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A Primeira Base Extraterrestre Certamente Será em Marte

Terça-feira, 09.08.16

Quando cheguei a Marte após uma viagem de mais de 200 milhões de quilómetros iniciada no planeta Terra, a primeira sensação que tive ao destapar as escotilhas do meu módulo habitacional (onde me instalara) foi mesmo a de uma enorme e extrema solidão, não só por estar perante uma ausência total de movimento ou de qualquer outro tipo de vestígio que pudesse apontar para a existência de vida, como também pela sua brutal aridez superficial (misteriosa e sem fim), despertando-me instantaneamente recordações de outro lugar conhecido e dos seus ainda enigmáticos desertos terrestres (pelo que escondem debaixo deles).

 

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Marte

Zona dunar localizada a cerca de 12km do local de aterragem do Lander Curiosity

(Sol 1249 – Rover Curiosity – Mast Cam Left)

 

Numa paisagem marciana onde o que se apercebia visualmente desde o lugar onde me encontrava até ao fundo do horizonte era um terreno queimado, por vezes como se estivesse calcinado e estendendo-se sob três estruturas visuais aparentemente diferenciadas, mas nitidamente fazendo parte dum mesmo cenário muito provavelmente de origem apocalítica (com o aspeto de tudo o que morre, se decompõe e se transforma): como se estivesse nos territórios áridos do norte do continente Africano viajando nas fronteiras do imenso e perigoso deserto do Sahara (pelas suas condições de ambiente extremo para os seres vivos e para a sua respetiva sobrevivência) e me deparasse repentinamente com as suas dunas infernais que tudo cobrem e tudo esquecem e que nada se fazendo, também acabam por morrer (e toda a vida com elas pelo extermínio da memória). Em primeiro-plano o sul de Espanha, no espaço intermédio o seco e aí inexistente Mar Mediterrâneo e do outro lado o norte de Marrocos, entretanto esmagado pelo avanço do deserto.

 

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Marte

Diferentes estratos geológicos localizados em redor da base do Monte Sharp

(Sol 580 – Rover Curiosity – Mast Cam)

 

Deixando então o pequeno habitáculo onde me instalara (a minha autorização tinha sido finalmente confirmada) dirigi-me imediatamente para os pisos inferiores onde se localizava a parte social e administrativa. Reservei logo o meu veículo, apetrechei-me de todo o material necessário e apontei a minha saída em direção ao Monte Sharp (para meio do dia marciano): sairia pela porta MS-E1 a bordo dum pequeno artefacto voador motorizado, num trajeto pela superfície de Marte em direção às ruínas duma antiga Cidade Marciana (a sua face agora visível no seu terreno à superfície). Assim satisfazia a minha curiosidade arqueológica sobre a possível existência há muitos e muitos anos atrás e neste lugar de uma sociedade alienígena organizada e desenvolvida, comprovando desse modo e de uma forma definitiva e sem qualquer hipóteses de reticências a evidência (que até o dia de hoje o Homem não quis aceitar) de que para além dele existe muito mais – homens e outros seres de matéria como ele. E claramente visível no horizonte marciano contrastando entre a cor acastanhada do terreno e o brilho azul-claro do céu (parecendo impossível em Marte repetir um cenário terrestre), uma imagem do que poderia muito bem ser um aglomerado populacional do Sul no meio de um ambiente desértico: cá em baixo correria o rio e lá em cima estaria a cidade. Só faltavam as pessoas que até poderiam estar noutro sítio.

