ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Snooker Literalmente em Boa (& Emocionante) Escrita
[E felizmente neste caso sem transmissão na TV]
Confirmando como se pode transmitir um acontecimento simplesmente escrevendo-o, transmitindo-nos todo o ambiente e emoção vividos (e usufruídos) como se na realidade lá tivéssemos estado (presencialmente). E igualmente uma homenagem à Bola (António Barroso) pelo destaque dado a esta modalidade (que por acaso não pratico, mas que em muito me faz lembrar o Xadrez) − de muita técnica e destreza, mas também de muita cabeça. Daí este artigo da Bola/António Barroso aqui e hoje replicado (de seguida).
Ronnie bate Trump
(10-9)
Na final, a uma vitória de ser número um e igualar Hendry
(António Barroso/A Bola)
The Rocket
O inglês Ronnie O’Sullivan, de 43 anos, segundo do ranking e pentacampeão mundial (2001, 2004, 2008, 2012 e 2013) garantiu esta quinta-feira a presença na final do Tour Championship, prova da época 2018/2019 da World Snooker a decorrer até domingo, dia 24 do corrente mês, em Llandudno (Gales), ao vencer o compatriota Judd Trump, de 29 anos, sexto da tabela mundial, na negra (10-9) após sensacional recuperação (esteve a perder 2-6 e 8-9), na primeira meia-final do torneio, um hino ao snooker. bandeira branca.
Ronnie jogava três metas num só duelo e garantiu continuar na corrida a dois: igualar os 36 títulos ranking conquistados pelo escocês Stephen Hendry e desapossar Mark Selby de número um mundial, ambos só possíveis se ganhar o torneio. O terceiro, tem-no o Rocket assegurado por antecipação: a Taça Coral, como o profissional que mais libras amealhou no conjunto de três provas composto por World Grand Prix (ganho por Trump), Players Championship (O’Sullivan triunfou) e este Tour Championship.
O’Sullivan estava em igualdade de ganhos com Trump, 130 mil libras (151.163 euros) até esta terceira e última prova. Ao vencer Judd, Ronnie garantiu supremacia sobre Trump para levar o caneco para casa… além de muitos milhares de libras e da desforra sobre o compatriota e rival, que este ano já o vencera nas finais do Open da Irlanda do Norte (7-9) e do Masters (4-10).
Muito penou Ronnie, ante um Trump que novamente se agigantou a jogar ante o compatriota: os 6-2 para Judd com que se concluiu a sessão da tarde nada de bom indiciavam para O’Sullivan. Soberbo jogo longo de Trump, clínico e cínico quanto a defesas – capítulo em que Ronnie claudicou de forma recorrente - na abertura dos parciais, o rival teve quase sempre vermelha longa para embolsar e foi rara a vez que perdoou à mínima aberta – explicam muito de tão grande desnível na primeira metade.
O primeiro parcial deu a nota da tarde: Ronnie a falhar a rosa para um dos buracos do meio, e Judd, que já tinha falhado uma bola preta do seu ponto, limpou a mesa, para o 1-0. Segunda partida, mais equilibrada, caiu para O’Sullivan: 1-1. Terceiro parcial com o Rocket a voltar à mesa com 0-64 e 59 pontos possíveis na mesa, a precisar de duas faltas de Judd e… à procura delas, sem êxito: Judd, 2-1.
Momento culminante do duelo na quarta partida: com 47-8, Ronnie declinou somar mais com única vermelha embolsável e arriscou espalhar o molho das encarnadas… para rosa traiçoeira caprichar em não entrar no buraco do meio. Optou pelo ataque quando mandava a prudência (1-3 muito diferente de 2-2 ao intervalo) ter defendido. E Judd, com 65 pontos, limpou a mesa para o 3-1, que passaram a 4-1 com todo o mérito, após o descanso.
