ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Sexo com Gelo & Alienígenas – 3/4
Toda a transformação se baseia em contínuas transferências energéticas entre diferentes pontos do espaço, fornecendo a Energia todos os parâmetros evolutivos e necessários para a sua transformação em Matéria, por aceleração das partículas, seu deslocamento e projecção simulada (realística ou imaginária) noutro referencial.
Hologramas sexuais
Enquanto nos afastávamos da habitação onde tínhamos passado a noite anterior, íamos observando preocupadamente a evolução da tempestade que se avizinhava e que já cobria com nuvens densas e carregadas quase todo o nosso horizonte visual: pelo seu aspecto e pelo grande arrefecimento que já se registava deveria ser bastante violenta, fazendo-lhe lembrar o recente relato do extremo evento meteorológico ocorrido no ano de 2033 e a ele contado pelos seus dois amigos terrestres, onde os poucos sobreviventes urbanos (com todos os apoios básicos já completamente destruídos) acabariam por não resistir e morrer rapidamente por hipotermia. À frente da coluna de seis elementos ia Afro e o seu Negro, com os dois amigos terrestres logo atrás e com Ella um pouco mais afastada a encerrar a fila acompanhando-me. E de vez e quando sorria-se para mim, coincidindo com os momentos em que Afro se virava para trás e abria provocatoriamente a sua boca de lábios carnudos.
Durante a caminhada verificamos que o veículo esférico já não se encontrava no local tendo desaparecido: nem sequer tínhamos ouvido qualquer ruído que indicasse a sua partida mas pelo rodado deixado no terreno ele chegara ali, não se mexera e simplesmente deixara de ali estar. Não havia sinal de rodados a sobreporem-se e até a neve que começava agora a cair e o vento que se fazia sentir, já começavam a apagar os vestígios da sua anterior presença. Mas o que tinham mesmo que fazer era apressarem-se pois as condições meteorológicas começavam a tornar-se visivelmente insuportáveis.
O grupo acabou por ser apanhado momentaneamente por um fenómeno local extremamente violento, dividindo-se em dois: enquanto o Negro acompanhado por Tiago e Hipólito se dirigiram de imediato para o ponto de encontro, os restantes elementos refugiaram-se no abrigo que os dois amigos terrestres tinham descoberto na sua investigação matinal. Mal entraram fecharam de imediato a porta da casa, mas como as condições atmosféricas continuavam a agravar-se de uma forma deveras preocupante, acabaram por seguir o seu caminho e descer até à cave – aí procurando refúgio. Segundo Afro teriam que se proteger o melhor que pudessem durante cerca de uma hora (o tempo de passagem da espessa e brutal frente da tempestade, antes de atingirem o olho da mesma e aí poderem abandonar em segurança o local), após o que poderiam sair e ir ter com Negro ao ponto de encontro, que esta afirmada seguro e protegido.
O frio fazia-se sentir já intensamente quando verificaram a existência de uma reentrância num dos lados da parede da cave e onde provavelmente teria existido uma porta. Afro pegou então no pequeno periférico que trazia à sua cintura, consultou-o apressadamente e num instante virou-se para nós e com toda a sua certeza pediu para a seguirmos. Percorremos algumas dezenas metros e finalmente fomos ter a um corredor que ia dar a um beco sem saída, terminando numa sólida e estranha parede: perfeitamente vertical e apresentando uma superfície suave e completamente limpa, a parede brilhava com o impacto dos raios de luz, parecendo divisar-se por momentos e para além dele um cenário colorido mas ainda bastante confuso. E no meio do frio extremo que já suportávamos e do barulho da tempestade que nos rodeava, a parede dilui-se, demos três passos em frente e vimo-nos então fechados e protegidos numas instalações que poderiam ser as de um qualquer empreendimento hoteleiro de luxo, apresentando o seu melhor aos seus estimados clientes. Era inacreditável o contraste.
Fomos recebidos por uma realidade inesperada. Até para um alienígena como eu passando por ali como um visitante acidental e com poucos ou ocasionais conhecimentos sobre a galáxia onde me encontrava, o objectivo de todos aqueles privilegiados que até agora por ali encontrara, parecia demasiado restritivo e contraproducente por se dirigir apenas a uma única unidade temática: como uma obsessão a sexualidade parecia ser o único motivo de acção destas criaturas, parecendo estas querer demonstrar que a sua exclusividade de intervenção local (nesta parte da galáxia) poderia ser o motivo temporário e fundamental do seu próximo passo na evolução. Ou não fosse o resultado dessa função a causa de existência de vida.
