Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



E Um Dia Fomos à Bruxa (1/4)

Domingo, 31.05.15

Novos Ficheiros Secretos – Albufeira XXI
(tomo A/31.5)

 

Dia Um
1.ª Etapa da Viagem
(Albufeira – Paderne)

 

bruxa,witches,brujas,halloween,paranormal (Copy).j

 

Estávamos os três preparados para iniciarmos a nossa aventura. De mochilas às costas partiríamos a pé, em direcção à vila de Paderne: mais de uma dúzia de quilómetros em estrada asfaltada e nas calmas, umas três horas de caminhada. Saímos logo a seguir a termos efectuado uma leve refeição, esperando chegar ao nosso destino por volta da hora do jantar. Por volta das cinco da tarde passávamos já pelo centro de saúde e chegávamos à estrada que nos conduziria ao nosso primeiro destino: o castelo da vila de Paderne.

 

A passo acelerado (o tempo fresco ajudava) rapidamente chegamos ao cruzamento das Ferreiras. Sentamo-nos por momentos, felicitamo-nos pela chegada (a este posto intermédio) e deixamo-nos ficar a ver os carros passarem. E ainda vimos um acidente. Um objecto vindo não se sabe bem de onde caíra no meio da estrada muito perto de nós, quase atingindo um motociclista que assustado se despistara: mesmo escapando praticamente ileso ao acidente, a sua mota continuara em frente, por muito pouco não atropelando uma velhinha. Furiosa dirigira-se em direcção ao motociclista e quase que lhe acertara com a bengala.

 

Ainda nos rimos um pouco. Bebemos mais um pouco de água e então arrancamos de novo. Durante o percurso ao longo da estrada o movimento era diminuto: víamos um ou outro veículo passar e poucas pessoas presentes à nossa volta. Dos campos vinha o seu típico (mas sentido) silêncio, entrecortado aqui e ali pelo som originado pelo vento (nas folhas das árvores) e pelos sons (como os das vozes) de alguns animais. De resto a tarde estava excelente, com uma ligeira brisa a refrescar-nos o corpo e o céu claro e sem uma única nuvem. E ainda era de dia quando chegamos ao Purgatório.

 

Paramos no ZIPZIP fazendo aí o nosso segundo período de descanso. Atrevemo-nos então a pecar e bebemos uma imperial. Estava verdadeiramente deliciosa (ainda por cima numa altura, em que o dinheiro era pouco). Deixamo-nos ficar por ali uma verdadeira meia hora, que apesar de ser tempo perdido se revelou (no mínimo) muito interessante. Enquanto olhávamos em redor verificamos que numa das paredes do café estava afixado um (velho e talvez fantasioso) aviso: segundo o que lá se dizia pedia-se extrema cautela a todos os que circulassem em redor e no interior da zona onde estavam implantadas as ruínas do castelo de Paderne, dado existirem informações obtidas através de testemunhas presenciais da presença no local de um animal desconhecido mas potencialmente perigoso (falava-se mesmo em perseguições e fugas). Ainda perguntamos à única pessoa presente o que aquilo seria, mas talvez por já estar um pouco tocado riu-se, tentou com a cara fazer uma expressão medonha e ainda lhes montou (com as mãos e na cabeça) um bom par de cornos.

 

Rimo-nos todos e ele ainda nos pagou mais uma rodada. E já com algum tempo de atraso ao previamente pensado, atravessamos a ponte sobre o rio, chegamos à vila de Paderne, viramos mais à frente à direita e fomos até ao castelo. Ao passarmos nas fontes lavamo-nos e abastecemo-nos, partindo finalmente para o nosso derradeiro percurso (relativo ao 1.ºdia). Às oito da noite estávamos no cimo do monte e aí montamos a nossa tenda: mesmo ao lado do castelo e de uma grande alfarrobeira. Antes de partirmos tínhamos combinado mantermos uma ligação mínima ao nosso mundo quotidiano (o que até nem era difícil, dado estarmos todos desempregados), transportando connosco e como carga excedentária um telemóvel, cem euros em dinheiro e em cartão multibanco. O restante era o extremamente necessário e um ou outro equipamento suplementar de emergência (como o estojo de primeiros socorros) ou de orientação (como uma bússola). Às nove da noite tínhamos tudo montado e podíamos finalmente começar a comer: a fome provocada pela grande caminhada desde Albufeira e a tranquilidade amena daquela noite passada no barrocal algarvio (ainda por cima junto às ruínas de um velho e misterioso castelo), só nos convidava a comer e a beber, enquanto usufruíamos em deleite total de tudo o que a Natureza graciosamente nos oferecia.