A primeira centenária de O’Sullivan, e 1004.ª da carreira (100 pontos exatos) permitiu-lhe atenuar para 2-4, mas com entradas de 69 e 50 pontos, e alguns erros de ambos, Trump acelerou até ao 6-2, desnível enorme, mas espelho do conforto de Judd a defrontar um Ronnie que tinha prometido ser mais agressivo ante Judd. Ronnie tinha de fazer pela vida à noite, e venceu as duas primeiras partidas (entrada de 82 pontos na primeira) e reacender a chama da esperança numa recuperação: 4-6.
Drama e tensão em estupenda jornada de propaganda da modalidade: protagonistas de eleição
Mas o 7-4 para Judd, logo após, fez da 12.ª partida novo momento decisivo do embate. E quando Ronnie falhou uma bola castanha, a 49-31 e com uma vermelha (e 35 pontos possíveis na mesa), o drama na decisão e nas últimas bolas de cor era garantido, por diametralmente oposto 7-5 do 8-4. Infelicidade para Judd: ao embolsar azul, a branca também entrou (falta) e O’Sullivan com azul e rosa que nem um fuso direitas ao buracos, respirou: 5-7.
Tremenda e brutal tensão na 13.ª partida, com o tónico do jogo: o Rocket a não conseguir esconder bem a branca lá em cima, a deixar uma vermelha e Trump – que a defender conseguiu, quase sempre, deixar Ronnie snooker atrás do trio de bolas de cor da metade superior da mesa - a disparar lume, soberbo, implacável. Foram 35 minutos de luta bola a bola, sublima batalha tática, com o mais velho (O’Sullivan) a ter a chance, a 39-57, de embolsar a amarela, mas a falhar, e Judd a selar a vitória e o 8-5 na bola rosa. Faltavam dois ao Ace in the Pack.
Lapso de Judd Trump (raridade…) deixou branca perto das vermelhas e Ronnie limpou a mesa, autoritário, para selar o 6-8 com a 1005.ª centenária em 27 anos de carreira: 131 pontos. E mais 15 minutos, de novo Trump a zero, nova limpeza: 134 pontos, sua terceira centenária do jogo e 1006.ª de sempre de Ronnie… e 7-8. Colossal duelo: dois titãs, tensão no teto. Sublime.
Drama e tensão, bola a bola, repetido numa partida equilibrada, a 16.ª, com Ronnie a chegar a 57-35… com 22 pontos na mesa. Judd ainda embolsou castanha e azul, mas falhou e deixou rosa para O’Sullivan selar o 8-8. Pedir mais e melhor era impossível: tremenda jornada de propaganda desta variante do bilhar, novo hino ao snooker.
A reação de Trump, sempre na frente do marcador desta final, chegou no 9-8, com Ronnie a falhar displicente vermelha para um dos buracos do meio e Judd a não perdoar. O’Sullivan nas cordas mas a arrancar três bolas de levantar a bandeira branca para igualar 9-9: uma vermelha para o meio, uma azul no canto mais próximo do ponto da bola verde, e a última das encarnadas, para recuperar desde 0-39 e vencer na sequência final de cores, adiando tudo para o 19.º frame.
Na decisão, Ronnie falhou vermelha longa, Trump foi até 50-0 e perdeu posição para continuar a embolsar. O'Sullivan teve a sua oportunidade para, num jogo em que nunca esteve à frente- só empatado, três vezes (1-1, 8-8 e 9-9) para tentar vencer, bafejado por tremenda maré de fortuna: uma rosa para o meio, jogada com imensa força, foi entrar no buraco mais próximo do ponto da bola amarela. Um chouriço que valeu continuar à mesa para falhar a última vermelha, a 35-55. Os dois artistas chegaram aos 27 pontos da sequência final de cores com Trump 25 pontos à frente (60-35). Mas soberba amarela e a limpeza da mesa valeram ao Rocket o 62-60... e a vitória. Após oito horas de batalha épica, tudo decidido na última bola, a preta. Fantástico. Faltam palavras para descrever espetáculo assim.
(texto em itálico/imagem: António Barroso/abola.pt)