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Asteróide 2012 DA 14

Sábado, 16.02.13

Um asteróide com uma dimensão aproximada de metade de um campo de futebol passou no dia quinze deste mês a cerca de 27.000 km da Terra.

                                 

Em termos de comparação de distâncias mais perto do planeta Terra que os satélites geoestacionários que rodeiam o nosso planeta.

 

2012 DA 14 – 15.02.2013

 

Como se previa não houve nenhuma colisão entre estes dois corpos celestes apesar de os russos terem sido atingidos por alguns meteoritos nesse mesmo dia.

 

Os cientistas entretanto afirmaram não haver nenhuma relação entre os dois eventos registados, enquanto a oposição russa falava em teorias conspirativas com intervenção de mão norte-americana.

 

(imagem: Observatório de Gingin – Tonello)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 16:57

O Poço do Outro Mundo

Sábado, 16.02.13

Ficheiros Secretos – Albufeira

 

O Triângulo Caramulo/Estrela/Marão

Arquivo Interior Alienígena (Intervenções): Mistérios das Beiras – Os Bonecos de Animalia

 

“Deus concluiu no sétimo dia a obra que fizera e no sétimo dia descansou, depois de toda a obra que fizera. Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, pois nele descansou depois de toda a sua obra de criação”

(Génesis 2.2-3)

 

Uma Aldeia da Beira-Alta

 

1.º Dia

 

Os mais novos aproveitaram as férias do Carnaval e resolveram ir passar uns dias a casa da Avó Mafalda. Ao contrário dos seus colegas não se tinham inscrito no desfile organizado por todas as escolas da cidade, tendo em vez disso pedido autorização aos pais para irem à terra da avó visitá-la, pedido esse ao qual eles acederam prontamente, até porque deste modo sempre iriam fazer um pouco mais de companhia à avó, que tantas vezes pedia para a irem ver e fazerem um pouco de companhia. Chegaram à aldeia por volta das dez horas da noite depois de terem sido obrigados a apanharem um táxi para a terra, por terem perdido a camioneta de ligação que partia de Viseu. A Avó Mafalda esperava-os impacientemente à janela da porta de casa e foi com grande alegria que os viu chegar e que correu para os abraçar e enfiar rapidamente no seu interior, fechando a porta de imediato e instalando-nos na sala quentinha aquecida pela lareira: comeram logo ali um caldo bem quentinho, um pão com chouriço acabado de fazer e um delicioso chã de hipericão, que no ano passado lhe tinham oferecido aquando da sua passagem pela aldeia, no regresso de uns dias bem passados – e acampados – no parque nacional da Peneda-Gerês. Ainda estiveram todos numa conversa animada até perto da meia-noite, mas o cansaço provocado pela longa e atribulada viagem e a sugestão da avó para se irem já deitar – para amanhã de manhã estarem bem fresquinhos – lá os convenceu de vez levando-os a dirigirem-se para os quartos que a Avó Mafalda tinha preparado, com as camas cheias de cobertores e edredões. A Diana ainda perguntou pelas cabrinhas da casa para saber como elas estavam – todas as vezes que cá vinha guardava sempre um dia para ir dar uma volta com elas, conhecendo já pelo nome muitas das cabrinhas mais velhas e até tendo já duas grandes amigas entre elas: a Lúcia – assim chamada por a sua cor escura e focinho claro lhe fazer lembrar a indumentária e o aspecto geral da outra do milagre de Fátima – e a Margarida – por parecer mesmo uma princesa, jeitosinha, maneirinha e sempre pronta para brincar.

 

Uma Casa da Beira-Alta

 

2.º Dia

 

A Avó Mafalda foi acordá-los, eram oito horas da manhã. Já tinha ido abrir a porta às cabrinhas que se passeavam pelo quintal para os lados do bebedouro. Quanto às galinhas essas cacarejavam entusiasmadas com a presença da sua dona e com toda a confusão que ali se instalava sempre que outro dia nascia. O Jerónimo – o rafeiro lá de casa – controlava tudo à distância, enquanto esperava ansioso a passagem do Tio António pelo centro da aldeia, com o rebanho que sempre acompanhava as suas amigas, na sua jornada diária passada no campo: muitas vezes ia o rebanho e hoje era um dia desses. A avó subiu então as escadas vindo do quintal e dirigiu-se para a cozinha onde lhes serviu o almoço. Estavam os quatro – a Diana, a sua irmã Daniela e os seus dois amigos, a Joana e o namorado Francisco – ainda meio ensonados, quando se sentaram à mesa e tomaram o pequeno-almoço. Lá fora o Tio António já devia ter chegado pois o Jerónimo não parava de ladrar, pronto para sair para um dia inteiro fora de casa e com umas coisitas para comer com que o Tio sempre o mimava. Após a refeição dirigiram-se para os quartos onde se foram vestir e arranjar, combinando com a Avó Mafalda encontrarem-se de seguida no quintal junto às capoeiras. A manhã já ia a meio quando desceram as escadas para o quintal, indo de seguida visitar as lojas dos animais no rés-do-chão, onde estes ficavam protegidos do frio e de outros perigos durante o período da noite. A Joana e o Francisco até que acharam piada ao sítio e lembraram-se logo que os animais até ajudavam a aquecer o ambiente, do andar superior da casa. Foram então ter com a avó que finalizado o seu trabalho da manhã os convidou para irem com ela visitar o centro da aldeia e o seu pelourinho, ao mesmo tempo que passariam pela feira que se realizava quinzenalmente aos sábados junto à sede da junta de freguesia, para comprar umas coisinhas que lhe faltavam em casa. Comprou logo uns quantos queijos de cabra aparentando estarem bem fresquinhos, um bom pedaço de presunto e um trigo de ovos para os acompanhar. À volta não perderam o carro das farturas e lá se foram num instante uma data de churros. Regressaram ao meio-dia para almoçar e enquanto se cozinhava foram pondo as suas conversas em dia. A Avó Mafalda tinha muito para lhes contar.