 

Já mergulhados na escuridão dos territórios interiores, observamos o céu limpo e bem fornecido de estrelas. Lá longe outros mundos nos observavam enquanto aqui nós os procurávamos nas estrelas: talvez nalgum corpo celeste do nosso sistema alguém se preocupasse connosco e conjuntamente sonhasse o Universo. Os mistérios ainda eram das poucas coisas que faziam mexer a Humanidade e a necessidade de aventura era o veículo escolhido: ou não fosse o morto o único que não se mexia. E algo então se mexeu um pouco lá para o fundo. A pouco mais de cem metros do local onde estavam instalados tinham ouvido um ruído de alguma coisa a estalar e ao olharem de imediato pareceu-lhes ver alguns ramos a abanarem. Fizeram silêncio e puseram-se atentamente a olhar. Nada. Por precaução aumentaram a intensidade da sua pequena fogueira e juntaram-se em seu redor. Do interior do castelo veio então um som bastante estranho (como se alguém ou alguma coisa estivesse a saltar), quando inesperadamente viram um animal de meio porte saltar do interior da muralha e fugir em direcção à escuridão, desaparecendo de imediato. E então viram nitidamente as folhas a mexerem-se de novo no local de origem do primeiro ruído e para espanto de todos foram surpreendidos por uma aparição que no momento não conseguiram interiorizar e assimilar: se não fosse o Diabo andaria lá por perto.

 

Serenados os ânimos e já muito mais calmos pusemo-nos os três a olhar (uns para os outros e sem querer imaginar): aquilo só poderia ser uma brincadeira de alguém. Como nada mais se passou (tudo se manteve num profundo silêncio) resolvemos ir dar uma olhadela pelas redondezas, enquanto um de nós ficava junto da tenda. Mas nada vimos nem ouvimos. E quando era meia-noite resolvemos esquecer o estranho incidente connosco ocorrido e talvez ajudados pelo fim da garrafa de medronho, caímos a dormir que nem pedras pesadas. Nem um de nós ficou de guarda. Por esse motivo o estrondo escutado ainda de noite mas já muito perto do nascer do sol, nos tenha feito saltar num segundo para fora do saco cama e sair de imediato para fora da tenda. O que vimos deixou-nos pensativos (por ser uma nova percepção) e prevendo as sensações do futuro (que esta grande oportunidade nos proporcionava): um feixe de luz descida verticalmente de um ponto no céu, incidindo a sua base (não visível) no terreno situado no interior das muralhas. Só viram por segundos um feixe luminoso como que ondulando entre dois pontos, alternando sucessivamente as projecções luminosas com a apresentação na sua constituição de diversas cores e que repentinamente interrompendo os (seus) aparentes movimentos de descida e subida, simplesmente terminou e desapareceu (com um ligeiro e curto silvo). A partir daí não mais conseguimos dormir.

 

Dia Dois
2.ª Etapa da Viagem
(No Castelo de Paderne)

 

ng1438551_435x289.jpg

 

