ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Cabo Verde – Ilha do Fogo
Vulcão em Erupção
Na república independente de Cabo Verde o vulcão da ilha do Fogo entrou de novo em erupção. Tendo despertado há já vários dias do seu prolongado silêncio de quase duas décadas (a última erupção registou-se em 1995), o vulcão tem vindo nos últimos tempos a expelir lava para o seu exterior, a qual no seu trajecto lento em direcção ao mar tem vindo a destruir culturas, estradas e casas de habitação, pondo em causa toda a organização social e a sobrevivência local.
E Talvez Acalmia
“A Chã das Caldeiras acordou esta manhã de segunda-feira, 01, mais calma. Houve um abrandamento da intensidade sísmica e as lavas que se moviam para a Portela em direcção ao Sul estão paradas. A única via alternativa que dá acesso à Chã não foi afectada. A outra preocupação neste momento é com a emissão de gases, uma média de 8.000 toneladas de dióxido de enxofre por dia. Nos últimos dias, tem sido possível detectar o cheiro a enxofre nas zonas de Patim, Monte Grande e na Cidade de São Filipe. Já nas zonas mais próximas da Chã, regista-se uma queda de areia fina.” (asemana.publ.cv)
(imagem – Web)
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Causa e Efeito de um Simples Aspirador
Ficheiros Secretos – Albufeira XXI
O Aspirador 821
De como um aspirador transforma a nossa realidade num cenário. Criado por alguém mas não certamente para nós.
Alguém pegou nele para o pôr a trabalhar mas faltava-lhe uma peça. Podia trabalhar mas não cumpria o guião.
A peça desaparecida do meu aspirador
Durante as últimas horas do fim-de-semana ainda mantive o dilema: deveria engolir e calar ou então pedir explicações. E depois de medir os prós e os contras desta situação, lá decidi que segunda-feira dia 1 de Dezembro sem medo e decisivamente, seguiria mesmo em frente: ao fim e ao cabo era o Dia da Restauração da Independência de Portugal (um dia propício para a nossa afirmação no mundo).
Hoje consegui finalmente entrar em contacto com um responsável da agência espacial norte-americana NASA (fazendo parte da equipa responsável pela exploração do planeta Marte), informando-o da descoberta acidental feita pela minha mulher este fim-de-semana quando visionava por mero acaso uma das imagens SOL 821. Inicialmente o técnico da NASA ainda tentou livrar-se de mim tentando invocar razões de ordem técnica e administrativa (e mesmo de segurança), mas quando me ouviu dizer que a minha mulher tinha encontrado o terminal do tubo do seu aspirador sobre a superfície de Marte (tendo como testemunha uma imagem fornecida pela própria agência), vi-o ficar um pouco nervoso, passar pensativo e lentamente a mão pela sua face e finalmente dizer-me para esperar um pouco.
Alguns minutos depois foi-me solicitado para em alternativa e por questões de funcionamento da própria agência, que transferisse o exercício da minha comunicação para uma linha dedicada com áudio e vídeo utilizando um simples PC desde que ligado à Web. Assim fiz – introduzindo a identificação da ligação e um código fornecido pela agência – ficando de imediato em linha com este sector da NASA (que mais tarde verificaria ter funções administrativas e comerciais). Do outro lado do monitor apareceu-me então um indivíduo aparentando pelo seu uniforme ser um militar, intitulando-se pertencer a uma denominada Força de Defesa da Terra: informou que me colocaria em contacto directo com uma RPC, podendo aí apresentar imediatamente o meu caso.
Quem me atendeu da primeira vez identificou-se como KAYE, passando-me de imediato a outro técnico que não era certamente americano (talvez russo?). E numa lengalenga de início desinteressante e que quase me fez adormecer, algo mudou radicalmente na minha cabecinha quando o ouvi dizer que ele ali estava exercendo as suas funções, de modo a resolver casos pontuais relativos a desvios excessivos e podendo provocar falhas graves de segurança, mas que por outro lado até poderiam ser aproveitados e resultar em benefícios futuros para “as corporações e militares instalados na Lua, em Marte e em muitos outros locais do Espaço”. Aí algo saltou no meu cérebro (acho que do outro lado ele viu os meus olhos bem abertos e demonstrando algum espanto) e lentamente comecei a correlacionar aquilo que via mas no qual não queria acreditar (ainda me pergunto porquê).
