ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Meteorologia – Europa Central e Portugal
“No momento em que o nosso pais está sol alerta vermelho meteorológico e próximo (segundo as previsões) do seu período de actividade máxima – entre as 21h00 de hoje e as 06h00 de amanhã. Pior será o impacto desta tempestade na costa Atlântica de Espanha e nas ilhas Britânicas (com ventos fortes, chuva intensa e vagas de mais de dez metros)”.
Se por um lado o mau tempo se tem vindo a fazer sentir com bastante intensidade e visibilidade sobre a costa ocidental da Europa – com ventos fortes, chuva intensa e mar com vagas de mais de dez metros a fustigar o seu litoral atlântico – o centro do continente também tem sofrido bastante com as condições climatéricas extremas que aí se têm registado.
No caso concreto de Portugal ainda hoje o país se encontra sob alerta vermelho meteorológico, devido à aproximação de uma nova tempestade vinda do Atlântico e que atingirá com maior intensidade o litoral do nosso país a partir das 21 horas locais (começando a abrandar a partir das 6 da madrugada do dia seguinte). Até o derby de futebol a realizar em Lisboa entre o S.L. Benfica e o Sporting C.P teve que ser adiado.
Na Europa central o vento frio e cortante e a chuva gelada mais sólida do que líquida, tem coberto as cidades e os campos dum manto de gelo quase imaginário e surreal, fazendo-nos recordar cenários de filmes rodados em Hollywood, em que o tema era o clima, o tempo e as alterações climáticas e a criação de condições propícias para uma eventual calamidade. Certas regiões da Eslovénia, Sérbia, Montenegro, Bulgária, Áustria e Polónia não têm sido poupadas ao mau tempo, nem mesmo as conhecidas zonas turísticas croatas da zona costeira do Adriático no Mediterrâneo.
(imagens: Eslovénia – The Watchers)
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O Estado do Mar
Na noite de Domingo para segunda-feira o estado do mar atingirá segundo as previsões do Instituto do Mar e da Atmosfera o seu pico máximo de actividade (da meia-noite às três da madrugada).
IPMA – Dia: 09 – Hora: 21h00mn/24h00mn
(previsão)
IPMA – Dia: 10 – Hora: 03h00mn/06h00mn
(previsão)
As vagas provocadas pelo temporal que continua a afectar o norte do oceano Atlântico – desde o início do ano e provocadas pela tempestade Hércules – poderão atingir dez ou mais metros de altura.
(imagens – ipma.pt)
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Esquizofrenia
Jogos Olímpicos de 2014 – Sochi – Rússia
“Terá sido a Tocha Olímpica replicada a partir dum modelo de nave alienígena? Alguns acham que sim, têm provas e talvez acusem Obama, Putin e a NASA de conspiração”!
Esquizofrenia
No início do mês de Novembro de 2013 – há precisamente três meses – a NASA juntou-se ao ex-KGB e actual presidente da Rússia Vladimir Putin, nos festejos dos 50.000.000 de dólares gastos em Sochi, com a organização dos fabulosos Jogos Olímpicos de 2014. Na zona intervencionada pela organização, como local ideal para a realização destes fantásticos jogos em homenagem do Grande Exemplar, aos canídeos e homossexuais saiu a fava – para uns sob a forma de bala (transformando-os em mortos) para outros sob a forma de prisão (transformando-os em zombies).
Tocha Terrestre
E por esse motivo a Tocha Olímpica teve o direito de passar uma temporada no meio do espaço: aquilo a que nenhum de nós terá direito, subalternizados ao mercado e à produção de mais-valia (espectacular). Enviada da minúscula Terra em direcção ao espaço infinito do Universo (que nos contem), o artefacto festivo terrestre foi colocado como um símbolo ou então como um sinal da nossa civilização, numa das maiores e mais admiráveis obras da civilização terrestre – a ISS (Estação Espacial Internacional). Três meses depois – Fevereiro de 2014 – começam os jogos.
Tocha Extraterrestre
Três meses passados sobre esta comemoração extraterrestre dum acontecimento terrestre, eis que surgem os adeptos da conspiração negativa, que nunca pretendendo descobrir a verdade, parecem lutar com um único objectivo: torná-la incompreensível e inatingível, provocando a confusão e o delírio e desaparecendo finalmente na concordância – não se fala mais nisso e passasse à notícia (oficial) seguinte. Um objecto voador não identificado é detectado acoplado à ISS, com a sinalização da data da ocorrência fixada no fim do mês anterior. Assim não vamos a lado nenhum!
(imagens – Web)
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Francisco
As duas faces da moeda
As boas acções devem ser sempre destacadas num mundo onde o objecto manda (a mercadoria) com toda a força do dinheiro e o sujeito obedece (a ser mais um objecto de troca) com toda a falta dele – mesmo que as consequências desses actos nos pareçam de resultados duvidosos (se nada fizermos é que nada teremos). Especialmente se quem o diz ou faz for um privilegiado, sabendo antecipadamente poder perder muito, com a continuação destas práticas “suspeitas”.
Papa Francisco volta a atacar "o poder, o luxo e o dinheiro"
Classifica-os como "ídolos" que impedem a "distribuição justa das riquezas"
Papa Francisco
O Papa expressa a preocupação para o que chama de "miséria moral", e que "consiste em converter-se as pessoas em escravos do vício e do pecado".
Francisco denuncia, que muitas pessoas "são obrigadas a viver em condições sociais injustas, por falta de trabalho, que as priva da dignidade".
"Nestes casos", escreve o Papa, "a miséria moral poderia ser chamada de suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que também é causa da ruína económica, sempre está unida à miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e rejeitamos o seu amor".
(notícia SIC/excepto introdução)
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Pulsações (3/3)
Ficheiros Secretos – Albufeira XXI
(Mundo Sequencial – Transmissão Indiferenciada por Pulsação e Contacto)
“Acordei às oito no cumprimento do dever: duas horas depois abdiquei definitivamente dos meus direitos”. Simplesmente por Intervenção Exterior: Divina, Alienígena ou Humana.