 

Os Pirilampos

 

O almoço tinha sido uma delícia com pão da região, queijo e presunto como entrada e uma rica sopa de legumes para aquecer o estômago. Seguiu-se um saboroso frango de churrasco acompanhado por umas excelentes batatas fritas, tudo comprado já feito numa das tendas instaladas na feira. No final da refeição resolveram ir até ao único café ainda aberto na aldeia – o café Zé Cabra, assim chamado por brincadeira devido ao nome do cantor e dos berros que as cabras davam – e levaram consigo a Avó Mafalda, aproveitando a ocasião para visitar outros familiares e amigos – sobretudo idosos – que as duas irmãs já não viam havia muito tempo e também para esclarecer melhor aquela história da cabra e da luz a que a sua avó se tinha levemente referido durante o almoço. O Francisco pediu um refrigerante enquanto as raparigas optaram por um gelado e a avó por um carioca de limão. Debaixo dos raios de Sol do início da tarde e muito bem instalados nas cadeiras da pequena e estreita esplanada do café – que lhes oferecia a visão duma estrada cercada e deserta que atravessava a aldeia – o Francisco lá puxou a conversa para o tema atrás levantado e que pelos vistos também lhe despertara a atenção. Tudo se resumia ao seguinte:

- Num dia em que calhou à Avó Mafalda ir recolher os animais que se encontravam no campo e no preciso momento em que esta se encontrava a verificar à chegada se estavam todos presentes, deu logo pela falta de um deles por coincidência uma das cabras mais novinhas e irrequietas. Logicamente que ficou um pouco preocupada com a situação e não descansou enquanto não voltou atrás com o Jerónimo – que nesse dia não tinha ido com o rebanho, pois tinha ido à caça com o Tio António – à procura da cabrinha desaparecida, ainda por cima agora que a noite começava a cair sobre o povoado. Já muito perto do local por onde andara o rebanho todo o dia a comer, o cão deu sinal de movimento atrás de uma moita à sua frente, o que fez com que ela se dirigisse para lá de imediato de modo a não deixar a cabra fugir. Ao transpor apressadamente o espaço que a separava daquele sítio, acabou por tropeçar nuns ramos que estavam espalhados pelo chão, indo cair meio atordoada mais à frente no meio de uma forte luz que rapidamente a rodeou. O Jerónimo e a cabrinha apareceram quase que em simultâneo, talvez para verem se tudo estava bem com a sua dona e acima de tudo amiga. Saíram do local estranhamente iluminado, com a cabrinha presa a uma corda e com o Jerónimo a conduzi-la. Sem que antes ainda não deixasse de reparar no regresso na existência dum poço ou buraco que ela desconhecia e de que nunca ouvira falar e que se abria perto daquele local onde encontrara o animal, mais para o seu lado esquerdo. O Tio António esperava-a impaciente à entrada do portão, já que vira os animais fechados e ninguém dentro de casa. Tinha vindo entregar-lhe algumas perdizes e um coelho que trouxera da caçada, até porque o Jerónimo tinha sido um belo ajudante. E mais tranquilo por ver que estava tudo bem com a Avó Mafalda, ainda se riu um bom bocado ao ouvir a história por ela contada: luzes à noite só se fossem de almas penadas ou então de pirilampos. Se calhar tinha razão. Ou não?

 

As Cabrinhas

 

O Francisco tinha a mania dos discos voadores e dos extraterrestres. Mal ouviu a avó das amigas a falar das luzes que a tinham cercado e encandeado, a cabecinha dele começou logo a pensar em coisas fantásticas e do outro mundo e a partir daí foi só mais um passo para entrar em órbita e começar a tentar convence-las a irem já e sem demora visitar o misterioso local. Só que a tarde já ia adiantada e ainda tinham muito que fazer. Um pouco chateado – até com a namorada por não ter insistido com os outros – o Francisco lá os acompanhou na visita à aldeia, acabando todos por ir lanchar a casa de uma das amigas da avó e acabando o resto da tarde entretidos a ouvirem música e a ver uns vídeos na aparelhagem de um dos netos da amiga e a porem em dia as conversas com os amigos utilizando um portátil disponível e as suas páginas no Facebook. O Francisco foi quem mais usou o computador, massacrando-as com as suas teorias sobre extraterrestres, invasões e luzinhas no céu e chegando mesmo a efectuar pesquisas sobre buracos estranhos que pudessem ser portas de entrada para outras dimensões. O Jerónimo – que entretanto tinha chegado do seu “passeio das necessidades” na aldeia – até uivou perante a velocidade e entusiasmo com que o Frederico falava, pondo-se a abanar o rabo freneticamente e com a língua de fora, pronto a ser o primeiro a para partir fosse para onde fosse. Passava das seis horas da tarde quando saíram de casa da amiga da avó com a noite preparando-se já para começar a cair, mais uma vez pondo-se a abraçar nos seus amplos e acolhedores braços todo o mundo e toda a aldeia, enquanto os rebanhos continuavam ordenadamente a regressar aos seus abrigos. As cabrinhas da Avó Mafalda passavam agora diante do café Zé Cabra e algumas acabaram mesmo por parar ao ouvirem a sua voz e ao sentirem a sua presença: a Joana riu-se para o Francisco e de imediato perguntou-lhe se não estariam possuídas pelo diabo e qual seria a sua relação com o chupa-cabras. Todos se puseram a rir e là as acompanharam até casa. Jantaram uma sopinha quentinha com umas sandes de atum e uma fruta ou pudim para finalizar. Ainda foram dar umas espreitadelas ao mundo das cabras, indo de seguida fazer companhia à avó Mafalda e combinar o que fariam no dia seguinte. Tinham que ir ver o buraco insistia o Frederico.

 

O Poço

 

3.º Dia

 

