três da mesa e entre justificações e desculpas de última hora acompanharam Clementina e Tangerina para o interior de sua casa. Já passava das três horas da tarde e o tempo estava excelente. Sentaram-se no hall a conversar.
Castelo de Paderne
Uma fortaleza erguida em taipa pelos nómadas do Magrebe
As gémeas propuseram então darem um passeio pelas redondezas da sua casa, até para todos se mexerem um pouco mais e assim se libertarem da sonolência em que se iam embrenhando após um lauto e perfeito almoço e um vinho a condizer. Não esqueceram no entanto de mencionar o Castelo de Paderne e de como por lá tinham andado e brincado em crianças, entre as suas muralhas em ruínas, os caminhos que iam dar à ribeira e à ponte romana e os túneis agora encobertos por pedras e vegetação, que davam acesso a câmaras de transição muitas delas agora desactivadas. Pararam junto à ribeira e estenderam o seu corpo sob os raios do Sol da tarde, ao mesmo tempo que conversavam sobre o local que agora os acolhia: era um sítio sossegado onde apenas se ouvia o circular da água da ribeira – do Caboiço – nascida lá para os lados do Cerro da Cabeça Gorda. Era uma zona muito conhecida pelo seu número de algares e pelas lendas que os rodeavam, numa profusão de contos e lendas populares envolvendo criaturas misteriosas e um mundo fantástico de grutas subterrâneas e canais de ligação – o sonho de qualquer espeleólogo com amor ao seu trabalho.
Clementina e Tangerina nunca mais se calaram. Falaram da terra-natal do seu pai, de como já tinham viajado diversas vezes numa nave com tecnologia baseada na utilização de antimatéria, do planeta paterno de origem situado num Universo contrário e alternativo ao deles e de como era tão rápido viajar entre estrelas distantes utilizando um “buraco de verme” – o que os deixou um pouco agoniados na altura. Mas também falavam da beleza do planeta Terra e daquilo que, perdido para sempre no planeta delas, ainda podia ser transmitido no deles para as novas gerações, como a grande obra dos seus pais e antepassados: um mundo sem limites de tempo para viver – só existe uma realidade e é o movimento – e disponível para nos oferecer graciosamente o usufruto de todo o seu espaço – o paraíso natural.
Os diferentes planos que formam o mundo não se limitam ao que os nossos órgãos sensoriais nos permitem percepcionar – para lá da nossa percepção um número infinito de planos aguarda a concretização do nosso desejo de aventura e de conquista do conhecimento, como o da existência de um outro eu, em planos sobrepostos ou simétricos ou mesmo sem eixo de simetria
A melodia da água a circular na ribeira era hipnótica: pararam de falar, deixando-se levar como uns viciados condenados e sem retorno pelas sensações vindas do exterior, que penetravam os seus corpos auto-expostos incendiando o seu mundo sensorial. As duas gémeas na realidade eram demais, jamais permitindo que este dia pudesse ser mais um factor perturbador na vida deles que os pudesse afectar nos seus futuros disponíveis e quase que o transformando numa anormalidade perfeita, tornada agora numa super-produção cinematográfica. Falou-se ainda de sexo, dinheiro, viagens, política e extraterrestres. Mas ainda sobrou tempo para falarem de inutilidades e de como muitos não podendo as sonhavam realizar!