Mal o Sol começou a nascer dirigimo-nos para as muralhas do castelo e tentamos encontrar entre as ruínas das mesmas, uma entrada ou algum ponto de onde se pudesse vislumbrar o que se encontrava no seu interior. Com alguma dificuldade conseguimos encontrar uma hipótese de lá entrar, num local próximo à capela do castelo: subimos uma pedra, percorremos um pequeno caminho junto à capela e saindo pelo local onde em tempos se situaria a sua porta principal, atingimos finalmente o grande e aberto espaço pertencente ao pátio interior. E quando o Sol já começava a aquecer e tudo se tornava mais claro e brilhante, olhamos em redor e para nossa grande admiração nada vimos. Tudo estava como estaria um terreno qualquer situado em pleno campo e abandonado à sua sorte, neste caso aqui e ali interrompido por vestígios de algumas (poucas) antigas escavações, começadas em anos passados e agora talvez interrompidas. À primeira vista nada mais. Mas não abandonamos as buscas. Toda a manhã andamos a espreitar em todos os cantos e buracos interiores às muralhas do castelo e só paramos quando a fome apertou e o cansaço (físico mas também mental) se começou a apoderar de nós. Saímos pelo mesmo lugar e fomos até à nossa tenda. Não tinha sido mexida. Ainda bem.

 

Estávamos a planear o que faríamos durante o resto do dia, quando ouvimos o som do motor de um veículo provavelmente circulando cerro acima e dirigindo-se pela estrada de terra batida até ao lugar onde nos encontrávamos. O ruído tornou-se bem audível quando vimos um indivíduo montado na sua motorizada desfazendo a última curva do caminho e deslocando-se pelo mesmo na direcção da porta de entrada do castelo. Passou diante de nós, cumprimentou-nos educadamente e parou a sua motorizada um pouco mais à frente. Fomos logo ter com ele. Numa estranha coincidência (ou talvez não, já que tudo aqui estava em causa), o indivíduo que nos olhava sorridente com a cabeça ainda dentro duma espécie de penico que era na realidade o seu capacete, parecia mesmo o velhote que anteriormente viramos no café ZIPZIP, mas agora um pouco mais novo, sem barba e aparentemente com menos rugas. Talvez tivesse rejuvenescido e o feixe luminoso anteriormente por eles observado (na madrugada anterior) tivesse alguma relação com a evolução observada neste indivíduo. Mas logo no início da nossa conversa este (nosso estranho e bizarro) pormenor foi de imediato esclarecido: o senhor era simplesmente o filho mais velho do Sr. Zé O Alienado. Pelos vistos pelas Aparições e pelo gosto pela bebida.

 

Vinha apenas verificar se tudo estava conforme. Deixou-nos entrar e ainda nos levou numa visita guiada. Ficamos a perceber que os trabalhos de escavação tinham sido temporariamente interrompidos e que entre a suspensão e o reinício ele era um dos responsáveis (no local). Mas como o temporário já se arrastava há vários e vários anos, o povo começara a falar e não havendo mais nada para dizer, tinham-se então virado para os espíritos. E como ele e o pai eram os seus maiores frequentadores, entre a monotonia, o calor e a bebida em grandes quantidades consumidas, muitas histórias se tinham inventado e cenários construídos. A esmagadora maioria das histórias sendo falsas, mas com algumas podendo ser mesmo reais. Avisou-nos entretanto que teria de ir trabalhar, mas talvez interessado em partilhar um pouco mais da nossa companhia (e sabe-se lá contar alguns dos seus segredos) combinou encontrar-se connosco lá para o fim do dia. Ainda lhe pedimos para trazer umas coisinhas e lá o convidamos para jantar. Aceitou. Estaria cá mal a noite chegasse.

 

