ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Sexo com Gelo & Alienígenas – 2/4
A principal atracção do Sistema Solar tivera sempre como foco principal um ponto perdido no seu espaço e localizado nas proximidades da sua estrela de referência: como corpo celeste quente e constantemente bombardeado por partículas mortais, a Terra oferecia aos seus visitantes um palco viciante de morte e de sexo.
Imaculada Conceição e gémeos Andrade
Numa das janelas uma mulher olhava-os fixamente, provavelmente surpreendida e de boca aberta, com tudo aquilo que antecipava. Segundos depois uma porta abria-se (na fuselagem do veículo), surgindo a mesma mulher com a sua boca expressiva, rodeada por dois gémeos identicamente talentosos. Autorizados pelo recuo estratégico do trio ainda espreitaram para o interior da esfera, mas nada se salientando no espaço e sem motivos que os motivassem, viraram as costas e regressaram ao seu trajecto. Sentindo-se insultada Conceição chamou a si os dois gémeos e logo ali os despachou. Atrás de si fechara a porta e concluído o coito na íntegra, sentara-se no seu lugar e aguardara: ao canto os gémeos Andrade sorriam, ainda com os seus pénis erectos e com a bomba (de ar) colocada em segurança na sua mão esquerda.
Enquanto se afastavam do local os dois amigos momentaneamente abandonados ainda ouviram por instantes alguns gritos vindo do veículo, sobrepondo-se ao som da música que também escapava para o exterior e levando-os por momentos a pararem e a darem mais uma olhadela para trás. Talvez devido à agitação que se desenrolaria no seu interior a esfera acabou por rodar um pouco, invertendo a sua posição e acabando por se imobilizar junto de um tronco de um medronheiro já morto mas que insistia em manter-se de pé. Aí a música parou e tudo mergulhou de novo no silêncio. Dirigiram-se então para um caminho que descia um pouco mais a encosta e aproveitando uma rara abertura no céu por onde alguns raios do Sol ainda conseguiam passar, decidiram arriscar um pouco mais e dar uma vista de olhos nas proximidades.
O frio continuava a sentir-se intensamente nos seus corpos apesar do dia estar ligeiramente mais suportável e luminoso (efeito originado pela passagem através do céu quase todo encoberto, de mais uns quantos raios de Sol), com o percurso a mostrar-se em certos locais um pouco escorregadio e inesperadamente perigoso: mas o tempo seco e o vento frio que se fazia sentir tinham efeitos terríveis sobre eles, não deixando os seus corpos descansar um segundo que fosse das exigências extremas impostas pelo tempo. Andaram sempre muito vagarosamente durante cerca de meia a hora, parando já eram 10.30 junto às paredes exteriores de uma casa rural abandonada e construída junto a um afloramento de rochas de grande e média dimensão. Ao abrirem uma porta junto a um pequeno barracão construído em tijolos mas já muito danificado e cheio de fendas, foram surpreendidos pelo aparecimento de umas pequenas escadas que desciam para o interior da terra e que pelos vestígios que ali se encontravam deveriam ir dar a uma cave onde os anteriores proprietários provavelmente guardariam alguns dos seus bens mais preciosos.
Ou seja comida e bebida. E entusiasmados com essa possibilidade, não demorou muito tempo a vermos os dois a descerem à cave, iluminando o acesso com a lanterna do Verde. Acabaram a curta descida e viram-se então no interior de uma gruta subterrânea com sinais claros de abandono (bastante prolongado), dispondo dumas quantas filas de garrafas ainda intactas, meia dúzia de recipientes que não sabiam ainda o que continham e logo à sua frente uma pequena secretária com copos cinzentos (de tão sujos que estavam) e alguns papéis já ressequidos e aí abandonados. E mais ao fundo à direita vislumbrava-se uma porta mais pequena. Ao lado mesmo diante da secretária uma fotografia chamou-lhes a atenção: uma bela e esbelta mulher expondo como um troféu todos os seus principais atributos sexuais, olhava-os de uma forma incisiva e provocatória enquanto nos informava que estávamos em Julho 1997, qual a melhor marca de pesados e a morada da melhor oficina e dos experientes mecânicos.