Parque Natural das serras de Aire e Candeeiros
Algar situado na serra de S. Bento – como os algares existentes no Algarve um possível elo de ligação (até agora ignorado) a mundos subterrâneos há muito esquecidos
Então empreenderam uma longa caminhada que os levou até ao cimo do Cerro da Cabeça Gorda, onde nascia a ribeira do Caboiço que ia desaguar a Vale de Lobo. Era uma zona abandonada à sua sorte, mas por outro lado preservada da nefasta presença humana. Visitaram grutas espectaculares com acessos de difícil visualização e ligadas entre si por dezenas de túneis ainda num estado aceitável e que até nalguns locais apresentavam indícios de recente utilização. Foram então os três levados pelas gémeas até um algar que se abria sob os seus pés, podendo-se daí vislumbrar – apesar dos arbustos que o rodeavam – um poço escuro e bastante profundo: desceram utilizando uma escada lateral construída sobre rochas cortadas e sobrepostas, acabando por ir ter a uma sala que estabelecia ligação a uma enorme cavidade, onde estava instalado um foguetão de propulsão vertical e a sua base de controlo de voo. A nave era espectacular e deveria ter uns cinquenta metros de altura, perdendo-se na escuridão do poço onde estava instalada. Ficaram siderados: como era possível tudo isto ter passado despercebido anos e anos? Mais tarde o pai das gémeas explicou: “saber procurar quem e pagar na hora certa”. Não perceberam.
Tó e Mané foram testemunhos presenciais da existência de túneis pormenorizadamente elaborados e localizados a grande profundidade, no subsolo do barrocal algarvio situado na zona fronteira Albufeira/Loulé – e da visão extraordinária dos túneis em torno da zona onde estava instalado o foguetão, porventura utilizados para transportes pesados
Eram já seis horas da tarde quando regressaram a casa das gémeas. O dia já estava a terminar e o ar frio da noite começava progressivamente a fazer-se sentir. Ainda ficaram por ali até às oito da noite a conversar com os simpáticos e acolhedores extraterrestres e procuraram saber como contactá-los futuramente. Aí – e à falta de resposta – acabaram por se calar por momentos, apenas ouvindo da parte deles e após algum tempo de silêncio e de reflexão “estarem sempre por aqui mas sem incomodarem ninguém, de modo a que mesmo que ausentes sentissem a sua falta”!
Antes de abandonarem definitivamente o local – que até hoje não mais encontraram – Clementina e Tangerina ainda lhes ofereceram um livro com dedicatória e assinado por um tal PKD. Dizia: “O instrumento básico para a manipulação da realidade, é a manipulação das palavras. Se tu podes controlar o significado das palavras, podes controlar a gente que utiliza essas palavras”.
O Carlos pegou então no jipe e arrancou para Albufeira. Chegaram a casa já passava da meia-noite: tinha sido um dia inesquecível para eles mas a ausência destas imagens vividas, tornava-se cada vez mais dolorosa e insuportável: a vida era muito mais do que aquilo que nos ensinavam e a única coisa que nos restava fazer, era “retirar as vendas milagrosas que iam mutilando os nossos órgãos dos sentidos”.
Solenóide
O moderno nano detector de frequências ANT 3000 – utilizado em procedimentos de rastreio e detecção pelos técnicos ao serviço da RTA – é um complexo instrumento científico inspirado na tecnologia envolvida na produção e montagem dos aceleradores de partículas
PS – Tendo sabido da visita do Mané a Paderne, o Bacalhau perguntou-lhe se por acaso tinha reparado nalgum veículo com as siglas da RTA (Rede de Telecomunicações Aeroespaciais dirigida pelo ex-autarca e presidente Dióspiro Silva, apoiante de sectores oficiais favoráveis à intervenção e investimento dos extraterrestres na região) a circular por aqueles lados, pois já há vários dias que os agricultores da zona tinham reparado nele e perguntado aos seus ocupantes o que andavam eles por ali a fazer. Ao que eles responderem andarem à procura de uma rádio pirata que emitiria ilegalmente por aqueles lados e que estaria a provocar graves interferências nas antenas de comunicação instaladas em Faro, na sede da RTA. O que deixou todos de boca aberta já que os seus rádios nada apanhavam – mais facilmente acreditariam numa história de bruxas! O veículo estava equipado com um poderoso detector de frequências de alta velocidade e profundidade – o ANT 3000 – o último grito da ciência em nano tecnologia, aqui aplicada às telecomunicações.
(imagens – google.com)