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A ONU de Guterres

Sexta-feira, 14.10.16

“Afirmar que António Guterres foi o escolhido para a ONU apenas porque negociou com os mais poderosos (países com direito de veto) – como se fosse um defeito nunca antes observado – é a mesma coisa que dizer que um doente ficou curado apenas porque se socorreu dos melhores profissionais (neste caso da saúde). Salvaguardando as devidas distâncias (nestes dois casos) ainda não descortinei o problema (para desde já o atacarem).”

 

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Esperando que o primeiro mandato do português António Guterres (2017/2021)

Nada tenha a ver com os dois mandatos do sul-coreano Ban-Ki-moon (2007/2016)

 

Numa primeira intervenção perante a comunicação social, concretizada logo após a sua confirmação como secretário-geral da ONU (tomada de posse a 1 de Janeiro), o português António Guterres deu a entender que a reconciliação entre os EUA e a Rússia seria um dos seus principais objetivos a alcançar. Considerando tanto os norte-americanos como os russos como dois parceiros essenciais para em conjunto lutarem pela manutenção da Paz no Mundo e simultaneamente aproveitando o momento para se congratular com as notícias sobre uma possível retoma das negociações EUA/Rússia tendo como tema a Guerra na Síria. Antecipadamente e como homem inteligente que é convidando desde já todos os envolvidos neste conflito, a sentarem-se à mesma mesa e a dialogarem: nomeadamente Governo e Terroristas (em confronto direto no terreno), russos e norte-americanos (respetivamente apoiando Governo e Terroristas) e iranianos e sauditas (respetivamente em armas e milícias ao lado de Governo/Rússia e Terroristas/EUA).

 

Num momento delicado da História Mundial onde para além da grave crise económica e financeira que a todos tem atingido (sobretudo o Mundo Ocidental e o seu estilo de vida) o Eixo do Poder já se deslocou definitivamente para Oriente, com a China a chamar a si todo o protagonismo (nos mais variados sectores como o da Eletrónica e do Espaço), sendo já considerada a maior potência económica global e podendo desde já contrapor ao poderio monetário global (baseado no Banco Mundial e no dólar) o seu banco mundial e a sua “moeda” de troca (ou base de apoio): o Banco AIIB e o Ouro (um metal precioso e não de papel como o dólar). Algo que os EUA não parecem querer aceitar a qualquer preço (ainda-por-cima feitos sem pedidos de autorização ou de contrapartidas válidas para eles), pensando por outro lado que desestabilizando a Rússia desestabilizariam indiretamente os seus grandes parceiros económicos neste caso a China. O que não surpreendendo nesta luta contínua pela supremacia nos coloca a questão: e qual tem sido nos últimos anos o nosso papel (da Europa)?

 

Considerando que, se como comissário da ONU para os refugiados António Guterres se destacou (constatava a miséria deste mundo, relatava-a, intervinha, mas pouco mais podia fazer) tanto pela sua intervenção dedicada no terreno como pela sua generosidade intelectual mesmo estando em minoria (no fundo um cargo não executivo com o direito a ser escutado mas não seguido) – como assim lidava-se com todos os abandonados, desprotegidos e sem qualquer forma de intervenção no Mundo (certamente expressos em biliões) – já no caso da sua nomeação como próximo secretário-geral da ONU e apear de estarmos perante um cargo aparentemente cada vez mais esvaziado de poder (de atuação pratica no terreno seja através das palavras ou das armas) – e dadas todas as peças em jogo e o objetivo de cada uma delas individual e coletivamente – a tarefa apresenta-se claramente difícil de aplicar quanto mais de se cumprir. Até porque o direito de veto continua a ser consagrado só para alguns (uma vergonha) enquanto por outro lado as guerras são cada vez mais (colecionando-se, destruição, vítimas e genocídios): sem as vítimas por alguma vez saberem por onde anda a ONU.

 

Enquanto o nosso mundo continua a girar em torno da obtenção de matéria-prima e da exploração de mão-de-obra. Com os grandes detentores e comercializadores da matéria-prima a serem os países ricos e mais desenvolvidos tecnologicamente e com os exploradores de mão-de-obra a servirem-se dos países pobres e menos desenvolvidos para os espremerem, aumentando a margem de lucro se possível até ao Infinito (regressando-se à Escravatura). Explorando todos os continentes, querendo pôr (agora) a Europa de lado (como se pudéssemos hibernar sem paralisar e morrer) e dirigindo-se estrategicamente para onde existe matéria-prima (como o petróleo) e mão-de-obra barata (como a Ásia). Tão simples como isso. Daí o conflito eterno (enquanto durar) em torno dos poços de petróleo – Iraque, Síria e Líbia (e com o Iémen a levar por proximidade e tabela) – e a tensão constante e crescente no Mar da China entre duas grandes potências: a China residindo na zona e os EUA circulando por lá. Com António Guterres a ser certamente eleito após várias negociações, de forma a sobrepor-se a possíveis (e como tal impeditivos) vetos: restando-nos esperar e ver a força (verdade) dele.

 

(imagem: Reuters)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 22:24