No Domingo de manhã o Tio António apareceu lá por casa acompanhado pela sua mulher a simpática Tia Maria e pelo pequeno e nervoso Timóteo, o rasteirinho que a mulher recolhera um dia quando regressava a casa após mais um dia de trabalho cansativo no campo e que encontrara abandonado com outro cachorrito – já morto – junto a um contentor do lixo. Estiveram todos durante algum tempo sentados à volta da mesa da cozinha numa animada e amena cavaqueira, enquanto tomavam um café e comiam uns bolitos deliciosos que a amiga tinha comprado no dia anterior. Acabaram por se levantar das cadeiras e começaram lentamente a preparar-se para a ida até à igreja, para assistirem à missa do jovem e jeitoso padre Rafael. A Avó Mafalda antes de sair ainda preparou o pequeno-almoço para as netas e seus amigos, indo-os acordar para se irem preparando para acordar e levantar, até porque estava um lindo dia de Domingo e tinham que combinar o que fazer. Os quatro jovens espreguiçaram-se nas camas, por momentos pareceram querer voltar a adormecer, mas aí o Jerónimo não deixou – a Avó Mafalda esquecera-se de lhe fechar a porta da varanda – pondo-se a correr como um doido pela casa toda e subindo e descendo das camas onde estavam os jovens amigos, aos saltos e chocando contra tudo. Às onze horas da manhã já estavam todos arranjados e ficaram à espera que os mais velhos regressassem da missa. Como era Domingo não sabiam bem o que iriam fazer para passar o dia entretidos e por isso começaram logo a fazer planos para se manterem ocupados, não podendo aí faltar a mão e a palavra do Frederico, que ainda não se esquecera do poço (ou buraco) que a Avó Mafalda pensara ver. A avó e os amigos só chegaram era quase meio-dia e vieram carregados com umas sacas de plástico com o que parecia ser comida e bebida, seguidos logo atrás pelo Timóteo que de imediato foi cumprimentar o seu colega Jerónimo. Tinham decidido ir passear e almoçar os três no campo e estavam a convidá-los a irem com eles. Os quatro jovens – pressionados pelo Frederico – sugeriram então a zona onde a avó tinha encontrado a cabrinha perdida, ao que eles logo assentiram sem qualquer tipo de problema, ainda mais conhecendo a curiosidade que os jovens tinham por lugares envoltos em grandes mistérios e no desejo puro e nobre de participarem em grandes aventuras. Partiram os nove para o passeio – sete pessoas e dois cães – e a primeira coisa que os jovens fizeram quando chegaram ao seu destino foi correrem como loucos à procura do poço, só parando quando o encontraram. Quem o viu primeiro foi a Daniela: afastou um pouco os arbustos que o encobriam, olhou lá para dentro e num primeiro relance não viu nada de especial. Os outros vieram a correr ter com ela – enquanto os mais velhos preparavam o piquenique – com os cães a movimentarem-se eufóricos e desnorteados, entre o grupo da comida e o grupo da brincadeira.

 

O Túnel

 

O piquenique foi um sucesso. O dia estava a ser espectacular e a comida tinha sido uma delícia: ninguém em consciência poderia ter exigido uma melhor – e improvisada – refeição, neste belo ambiente de campo e em companhia de pessoas e outros animais, tão alegres e simpáticos como estes. Os mais velhos foram então dar uma volta pelas redondezas, deixando os quatro jovens descansados e livres para as suas actividades. Foram logo para o sítio onde se encontrava o poço acompanhados pelo Jerónimo e pelo Timóteo que espertos como eram, tinham escolhido sem hesitar ficar com eles e entrar nas suas brincadeiras. A parte superior do poço tinha sido construída no interior de um buraco – de quase dois metros de diâmetro e provavelmente de origem natural – que era suportado lateralmente pelas próprias terras (e pedras) que constituíam o terreno, enfiando-se então pela terra dentro e desaparecendo na escuridão. Tentaram logo descobrir a sua profundidade utilizando para isso uma corda que tinham trazido de casa: colocaram uma pedra numa das pontas e foram-na deixando cair até a corda ficar frouxa. Ao todo era cerca de um quarto do comprimento da corda e como esta não teria mais de vinte metros, a profundidade do poço andaria por volta dos cinco – nada de especial pensou um pouco desanimado o Francisco. E agora, o que fazer? Um deles teria que descer ao buraco, se queriam continuar a sua pesquisa. Enquanto isto se passava os cães lá se iam entretendo com os seus joguinhos e esquemas, desaparecendo por vezes por largos minutos e voltando de seguida para cheirar melhor os seus donos. Foi nessa altura que a Diana deu pela falta do Timóteo – só via o Jerónimo sozinho a andar e a cheirar o chão – e o foi dizer à irmã Daniela: os três estavam distraídos a olhar para o interior do poço e a pensar como lá iriam entrar e não tinham reparado muito nos cães. A Joana só se lembrava do o ver – e não há muito tempo – para o lado onde andava agora o Jerónimo e o Francisco e a Daniela já não o viam desde o almoço. Preocupados com o que poderia ter acontecido com o cão da Tia Maria, resolveram interromper o que estavam a fazer e ir procurar o pequenote.

Encontraram dois buracos perto do lugar onde estavam, um situado à esquerda do poço e outro à sua direita: tinham a largura suficiente para um animal da dimensão do Timóteo conseguir passar e um deles apresentava mesmo vestígios de ter sido utilizado recentemente. Mas porque não seria uma toca de coelho ou de outro bicho qualquer? A resposta veio logo da parte da Joana que se pôs a acenar para o Frederico, ao mesmo tempo que apontava insistentemente em direcção ao sítio onde estava o poço: ela ouvira um ruído estranho (ou seria um eco?) vindo do poço e ao aproximar-se um pouco mais para ver o que seria, ouvira claramente o ladrar esganiçado de um cão, muito parecido com o do Timóteo. Colocaram-se então todos em volta da abertura superior do poço e lá ouviram no fundo o ladrar inconfundível do cão da Tia Maria. Mas como teria ele lá ido parar? Simples disse a Daniela: os buracos laterais que tinham encontrado à volta do poço poderiam ser um tipo de respiradores utilizados aquando da sua construção, com uma finalidade para aquele local e para eles ainda misteriosa e desconhecida, mas que muito provavelmente poderiam ter servido no passado, para a ventilação de alguma estrutura subterrânea. Ao ouvir estas palavras o Frederico como que entrou em transe: sempre tivera razão, ali deveria existir mais qualquer coisa do que seria normal encontrar! Não descansou enquanto não foi buscar a lanterna que trouxera consigo – quando era para pesquisar e se possível, vinha sempre bem apetrechado para o que desse e viesse – e a apontou para o fundo do poço: lá estava o Timóteo a olhar para cima, húmido e com a terra castanha bem colada ao corpo. Pegaram na corda e dobraram-na para melhorar a sua resistência de modo a não se partir. Como era rapaz decidiram que seria o Frederico a descer e a ir buscar o cão. E foi assim que o Frederico desceu ao fundo do poço e teve ainda da andar um pouco para apanhar o irrequieto do Timóteo, que pelos vistos estava a gostar e dali não queria sair. Acabando por descobrir encoberto por desperdícios enterrados e já com muitos anos de depósitos consecutivos, uma porta que se desfez parcialmente ao ser involuntariamente tocada e atrás da qual – e inesperadamente – se podia ver um túnel que se perdia na escuridão do subsolo. Já está, pensou o jovem.

Ainda no campo os jovens decidiram não contar nada aos seus companheiros mais velhos, não fosse eles começarem a ficar preocupados com toda esta história e acabarem por dificultar a realização das próximas visitas ao local. Içaram o Timóteo do poço e foram de seguida ajudar a arrumar a tralha que restara do piquenique. À noite e após o jantar a Avó Mafalda ainda ficou por momentos espantada por ver os quatro jovens irem para um canto da sala conversar, em vez de aproveitarem o tempo livre para dar uma volta pela aldeia ou então verem um pouco de televisão. Mas lá os deixou ficar entretidos na conversa e foi num saltinho fazer uma visita a uma das suas vizinhas – antes de voltar e de se ir deitar. Os quatro amigos terminaram a noite com os preparativos para o dia seguinte, acabando por ir dormir já passava da meia-noite.