Tinham ali vinho e alguns produtos agrícolas armazenados. Poderiam estar bons ou nem sequer serem já comestíveis. Ainda assim recolheram umas garrafas, recolheram uns restos de cereais que talvez pudessem aproveitar e maravilha das maravilhas umas latas de conserva que se encontravam num móvel da parede. Antes de partirem foram ainda dar uma vista de olhos à outra porta existente na cave. Ao mexerem na maçaneta da porta ela desfez-se e para além dela nada viram: uma extrema escuridão escondia o seu interior ao mesmo tempo que uma brisa se escapava dele atingindo-os directamente na cara. Deixaram ficar o resto para depois e puseram-se de regresso ao local onde tinham pernoitado.
O veículo encontrava-se ainda no local mas já não se ouvia nada. Entretanto durante a manhã o dia acabara por voltar a escurecer e pelo panorama que se via a norte vinha aí tempestade. Aceleraram um pouco mais os seus passos e pouco tempo depois estavam de novo à porta da habitação. Educadamente bateram à porta e chamaram pelo Verde. Quem lhes abriu a porta foi um dos gémeos Andrade, apresentando-se um pouco alterado mas ainda de pénis erecto. Na sua mão direita segurava ainda a bomba (de ar), enquanto respirando de uma forma anormal e ofegante nos compelia a entrar: o seu irmão gémeo jazia no chão com um grande buraco bem visível no meio das suas nádegas, desaparecendo rapidamente e muito perto de ficar completamente vazio.
Afro e o seu Negro
A Terra fora devastada sem que nada o fizesse prever. A queda imprevista de um meteorito de média dimensão em pleno oceano Árctico acelerara o processo já em curso de desestabilização ambiental do planeta, promovendo inicialmente a libertação de maiores quantidades de metano (vindo das camadas profundas do solo polar) e simultaneamente a subida da água dos oceanos. O degelo fora o episódio que originara o fim da anterior linha de costa e as erupções crescentes e cada vez mais violentas registadas no Círculo de Fogo, tinham acabado por completar o cenário de tragédia eminente.
E com o grande terramoto de 2017 na Califórnia e o recrudescimento da actividade na caldeira de Yellowstone, o guião do filme tornou-se definitivamente inevitável: parte da costa ocidental dos EUA simplesmente desaparecera, ilhas vulcânicas como o Japão tinham sido completamente engolidas pelo mar (fazendo-nos recordar a lendária Atlântida e questionarmo-nos se a história teria mesmo um trajecto circular repetitivo), regiões inteiras e extremamente populosas da Ásia tinham desaparecido sob a força de furacões, tsunamis e outros fenómenos atmosféricos de extrema violência e para concluir (e compor o ramalhete) um Inverno Brutal instalara sobre a Europa e até o vulcão de Monchique finalmente se manifestara: numa noite de Inverno as fontes termais das Caldas de Monchique tinham repentinamente secado, a terra na região tremera anormalmente e num ponto da costa algarvia a lava reaparecera. Um túnel subterrâneo já conhecido e até aí inactivo, transportara as lavas produzidas no Barrocal algarvio do interior até à costa. E de seguida viera este novo período glacial.
Hipólito e Tiago entraram na habitação e viram logo que a bela Ella não estava presente. O Verde encontrava-se estendido no colchão completamente nu, enquanto ia fumando um cigarro: pelo aspecto parecia bem e satisfeito, incrivelmente não demonstrava ter frio e ao contrário deles (praticamente congelados e mal se podendo mexer) abanando cadenciadamente a perna direita, enquanto ia trauteando (mal) uma canção conhecida – Sex & Drugs & Rock & Roll de Ian Dury. Questionaram-no então sobre o paradeiro de Ella.
Enquanto me levantava olhei para o Hipólito e para o Tiago. Via-se que tinham rapado um bom bocado de frio e sentia-me culpado por simplesmente os ter ignorado. Mas aquela fêmea em pleno exercício de cio pusera-o completamente louco e o encontro nunca previsto, ainda mais o enlouquecera: a suavidade da sua pele e a firme rigidez das suas principais protuberâncias, por tão bem torneadas e divididas, ainda mais o tinham excitado (e colocado em ponto de erecção), perspectivando por trás e entre as suas belas coxas musculadas e bem afastadas, uma densa floresta húmida e palpitante ansiando por receber a semente – em penetração profunda, em colisão lateral e com impacto frontal. Com Ella ofegante a dizer sorridente e enquanto a penetrava simetricamente, que qualquer buraco negro presente poderia ser uma porta para outro mundo.