Simplesmente por Intervenção Exterior: Divina, Alienígena ou Humana
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A partir das janelas as vítimas só tinham visto um rápido flash, seguido de imediato e sem dor pela violenta implosão registada no local. As notas do seu diário tinham a última entrada registada no início da manhã desse dia e que apenas dizia: “Parece que tudo mudando não muda, comigo constantemente perdido da frente para trás e de trás para a frente. Não sei mesmo o que agora me espera”. Entretanto a BCRS (Biologic and Cybernetic Reproduction Systems) já se tinha protegido previamente das futuras sequelas do passado e a sua intervenção – como o futuro o comprovava – tinha sido um sucesso completo: a linha de ADN tinha sido eficazmente preservada e positivamente continuada.
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A pequena particularidade tinha sido finalmente ultrapassada. Desse modo o programa pode continuar a desenvolver-se tranquilamente, com o operador a ausentar-se rapidamente e a ir a correr almoçar: a cantina estava prestes a fechar e só passadas umas quatro horas é que voltava a abrir. Sentou-se sozinho no canto da mesa perto da janela e daí, enquanto comia, pode apreciar a vasta e iluminada superfície lunar, carregada de crateras e com umas quantas elevações espalhadas mais para norte. A sua superfície era árida e deserta, só se vendo na planície situada mais a norte uma nuvem de poeira que se erguia lentamente sobre o solo, talvez originada pelo transporte de algum carregamento de minério. Já perto do fim da refeição o intercomunicador tocou: era chamado pelo seu supervisor de programação para discutirem em conjunto o aparecimento da particularidade – dentro de uma hora – solicitando-lhe este que viesse acompanhado do relatório sumário e preliminar de danos causados/solucionados, relacionados com a mesma. Saiu da sala e voltou ao trabalho: tudo estava a funcionar normalmente. Levantou-se e foi fazer o relatório: só não sabia ainda, como explicar o sucedido.
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Desde que a VIRGIN se lançara em direcção à Lua, o conglomerado liderado por Mister RH tomara nas suas próprias mãos o início da colonização lunar: enquanto a Rússia e a China brincavam com os seus veículos telecomandados, espalhando-os sem critério e por puro espectáculo pela imensa vastidão do espaço, a empresa privada decidira substituir-se à poderosa organização espacial ligada ao estado norte-americano – a NASA – e dirigir todas as suas baterias para a conquista dum único e proveitoso objectivo, a Lua. Com todas as prioridades de investimento dirigidas para o satélite da Terra e contando com o apoio técnico e financeiro de retaguarda por parte do estado – a NASA serviria como backup oficial, garantindo a presença e toda atenção por parte do estado – em poucos meses foram montados os módulos que constituiriam o núcleo central da base, a partir dos quais mais tarde se chegaria à constituição da primeira urbe lunar. Mas a grande explosão de desenvolvimento registada nos anos que se seguiram sobre a superfície da Lua, não veio bem da parte de cima mas sim do seu subsolo: primeiro foram os minérios, depois os vestígios da presença anterior de outras civilizações, depois a descoberta da Máquina e finalmente o momento tão desejado e no entanto tão adiado, o ponto cronológico estabelecido para o início do contacto. Com a Máquina na sua posse e a neutralidade tácita dos estrangeiros, o acesso a outras tecnologias foi só mais um passo, não para a Humanidade como era hábito anterior, mas para o fortalecimento do conglomerado dominado por Mister RH. Agora que tinham acesso a velocidades superiores à da Luz dominavam as grandes distâncias, podendo lançar-se para lá da fronteira dos planetas interiores, à conquista de outros mundos e de outras direcções inovadoras. O sonho da utilização de projecções opcionais em situações de realidades desfavoráveis, modelando-as sem as alterar era o próximo alvo a atingir: a partir daí seriam eles próprios a criar e implementar a simulação. Nada de extraordinário num mundo infinito de sobreposições sucessivas.
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Do outro lado da Lua as criaturas de Allen Hills controlavam até ao mínimo pormenor todas as acções realizadas pelos terrestres sobre a superfície da Lua, ao mesmo tempo que monitorizavam todos os movimentos em que estes pudessem por em causa o acordo previamente estabelecido, sobre limites e áreas de influência: o primeiro aviso dirigido aos terrestres fora efectuado aquando das suas primeiras visitas tripuladas ao satélite, especialmente a partir da primeira alunagem efectuada pelos astronautas das missões Apollo. Inicialmente com uma presença não muito evidente – mas deliberada e impositiva – aquando da chegada dos veículos pioneiros vindos do planeta Terra, a sistemática intromissão dos terrestres sobre este satélite estratégico e ali colocado com uma função de observação e acompanhamento temporário e preparação das condições futuras para um novo salto orbital, começou a tornar-se cada vez mais insuportável: uma reunião restrita e secreta fora realizada no próprio planeta Terra, com as criaturas de Allen Hills a imporem tudo o que queriam aos terrestres e a criarem um período alargado de proibição de entrada na Lua ou na sua órbita de influência de qualquer tipo de missão tripulada. Em troca ofereciam tecnologia avançada a este grupo restrito de terrestres – privilegiando-os nesse sentido – o que para as criaturas não constituía qualquer tipo de perigo para a sua segurança, dado o nível rudimentar para a sua civilização dos aparelhos e elementos fornecidos. Os terrestres acabaram por aceitar o acordo proposto pelas criaturas instaladas na Lua, pois começavam agora a compreender todo o poder e avanço tecnológico desta civilização da qual já suspeitavam da sua existência há quase trinta anos, desde que em Dezembro de 1984 tinham descoberto o meteorito de Allen Hills na zona gelada da Antárctida: na prossecução do Projecto ANSMET um grupo de exploradores tinha aí descoberto o célebre meteorito de Marte – apresentando estruturas evidentes de vida extraterrestre muito semelhante às existentes na Terra – além de muitos outros artefactos não revelados e desde aí secretamente analisados e mesmo em certos casos ensaiados.
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A primeira projecção conhecida do Sistema Solar apresentava-o como um grande estrutura espalhando-se por milhões de anos-luz, com uma jovem estrela no seu centro e trazendo todo este conjunto atrás de si numa viagem por todo o Universo: mas a particularidade que o tornava especial era a presença de vida no planeta situado mais próximo dessa estrela. O planeta orbitava a estrela com um período de translação constante, levando atrás de si um outro corpo celeste que, também orbitando a estrela, orbitava ao mesmo tempo esse planeta: tratava-se de um satélite artificial criado e aí colocado para acompanhar toda a evolução da vida nesse sistema ao longo de todo o seu processo reprodutivo e evolutivo. Após a fecundação desta zona-óvulo do Espaço por impacto directo de uma fantástica e brutal quantidade de matéria excitada, pelo movimento e pela energia libertada durante este verdadeiro acto sexual de prazer e procriação, o novo Ser surgiu expondo a sua marca e identidade: a Vida.