Superfície marciana onde a peça foi descoberta
Decidi então assumir o que seriam as tácticas e estratégias deles e surpreendentemente (para eles) informei-os do que começara a desconfiar e no que agora começava a acreditar: que sabia quem eles eram, onde estavam, o que estavam a fazer e que queria o meu terminal do aspirador de volta ou revelaria ao mundo a minha descoberta e apresentaria o aparelho agora deficitário (não fora por acaso que de madrugada o recuperara do caixote do lixo). Aí ficaram um pouco nervosos mas em seu proveito acabaram por me conceder o benefício da dúvida. Reenviariam o terminal do aspirador da minha mulher (o mais cedo possível) e em troca forneceriam algumas informações e até uma “proposta deveras tentadora”. Fiquei curioso se não mesmo tentado – não conhecendo sequer a proposta mas suspeitando como uma criança (livre) o que ela dizia.
Alguém bateu à porta de minha casa trajando à civil. Apresentou-me dois distintivos comprovando estar ali em nome da EDF e da MCC e colocou-me à frente um documento de confidencialidade e de adesão: só tinha que assinar e estaria tudo OK. Recolheu o documento, despediu-se e desapareceu. Voltei ao meu lugar diante do monitor e fiquei a aguardar. Pouco tempo depois a ligação foi restabelecida. Desta vez foi um indivíduo certamente de origem asiática (talvez chinês) a ser o meu interlocutor, entrando num curto diálogo comigo que nem um minuto durou. Informou-me de dois pontos fundamentais antes de interromper a comunicação: seriam enviados três anexos (ao ficheiro e nele incluídos) indiferenciados mas codificados, aos quais teria acesso através da minha palavra-chave. E repentinamente a ligação caiu apenas restando o ficheiro entretanto descarregado. A única indicação que identificava o ficheiro era o conjunto de iniciais utilizadas: MSDS.
Antes do meio-dia uma carrinha de correio Expresso veio-nos entregar uma encomenda de média dimensão, aparentemente enviada por uma empresa de distribuição (para mim) desconhecida e com sede em Taiwan. No seu interior vinha um modelo de aspirador exactamente igual ao anterior, mas com dois terminais para o respectivo tubo. E numa pequena bolsa onde viriam outros acessórios e o respectivo manual de instruções, também vinha um bilhete mas só de ida, com passagem por uma cidade bastante conhecida (aqui não divulgada por obrigação de confidencialidade, podendo assim a introdução desta norma indicar estratégica e deliberadamente, tratar-se aparentemente de uma simples brincadeira) mas sem destino final pré-definido.
No começo a minha mulher não aceitou logo a minha ideia, mas face à crise económica que atravessava o país, ao elevado número de desempregados (no qual eu me incluía) que na prática não havia maneira de descer e às garantias fornecidas por estes novos empregadores, acabou por finalmente ceder e aceitar os períodos de solidão que certamente nos esperava: no fundo eu seria apenas mais um emigrante, colocado num lugar mais distante do que acontecia com a esmagadora maioria dos restantes, sempre com saudades de casa e da sua querida terra natal. E como o contrato era anual o melhor era arriscar. Às três da tarde já me encontrava a bordo dum transporte privado que me transportaria até ao aeroporto mais próximo. E ao olhar mais uma vez – talvez como saudação, talvez como despedida – para a imagem da peça do meu aspirador sobre o solo de Marte, pude constatar como por vezes indícios descartados por desenquadramento de cenário, se podem transformar em provas evidentes de que o cenário que nos é proposto não é na realidade uma projecção do original.
