ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Noddy
Retrato do Noddy, enquanto jovem cão
O Noddy vivia numa casinha de campo, lá para o lado do Algoz. Tomava conta dela e não deixava ninguém entrar sem autorização. Na casa ao lado vivia a mãe, a irmã e o filho. À noite, vinha o dono dele para lhes dar de comer e então lá saía o mais novo da família, para lhes dar cabo da cabeça: saltava, ladrava, atirava-se à vassoura do dono e comia logo ali, a primeira refeição. Entretanto no fogão da cozinha, a panela preparava o jantar e os ossos começavam a estalar – a massa, por vezes o arroz, era o conduto para acompanhar. Também havia biscoitos para mastigar e de beber havia água – o bagaço era para o dono se aquecer e conversar, de modo a que todos se sentissem animais e assim se poder confraternizar, nunca nada que pudesse traumatizar. Os gerbos, esses bichinhos pequeninos, dormitavam na gaiola, era Inverno e só pensavam em comer, brincar e dormir, sempre a dormir.
Na TV os lagartos perdiam atrás de uma bola de futebol e na parede não se viam osgas. O frio da noite de Inverno, fazia-nos deslizar para o sofá, à beirinha do aquecedor. O céu estava estrelado, a noite decorria tranquila, não chovia e havia Lua, outros cães amigos falando ou murmurando à distância. E enquanto estava de costas, a apreciar esta beleza de noite e de silêncio, um insecto aproveitou a luz do candeeiro e a porta aberta, para se lançar cozinha adentro, contra a lâmpada fluorescente, caindo atordoado e de cabeça perdida, de pernas para o ar, na banca da nossa cozinha – pensei então em salvá-lo, mas mesmo aí, nada de osga. Fiquei a pensar.
E esta noite o Noddy não apareceu: andava à procura do conforto de amigas, no seu ofício de cio – ofício, sacrifício, prazer. Deixei-lhe de comer e arranquei para Albufeira.
Ontem, alguns jovens tinham morrido na estrada 125 perto de Valverde/Guia, talvez vindos da discoteca, talvez vindos de outro lado – uma pena, um desperdício!
A vida passa num segundo!