ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Sonhos de Água
E a cama do robot ficou toda molhada
Numa das etapas da minha corrida de fundo, fui invadido pelas teorias revolucionárias da inovadora ciência cibernética, às quais associei na altura e inconscientemente, a ilusão da década de setenta, a explosão industrial no seu apogeu e o início da avalanche profissional e de futuro, dos serviços não reprodutivos – bancos, seguros, finanças, justiça e demais excrementos desenvolvidos pelo sistema. Não tenho nada a ver com os excrementos, apenas sonhei com um mundo em que o tempo não fosse um dos parâmetros fundamentais da nossa existência, nem o elogio do trabalho pago fosse o primeiro objectivo de qualquer ser humano, superior à sua esperança na criação dum novo mundo para si e para os seus descendentes, concretização de um sonho de centenas de sucessivas gerações, idealizando um futuro espacial de usufruto total do ócio e do amor, como plataforma de solidariedade, partilha e amizade com um novo mundo.
Em que nós contássemos mais!
E foi assim que me deparei com este indivíduo sorridente, pronto a substituir-me em qualquer situação e a dispensar-me de qualquer trabalho associado a um nómada, para quem estar parado, fosse como já estar morto. Olhava para mim como se eu fosse um imbecil, que ainda não tivesse percebido o seu papel e a sua situação no mundo e o estivesse a impedir de desenvolver a sua tarefa, na sua completa plenitude e normalidade.
Eu era um atraso de vida e o tempo desperdiçado neste momento, nunca seria a concretização com sucesso desta criação pelo seu criador, ainda por cima com o objectivo final de o substituir, numa imagem de perfeição superior à que este, alguma vez pretenderia atingir.
Decapitou-me o pensamento com o apoio da multidão e ocupou o meu espaço craniano para gáudio e felicidade de muitos outros mais como ele, o filho da perfeita humanidade realista, o desejado e inacreditável robot.
Um, dois e três: chegou a tua vez, de te espalhares como um chinês!