Ainda nos estávamos a adaptar às novas circunstâncias e já Afro se deslocava na minha direcção. Enquanto isso Ella e o Negro tinham-se movimentado até ao ponto onde Adão e Eva os esperavam (já em contacto e unidos fisicamente por penetração), aguardando tranquilamente a chegada da serpente. Fora a serpente que ali os colocara, fora a serpente que ali os projectara e seria a serpente que decidiria os novos cenários onde seriam replicados. Não era por acaso que tinham sido para ali convidados e certamente que as suas fobias sexuais muito tinham contribuído para o seu estágio preparativo e condicionante do acesso ao prometido e desejado Bordel. E o mesmo se passava no outro cenário contíguo com a presença da fêmea cornuda (um fauno). E a serpente era o nome de código da Boa Empresária conhecida como Afro (hierarquicamente uma Jibóia Constritora), ali presente de momento e actual directora do famoso Bordel. Mas para mim fisicamente esta mulher não fazia o meu modelo. Com a sua força e destreza ainda me atirou violentamente ao chão, tirou rapidamente a sua curtíssima tanga que se escondia entre suas duras e volumosas nádegas e sacando do meu pénis por introdução da sua forte mão direita no interior das minhas calças, ainda o enfiou na sua vagina mas sem reacção vital correspondente. E já com Ella tendo iniciado a sua interacção bilateral com a bizarra e enigmática fêmea cornuda (com o Negro sentado a observá-las, aguardando instruções da serpente), Afro levantou-se furiosa e com cara de poucos amigos desligou abruptamente a projecção em curso. Viram-se de novo sozinhos na cave: os seres adicionais tinham desaparecido, apesar de o nosso cérebro continuar ainda a processar elementos objectivos, mas já sem presença física complementada pela sua imagem (agora ausente). Aproveitaram a acalmia temporária e completaram o seu percurso exterior até chegarem ao ponto de encontro. Entraram então no cilindro.
O Bordel – localizado nos limites do Sistema Solar
À chegada do grupo fomos logo introduzidos no interior da famosa unidade de prazer e orgasmo instalada no planeta anão Éris e conhecida entre os sistemas mais próximos como o Bordel. A esmagadora maioria eram mulheres e o curioso era que elas eram os únicos clientes. Não sendo pois de espantar que passados pouquíssimos segundos estivéssemos rodeados de dezenas de fêmeas esfomeadas, pressionando cada vez com maior intensidade o pequeno grupo acabado de chegar (quatro machos quatro novidades), numa tentativa desesperada de nos tocarem e deixando em muitos maus lençóis os pequenos e inocentes Hipólito e Tiago. Com muita dificuldade ainda conseguiram descortinar aos balcões do estabelecimento umas quantas mulheres de estrutura corporal muito rectilínea e mesmo nada apelativas (e com um rosto expressivamente masculino), sendo coadjuvadas na prestação de serviços (associados aos contratos determinados pelos seus clientes) por outros elementos mas aqui móveis – e que vagueavam de uma forma bem visível e sobressaindo do cenário aqui exposto, pelo número crescente de fêmeas que os iam rodeando. Olhando com curiosidade e soberba para o membro que o cinto guardava. Se ao balcão eram fêmeas (apesar do seu mau aspecto) estes certamente que seriam machos (até pela protuberância apresentada).
Mais de 90% dos clientes distribuídos pelas cinco colónias de Éris pertenciam a uma raça alienígena bastante antiga e de origem humanóide imprecisa, que optara violentamente há já muitas gerações por uma organização matriarcal da sociedade onde viviam, a qual infelizmente e à imagem dos piores momentos protagonizados pelos homens (os machos) se radicalizara na sua evolução. Perseguidos ferozmente pelo fanatismo assexuado de certas fêmeas, exibindo provocatoriamente as modernas máquinas biológicas que os iriam substituir nas funções que estas consideravam estritamente necessárias, os machos vislumbraram apenas três cenários realistas que os poderiam proteger da extinção: ou se transformavam em mulheres, ou se tornavam em escravos ou o seu destino seria o desmembramento servido com morte lenta. Nesses mundos distantes em milhares de quilómetros não se via um macho e a vida sensitiva era digitalizada: o prazer só tinha que ser parametrizado e introduzido no ponto do espaço particular, já que a realidade virtual assente no objecto se encarregaria de nos orientar por simples análise e tradução da nossa imagem protegida (subconsciente).