Terrestre operando sobre a superfície de Marte
Dos três anexos dois eram informativos. E o terceiro um conjunto de documentos necessários para a concretização da minha viagem. Ao dar uma vista de olhos pelos dois primeiros documentos senti-me momentaneamente como se estivesse a ler um conjunto de artigos, tratando de assuntos associados e editados num site sobre conspirações e extraterrestres: ainda este fim-de-semana lera algo de semelhante e o nome KAYE (que ouvira em qualquer lado) lhe soava cada vez mais familiar. Nesse momento colocou-se-lhe a dúvida final mas já se encontrava na sala de salto. E tal como um Aspirador teria que estar completo para cumprir com energia e profundidade a sua função, também o Homem teria que se desmultiplicar por diversos cenários para compreender a infinidade do Universo e com ele compartilhar a sua energia e matéria.
O primeiro documento tinha um nível de encriptação duplo, sendo que o segundo código de desbloqueamento só estaria disponível quando já se encontrasse na estação de trânsito, precisamente meia hora antes de entrar na sala de salto. A única indicação do que poderia conter estava no símbolo apresentado na página de capa e que sugeria uma estrutura subterrânea organizada e muito semelhante a uma cidade. Poderia ser o local para onde me dirigia. Quanto ao segundo anexo continha algumas informações, documentação e mesmo algumas imagens obtidas recentemente, referindo-se concretamente a um determinado indivíduo que negando todas as suas afirmações realizadas sobre compromisso de honra, atraiçoara o contratante e as próprias ideias anteriormente assumidas. Um aviso para aquilo que ele nunca deveria fazer e ao mesmo tempo uma fonte de informações sobre aquilo onde se iria provavelmente enfiar.
Segundo as informações veiculadas por muitos órgãos de comunicação mundial um militar afirmando ter anteriormente pertencido a uma organização chamada Força de Defesa Terrestre, terá declarado ter passado vinte anos da sua vida ao serviço dessa força militar no distante planeta Marte, protegendo as colónias terrestres aí instaladas dos constantes ataques dos marcianos, em mais uma tentativa destes de controlarem completamente todo o planeta. Neste projecto estariam incluídos não só norte-americanos, como também russos e chineses. O militar de nome Kaye e cuja patente seria o de capitão, acrescentou ainda que esta história não se limitaria ao planeta Marte. As colónias estender-se-iam a outros planetas como Saturno e a luas como Titã (e até à nossa Lua, como uma das principais bases de salto), perdendo-se mesmo nas profundezas do espaço. Disporiam de tecnologia para viajar no tempo e de salas de salto, de modo a facilitar a realização de longas viagens interplanetárias (e mesmo interestelares e intergalácticas). E no meio de todo este corrupio e avalanche de novas e estranhas informações ainda mencionou a existência de outras formas de vida alienígena bastante avançadas e extremamente inteligentes, assim como da existência de grandes corporações há muito tempo instaladas em Marte como a EDF e a MCC. Concluindo a sua dissertação com a cerimónia comemorativa dos seus vinte anos de serviço celebrada na Lua e contando com a presença (além dele) de uma importante figura da poderosa administração política do seu país.
E para finalizar, o ponto que mais me interessou e a partir do qual não tive dúvidas: Kaye afirmava que apesar do seu contrato ter sido feito por um período de vinte anos (deveria ter sido extremamente duro), uma cláusula importantíssima do mesmo adicionava no final que encerrado o período estabelecido de serviço militar obrigatório, ele seria de novo recolocado no espaço e no tempo que anteriormente abandonara: vinte anos antes e com as suas memórias (deste intervalo) apagadas e substituídas. Mas no meu caso com um contrato extraordinário concretizado por um ano e com a garantia adicional de voltar rejuvenescido e integralmente reciclado.
Se o meu amigo aqui estivesse, nem iria acreditar! Por estas horas estaria em Albufeira, tranquilamente sentado à lareira, com a sua filha Gregoriana e o seu fiel amigo Peque.
EDF: Earth Defense Force
MCC: Mars Colony Corporation
MSDS: Moon Saturn and Deep Space
RPC: Red Planet Colonies
(imagens – NASA e Web)