 

O Extraterrestre Mosca-de-Fogo

 

4.º Dia

 

Partiram de manhã cedo com o Tio António e o seu rebanho, acompanhados pelo Jerónimo e pelo Timóteo. Tinham combinado com a avó Mafalda que iriam dar uma volta pelo campo e que até aproveitariam a ocasião para ir ver a zona do rio que ainda não tinham visitado como deviam. O Tio António iria nesse dia para o outro lado das margens do rio e até lhes disse que deveríamos visitar o Morro da Lanterna, um sítio muito bonito e com uma bela vista para o lado poente do rio. Tinham todos vindo muito bem equipados contra o frio e com todos os instrumentos necessários para efectuarem uma descida segura ao fundo do poço. Quando chegaram com o rebanho à ponte romana que atravessava o rio, despediram-se do Tio António – prometendo ir ter com ele lá para as cinco da tarde para lancharem todos juntos – e disseram-lhe para onde iam: almoçariam por aqueles lados e talvez fossem dar uma volta pelas suas redondezas, onde as gémeas lhes iriam mostrar a Anta onde costumavam brincar muitas vezes quando eram mais novinhas e vinham com os seus pais visitar a aldeia. Antes de arrancarem o Tio António disse mais uma vez para terem sempre muito cuidado e não se esquecerem do levar o telemóvel para alguma necessidade que pudesse surgir. Passado pouco mais de meia hora já estavam todos no fundo do poço juntamente com o Timóteo, que os tinha vindo acompanhar quase que a pedido, tanto se chorara para vir connosco. O Jerónimo ficara a trabalhar.

Eram dez horas da manhã quando se dirigiram para o local onde se encontrava a porta que dava acesso ao túnel que tinham descoberto no dia anterior. Apontando as lanternas para a porta transpuseram o que restava dela e viram-se de imediato num túnel bastante húmido, com as paredes cobertas de raízes e com um pequeno curso de água a correr sob os seus pés: ainda vem que tinham vindo com umas botas, como o Frederico tinha aconselhado. Andaram cuidadosamente durante cerca de trinta minutos, desviando-se de alguns ramos, pedras e outros desperdícios que iam encontrando pelo caminho, sem encontrarem nada que lhes chamasse a atenção ou um desvio qualquer que os pudesse levar a escolher por outra direcção. O Frederico calculou que deveriam já ter percorrido uns 300 metros desde a porta de acesso e começava a ficar um pouco chateado e preocupado por nada de novo acontecer: no fundo que túnel seria aquele, quem o teria construído e quando e acima de tudo qual a sua finalidade? Segundo a Diana e a Daniela aquela seria uma zona onde existiriam minas em exploração há muitos anos atrás, que teriam sido posteriormente abandonadas e fechadas; o que não justificava o aspecto reforçado que apresentava o túnel e que não era característico do aspecto do interior das minas naquela região. Poderia este túnel ser um acesso a um abrigo ou outro tipo de instalação desconhecido? Então a Joana apertou repentinamente o braço do Frederico – e com tanta força – que até o levou a dar um salto e a gritar de dor, fazendo com que as gémeas se virassem surpreendidas e assustadas na sua direcção: e aí viram – com a Joana apontando com a sua mão a tremer – umas luzes que pareciam balançar-se no ar e que se aproximavam rapidamente deles. Ainda pensaram nos pirilampos mas esses não eram tão grandes. Ficaram paralisados de medo e mais poderiam ter ficado, se tivessem reagido doutra maneira ao aparecimento destes estranhos animais subterrâneos: um ser com aproximadamente as suas dimensões e que fazia lembrar um insecto gigante, acabara por chegar perto deles, sendo acompanhado por mais outros três seres seus semelhantes. E quando ele falou e se apresentou quase que caíram para o lado. Tratavam-no como Chefe Mosca-de-Fogo e tal como os seus colegas que ali o acompanhavam – e que eram seus familiares e ao mesmo tempo adjuntos na execução das suas funções – era originário da cidade de Arthropoda, localizada num distante planeta de uma galáxia longínqua, planeta esse que dava pelo nome de Animalia. Pirilampos extraterrestres pensaram todos!

 

         

Os Pirilampos Extraterrestres

 

Tinham chegado ao nosso planeta há já muitos e muitos anos, acabando por se instalar nesta zona ainda antes de se iniciarem as primeiras prospecções minerais, que terão levado posteriormente a uma maior ocupação da área pelos humanos e pela sua parte e pelo da sua espécie, a um reforço de segurança da zona e do subsolo onde habitavam. As minas encontravam-se mais a leste mas a vigilância fora sempre o segredo da sua segurança. Os três jovens que o acompanhavam eram seus familiares e tinham ficado curiosos com a notícia da sua presença, resolvendo juntar-se ao tio na sua missão. Eram mais pequenos mas bem engraçados, com a sua luz traseira a reforçar a sua intensidade sempre que se movimentavam um pouco mais. Faziam todos parte de uma grande comunidade que tinha como principal função fazer a manutenção destas instalações subterrâneas e ainda dar cobertura e protecção a uma outra espécie aliada, colocada em diversos locais diferenciados do planeta Terra para o estudo aprofundado da evolução da nossa espécie, em muitos aspectos muito semelhante à espécie extraterrestre e provavelmente tendo como origem na aplicação da mesma simulação – acreditavam na existência de uma Entidade Suprema que controlava o Universo e era controlada por ele – mas em contextos e espaços diferentes. Ainda estavam eles espantados com estes momentos inesperados de magia e de fantasia que estavam a viver – e o dia gordo de Carnaval era só amanhã – quando foram convidados pelo Mosca-de-Fogo para o acompanharem na sua descida até outras instalações situadas muito próximas do local onde estavam e nas quais nos iria apresentar a sua amiga Inês e mostrar um pouco do seu mundo. Os quatro jovens trocaram algumas impressões entre si, olharam as horas – era meio-dia – e lá se decidiram a seguir os pirilampos. Caminharam aproximadamente mais vinte minutos indo ter a um local com umas escadas em caracol que se dirigiam para um piso inferior. Desceram em fila indiana atrás dos agora apressados pirilampos, acabando por ir dar a uma outra porta que acabou por lhes dar acesso a um outro mundo que se revelaria para eles fantástico e maravilhoso: parecia uma cidade de bonecas novinha em folha e pronta a ser explorada e revelada.

