ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Bilhete de Ida e de Volta Com um Pequeno Carnívoro
[Afirmando julgar-se insectívoro, capaz de cantar e tendo asas, igualmente de voar.]
Num passeio com um Cartaxo comum (em forma de mamífero) não a Vilamoura (com as suas dunas em asfalto e cimento e os seus sapais com buracos de golfe) mas à capital do Algarve a cidade de Faro (nos seus mais de 200Km² residindo cerca de 65.000 pessoas) ‒ e com as primeiras referências históricas atirando-a para o século VIII AC (o tempo dos Fenícios) sob o nome de Ossónoba ‒ o 1º registo visual (percecionado e imediatamente sentido) destacando-se do cenário geral (atmosférico e geológico) apresentado nessa segunda-feira dia 11 de Junho (no nosso calendário curiosamente sucedendo ao Dia de Portugal), foi sem sombra de dúvida o olhar lançado por esta flor na minha direção.
Num registo meteorológico de um típico dia de Primavera, com o céu com algumas nuvens dispersas (mas quase sem vestígios de chuva), o Sol sempre a aparecer (com os seus raios para nos aquecer), com as temperaturas do ar a subir e o movimento na praia a crescer (e gente até a nadar) … sendo necessário partir (de Albufeira) para a algum local (entretanto) aí chegar (neste caso a Faro) ‒ limitados como sempre pelo tempo e pelos ponteiros do Relógio-Guilhotina ‒ pegando firme num carro, ocupando-o ao volante ou ao lado e sendo capaz de o executar no “cumprimento do trajeto devido” (uma consulta médica), aí usufruir da paisagem (amplamente oferecida) usando todos os (5) órgãos dos sentidos e tentando atingir o orgasmo (tentando não se despistar). E indo ter ao Largo de São Pedro passando pela Igreja do Carmo.
A Ordem que ainda hoje é responsável pela gestão da Igreja do Carmo foi fundada pelo então Bispo do Algarve D. António Pereira da Silva, «grande devoto de Nossa Senhora do Carmo, que viu na espiritualidade carmelita um meio adequado para melhor evangelizar os seus diocesanos, particularmente os residentes na cidade episcopal», segundo revela o diácono Luís Seabra Galante, presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Ordem no site da instituição. «O nosso Sodalício de Faro foi fundado entre 1710 e 1712 pelo Bispo do Algarve D. António Pereira da Silva, que foi o seu primeiro Prior e Protetor, tendo a Ordem, sob o impulso inicial daquele Prelado diocesano, comprado os terrenos da horta de São Pedro, para neles edificar a bela igreja de estilo barroco, onde temos a nossa sede, inegavelmente uma das mais belas edificações religiosas de Faro, do Algarve e do Sul de Portugal», continuou.
«Nela poderemos apreciar a bela talha dourada dos seus altares, os magníficos azulejos das suas paredes, a famosa “capela dos ossos” e o cemitério da Ordem, onde os irmãos eram sepultados até à primeira década do século XX», acrescenta. Os primeiros membros da Ordem do Carmo foram cavaleiros dos séculos XI e XII que fundaram a instituição religiosa na Terra Santa durante as Cruzadas. Uma das principais referências da Ordem em Portugal é Nuno Alvares Pereira, o Santo Condestável (Hugo Rodrigues/sulinformacao.pt/11.02.2013).
E após consulta médica complementada com uma colonoscopia (exame ao intestino grosso) do nosso amigo Cartaxo (o tal mamífero comum, com nome de quem tem asas, mas que de facto não as tendo, ainda assim consegue voar ‒ de avião para o estrangeiro onde mora a fêmea/de plumagem menos intensa) ‒ com uma grande cacetada (devido ao sedativo tomado), enfiando-se-lhe algo pelo ânus (enquanto na Terra dos Sonhos) para um estudo mais profundo ‒ ainda meio avariado e depois de comer e beber, entrando-se de novo no carro para a viagem de retorno.
No regresso a Albufeira e em vez de optar pela EN125 (ou pela indevidamente cobrada Via do Infante) enfiando-me em direção a Loulé (apanhando além do litoral o barrocal Algarvio) para espreitar o meio envolvente (onde se localizam as Minas de Sal-Gema de Loulé formadas ao longo de um período de 150/250 milhões de anos e onde terá existido num passado bastante remoto um mar primitivo e com pouca profundidade denominado Tethys) e a cidade (inserido num concelho de mais de 760Km² e com mais de 70.000 residentes) ‒ e o seu centro comercial e histórico ‒ saindo a oeste pela estrada passando lateralmente ao Convento (de Santo António) e seguindo em direção a Boliqueime. Passando pela Pedreira e deliberadamente colocando-me de costas para ela (com o monstro da CIMPOR mesmo à esquerda e de noite iluminado, imaginado como a nossa base espacial de Campo Canaveral) aproveitando para tirar um retrato da planície estendendo-se até ao mar. Faltando passar pelas laranjas (indo pela Patã de Baixo) e ainda pelo restaurante (logo a seguir à rotunda da Vigia) à entrada da Estrada dos Brejos.
Pouco antes das 19:00 chegando ao restaurante-takeaway ‒ em plena estrada dos Brejos e a caminho do Montechoro ‒ desenrascando-me com uma Feijoada (à portuguesa) e também com um bacalhau (Nham-Nham).
Na diversidade da restauração algarvia e de outros negócios similares (muitos deles promovendo indiferenciadamente ‒ do prato principal à sobremesa, do prato tradicional ao artístico ‒ a gastronomia da região),
‒ Em imóveis ou tasquinhas (passando pelas roulottes e pelos vendedores ambulantes), em convívios (como o das Sopas & Papas) e festivais (como o da Sardinha & do Caracol) ‒
Conjugando-se todos os dias um pouco da cultura algarvia (praticamente toda perdida, desde o fim da ocupação árabe e do arraso ‒ até físico e quase integral ‒ da sua importante memória),
Com alguns dos seus sabores ainda prontos a degustar (como a sardinha e o caracol), com alguns dos seus fortes “aromas” ainda circulando no ar (como o do forte odor a citrinos e o cheirinho da cataplana), com paisagens da serra e do mar (com o barrocal a intermediar) ainda à espera por calcorrear (com queijinhos, chouriços e vinho ‒ um medronho e uns morgadinhos ‒ prontos a saborear) e com um povo misturado (trabalhador ou turista) e de muito lugar importado (de Portugal e do Mundo),
Deixando ainda no ar um pouco da tradição e da vida do povo do extremo sul deste canto de Portugal: o Algarve.
No meio tendo Albufeira uma aldeia de pescadores (inicialmente agricultores/criadores), passando pela indústria pesqueira, alterando o seu desígnio, escolhendo outro destino e entregando-se (ao ramo imobiliário/hoteleiro) reconvertida em aldeia turística, lançando então as estruturas (para alguns apocalíptica sobretudo sendo um dos poucos sobrevivente algarvio) para uma Muralha de Betão entrelaçada por asfalto atravessando todo o Algarve (com Albufeira a poder continuar a ser a “bela” capital do turismo) dividindo-o ao meio e amputando a Terra do Mar.
Agora que é cidade.
(imagens: Produções Anormais)