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O sistema poderia ser visto duma forma simplificada e perceptível para todos, como uma simples partícula um átomo – com o centro aparentemente estático e pesado a ser orbitado por um conjunto variável doutros corpos “excêntricos”, mais livres e dinâmicos.
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“Desde o início dos tempos a espécie desenvolveu-se em torno da sua estrela-mãe o Sol, aproveitando sofregamente a paisagem luxuriosa que o planeta graciosamente lhe oferecia – num processo que parecia intemporal e sem fim claramente visível (por passividade na acção) – e usufruindo duma forma egocêntrica e levada até ao limite, de todas as delícias que este paraíso original lhe ia proporcionando, nunca pedindo algo em troca. Acompanhava-a um outro corpo celeste, responsável pela manutenção temporária do equilíbrio ambiental que sustinha a evolução desta nova espécie e pela preparação do seu salto seguinte no seu quadro evolutivo de aperfeiçoamento e expansão: a Lua, esse corpo celeste eremita colocado no centro do Sistema Solar por uma raça diferente mas inovadora e criativa, capaz de construir mundos mesmo que simulados e edificar construções (artificiais) únicas e extraordinárias. A Lua era uma dessas construções. Com o decorrer do seu processo evolutivo o Sol foi estendendo a sua área de influência, forçando a nova espécie a emigrar para corpos celestes similares entre saltos planetários e sempre acompanhada pela Lua: como um electrão residente num átomo activo e excitado, esta procurava libertar-se do poder centralizador do seu núcleo central, saltando entre órbitas e procurando continuamente o exterior, o desconhecido, talvez um parceiro. E esse seria o futuro desta nova espécie, se ela fosse capaz de se impor aos seus medos”.
Fim da 3.ª parte de 3
(imagens – Web)
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Pulsações (2/3)
Ficheiros Secretos – Albufeira XXI
(Mundo Sequencial – Transmissão Indiferenciada por Pulsação e Contacto)
“Acordei às oito no cumprimento do dever: duas horas depois abdiquei definitivamente dos meus direitos”. Simplesmente por Intervenção Exterior: Divina, Alienígena ou Humana.
Duas horas depois abdiquei finalmente dos meus direitos
Duas horas depois o meu despertador tocou o alarme: eram agora seis horas da manhã. Mas o quadro que me rodeava deitado na cama no meio da penumbra do quarto parecia-me algo estranho e deslocado: pensava que era um pouco mais tarde do que a hora que o relógio indicava e tinha a sensação de que já o ouvira a tocar antes. Mas na verdade o despertador só estava programado para as seis ou para as oito. Acendi a luz do candeeiro e pus-me a olhar para a janela: lá fora ainda era de noite e não se via ninguém a circular. Levantei-me e dirigi-me até à cozinha. Ao passar perto do hall de entrada a campainha exterior soou e alguém bateu ao de leve do lado de lá da porta, chamando-me com um sussurro pelo meu primeiro nome. Ainda um pouco confuso com a situação e dada a insistência na minha presença, ignorei um pouco a minha segurança e lentamente abri a porta: três elementos parecendo fardados esperavam-no à sua porta, apresentando-se como pertencendo a uma organização governamental de segurança ambiental e solicitando para que eu os ouvisse. Espantado com esta situação que agora vivia e presenciava, nem me lembrei sequer de me opor à sua entrada: sentaram-se os três no amplo sofá da sala – um dos elementos era do sexo feminino – abriram os fortes sobretudos que os protegiam talvez de frio – e aí eu reparei nas armas que transportavam consigo – e logo foram ao assunto que ali os tinha trazido – eu. Segundo a sua apresentação inicial a terra donde os três vinham não seria a minha, não deixando no entanto as duas de pertencerem à mesma Terra. Logo aí fiquei ainda mais confuso e comecei de imediato a perguntar-me no meio de quem me teria enfiado: já antes tinha deixado em pleno bar alguns amigos bem despachados e não era agora que tinha vontade de os ouvir. No entanto eles continuaram com uma conversa que não consegui acompanhar na sua totalidade, em que falavam dum acidente que iria cronologicamente ocorrer dentro de muito pouco tempo e que poderia ter consequências terríveis para uma das linhas reprodutivas e evolutivas fundamentais do que seria a base da humanidade futura: e eu faria parte dum desses links fundamentais a preservar antes da concretização temporal desse acidente, razão pela qual justificavam a sua presença no local e a necessidade urgente de darem início à sua intervenção preventiva. Apresentaram-se então a Máxima – muito parecida com uma miúda com a qual trocara alguns olhares no interior da Universidade – e explicaram-me de seguida o que tínhamos que fazer. Resumidamente e para não causar muita confusão, o que me diziam e pediam que fizesse era apenas isto:
- Os três elementos ter-se-iam deslocado do seu futuro para o meu presente – que pelos vistos pertenceriam ao mesmo mundo e sequência – com o único objectivo de manter intacto no seu futuro uma ligação aparentemente imprescindível para o funcionamento das suas estruturas e que por diversas ligações e cruzamentos iam dar a um ponto do passado em que ele era o foco assinalado na sequência genética a defender. A Máquina Preservadora havia detectado uma possibilidade de incidente numa das curvas passadas do tempo, como consequência da tentativa de intrusão agressiva no sistema de segurança da base de dados centrais, que se suspeitava ter sido bem sucedida e poder estar relacionada com uma tentativa de eliminação dum ramo inteiro dum grupo de orientadores importantes, tentando criar o caos social e uma janela de oportunidade para a concretização das suas ambições no futuro de onde vinham. Mas sendo ele o ponto vermelho assinalado como o mais que provável foco deste incidente passado, os técnicos vindos deste futuro em perigo e sequencial e desconhecendo a data dessa intervenção intrusiva (que deveria estar mesmo muito próxima), só viam a aplicação dum método preventivo directo e contando com a presença dos dois principais interlocutores, como a única solução viável. Então desisti de vez de compreender o que se estava na realidade a passar e enquanto dois dos elementos abandonavam o apartamento dirigi-me pela mão de Máxima para a cama do quarto. O espaço-tempo de sexo foi de mais e acho que foi a partir daí que cheguei à conclusão que tinha mesmo de conhecer a miúda com a qual trocara olhares na Universidade.