 

        

A Cidade Subterrânea e a Extraterrestre Inês

 

Era uma hora da tarde. Quando entramos pela porta de segurança que dava acesso à cidade a Inês já se encontrava à nossa espera. Apesar do aspecto tão novo era já investigadora no estudo da evolução de espécies alienígenas, decidindo fixar-se por uns tempos no nosso planeta e região para aprofundamento das suas experiências e dos seus conhecimentos entretanto adquiridos, de forma a assim assumir um papel mais relevante na estrutura científica e poder dedicar-se de corpo e alma ao projecto que sempre desejou abraçar: a criação de um mundo que compatibilizasse entre si e de uma forma harmoniosa todos os seres vivos e espécies existentes, o que ninguém em seu perfeito juízo poderia alguma vez afirmar ser impossível, num mundo sem fim e com espaço para tudo e todos. O Frederico quase que trocou os olhos com a presença da miúda e levou logo como aviso um beliscão da Joana. As gémeas riram-se com o salto repentino do amigo e até o cão Timóteo – que se mantivera até aí caladinho e com o rabo enfiado entre as pernas – se pôs a ladrar de contente, indo aos saltos ter com ele e pondo a Inês a sorrir: esta ficou encantada com as habilidades do rafeiro que não se fazendo rogado se ofereceu todo à miúda, pondo-se de barriga para o ar e à espera de umas festas.

A cidade estava deserta. Não se via ninguém a andar pelas ruas e o silêncio era geral. Era tudo muito bonito, as ruas estavam limpas e a brilhar e até a natureza parecia ter mais um ar mais decorativo e menos interveniente. No interior das habitações ainda se via aqui ou ali uma ou outra luz acesa, mas não se conseguia percepcionar qualquer tipo de movimento que implicasse a permanência de algum ser vivo no seu interior. Nada no horizonte visual dos jovens lhes poderia garantir que algum animal por ali andasse, com excepção da presença da Inês. Perante a admiração espelhada nos seus rostos e por algumas questões que lhe foram sendo colocadas no momento, a Inês percebeu a razão de tal comportamento por parte dos quatro jovens terrestres, pedindo para apesar das suas incertezas a acompanharem tranquilamente até à casa onde estava instalada. A única coisa que lhes disse – e como explicação considerada por ela credível e facilmente aceitável – até para os fazer descansar um pouco mais enquanto não chegavam a sua casa, foi a de que um incidente ocorrido na cidade há já umas semanas atrás teria obrigado todos os seus residentes a abandonarem repentinamente o local e a serem evacuados em transportes interiores de emergência, até uma base de lançamento de pequenas dimensões e utilizada apenas em situações de emergência, com a função de operar a realização de transbordo de indivíduos e material prioritário entre naves de vigilância operando na zona. É claro que esta explicação não serviu para as gémeas e os seus dois amigos se tranquilizarem, situação esta em que a Inês reparou de imediato, pedindo-lhes mais uma vez para continuarem tranquilos, que em casa e à mesa da sala de jantar ela esclareceria para os deixar sossegados. O Frederico lá foi a resmungar o resto do caminho, levando o Timóteo pela trela como reforço de segurança ao seu lado e deixando mais para trás as três raparigas – um pouco receosas mas também desejosas de mais aventuras e novos mistérios – que iam trocando impressões entre elas sobre aquele lugar tão bonito, mas que ao mesmo tempo lhes provocava um pouco de receio, por não verem vivalma nem perceberem a sua verdadeira utilidade. E o que faria na realidade uma jovem tão bonita e inteligente como a Inês num local tão isolado como aquele e tendo apenas como companhia uns pirilampos extraterrestres? Era tudo muito estranho. E já passava da uma da tarde.

 

      

As Sete Irmãs Muerte sobreviventes da aplicação da 3.ª simulação modular de TF

 

Apanharam um susto enorme ao entrarem na casa onde residia a Inês: à espera deles estavam as Irmãs Muerte. Mal as viu o Timóteo fugiu a correr pela porta fora e até a Diana que o tentara apanhar o tivera logo que largar no meio do chão, pois ele esperneava freneticamente e sem parar como se estivesse possuído, enquanto ia uivando e fazendo xixi em cima dela.

As Sete Irmãs Muerte faziam parte de um grupo restrito de descendentes de seres vivos – na altura considerados como espécie indígena – sobreviventes à terceira terra formação deste planeta acontecida há mais de um bilião de anos e concretizada por Entidades Exteriores detentoras de tecnologias diferenciadas de intervenção – inexistentes no nosso Universo – responsáveis pela criação de sistemas organizados de vida autosustentáveis e com capacidades – condicionadas – de se auto replicarem. A esmagadora maioria da sua espécie teria abandonado o planeta Terra antes deste evento se concretizar, após os repetidos avisos e alertas provenientes das profundezas desconhecidas do espaço exterior, sobre o que estaria para aí a vir e as consequências definitivas a nível da sua extinção. Com a ajuda de conhecimentos científicos e tecnológicos vindos do exterior, a sua espécie ter-se-ia lançado no espaço desconhecido, partindo à procura de outros mundos que fossem receptíveis e susceptíveis de serem colonizados. Disporiam ainda de cartas de orientação com alguns pontos assinalados – talvez planetas com qualificações aceitáveis para esta forma particular de vida – nas galáxias mais próximas da Via Láctea como seria o caso da galáxia de Andrómeda. Um grupo diminuto desses sobreviventes ter-se-ia no entanto fixado no interior do Sistema Solar – devido a um incidente ocorrido nesta migração maciça – acabando por se instalar provisoriamente e depois definitivamente, numa base abandonada (e de origem para eles desconhecida) existente num dos satélites de Júpiter. Mais tarde – após a 3.ª TF – recuperando alguns desses elementos para a realização de tarefas de recolha e arquivo essenciais e desenvolvidas em benefício das diferentes correntes intervencionistas alienígenas – activas e passivas. Neste contexto surge a colaboração assumida pelo grupo das Sete Irmãs Muerte, no desenvolvimento do conhecimento sobre a História da Terra durante o seu Segundo Período de Referência e na descoberta das causas ou razões que possam ter estado por trás da opção por tal modelo de desenvolvimento – a nível planetário e neste caso aplicado ao planeta Terra.