Vieram então os dois ter comigo e enquanto me vestia e punha mais alguma lenha na lareira, falei-lhes. Informei-os logo da ida de Ella até ao seu veículo e de que como aqui ficara à espera do regresso deles. Pelos vistos algo de anormal acontecera na ausência da mulher, como todos podiam verificar pela presença dos seus dois acompanhantes. Também o incomodava a tempestade que aí vinha. Aliás fora Ella que reparara nela à saída, mostrando-se estranhamente preocupada e avisando-me de que depois falaria. Nem percebi bem de quê. E claro que tivemos que falar do que falaríamos a seguir. Pouco passava das 13:00 quando ouvimos um novo som agora vindo aparentemente dum nível superior (surgindo do lado contrário ao local onde se encontrava o veículo de Ella), imediatamente seguido por um curto silvo e por um ténue (mas ainda assim audível) ruído de impacto.
Os dois acompanhantes de Ella já se tinham retirado da habitação onde se encontravam, quando esta regressou agora acompanhada por mais dois elementos: uma loura de lábios vermelhos e carnudos e um negro que para espanto deles mal entrou fechou a porta atrás de si, despiu-se da cabeça aos pés e foi colocar-se mesmo coladinho à lareira. Com um dedo fez sinal a Ella e convidou-a para uma rapidinha. Os outros poderiam ficar a olhar, não se importava e para ele como assim até se podiam juntar. Ella sorriu enquanto se aproximava luminosa e contorcendo-se sensualmente dele e então, dando-lhe um beijo na face acariciou-lhe suavemente o seu pénis, enquanto ele em troca lhe devolvia a saudação, lambendo por momentos as pontas rígidas dos mamilos desta. Mas não havia tempo a perder, já tinha tudo combinado. Apontou então para a loura de lábios vermelhos e carnudos, apresentou-a como chamando-se Afro e deu-nos como destino o Bordel. Cumprimentou todos com o seu olhar não deixando de se fixar de uma forma visível, deliberada, sem respeito e claramente às claras, o seu interesse no macho alienígena.
Fim da 2.ª parte de 4
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Sexo com Gelo & Alienígenas – 1/4
Despenhara-se no planeta Terra em pleno início de um novo período glacial: teria que desprezar as chatices que aí vinham e aproveitar a oportunidade surgida. Ou não fosse este mundo um cenário de sexo e um ícone do mais puro prazer.
Encontrara um dia e por mero acaso o Tiago e o Hipólito perto de Alvor, quando a minha nave fora atingida por um brutal e inesperado acidente meteorológico, acabando por se despenhar perto do aeródromo de Portimão: juntamente com um outro amigo (o quarto elemento desaparecido) tinham vindo em meu socorro e nem mesmo a diferença de espécies nos tinha afastado em mais esta adversidade. Juntamos forças e continuamos a nossa luta – num mundo sob ataque e sem grandes perspectivas futuras.
Tiago, Hipólito e o Inverno Eterno
Estava um frio do caralho no cimo da serra de Monchique. Mesmo lá em cima na Fóia a cerca de 900 metros de altitude o edifício central estava abandonado, com a estação de radar situada um pouco mais à direita inactiva e com sinais evidentes de acelerada decadência. Abrigados num recanto resguardado do Cerro dos Marrocos, podíamos ver toda a costa algarvia de Faro até Lagos totalmente coberta de neve, com o oceano Atlântico ao fundo coberto por pequenas manchas brancas flutuantes, originadas pela desintegração de icebergues viajando desde o norte distante. Estávamos no dia 24 de Dezembro de 2040, vinte anos após o Inverno Eterno se ter abatido sobre a Terra.