Mas as memórias nunca se perdiam, estampadas como estavam na cultura do seu povo. Nem que se restringissem à sua componente física e estritamente sexuais. O momento original nunca fora esquecido e o ponto de contacto entre corpos continuava a ser considerado como o ponto máximo nas interacções virtualmente materializadas: e então as fêmeas sentiram que algo as impedia de atingir um novo nível de percepção e interacção mais intrusiva e penetrante, apenas porque o novo quotidiano (por elas estabelecido) se tornara infinitamente monótono, por extremismo de aplicação das normas e regras legais. E o acto sexual concretizado entre dois corpos anatomicamente diferentes mas naturalmente adaptáveis, poderia ser o escape perfeito e com máximo prazer. Assim se lançaram no espaço chegando até Plutão e aí criando um dos seus mais famosos e importantes entrepostos sexuais, na altura com a Terra ainda em lume brando mas já há muitas décadas famosa pelas suas extravagantes e fantásticas experiências sexuais de múltiplas penetrações e parceiros, numa orgia tremenda de violência e prazer ininterrupto.
O único percalço acontecera há oito anos levando à transferência imediata e definitiva do Bordel para o quase que vizinho planeta anão Éris e à fundação de mais quatro dependências de aperfeiçoamento. Um dos motivos invocados fora a despromoção de Plutão do estatuto superior de nono planeta do Sistema Solar, transformando-o em mais um comum calhau orbitando o Sol e pertencente à cintura de Kuiper. Mas o que na realidade teria sucedido (segundo o entendimento do Negro) fora a persistência alarmante de certos rumores que iam chegando a Plutão oriundos de um dos planetas interiores do Sistema Solar, aparentemente lançados por uma outra raça alienígena desconhecida e provavelmente originária do lado oposto deste Universo, que não estando disposta a abandonar o seu protagonismo ancestral naquela região do espaço, nem tendo a vontade de suportar a estrutura organizativa desta sociedade fanática no seu feminismo ideológico (além de ser baseada na replicação vazia por inalterada do indivíduo), avisavam solenemente os recém-chegados para que por respeito abandonassem o antigo planeta e levassem consigo as suas construções e restante tralha dita tecnológica. Sempre ficariam mais longe. Mas de facto a história que se contava não era mesmo bem assim.
Num certo dia da nossa ainda curta História e já com o Homem utilizando ferramentas pelo próprio construídas depois de imaginadas e ensaiadas (para a transformação da Natureza e para seu próprio benefício), um grupo constituído por cerca de uma centena de elementos chegara ao outro lado do Sol vindos dos confins do nosso Universo. Intitulavam-se como os Fantasmas do Tempo e afirmavam-se como Profetas enviados por uma Entidade Espiritual de Nível Superior a este Sistema, a qual os teria incumbido da divulgação da sua Palavra e da organização dos diversos estados de convergência e de divergência dos seus futuros e mais que potenciais fieis. Depois de analisarem detalhadamente todo o Sistema tinham optado por se instalarem em Júpiter e aí sediar a sua Igreja. A grandeza imperial deste gigante gasoso rodeado pelos seus múltiplos e magníficos anéis, pelas suas luas activas e misteriosas e proporcionando complementarmente um excelente refúgio para todos os seus membros e assistentes, tinha-os conduzido a uma decisão que se revelaria correcta e de fácil execução e implementação. Tendo como cenário um planeta e a introdução simulada de um factor extraordinariamente abstracto: tendo o período entre o nascimento e a morte como referência, o triângulo Céu/Purgatório/Inferno como destino e a Alma como o objecto da transformação. E enquanto a Matéria se transformava, o Movimento existia e a Energia evoluía. No centro do planeta concentrar-se-iam os Santos, nos anéis os arrependidos, enquanto que os pecadores seriam enviados em direcção ao Sol para sentirem os terríveis horrores do Inferno. E tudo funcionara na mais perfeita conjugação (espiritual), até ao dia em que os materialistas chegaram: o Bordel era um pecado e uma afronta e por consenso e estratégia simbólica acabara por se retirar, mas não para muito longe.
Fim da 3:ª parte de 4
(imagens – Web)