 

Uma das últimas incumbências atribuídas às Irmãs Muerte e testemunhada pelos quatro jovens estaria relacionada com o estudo do crescimento de CO2 na atmosfera da Terra e das suas consequências no futuro do planeta; poderiam estar novamente perto do fim de mais um ciclo – do Terceiro Período de Referência – e isto seria apenas mais um sinal de aviso e de alerta para o que aí vinha. Se não fosse mesmo, o fim da Terra tal como sempre a conhecemos

 

As Sete Irmãs Muerte teriam as suas origens biológicas cronologicamente ligadas ao Segundo Período de Referência. Nesse período de vida na Terra, o mundo estaria dividido em três zonas bem definidas: a Zona Seca, a Zona Húmida e a Zona dos Bonecos. O primeiro problema de desenvolvimento na implementação da simulação teria ocorrido aquando do aparecimento dos primeiros conflitos entre os residentes da Zona dos Bonecos – e os seus dois grupos constituintes: os Bonecos de Madeira e os Bonecos de Carne. Anteriormente convivendo em comunidades abertas – e sem valores éticos e morais para evitar o aparecimento de preconceitos – os BM e os BC partilhavam equitativamente tudo o que a natureza lhes proporcionava, mesmo se nos referíssemos a campos tão íntimos e reservados, como aqueles envolvendo percepções e sensações a nível físico e passional. Mas entretanto algo se modificou nesta relação, o que levou a um distanciamento progressivo entre os dois grupos e ao início da constituição de comunidades fechadas e independentes. Mais tarde e com o agudizar dos crescentes conflitos de interesse, surgiram os primeiros conflitos localizados e depois o estalar da guerra generalizada. O que poderia ter estado na base deste desenlace? Alguns documentos arquivados e entretanto já referenciados durante as investigações levadas a cabo pelas Sete Irmãs Muerte sobre a parte final da história relativa ao Segundo Período de Referência, falariam sobre incompatibilidades inultrapassáveis existentes entre os dois grupos – que as irmãs não desenvolveram por falta de tempo – envolvendo a autorização da exploração de uma das mais importantes matérias-primas existentes à superfície do planeta Terra, a madeira. O que o seus antepassados jamais aceitariam, como Bonecos de Madeira que eram.

A Inês interrompeu a sua explicação a pedido das Irmãs Muerte. Tinham que retomar as suas rotinas normais do seu dia-a-dia, que segundo a Inês estariam neste caso relacionadas com a conclusão de um relatório a enviar à CCC (Centro de Controlo Climático) sobre o crescimento das taxas de dióxido de carbono na atmosfera e sobre o seu relacionamento com o efeito de estudo e a camada de ozono – cujo buraco – aproveitaram para o dizer com contentamento – estaria a fechar-se gradualmente. Inclinaram-se diante deles em sinal de respeito e desapareceram na penumbra que envolvia o corredor, que mal se vislumbrava ao fundo da sala.

 

Bonecos de Madeira de visita à Terra – descendentes do Segundo Período de Referência – vindos do grupo de galáxias M81

 

Com esta conversa tão interessante e misteriosa, tida num local de tal modo estranho e bizarro – onde jamais teriam pensado ter um tal encontro – e com seres de que nunca tinham ouvido falar, não se admiraram quando viram as horas: eram quase quatro horas da tarde e além disso a fome apertava. Na realidade nem sequer tinham almoçado. Falaram disso à Inês, que os levou de seguida para uma área que deveria ser a cozinha, onde comeram e beberam à sua vontade, enquanto ela os punha ao corrente das próximas visitas a realizar. Foi nessa altura que a Daniela se lembrou do combinado com o Tio António e como as cinco horas estavam cada vez mais próximas – e nada tinha dito ao Tio entretanto – resolveu ligar-lhe já um pouco aflita. Mas os telemóveis não tinham rede.

Os BM oriundos da M81 eram constituídos por um grupo de jovens entusiastas no estudo da astrofísica e no aprofundamento do conhecimento do berço de nascimento dos seus antepassados, o Sistema Solar. Tinham vindo numa visita há muito planeada ao seu planeta de origem, passados 4,5 biliões de anos desde a sua formação e segundo estudos recentes dos seus cientistas, a pouco mais de 0,5 biliões de anos do momento em que este deixaria definitivamente de ter condições para suportar vida. Tinham que aproveitar o momento e assim acabou por acontecer. Um dos grupos dedicara-se exclusivamente ao estudo geológico da Terra – inicialmente com prospecções a diferentes profundidades realizadas na sólida e espessa crosta terrestre – demonstrando estar muito interessados em comparar o seu mecanismo interior activo, constituído por um núcleo exterior líquido – capaz de gerar campos magnéticos – e por um núcleo interno sólido – maioritariamente constituído por ferro, com o existente nos planetas da sua galáxia. Outro grupo decidira investigar o modo como a vida teria inicialmente aparecido no planeta, debruçando-se exaustivamente sobre a teoria que afirmava que o último antepassado comum a toda a vida na Terra, teria sido criado a partir de uma molécula que se teria auto replicado. A maioria no entanto tinha optado pelo conhecimento da história do Sistema Solar, da sua fonte de energia e de vida o Sol, da Terra-Mãe dos seus pais a Terra e do seu surpreendente e misterioso satélite a Lua. No que dizia respeito ao Sol – já que no caso da Lua a teoria do Grande Impacto era mais interessante – foi com algum espanto e tristeza que os quatro jovens receberam as informações vindas dos BM da M81, de que a evolução desta estrela a transformaria dentro de 5 biliões de anos numa Gigante Vermelha, com um raio 250 vezes superior ao actual – o que levaria a que a Terra fosse finalmente vaporizada pelo Sol e desaparecesse para sempre, tal e qual como o ocorrido anteriormente com os seres vivos já extintos.

Os jovens ainda tentaram manter-se mais algum tempo na companhia destes alegres e simpáticos BM, mas acabaram por ser interrompidos e separados após umas rápidas despedidas por indicação – com carácter de urgência – da parte da Inês. Foram então conduzidos apressadamente para uma sala contígua, onde lhes foi pedido para aguardarem. O Frederico ainda se lembrou mais tarde – no meio de uma semiconsciência cada vez mais profunda – que a Inês reentrara na sala, colocando ao lado deles as suas mochilas e os respectivos telemóveis.