No acampamento improvisado junto a um antigo restaurante típico da região encontráramos uma pequena salamandra ainda em bom estado. As paredes grossas da casa, a presença de uma apreciável quantidade de lenha na cave e a descoberta de algumas latas de comida ainda intactas e aparentemente em boas condições, convenceram-nos a aí pernoitar. Apesar de ainda serem três horas da tarde a temperatura ambiente já baixara dos zero graus, pelo que precisavam de se apressar na execução das suas tarefas de modo a assim preparem a passagem de mais uma noite gelada. Há já duas semanas que tinham perdido um dos seus elementos por hipotermia, tendo-o encontrado já morto numa antiga tasca de São Marcos da Serra, onde tinham estado a beber um autêntico e raro tesouro – descoberto numa dependência escondida de produção de medronho utilizando um alambique tradicional da região – e do qual ele não regressara: adormecera com os vapores do álcool, o fogo apagara e a morte chegara depressa.
O nosso grupo era constituído por três elementos. Por tudo o que tínhamos passado e com a imagem de morte ainda muito fresca na nossa cabeça (do quarto elemento do grupo inicial), era-nos fácil de verificar que quanto maior fosse o grupo piores seriam as suas hipóteses de sobrevivência. No exterior não se encontrava nada de comer, não eram visíveis animais ou outro tipo qualquer de coisa viva ou em movimento e até as pessoas como nós pareciam extintas ou estarem escondidas – tal a agressividade do tempo e o medo de morrer. Às seis da tarde já tínhamos recolhido ao interior da habitação onde iríamos passar a noite, isolado todos os possíveis pontos de entrada de ar e carregado toda a lenha necessária para o interior da sala colocando-a mesmo junto à lareira. Vários cobertores proteger-nos-iam das temperaturas mais baixas, enquanto várias camadas de tapetes sobrepostos sobre o estrado de madeira nos isolaria do frio vindo do chão.
Estávamos juntos à lareira bebendo o que restava da última garrafa de medronho, enquanto por vezes um de nós se levantava e ia dar uma espreitadela na pequena janela de vidro da porta de madeira. Fazíamo-lo por uma questão de segurança mas também na esperança que da noite algo surgisse e nos tirasse dali. A noite já caíra há muito tempo completamente escura e sem nenhuma luz a brilhar e com o céu como uma muralha medonha e pesada encobrindo e fazendo desaparecer estrelas. Nem um ruído nem um grito só o barulho da madeira a arder. Era meia-noite e o termómetro indicava 12 graus negativos.
Pelas três da manhã julgaram ter ouvido um ruído (acordaram os três sobressaltados com algo), mas não o conseguiram confirmar e voltaram a adormecer. Mas uma hora depois o frio apertou e a dor provocada voltou a despertá-los: carregaram de lenha toda a boca da lareira, juntaram-se o mais possível uns dos outros e ainda com o corpo a tremer, afogaram-se sob quilos e quilos de roupas. Parecia que não iriam aguentar (a temperatura chegara aos 30º negativos), mas como de costume lá o conseguiram fazer mais uma vez, dormitando ainda um pouco a partir das seis horas da manhã. Às nove o Tiago levantou-se e com uns restos tirados do fundo de um saco foi fazer um último café. Para comer tínhamos uns quantos grãos de milho e uns frutos ressequidos de medronho que encontráramos esquecidos junto do alambique. E ao espreitar pelo vidro vi que nada mudara e que a terra infelizmente continuava como a Bela Adormecida: ainda viva, talvez esperançada mas sempre ameaçada.
O Hipólito foi encarregue de fazer uma rápida batida pela zona, tentando observador possíveis trajectos a seguir e fazer uma inspecção mais atenta e cuidada a possíveis movimentos estranhos sobretudo envolvendo pessoas. Se encontrasse algo de comer seria formidável mas que soubessem todos os restaurantes daquela zona há muito que tinham sido limpos e muitos deles destruídos. Eu e o Tiago estaríamos prontos para partir mal o Hipólito chegasse: eram 9:30 e partiriam às 10:00. E nem cinco minutos volvidos ouviram o som de um motor subindo a estrada que ia dar à Fóia (um acontecimento impensável senão mesmo impossível nesta altura e neste local), aproximando-se cada vez mais do ponto onde se encontravam e repentinamente interrompendo a sua marcha e deixando-se ficar num profundo silêncio. Ainda vi o Hipólito a chegar a correr de boca aberta e respirando com sofreguidão, enquanto apontava com firmeza para um vulto que se aproximava de nós a pé vindo da estrada.