Abdiquei provavelmente de muitos momentos de felicidade, mas aquele não sabendo bem porquê, parecera que sempre fizera parte de mim: só que não percebia muito bem se tinha sido pelo momento passado, se por outra coisa qualquer que me sugerisse algo no futuro, que não conhecendo ainda parecia querer dizer algo. O corpo dela ainda se enrolava quente e ávido em torno do meu, tentando puxar-me de novo para a luxúria e para a volúpia contorcionista dos nossos corpo ávidos de contactos e de novas e poderosas sensações, quando repentinamente me desequilibrei, cai da cama e acordei: eram oito horas da manhã.
Finalmente chegara o dia em que eu previra antecipadamente que caíra no chão proveniente desta cama traiçoeira: os lençóis tinham a tendência para caírem sempre para o mesmo lado – talvez por ser por este lado que na maior parte das vezes entrava na cama – enquanto o colchão se deslocava em sentido contrário, criando uma ligeira depressão susceptível de causar acidentes. E eu tinha caído num deles e batido mesmo que levemente com a cabeça no chão: estendido no soalho sob a acção dos primeiros raios do Sol que atravessavam a janela e que pareciam já querer começar a trabalhar em módulo extra, aquecendo o meu corpo e despertando-me a alma, comecei progressivamente a recordar-me do sonho vivido na noite passada, lembrando-me do tempo passado com a gostosa e simpática “miúda da universidade” e dos seus dois acompanhantes, ausentes da cena principal mas pertencendo ao grupo dela. Parecia tudo tão real neste sonho persistente e incoerente, que a própria realidade ambiental que me envolvia ainda mais me confundia – sentimento causado por uma mistura sem critérios de todos os parâmetros de tempo e de espaço envolvidos, mas nem todos descortinados e compreendidos – dado esta ser para além do mais sempre a mesma, mas com algumas alterações pontuais (de imagens) projectadas. Dirigi-me à casa de banho e fui molhar abundantemente a cabeça para ver se arejava a mente e organizava um pouco mais as ideias: as pessoas começavam já a aparecer nas ruas e a vida regressava de novo à cidade. Pensei em arranjar-me e ir dar um salto até à Universidade. Certamente que os meus amigos me iriam contar o que tinham feito no resto da noite após os deixar, tal como eu estava ansioso por lhes falar desta minha experiência. Foi aí que notei no quarto dois pequenos detalhes que me despertaram a atenção: a cama estava fora do sítio e mais desarrumada do que seria normal e junto a ela, já encoberta pela placa que quase ao nível do chão suportava o colchão, encontrava-se uma pequena bolsa que não era minha contendo pequenos objectos e uma identificação com retrato – a imagem da miúda que agora não me largava.
Dos meus direitos pelos vistos ninguém queria saber. Telefonei para alguns dos meus amigos e ninguém me atendeu. Tentei ligar o computador mas a rede apresentava-se sempre “não acessível”. Se antes o cenário ilusório dos sonhos me proporcionara momentos agradáveis e repetíveis, a realidade pura e dura que eu agora percepcionava pouco se importava comigo, muito menos com os meus inoportunos e inconfessáveis desejos: tinha que me desenrascar sozinho e esperar que o guião se melhorasse. Liguei então a TV e apanhei-me a olhar fixamente para uma notícia transmitida por um canal informativo local, que se referia ao avistamento nos últimos segundos de um pequeno meteorito atravessando os céus em direcção ao centro da cidade. Desloquei-me até à janela e pus-me a olhar para os céus: o Sol já iluminava a cidade e em todo o seu redor o céu apresentava-se claro e azul, prenúncio de mais um dia de bom tempo e duma vida agradável. Do lado oposto surgiu um pequeno rasto luminoso, acompanhado dum ruído em crescendo, muito semelhante ao dum avião. Em menos de dez segundos o objecto que atravessava os céus explodiu, lançando dezenas de fragmentos em todas as direcções e provocando múltiplos impactos sobre a superfície que agora atravessava. A sua grande maioria não trouxe consequências significativas para a cidade, mas três fragmentos de maiores dimensões ainda atingiram zonas industriais e habitacionais: dois deles com locais de impacto situados muito próximos um do outro e atingindo uma fábrica abandonada e um bloco de habitações em construção e o terceiro mais grave além de bem visível e que teria provocado algumas vítimas num prédio habitacional no centro da cidade.
Fim da 2.ª parte de 3
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Pulsações (1/3)
Ficheiros Secretos – Albufeira XXI
(Mundo Sequencial – Transmissão Indiferenciada por Pulsação e Contacto)
“Acordei às oito no cumprimento do dever: duas horas depois abdiquei definitivamente dos meus direitos”. Simplesmente por Intervenção Exterior: Divina, Alienígena ou Humana.
Todos os sistemas eram suportados por estruturas redundantes de simulações paralelas e coincidentes, criadas com o objectivo de proteger e defender os operadores do aparecimento de determinadas particularidades – maioritariamente acidentais e produtos do acaso – e assim evitar o aparecimento de derivações de controlo incerto e susceptíveis de suspensão. Os custos dessa suspensão eram extremamente elevados – a criação e eliminação de cenários poderia levar à desqualificação de actores e outros artefactos potencialmente válidos e extremamente efectivos – além de que todos os pontos introduzidos e mesmo que posteriormente eliminados da execução do programa, permaneciam indefinidamente no sistema. Detectada a particularidade arrancava de imediato o programa substitutivo de segurança, o qual só terminaria após a detecção da inconformidade no holograma e a conclusão (e impressão por sobreposição) do novo cenário (disponível por replicação). Utilizando um método de cálculo matemático baseado em sucessivas interpolações repetindo-se até ao ponto de referência pretendido – resultado de intersecções múltiplas de planos do espaço, mas com um ponto comum na estrutura – foi com relativa facilidade e num curto espaço de tempo que detectaram a origem do problema.