 

A Avó Mafalda – operando o seu PC adquirido na última acção de formação para adultos no âmbito das Novas Oportunidades/Geração X – na companhia da prima Ernestina e de outras duas amigas, fãs de filmes de romanos (com Hércules e Maciste), de zombies (com os coitados sempre com fome) e até de ficção científica (com seres do outro mundo a invadirem a Terra, mal sabendo no que se metiam); nunca esquecendo os contos infantis, com bruxas e feiticeiros, poções e artes mágicas

 

Chegaram as cinco da tarde e os miúdos ainda não tinham aparecido conforme combinado. Ainda lhes tentara ligar pelo seu telemóvel, mas pelos vistos onde estavam não tinham rede. O Tio António ainda esperou mais uns minutos por eles, mas a impaciência crescente por não saber onde estes andavam, acrescida da preocupação face ao aparecimento de umas nuvens ameaçadoras que começavam a encobrir o céu e a tapar o Sol, levou-o a ir dar uma voltinha rápida pelas redondezas a ver se os encontrava. Deixou o rebanho por uns momentos à guarda do Paulinho – o cão da prima Ernestina que muitas das vezes que via o portão de casa aberta, fugia para o campo à procura da companhia rebanho – e dirigiu-se em primeiro lugar para a zona próxima do poço, local para o qual os jovens pareciam dirigir-se quando se despediram dele de manhã. A meio do caminho começou a chover torrencialmente, acabando por se ir abrigar num pequeno sítio resguardado junto de um monte de pedras, onde acabou por encontrar o seu amigo Jerónimo sozinho e todo encharcado. Choveu sem parar uns bons quinze minutos e no relógio já passava das cinco e meia. Passou com o Jerónimo pelo poço e aí nada viu – a chuva enchera-o totalmente de água e até já transbordava – regressando de novo à zona do rio por onde já tinha passado anteriormente, de modo a seguir o carreiro que partia junto da ponte romana e que o levaria ao Morro da Lanterna. Deixaria a Anta para o fim.

Já passava das seis horas da tarde quando o Tio António e o cão Jerónimo os foram encontrar abrigados no interior de um barracão de apoio a peregrinos, que por ali passavam em determinadas alturas do ano em direcção à ainda distante Senhora da Lapa. Tinham ar de quem se tinha deixado dormir – talvez estivessem demasiado cansados por um dia intenso passado no campo ao qual não estavam habituados – mas por outro lado até parecia que não sabiam onde estavam ou de como ali tinham ido parar. Mas com estes jovens tudo era de esperar. Telefonou a avisar a Avó Mafalda – que ficara com as amigas em casa a deliciar-se no computador da neta com o último episódio da telenovela Gabriela – de que estavam de regresso e lá os acompanhou e ao rebanho no regresso a casa. No percurso de volta os jovens não deixaram de sussurrar constantemente entre eles, olhando por vezes prolongadamente e com espanto para a zona do Morro da Lanterna e tendo mesmo um deles soltado um grito e apontado para esse local, quando vislumbrou uma luz que parecia sair de um buraco da terra e alongar-se à sua volta em todas as direcções: “são pirilampos” gritou o Tio António para os tranquilizar, mas aí todos se lembraram do extraterrestre Mosca-de-Fogo.

 

Os quatro jovens assistiram à partida dos Bonecos em direcção ao planeta Animalia pertencente ao grupo de galáxias M81

 

5.º Dia

 

No país era Terça-Feira Gorda de Carnaval.

Acordaram já passava das dez horas da manhã com o barulho das cabras e dos seus badalos a virem da parte traseira da casa – duma pequena área onde se viam algumas macieiras e nogueiras aí plantadas – na qual se encontrava o terreno onde às vezes a avó prendia as suas meninas, ou porque nesse dia não iam ao campo ou porque era o dia para se efectuarem as limpezas. Ainda estavam todos um pouco atordoados com o que lhes tinha acontecido no dia anterior – até o pequeno-almoço de hoje parecia que não tinha sabido tão bem – quando a Avó Mafalda acompanhada da Prima Ernestina entraram de rompante na cozinha, pedindo para eles se arranjarem rapidamente e se prepararem para irem dar um passeio com elas no táxi do senhor Justino – que hoje estava livre. Um pouco contrariados lá foram até aos quartos para se vestirem e arranjarem, descendo de seguida para o pátio da casa em direcção ao carro do Justino, que este deixara completamente atravessado à frente do portão. Foi nessa altura que o Frederico chamou à parte a sua amiga Joana e lhe mostrou um bilhete que encontrara na sua mochila e que dizia: “Olhem às três da tarde para sudeste e verão a partida dos Bonecos” – assinado Inês.

Partiram os sete para o passeio campestre a bordo do monovolume do senhor Justino – além dele, os quatro jovens, a Avó Mafalda e a Prima Ernestina – passando junto ao rio que ia cheio, em direcção à Anta de que o Tio António falara anteriormente. Era um sítio muito bonito preservado pela população local e junto à estrutura um placard explicava resumidamente o que eles estavam a ver. As gémeas não deixaram de apreciar a paisagem que daí se avistava, aproveitando todos os momentos disponíveis para dar uma vista de olhos pela zona do poço – a Diana tinha trazido os antigos binóculos do avó – mas nada avistando de anormal, além de uns coelhos bravos passeando-se pelo campo e de uma águia velha e solitária, sobrevoando vagarosamente os céus à volta da aldeia. Partiram do local por volta do meio-dia, acabando todos por ir almoçar não muito longe dali num restaurante regional situado perto de um antigo mosteiro de frades eremitas – agora transformado em pousada rural e centro de actividades alternativas – onde se deliciaram com um cabrito assado no forno e uns fantásticos pasteis de Vouzela. Eram já quase duas horas da tarde quando saíram para o exterior do restaurante e foram em passeio a pé até à esplanada do café, propriedade da pousada: aí se sentaram sob os raios do Sol, uns tomando o seu cafezinho da ordem e os mais novos comendo o seu respectivo gelado.

Às três menos um quarto o Frederico e a Joana levantaram-se das suas cadeiras à volta da mesa e foram seguidos pelas gémeas: os mais velhos deixaram-se ficar na conversa tomando o seu digestivo habitual, enquanto os quatro jovens se dirigiram para uma das varandas da pousada, com boa visibilidade para os territórios da vizinhança e com acesso público garantido. Sentaram-se, olharam para sudeste e enquanto esperavam iam falando, comparando e tentando compreender.

Às três em ponto – e sem se ouvir um único ruído que o denunciasse previamente – surgiu no céu um clarão muito brilhante e uniforme em forma de tubo cilíndrico, na extremidade superior do qual se apercebia estar colocado um veículo e cuja imagem conjunta e homogénea pareceu paralisar momentaneamente, com o desaparecimento instantâneo do veículo no segundo seguinte e o desvanecer progressivo da nuvem de “fumo” que a rodeava. Foi como se tivessem visto num dia de temporal um desses relâmpagos poderosos, fulminantes mas efémero – mas quem iria acreditar neles? O mundo era muito estranho!

 

A aldeia recorda-nos a nossa infância pelos mistérios da sua cultura ancestral e pela força e esperança que como um imortal nos sabe transmitir – que tristeza quando partimos!