Sem o sabermos ou sequer suspeitarmos tínhamos iniciado ai a nossa primeira aventura. Já estávamos a ficar um pouco impacientes quando o filho do Sr. Zé apareceu na sua motorizada, surpreendentemente acompanhado pelo pai. Vinham os dois já bem aviados, trazendo consigo um garrafão já aberto (contendo medronho), um queijo, pão caseiro e um bom naco de presunto. Com a fome nem falamos e fomos todos comer. E beber. Já era quase meia-noite quando sem se prever o Sr. Zé se levantou e nos convidou para um passei nocturno. Começou logo a andar com o filho a acompanhá-lo. A seguir fomos os três e se alguém estivesse por aquela altura a observar-nos, certamente que teria uma reacção muito semelhante à nossa na noite anterior, ao deparar-se com cinco silhuetas vagueando em plena noite, cambaleando entre árvores por um caminho dificilmente perceptível, movimentando-se aos esses sem rumo aparente e por vezes gesticulando como um louco enquanto ia emitindo uma espécie de grunhidos de origem (animal) desconhecida. Mas ao contrário do que qualquer um de nós esperaria chegamos a um ponto específico já no interior do castelo e sem sabermos por que motivo (ou outra coisa qualquer) paramos. À nossa volta nada se via, no céu eram só estrelas e aos nossos pés apenas terra. Então o Sr. Zé pegou na sua pequena mala, abriu-a delicadamente e dela retirou uma pequena vassoura e o que parecia uma velha chave de ferro. E enquanto olhávamos o trabalho dedicado (pelo menos para nós) de pai e de filho, lá fomos vendo a aparecer o que seria uma entrada cada vez mais bem delineada e aplicada no solo exposto diante de nós, onde acabaria por aparecer uma porta (horizontal) com uma fechadura visível. Com a chave o Sr. Zé abriu a fechadura da porta e ainda de boca aberta e não querendo acreditar no que víamos (diante de nós), surgiu-nos uma inesperada escadaria descendo em caracol. Ainda sob o efeito dos vapores alcoólicos do medronho nem prensamos e sem hesitar entramos todos: descemos durante um bom par de minutos e de repente vimo-nos à entrada de uma grande abóbada subterrânea. Ao centro ouvia-se o som da água a correr, com todo o cenário a começar a iluminar-se tornando-se mais claro, à medida que os materiais que nos rodeavam iam absorvendo a energia oriunda das nossas lanternas. Simplesmente espectacular o que observávamos e o que simultaneamente íamos descobrindo com o aumento desta iluminação natural: um cenário irreal talvez nem sequer tendo sido imaginado (mas nalgum local concretizado) e que nos fazia recordar os nossos conhecidos e vizinhos mouros e os seus cenários idílicos e de prazer sensitivo das suas Mil e Uma Noites.

 

Estávamos numa sala enorme localizada bem na base do cerro que sustentava o castelo, toda decorada com espectaculares azulejos retratando outras vidas, com coordenadas noutros tempos e talvez noutros espaços e apresentando na grande área disponibilizada belos e coloridos jardins atravessados por vários canais de água fornecedores de energia. Pelo meio disponibilizando espaços pessoais para o exercício de múltiplas tarefas e com várias portas fechadas (pelo menos contei seis, como que formando um hexágono) rodeando todo o recinto. Dessas o Sr. Zé nunca tivera as chaves. E afirmava que aquele local não passava de um mero ponto de passagem (obrigatório mas como se fosse um apeadeiro) para quem “ansiava ir muito mais além”. E que se quiséssemos experimentar teríamos que ir ao que ele chamava o confessionário. Pelo menos fora o que sempre afirmara o seu querido e saudoso pai, considerado um famoso e temido mestre, no difícil ramo da feitiçaria. O confessionário situava-se junto a um dos vértices da sala mesmo ao lado de uma das portas fechadas. Segundo se sabia nunca teria sido utilizado (pelo menos desde que este sítio fora acidentalmente descoberto). Dispunha de um terminal informático que numa primeira fase se limitava a identificar a pessoa que se apresentava diante dele. Então solicitava um novo acesso a nível psíquico (segunda fase), apenas por questões de protecção e segurança de ambas as partes. Se tudo estivesse OK então entrar-se-ia na terceira e penúltima fase: nela o presente seria confrontado com os seus objectivos e a partir daí ser-lhe-ia entrega uma senha e a respectiva guia de marcha. A quarta fase desenvolver-se-ia durante a execução pelo presente da guia a ele entregue. E tendo os três passado pela máquina o Sr. Zé convidou-nos a regressar, deixando para trás e definitivamente aquele local e regressando de imediato à superfície. Ainda era de noite, parecia termos sonhado, mas ainda estávamos acordados.

 

Fim da parte 1/4

 

(imagens – Web)

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por Produções Anormais - Albufeira às 22:45