Acordei às oito no cumprimento do dever
Acordei por volta das cinco horas da madrugada, sobressaltado por um sonho pelo qual estava a passar no momento e que incluía uma adaptação bem realística, duma cena vivida na noite anterior: à saída do bar fora atingido por um balão vindo não se sabe bem de onde, que ao colidir com o meu corpo rebentara, espalhando de imediato sobre mim uma fina película meia plástica e viscosa, que por momentos pareceu aderir perfeitamente à pele mas logo de seguida desapareceu. Na altura ainda estranhei a situação – se fosse plástico e ao contrário do que sucedeu, o material deveria ter encolhido – mas levado pelo riso e pela diversão que tinha provocado na minha companhia, ignorei-a rapidamente e também mergulhei na brincadeira. No meu sonho a única diferença residia na identificação da origem do acontecimento, num caso real e no outro imaginário: se no primeiro caso a origem da intervenção teria que ser forçosamente humana – o balão era uma criação do Homem, ali colocado em consciência e com um determinado objectivo a cumprir – na concretização do sonho e dado estar inserido duma forma inconsciente noutra realidade, tudo indiciava a participação neste novo cenário de objectos transformados em imagens duma Entidade Diferenciada. A imagem duma paisagem caótica e ondulante, indiferente aos limites definidos para cada um dos seus elementos – o que levava a que certos espaços pudessem ser partilhados, utilizando a teoria da existência e do paralelismo dos mundos – proporcionara a ocorrência no decorrer e evoluir do sonho, duma mistura de cenários complementares à realidade que o provocara, mostrando no meu caso o meu corpo a ser envolvido num manto nebuloso, a desaparecer subitamente e a reaparecer noutro mundo do mesmo mundo. E até contando com a presença de mortos e de outras disparidades (como a Alma e outras espécies não identificadas) nesta produção dirigida. Tornei a adormecer.
Às oito horas da manhã o despertador tocou o alarme: de certeza que me esquecera de o desligar, já que nem me lembrava sequer de o ter visto, quando me tinha ido deitar. Ainda mal a começar a abrir os olhos, inclinei o meu corpo para a esquerda e com as mãos procurei encontrar a mesinha ou então a beira da cama. Não havia maneira de as encontrar com segurança no meio daquela escuridão e se caísse da cama ainda se poderia magoar. Mas algo não batia certo nesta situação ou então era eu que ainda não tinha acordado completamente: por vezes o momento de ligação entre o sonho e a realidade deixavam-me um pouco confuso no tempo e perdido no espaço. Além de começar a apresentar uma estranha e crescente sensação de desequilíbrio – sentia-me como se estivesse a ser puxado para cima desafiando a lei da gravidade – fiquei admirado quando ao olhar pela janela do quarto verifiquei que a luz do Sol ainda não tinha chegado, vislumbrando apenas no exterior e espreitando através do vidro, um céu intermédio de claridade, de nascer ou pôr-do-sol. Pelo menos até ontem o Sol começava a aparecer por aqui vindo de leste depois das seis e às oito já era dia. Mais habituado à penumbra que me envolvia tentei de novo levantar-me, mas para meu espanto senti que o sangue e quase todas as minhas forças pareciam deslocar-se em direcção à cabeça, fragilizando os membros inferiores e dificultando-me o apoio nos mesmos. Era como se tivesse os pés no lugar da cabeça e estivesse enfiado num buraco negro! Olhei de novo para o relógio e confirmei as horas: tinha passado quase meia hora desde que acordara mas a luminosidade não se alterara. Ligou a rádio, a TV e o seu PC mas o resultado foi sempre o mesmo: os respectivos emissores apresentavam-se todos fora de serviço e até o telefone estava mudo. Mas tinha electricidade.
“No cumprimento do processo evolutivo de replicação de partículas obtidas através da junção da matéria e das suas características activas de movimento e de energia, o mundo expandira-se em todas as direcções a partir dum ponto original, aqui referenciado iniciaticamente como o zero absoluto. Num episódio reportado a um dos universos já disponíveis e com o seu período de incubação integralmente cumprido e em módulo de espera, a partícula fundamental abandonou finalmente o seu estado de neutralidade activa, emitindo instantaneamente e duma forma consecutiva energia sem precedentes para o seu exterior e dando origem por colisão a processos idênticos de transferência e de transformação de energia, que levaram ao “Grande Estouro”: lançada pelo espaço agora disponibilizado para este novo conjunto, a matéria agora fragmentada começou a distribuir a sua massa em todas as direcções, expandindo-se a grande velocidade e criando com a sua energia pontos de concentração diferenciada, que foram de acordo com o seu desenvolvimento dando origem a novas diversidades, entre mundos e novas espécies. Em sentido contrário outros universos em etapas diferenciadas da sua evolução estariam agora no seu período de contracção e de fecho da sua curva, de início expansiva (deslocando-se de dentro para fora e libertando energia) e no seu final contractiva (deslocando-se de fora para dentro e absorvendo energia): a noção de infinidade era dada por este contínuo e eterno retorno (à origem), provocando inícios distintos por impossibilidade contrária, mas sempre utilizando no seu processo de transformação, curvaturas diferentes e espiraladas. O conjunto teria pontos dispersos de manutenção de equilíbrios, necessários para a resolução de certos problemas existentes na dispersão de matéria e de energia pelo espaço e que seriam provocadas por certas acumulações inesperadas de “espaços excessivamente preenchidos” e que poderiam dificultar o movimento geral do conjunto do (s) Universo (s): esses ponto seriam os conhecidos “buracos negros”, colocados estrategicamente antes do conjunto U ser activado e que teriam como função assegurar o escoamento de todos os excedentários produzidos durante a execução da tarefa atribuída à máquina e equilibrar os diferentes conjuntos interligados (por intersecção) e actuando entre si, como constituintes dum cenário mais amplo, com parâmetros flexíveis e de dimensões indeterminadas (infinitas). Permitindo deslocações entre determinados parâmetros do espaço, entre tempos e entre lugares”. (excerto do livro: O Construtor de Universos – Origens Filosóficas – Particularidades Pré-Instaladas – Os Redemoinhos Espácio-Temporais)