 

6.º Dia

 

A chegada do tempo de regresso às suas casas de origem transmitiu aos quatro jovens um sentimento geral de nostalgia pelos momentos tão intensamente vividos na aldeia – e agora perdidos na profundidade dos dias – que até a Avó Mafalda percebeu logo a tristeza que eles transportavam dentro de si, acabando por os abraçar um a um como se já sentisse saudades deles e convidando-os para uma nova visita a realizar muito brevemente. O senhor Justino levou-os então até à cidade e aí apanharam o expresso que os levaria de volta.

A viagem pelo IC3 decorreu como previsto até perto das portagens da auto-estrada, com pouco trânsito a circular nos dois sentidos e sob um tempo agora limpo e sem previsões futuras de chuva, mas cada vez mais frio e ventoso com o aproximar do fim do dia. A cerca de uma dezena de quilómetros das portagens e quando ainda se subia e descia a serra a velocidade reduzida – devido à inclinação e humidade existente no piso – o autocarro foi obrigado a abrandar a sua velocidade e finalmente a parar devido à ocorrência do que parecia ter sido um acidente – pelo que se vislumbrava em seu redor – que teria ocorrido há muito pouco tempo. Com o trânsito interrompido nos dois sentidos alguns passageiros saíram do autocarro para ver o que se passava, o que fizeram também a Daniela e a Joana, enquanto o Frederico e a Diana ficavam a espreitar pela janela à espera que as duas dissessem algo.

 

O objecto observado pelos presentes no local do acidente parecia um charuto suspenso no céu

 

O que se passou a seguir está muito bem explicado num trecho do diário escrito pela Daniela nos dias subsequentes ao fim da sua visita a casa da Avó Mafalda e que a neta enviou posteriormente ao Frederico (a seu pedido) de modo a este poder colocar algumas dessas informações e factos por eles vividos, na sua página do Facebook. Trecho também a ser utilizado posteriormente para analisar a reacção das pessoas – quantos acreditariam, quantos não acreditariam e quantos achariam ser tudo imaginação dele – num inquérito que este estava a pensar levar a cabo.

 

E o texto elaborado pela Daniela sobre o incidente ocorrido na viagem de regresso, dizia o seguinte:

 - “Quando saímos da camioneta – o Frederico e eu – e nos dirigimos para o lugar do acidente, encontravam-se no local apenas seis viaturas: dois carros acidentados a ocuparem a faixa de rodagem, mais duas viaturas ligeiras que entretanto tinham estacionado para prestarem auxílio, um jipe da guarda acabado de chegar e a nossa camioneta. O acidente parecia não ter tido grandes consequências, apesar de algumas amolgadelas nos carros. Mas o mais estranho era que estavam todos a falar animadamente e com muitos gestos, enquanto iam alternadamente apontando para um dos lados do céu, completamente desligados da realidade do acidente. Então o Frederico perguntou a uma das pessoas presentes – pelos vistos um dos acidentados – o que se passava ali, ao que ele respondeu imediatamente: “é a coisa que me distraiu e provocou o acidente e que está ali a oeste”. De início não se vislumbrava nada para oeste, mas mal as nuvens que vinham do norte se afastaram, todos voltaram de imediato a olhar naquela direcção, exclamando de excitação: lá estava a oeste da estrada, suspenso no céu e contrastando com o seu azul, um objecto cilíndrico e de cor cinzenta metálica, parecendo imóvel e sem aspectos de vida visível. Eu e Frederico chamamos logo a Joana e a Diana para verem o objecto que ali estava estacionado e quando reparamos à nossa volta, eram para aí umas vinte pessoas todas a olhar e a apontar para onde ele estava. O Frederico estava completamente tomado pelo que estava a ver e só falava do OVNI que ali estava, tentando apanhá-lo com a câmara do seu telemóvel. Foi por essa altura que os telemóveis começaram a apitar, ligando-se e desligando-se numa completa loucura – tendo mesmo alguns deles aquecido demasiado e pegado fogo – e deixando os seus proprietários deveras nervosos. A nave tinha começado a movimentar-se inicialmente e de uma forma imperceptível na direcção deles, mas depois acelerou repentinamente, parou, dispôs-se obliquamente em relação ao solo e num instante desapareceu. Foi provavelmente um momento de loucura para todos nós, acompanhado por um estouro final de todos os aparelhos de telecomunicações e electrónicos que se encontravam nas redondezas e pela debandada geral de todo o mundo presente, acidentados, mirones e segurança. Só os seus telemóveis não ficaram danificados – verificou na altura a Diana – indicando estes a recepção de uma mensagem, que os quatro acabaram por ler mais tarde já a bordo do autocarro.”

 

A mensagem tinha como remetente conjunto a Inês e o Mosca-de-Fogo e era dirigida individualmente aos quatro jovens. O texto da mensagem resumia-se a uma pergunta misteriosa e que os deixou momentaneamente pensativos e sem reacção aparente: SIM ou NÃO? Puseram-se por uns momentos a pensar no mundo extraordinário que juntos tinham partilhado nos últimos dias – e do qual nunca tinham suspeitado da sua existência, mesmo partilhando com ele o mesmo espaço – no que o seu Universo lhes poderia oferecer sem limites de tempo – mas que ninguém desejava ultrapassar por necessidade de espaço – e até no que os seus colegas de espécie esperariam deles, no seu regresso de férias ao seu quotidiano social: não hesitaram e com a atitude infantil, irresponsável e por vezes cruel – tão característica dos mais jovens – carregaram firmemente no SIM. Desapareceram num abrir e fechar de olhos sendo substituídos pelas suas réplicas temporárias. Os pais receberam-nos em casa com abraços e saudades e todos se recolheram a casa. Na nave os Bonecos comemoravam a chegada dos seus novos companheiros de viagem, enquanto o seu comandante os dirigia em direcção ao planeta Animalia e observava com alguma preocupação a evolução da trajectória de um conjunto de pequenos meteoritos que se deslocavam em direcção à Terra – teria que avisar os seus compatriotas da Confederação.

 

O diário da Daniela (fosse réplica ou original) iria a curto prazo comprovar tudo isto, através da publicação dias mais tarde de todos estes pormenores, na página de Facebook do replicado Frederico. Os pais estavam muito contentes e os seus filhos muito felizes – com os Outros vivendo em pleno a sua infância de desejos e a sua necessidade premente de vida e de aventura, num espaço real finalmente sem fim e sem necessidade abstracta de tempo ou fracção.

 

(imagens – google.com)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 12:34