ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Selva, Loucura e Caos
A Selva é uma expressão natural da loucura do caos, que ainda hoje e apesar de toda a miséria que artificialmente criamos, nos recusamos a aceitar – e é só deixá-la avançar entre as fendas do betão e esperar que as memórias antigas, ainda nos possam encontrar com vida, no centro da nossa cabeça.
A origem do mundo perdeu-se num dia de verão quando adormeci debaixo daquela macieira, depois de um belo jantar no meio do campo e após mais um cansativo dia de trabalho. Acordei já a Lua ia alta e o frio húmido da noite começava a subir pelas minhas costas acima: nunca cheguei a encontrar a origem do mundo e mal me lembro hoje em dia, da razão desta demanda. A única coisa que sei é que a vida se estende em todas as dimensões e que é impossível a sobreposição de dois pontos sem que ambos percam totalmente a identidade para que foram criados e assim anulem o mundo e a sua própria existência.
Os comportamentos sociais foram-se modificando à medida que fomos mudando a nossa relação com a natureza. O desenvolvimento da utilização dos objectos, na simplificação do quotidiano e no reforço das relações sociais, contribuiu para dar origem à criação de grupos com um sentido mais forte de organização e de elaboração de tarefas conjuntas. Com o objectivo de melhorar a sua defesa e garantir a sua preservação.
O espaço foi-se esgotando com a expansão selvagem e sem critério algum, dos solos que se iam disponibilizando ao longo das principais rotas comerciais. Estendidos ao longo deste traçado criado artificialmente pelo homem e de carácter estritamente económico, a sociedade teve que se sujeitar a determinadas regras nunca antes imaginadas, para poder continuar prosperamente o seu desenvolvimento programado. Em camadas sobrepostas e esmagando-se umas às outras sob milhares de toneladas de ferro e betão, sucessivamente dispostas em planos paralelos e de soberba simetria, as habitações parecem querer fugir do inferno da terra em direcção aos céus numa vertigem que se perde na forma daquela monstruosidade – a negação total da utilização do espaço por verticalização do solo e sua reutilização simultânea por sobreposição – como se fosse um time-sharing.
As coisas não precisam de ter significado para existirem. Nem necessitam de pensar para ter o seu próprio lugar no espaço. A sua posição não se define por uma hierarquia, mas pela sua disposição em relação a outros pontos do espaço, mesmo que vazios. O caos é a melhor definição para uma perfeita e harmoniosa disposição de objectos, já que não existem critérios nem valores para o estruturar e definir. O caos por definição tem que ser tudo o que existe muito bem misturado e pronto a evoluir. Por isso acho que a vida é uma experiência que um dia alguém realizou e se tornou incontrolável.