Do dever a única reflexão que retiro (desse termo) é que o mesmo deveria ser utilizado como um instrumento filosófico dedicado à conservação da vida e nunca para ser propiciador de situações preocupantes senão mesmo perigosas: os riscos que corremos com as constantes adaptações de termos como valores, princípios, respeito e ética (entre muitos outros, senão mesmo todos) têm que ser considerados definitivamente como tendencialmente suicidas, pelo menos enquanto continuarmos a entregar o nosso futuro a psicopatas com tendências auto-destrutivas, só porque estes nos seleccionaram preferencialmente como seus pioneiros, para a execução voluntária das suas práticas de oportunidade interessadas e pessoais. O que se passava comigo era algo semelhante: talvez por obediência à mudança de planos do seu próprio autor, alguém reconstruíra um cenário já consolidado e pré-existente, não se preocupando minimamente com os actores a que já tinha dado vida – alterando completamente a distribuição dos adereços que os rodeavam e nos quais se identificavam – nem sequer com o esforço de todos os restantes colaboradores que o tinham criado e mantido em funcionamento. O meu delírio colocava-me nessa altura num espaço estranho e alienado da realidade, mas que não pertencendo nem ao mundo dos sonhos nem ao mundo das ilusões, me inseria agora num intervalo virtual, como se fosse uma dádiva (extra) aí graciosamente inserida, descartável tipo apêndice; e que em qualquer momento dispondo dum argumento rodeado de incertezas se poderia alterar ou mesmo inverter na sua totalidade. No fundo não queria acreditar no que me estava a acontecer e o meu mais profundo desejo era voltar a adormecer e voltar a acordar de novo. Mas a situação com que me deparava não se alterava por mero desejo ou intenção e lá continuava eu no interior daquele quarto no qual entrara na noite anterior vindo dum exterior vivido e conhecido, agora exposto a um mundo que se abria lá fora e com o qual não sentia nenhuma afinidade – só estranheza e receio. Aí o telefone, tocou deixando-me estático e ainda mal convencido (do que me estava a acontecer) a olhar fixamente para ele. Olhei mais uma vez à minha volta, confirmei a paisagem que se divisava para além da janela e dando uns passos inseguros levantei o auscultador: como se fosse uma molécula de água entre muitos outros milhões existentes e fazendo parte dum organismo agregador mais vasto e poderoso, caí subitamente num precipício escuro e profundo, que me colocou numa trajectória circular e concêntrica em direcção ao outro lado, no qual desapareci e reapareci, com uma sensação estranha vinda do exterior como se um sistema de forças actuasse sobre o meu corpo e o impulsionasse para outro ponto deste ou doutro lugar. Senti-me como uma massa de água inerte depositada num lavatório duma qualquer casa comum, que depois de retirada a tampa que a sustinha (separando-a do túnel de comunicação que lhe sucedia), era levada por uma corrente violenta e espiralada em direcção a um buraco que não nos puxando, apenas deixava exercer sobre ele a força da nossa massa transportando-nos para outras realidades paralelas e complementares. O Universo era o mesmo e a realidade uma parte dele.
Fim da 1.ª parte de 3
(imagens – Web)
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Lixo
Será que o jornalismo já morreu?
Ou poderemos ainda chamar o contador de histórias, o tipógrafo e o ardina – entre muitos outros elementos do povo – para nos contarem a notícia que interessa?
Notícia:
(Sol)
Tripulação que voava com Bieber obrigada a usar máscaras de oxigénio.
Bieber e os seus acompanhantes fumaram marijuana durante toda a viagem.
Contra-Notícia:
(Terra)
Cidadão que nunca voou dispensado de usar máscara de oxigénio.
Cidadão jamais se peidou mesmo em casa e com amigos.
(imagem – Web)
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Miolos
“Se Deus, os Alienígenas ou outro tipo qualquer de Entidade Superior existir, não nos poderá continuar a ignorar, pois connosco terão muito a aprender.
Caso contrário é porque não existem ou são mais burros do que nós.
E se esse derradeiro caso limite se confirmar, então estaremos todos perdidos!”
Quando cheguei ao talho reparei que apesar da porta estar aberta não se encontrava ninguém ao balcão. Estranhei a situação mas mesmo assim entrei no talho e esperei que viesse alguém para me atender. Já no interior esperei quase um quarto de hora antes que um senhor já de meia-idade ali chegasse e educadamente me questionasse sobre o que desejava. Nesse intervalo de tempo apercebera-me de alguma confusão registada nos fundos do estabelecimento, com diálogos bem audíveis e exaltados a serem trocados entre indivíduos, no meio de insultos mútuos e de alguns murros entre portas e mesas, entremeados por tentativas apaziguadoras e equilibradas dos indivíduos mais velhos, simplesmente ignoradas pela irreverência instantânea dos mais novos.
Distúrbios Mentais
Tudo tinha começado com um simples pedido efectuado por um cliente não habitual do talho ao funcionário do estabelecimento na altura aí presente, que ao questionar o talhante se tinha fígado de porco ou de novilho, teve logo como resposta telegráfica e sorridente que de miúdos só se fossem “miolos panados”. O problema é que o cliente era o conhecido cidadão e cirurgião inglês John Brain, acabadinho de chegar dum congresso a decorrer em Vilamoura tendo como tema “A Memória – Estradas de Comunicação e Armazenamento de Dados”, em que o órgão de estudo privilegiado era o cérebro. De mau humor o estrangeiro respondeu com um insulto em inglês, mas teve logo um azar danado: apesar de tudo o talhante tinha a escolaridade obrigatória, respondendo-lhe de imediato “fuck you too”.
Distúrbios Naturais
Entretanto pedira que me aviassem um frango cortado aos bocadinhos para guisar e uma farinheira para misturar e reforçar o sabor. Durante estes minutos tinham entrado no talho uma mulher jovem trazendo uma criança pela mão, um casal de idosos de nacionalidade alemã acompanhadas por uma portuguesa de meia-idade e mais dois jovens estudantes que ali tinham entrado para comprar um pacote de batatas fritas e uns sumos naturais, que o estabelecimento também comercializava numa divisão lateral. No total estavam nove pessoas no interior do talho, quando sem que ninguém o previsse – até porque o ambiente acalmara e dos fundos do estabelecimento já nada de anormal se ouvia, registando-se uma calma quase absoluta – se verificou o incidente fatal. Á frente vinha John Brain em silêncio total mas gesticulando nitidamente numa fúria dificilmente contida e muito perto da explosão, seguido de muito perto pelo patrão e dono do talho. Repentinamente uma mulher jovem entrou pelo estabelecimento dentro, com o dono do talho a reagir quase que instantaneamente ao seu aparecimento como se já estivesse à espera do que ia acontecer, esfaqueando pelas costas o cidadão inglês, enquanto que inesperadamente e sem que víssemos a arma que transportava consigo, a jovem mulher disparou, atingindo de frente o patrão: logo ali um morto com uma bala atingindo e perfurando mortalmente o cérebro do talhante e um outro ferido com extrema gravidade com o fígado perfurado e praticamente inutilizado, John Brain.