Verde e Ella
À medida que o vulto se aproximava este foi-se transformando numa mulher de altura mediana, bem feita e torneada e aparentando pela roupa que trazia sobre o seu corpo não sofrer com as condições atmosféricas que se registavam: afinal de contas a temperatura ainda andava pelo ponto de congelação e a noite anterior tinha sido duríssima de passar. Ao chegar perto de nós lançou um olhar rápido e discreto sobre o Tiago e o Hipólito, acabando por virar-se para mim e apontar o seu indicador direito: “Quero o Verde” disse ela peremptoriamente enquanto se encaminhava calmamente para o interior do nosso refúgio nocturno.
Ao entrar reparou na lareira ainda acesa, chamou-me para junto de si e autoritariamente impediu que os meus dois companheiros entrassem, fechando de uma forma indelicada e prepotente a porta nas suas caras. Espantado fiquei a olhar para ela enquanto a via despir-se perante mim de uma forma provocadora, baixando-se deliberadamente enquanto tirava a sua roupa interior e pondo à completa disposição dos meus órgãos dos sentidos, todo o seu sexo em sofreguidão de posse, oferecendo-se sem limites à potente penetração ejaculatória e decididamente mostrando pela sua ânsia sexual estar pronta para um momento de puro prazer animal.
Na sua presença nem sentia o corpo sofrer com o tempo frio que se fazia sentir naquela sala, parecendo mesmo que a temperatura ambiente tinha subido e que os nossos corpos serviam naquele momento, como autênticos termóstatos. Virados um para o outro e com os nossos sexos a tocarem-se húmidos e palpitantes (com o meu sexo rígido e erecto, comprimido entre as suas coxas quentes e aconchegantes e deslizando suavemente entre elas como veludo), tudo o mais não existia e a perspectiva de um orgasmo fantástico por conjunto e coincidente só os excitava ainda mais. Lá fora o Tiago e o Hipólito ainda protestaram durante algum tempo mas estranhamente pouco tempo depois deixei-os de os ouvir. Incompreensivelmente não me preocupei com a situação deles nem um único segundo.
Lá fora os dois amigos tinham ficado estupefactos. O seu amigo tinha-os abandonado, trocando-os por uma fêmea estranhamente funcional e ainda capacitada para apresentar períodos de cio, transformando-os sem aviso nem consideração em meros excedentes desinteressantes e inapropriados para o acontecimento inesperado e privado que vivia (e não queria demonstrar nem partilhar) e como tal esquecendo-os e libertando-os. Só que o efeito era o seu abandono e o desprezo pelo seu tempo e espaço de sobrevivência.
Abandonaram então a porta de entrada e foram à procura de um outro refúgio onde pudessem interpretar melhor a sua situação, dando-lhes forçosamente e o mais depressa possível um tipo qualquer de solução. Foi nessa altura que Hipólito viu a viatura estacionada mais acima (num recanto resguardado da estrada que subia até à Fóia), acabando estes sem o esperarem por ouvir alguns sons que com a sua continuação pareciam apresentar um certo ritmo e cadência que lhes fazia recordar os grandes êxitos musicais dos anos setenta e que lhes despertou imediatamente a curiosidade fazendo-os alterar o seu trajecto e dirigirem-se até à viatura.
A viatura não lhes era familiar. Tinha a forma de uma esfera, não tinha rodas visíveis nem qualquer tipo de escape que revelasse a sua forma de propulsão e em duas zonas da sua superfície curvilínea apresentava um material transparente que permitia que se olhasse para o seu interior. Não viam portas por onde pudessem aceder ao seu interior nem qualquer espécie de mecanismo de abertura. Apenas uma melodia que se escapava à medida que os segundos se passavam, difundida por algum aparelho nele instalado e agora em funcionamento e que minutos depois Tiago identificou como um tema de James Brown intitulado Sex Machine. Tentaram então espreitar por um dos lados com acesso mais facilitado e enquanto iam apalpando a sua superfície e batendo suavemente em certos pontos da mesma (para verificar a sua textura e profundidade de instalação interna) uma imagem surgiu subitamente diante deles, observando-os a partir do interior do estranho veículo. A mulher que antes os surpreendera à sua chegada (inopinada) não estava sozinha e os seus companheiros pareciam ainda mais estranhos do que ela – talvez alienígenas como o seu companheiro (o Verde).
Fim da 1.ª parte de 4
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