ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Grécia
Antes de tudo o mais temos que compreender que o que a Grécia pede neste momento (e o seu Governo com um mês de vida) não é propriamente dinheiro, mas mais algum tempo para fazer algo definitivamente com pés e cabeça (o que os outros nunca fizeram durante anos deixando o Grécia ás portas da morte).
A Grécia e a herança do bloco central
A Grécia acaba de apresentar à comissão europeia as suas propostas de reformas, como resposta às exigências dessa mesma comissão, ao seu pedido de renegociação dos prazos da dívida grega. Que relembre-se (e que se saiba), não é da responsabilidade da actual coligação no poder na Grécia, mas o resultado de uma herança brutal, dramática e mesmo criminosa de um bloco político e ideológico dito democrático e central, que conjuntamente e em ligação estreita com as directivas vindas da Alemanha (e para isso servem os bancos), minou todas as instituições públicas gregas, descapitalizando-as, descredibilizando-as e finalmente privatizando-as. Essa talvez seja a principal luta (ainda mal compreendida por muitos) levada a cabo pelo actual Ministro das Finanças da Grécia, tentando relevar o poder dos bancos em todo este mecanismo de transferência de dinheiros (ou produtos ditos equivalentes), dispensando o inútil papel de intermediários destes (até porque também são uma das maiores causas desta crise – seja-se isento e compare-se dividas públicas e privadas, causas das mesmas e qual delas empurra a outra, ou seja, a impulsionadora). Nunca que se esqueçam que o bloco central grego (Nova Democracia e PASOK) deixou o país neste estado (repare-se que o partido sobrevivente ao desastre eleitoral de Janeiro de 2015 foi o de direita): 25% de desempregados (50% entre os jovens), decrescimento de ¼ da sua economia, divida atingindo 178% do seu GDP, tudo isto originando os tais 240 biliões que todos os credores desejam (naturalmente) receber. Um desastre.
Dívida da Grécia
As propostas de reformas apresentadas pelo governo grego assentam essencialmente nos seguintes pontos: criação de um sistema fiscal mais justo para todos (de modo a não ser sempre e por diversas circunstâncias, por exemplo facilitismo de actuação, o trabalhador o mais penalizado), combate à evasão fiscal (que destrói qualquer tipo de economia com o surgimento como cogumelos de mercados paralelos), travagem da corrupção (quase que uma instituição num país como a Grécia, mas que como todos nós sabemos, com instituições semelhantes espalhadas por toda a Europa), luta sem tréguas contra o comércio ilegal de combustível e tabaco (para verem até onde o país chegou, fazendo-nos lembrar os nossos tempos mais duros do fascismo), implementação de novas reformas laborais (na elaboração de contractos colectivos de trabalho e outros benefícios a acordar, o que não significa como em Portugal acabar definitivamente com eles – esperam os gregos...) e finalmente não sendo menos significativo antes pelo contrário, a reafirmação do compromisso por parte do governo grego de superar a crise humanitária que muitas zonas da Grécia (e inacreditavelmente neste século XXI) já há muitos anos atravessam (na mais confrangedora miséria). Agora vamos ficar a aguardar as cenas dos próximos episódios. Em princípio a Comissão Europeia nas suas primeiras reacções mostrou-se receptiva às propostas gregas, mas ainda não se conhece a posição final da Alemanha. Quanto aos gregos têm que estar atentos: aqui ninguém é de confiar. Veremos assim o que dirão nos próximos dias o Banco Central Europeu, o Fundo Monetário Internacional e o Ministro das Finanças Alemão. Uma coisa é certa: a Grécia talvez tenha ganho (ou perdido) mais quatro meses.
(imagens: Open Europe/EPA/BBC)