Distúrbios Artificiais
Quando a polícia chegou o cenário anterior já se tinha alterado profundamente. Relembre-se que dos doze elementos presentes aquando do acidente – nove na entrada, os dois que vinham do interior e a mulher que entrara subitamente – um morrera, outro estava perto disso e a jovem mulher pusera-se em fuga. Ficavam assim ainda nove: o funcionário do talho, o casal de idosos com a portuguesa, a mulher com a criança, os dois jovens estudantes e eu. Ao primeiro tiro os estudantes tinham-se posto a milhas – ficavam sete. Como se pode ver eu safei-me sem ferimentos, passando de imediato a inocente, testemunha e relator – ficavam seis. A criança que acompanhava a mulher pela mão salvei-a eu, escondendo-me e à criança no momento de maior irracionalidade e violência, atrás da arca congeladora – ficavam cinco (perdão quatro, esquecia-me de mim). E foi entre estes que se dividiram “as desgraças pelas aldeias”: completamente fora de si com o que estava a presenciar – o senhor de meia-idade que me atendia era afinal de contas o pai do dono do talho – e vendo o seu filho tombar atingido mortalmente pela mulher que entrara de rompante no talho, este correra com o cutelo atrás dela, tropeçando e atingindo acidental e mortalmente um dos idosos de nacionalidade alemã e acabando por ferir também com alguma gravidade a sua mulher. Aterrorizada com o ímpeto agressivo do funcionário, a mulher jovem só teve tempo de lhe dar um grande murro e uns quantos pontapés seguidos para o afastar de si, acabando por lhe dar um forte encontrão que o levou a embater com a cabeça na bancada de serviço: sofreu logo ali um forte traumatismo que associado a um ataque cardíaco o fulminou em segundos. Não esquecendo a portuguesa que na altura acompanhava o casal alemão, dispensada de todo este episódio macabro e inacreditável, por ter logo no início desmaiado e perdido e boa altura os sentidos. O relatório final era claro: 5 mortos e 1 fugitivo entre doze participantes. Mais tarde foi descoberta a possibilidade de ter estado presente um décimo terceiro elemento – nunca confirmado – o que transportou este episódio para narrativas envolvendo mistério, terror e superstição.
Distúrbios Sexuais
A polícia nunca conseguiu identificar a jovem mulher que se introduzira no talho, atingira mortalmente o patrão na cabeça e desaparecera de imediato e sem deixar rasto. Ainda a tentaram associar ao círculo social frequentado pelo defunto John Brain, mas a polícia inglesa não o permitiu, na defesa do bom-nome do seu ilustre cidadão e médico conceituado. Mas ela acabou por me contactar por interposta pessoa e garantida a sua segurança e privacidade – não queria nada com a polícia – resolveu ser por mim escutada e publicada, desde que se mantivesse incógnita e sossegada. E foi nestas condições pré-estabelecidas, confortavelmente instalada no seu agradável estúdio situado na capital do Algarve, que ela disse:
- Conheci o John Brain numa festa informal realizada há cerca de um ano atrás num empreendimento turístico do Algarve, no qual se realizava uma conferência de promoção de produtos duma farmacêutica mundialmente conhecida, da qual ele era um dos directores e sócio minoritário. Apesar de todo o seu aparente poder e dinheiro revelara-se no entanto um pouco tímido e reservado, quando se tinham conhecido acidentalmente no hotel onde os dois e por acaso pernoitavam – isto porque muitas das incapazes e invejosas que a denegriam, quase a acusando de ser uma mera prostituta, a apelidavam de oportunista e golpista implacável – depois de chocarem violentamente um contra o outro, ao transporem apressadamente uma porta lateral que dava acesso ao bar do hall de entrada. Ele a entrar e ela a sair. Acho que a ligação entre nós se estabeleceu de imediato. O que se seguiu foi apenas uma consequência lógica do nosso primeiro encontro: encontros e desencontros constantes, momentos de luxúria e de prazer e ultimamente, talvez provocado por alguma alteração psicológica que o afectava duma forma crescente nas últimas semanas, uma maior agressividade verbal e corporal que ela própria muitas das vezes sentia fisicamente – mas da qual ela até nem tinha razão de queixa, pois tornava no final a participação de Brain no acto sexual muito superior ao esperado. Mas algo corria mal, bem lá no fundo da cabeça dele: e dadas as circunstâncias e contexto em que estes sintomas tinham aparecido, chegara à conclusão que só poderia ser um caso de ciúme patológico. Se a sua vida continuava dentro da sua normalidade quotidiana, tal e qual como na altura em que Brain a conhecera, não via porque tinha que mudar já que sempre assim fora. Nunca permitiria trocar a liberdade do seu corpo por uma mera concessão ainda por cima definitiva: o problema era dele e a partir desse raciocínio decidira nada mudar e continuar como se nada estivesse a acontecer;
- O que se seguiu foi para mim algo de inesperado e apenas o resultado dum incidente sem nenhum significado, concretizado numa reacção normal de desejo momentâneo e por vezes injustificado e que terminou naturalmente como entre dois animais de qualquer espécie e de sexos diferentes na cópula – o que para ela valia zero como se tratasse de um copo vazio. O homem instantâneo tinha sido o filho do dono do talho, que conhecera casualmente na festa realizada após a concretização da escritura do seu novo apartamento, oferecido como prova de amor pelo então apaixonado John Brain. A sua presença no talho ligava-se às suas suspeitas de que algo se iria passar entre Brain e o respectivo talhante, quando fora informada por terceiros que ele acabara de saber de tudo o que se passara: prevendo o acontecimento seguiu-o prontamente e mal entrou no estabelecimento ao visionar o cenário que ali começava a ser construído resolveu alterar um pouco o argumento e abater o seu amante temporário a tiro. Assim não restariam testemunhas.
