ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Porto – Em Triste Transformação
Podendo ser Decomposição
Num país pretensamente inculto (previa e intencionalmente assim definido pelas suas elites) e completamente desorientado (com o povo contando o resultado do seu trabalho e comparando-o com o seu antigo estatuto de escravo) por onde passaram como se fosse um Flash os Ideais de três grandes Revoluções: a Agrária, a Industrial e a dos Serviços.
No entanto nunca interiorizando nenhuma delas mas sempre privilegiando a última (pela falsa novidade e na verdade pelo dinheiro fácil a receber).
Porto – Cais de embarque da Ribeira
(como visto a partir do cais de Gaia)
O Porto do século XIX acabou: se no século seguinte algumas das suas estruturas e características básicas ainda refletiam as virtualidades da Revolucionária Sociedade Industrial – período durante o qual a mão-de-obra se deslocou maciçamente do campo para a sociedade abandonando definitivamente todas as esperanças depositadas na já ultrapassada Revolução Agrícola (desestruturada por uma nova centralização – a Globalização) – já no caso do século XXI com o abandono progressivo do desenvolvimento Industrial e a perda comercial (irreparável por contínua) no sector Agrícola, todo o cenário tem vindo a mudar (mantendo-se o aspeto arquitetónico numa base minimalista – aproveitando-se o que já antes existia – melhorando-se e decorando-se o mesmo como uma árvore de Natal – com pessoas, barquinhos e helicópteros – e tentando-se alterar radicalmente a sua base populacional e funcional – transformando tudo em Serviços dirigidos para uma única área; Hotelaria e Restauração).
Gaia – A outra margem do Douro
(Caves do Vinho do Porto e Restauração)
Para quem se tenta escapar da loucura delirante de Agosto (dizem que provocada pelo calor) instalada neste período do ano no território sul de Portugal (mais precisamente nas praias cheias e bem quentinhas do Algarve), uma verdadeira surpresa (de nos deixar paralisados e até de boca aberta) uma assumida deceção (deixando-nos prostrados e de lágrimas nos olhos): num cenário desenquadrado e como se o Porto fosse um shopping.
Com boa comida e bebida e o português a Souvenir (as únicas três coisas de que o visitante se lembra), obediente e servil e de caracter bem doméstico – ontem matando o porco com uma facada no pescoço (e nem sequer se tendo no mínimo a 4ªclasse), agora colocando-o à mesa enfeitado e com laranja (mas sempre acompanhado pelo selo de garantia – e não só para o porco como para todos os outros Tôs).
Observando-se claramente duas ondas gigantes e bem distintas descendo compactas e a velocidades alucinantes em direção às duas margens do rio Douro (com uma horda de bárbaros vindos de norte e outra vinda do sul), esmagando-se violentamente e de frente sobre o leito aqui mais estreito do rio Douro e acabando por se desintegrar na sua superfície em múltiplos objetos sulcando o ar e a água com formas tão diferenciadas como barcos, helicópteros e até mergulhadores.
Fazendo-me recordar a minha infância, as noites de diversão no Palácio de Cristal (de onde também se podia observar mas mais à distância o rio Douro) e as barracas de frango e da sardinha assada. Na altura também no Verão mas ainda sem Gourmet de adição. E se há 40 anos atrás achava que aqueles que tinham destruído as grandes cidades portuguesas se tinham então deslocado para o Algarve (para continuarem aí a sua obra de rapina paisagística e ambiental), agora são de novo as grandes cidades já doentes e em decadência (não existe inovação apenas um falso investimento) a serem novamente atingidas e massacradas (e sempre com o mesmo modelo), mas agora (e espantemo-nos) pelos filhos do cada vez menor grupo dos poucos sobreviventes.
(imagens: Agosto de 2016/Produções Anormais)