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Estratégia Alienígena
“Desde a sua formação que lhes ensinamos a arte de representar, nunca a arte de Ser. No entanto eles por vezes sem entenderem, apercebem-se disso e é vê-los representar: mas mesmo assim não percebem, que o que querem verdadeiramente fazer, é Ser. A força do nosso projectado guião será sempre mais forte do que os sujeitos, objectos desta simulação”
(Nação Alienígena – O Livro Azul da Manipulação)
A Réplica
Uma equipa de cientistas entusiastas do estudo e investigação de antigas civilizações terrestres e apologistas da prática de actividades radicais, descobriu no passado fim-de-semana de 25 de Janeiro de 2014 – precisamente um mês após a data do nascimento do original – uma réplica provavelmente de origem alienígena daquele que viria a ser um dos principais ideólogos terrestres, nos últimos dois mil anos da nossa história comum.
O importante acontecimento concretizou-se após um telefonema anónimo recebido num das centrais telefónicas da localidade – aqui não identificada para salvaguarda dos investigadores e do artefacto pelos mesmos descoberto – que se referia à presença duma criança completamente nua e usando apenas umas fraldas, no exterior duma habitação e perigosamente exposta ao frio a ao vento.
O telefonema anónimo acrescentava ainda alguns aspectos descritivos sobre o estranho acontecimento e o seu respectivo protagonista, o que levou o funcionário responsável pelo atendimento da chamada a encaminhá-la de imediato para um centro de acolhimento de crianças perdidas: face às descrições complementares e voluntárias fornecidas pela testemunha anónima que tinha feito o telefonema, a criança poderia estar a correr perigo de vida, tanto pelo estado de abandono em se encontrava como pelo estado mental da própria testemunha, não interventiva e aparentando estar parcialmente em delírio.
Na parte final do telefonema a testemunha descrevia pormenorizadamente o cenário que vislumbrava a partir da sua janela (que dava para as traseiras da casa do seu vizinho, que na altura se encontrava ausente) informando o telefonista do outro lado da linha que estava a ver nesse momento um menino sentado estático no chão do quintal e exposto aos elementos meteorológicos exteriores e que aparentava ter entre três e seis metros de altura: parecia no entanto estar de boa saúde e com os olhos bem abertos e assemelhava-se fortemente ao Menino Jesus.
Posteriormente desviado o destino da chamada – o centro de acolhimento indicou pensando ser uma chamada no gozo, que só aceitava crianças até dois metros de altura – o responsável da central telefónica um pouco incomodado com a situação e sujeitando-se já às piadas veladas dos seus colegas de trabalho, marcou então e duma forma inconsciente mas também intuitiva, os números do Centro de Ajuda e dum grupo de entusiastas do projecto SETI. Como os primeiros informaram não terem instrumentos nem ferramentas de recolha ao domicílio – eram os fiéis que se deslocavam aos seus centros na demanda da fé e dos milagres – apenas restaram os segundos.
E logo às primeiras horas da manhã uma equipa de mais de dez elementos duma empresa local de transportes e mudanças, dirigidos por dois indivíduos que se auto intitulavam como cientistas, recolheram o menino que ainda ali se encontrava paralisado e de olhos ainda bem abertos, gelado e talvez em hipotermia mas com a pele ainda bela e brilhante: talvez devido ao frio nem se conseguia mexer e nem um som emitia. Admirados com o seu achado e espantados com a perfeição e beleza que emanava desta criança, um amor maternal invadiu todos e a prioridade passou para a sua rápida transferência e transporte para lugar seguro. Com os seus cinco metros de altura e a sua meia tonelada de peso, levantá-lo foi difícil mas sempre valeu a pena: instalaram-no numa garagem e ficaram logo a vê-lo.
Em primeira análise a criança teria origem extraterrestre. Apesar da sua semelhança fisionómica com os humanos e da sua possível ligação com as lendárias raças de gigantes que poderão ter existido sobre a Terra em épocas distantes e perdidas, alguns factores nos distinguiam deles: o principal factor residia no material que a constituía, muito semelhante no aspecto e no toque às propriedades inerentes ao nosso aço. Mas o que mais os tocava e alertava para a presença de algo de insólito e de fora de comum neste cenário, era a coincidência da data de ocorrência deste acontecimento com a data de celebração religiosa a efectuar proximamente no santuário local, em que a estrela central seria um outro menino XXL apresentado em tamanho gigante e aqui integrado estrategicamente, no cumprimento dum programa mais vasto e secreto denominado projecto MORPHIX. Por “acaso” ligado a uma empresa de efeitos especiais.
Estudos mais pormenorizados levados a cabo por estes cientistas e estudiosos em antigas civilizações e seus artefactos – e recolhidos antes do inesperado assalto à garagem, que deixou todos os seus ocupantes inconscientes e incapazes de reagirem – apontavam mais uma vez para uma intervenção estrangeira na sua concepção e colocação no espaço, a que não seriam alheios certas grupos políticos e religiosos locais, pertencendo a poderosas seitas e outras sociedades secretas. Não terá sido por acaso que após o rapto desta gigante criança de aço, esta tenha reaparecido como se fosse um milagre num conhecido e badalado bairro da cidade, durante as celebrações sociais que se realizaram na torre do moderno arranha-céus e centro de negócios denominado Santuário e em homenagem ao Senhor do Santo Sepulcro – provavelmente uma Entidade Secreta situado no topo da hierarquia e certamente ligado ao agora proclamado Menino Jesus.
Fontes próximas aos intervenientes neste acontecimento não deixaram no entanto de comentar notícias ignoradas e não publicadas pelos jornais da cidade e vindas do interior da província profunda, referindo-se insistentemente a que a criança de aço não passaria dum impostor replicado em tamanho gigante, duma outra criança sofrendo de gigantismo e hidrocefalia – e que o seu pai um escultor conhecido tinha produzido em troca de dinheiro (para ajudar o seu filho doente) a pedido expresso de indivíduos poderosos mas desconhecidos e que lhe prometiam a curto prazo a cura do seu filho.
O mundo tem destas coisas: nunca vemos o que de mais importante a Natureza nos oferece todos os dias e por isso morremos. Essa a razão pela qual os alienígenas não estão interessados em nós e como sujeitos nos acabam por tratar como objectos: aliás tratando-nos como nós tratamos os outros – talvez para não estranharmos e não dar-mos pela sua presença – que nem os querendo reconhecer, acabam por os fazer desaparecer. E com eles vamos nós e o mundo a seguir.
(imagem – Web)