 

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Marte

O que poderia ser um fóssil de um osso/fémur de um qualquer animal vertebrado

(Sol 719 – Rover Curiosity – Mast Cam)

 

Mas tal como acontece na Terra há coisas que são mesmo tramadas e por mais que as evitemos mais elas surgem e vencem (e convencem). E no itinerário de retorno vi um fóssil animal: um fémur dum vertebrado (pelo local marciano) e semelhante aos terrestres. Pelo que a Terra seria atualmente o viveiro da Humanidade, numa cronologia de acontecimentos sistémicos (associados ao Sistema Solar) em que o personagem-planeta seria (apenas) mais um dos episódios da evolução de uma experiência muito mais vasta (Matéria + Vida), em que a Terra seria o veículo (temporário) e o Homem seria o objetivo (mensagem). Ao contrário do que muitos pensam um planeta certamente com uma extensa e admirável História passada (e perdida nos biliões de anos que entretanto já decorreram) e que num futuro não muito distante se poderá tornar no novo berço da Humanidade: ao olharmos para Marte se por um lado poderemos estar a ver o futuro que nos espera, por outro lado ao olharmos para a Terra poderemos estar a olhar para o futuro que nos espera (mas aí) em Marte. Confuso? Depende de como nos interpretamos ao nos colocarmos no palco (“quem depende de quem se não existir mais ninguém?”). Talvez tudo se resume a uma repetição.

 

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Marte

A sugestão leva-nos por vários caminhos sendo um deles o da realidade – como no caso deste sarcófago marciano

(Sol 992 – Rover Curiosity – Mast Cam)

 

Na segunda e última saída (para o exterior) resolvi levar comigo o guião (de viagem), de modo a otimizar o tempo que me restava (para as minhas pesquisas realizadas à superfície) e ter tempo para pensar e aí dizer algo mais: escolhi alguns dos pontos mais curiosos do itinerário percorrido pelo veículo motorizado da sonda Curiosity, apontando inconscientemente para dois deles como se sugeridos de casa (por simples transmissão de ondas). Regressando à infância vi um sarcófago (certamente com uma múmia lá dentro), uma concha e uma bolinha (como se perdidas na praia). E enquanto corria de uma forma verdadeiramente desenfreada no interior e ao comando do meu fato supersónico e ultradinâmico (em direção à sempre Imaginada Feira de Diversões Marcianas) quase que choquei com os cenários e tropecei no dito sarcófago. Confundindo-se no interior completamente pejado de destroços de um qualquer monumento há muito tempo extinto e obliterado, quase como se estivéssemos em presença de um milagre visual mas notoriamente material face à intrusão de artefactos estranhos à conceção do conjunto em presença, eis que a opção é proposta e a alternativa por mais incrível que seja aceite: não fosse a imaginação um produto da realidade (ou não será o contrário?). Se no interior do artefacto (sarcófago) estivesse algo tudo seria então diferente. “O meu pensamento é que ao passado (Vénus) se segue o presente (Terra) e a seguir vem o Futuro (Marte), com o processo a prosseguir até o primeiro espermatozoide conseguir fecundar o Sol e o organismo todo explodir – com um grande estrondo (Big Bang) e dando origem a outros (organismos, mundos e vidas).Que também seremos nós.”

 

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Marte

Os vestígios estranhos ao proliferarem – como conchas e esferas em terras distantes – apontam-nos logo a resposta…talvez mesmo olhando-nos no espelho

(Sol 1185 – Rover Curiosity – Mast Cam Right)

 

O ar quente e sufocante que vinha do interior do território (transformando-nos num subtipo de claustrofóbicos) levou-nos finalmente a sair de casa (que heroicamente habitávamos no interior duma zona rural): correndo à procura da frescura das águas e à descoberta da leve brisa do mar. Já perto da praia e do mar corremos para lá como loucos, não paramos para olhar, não esperamos por nada e sem sequer querer pensar, atiramo-nos ao mundo a gritar: como crianças à procura da aventura por apenas quererem sonhar (descobrir, experimentar, conhecer – sobretudo sem limites). “Nos primeiros vislumbres de água não havia ondas do mar enquanto sobre ele o ar quente ondulava sem parar”. Vimos logo que o mar estava em maré baixa, com uma grande extensão de areia e de pedras (à vista) num cenário seco e escaldante. Queimava-nos os pés como se fosse um deserto – mas com uma miragem real bem defronte de nós. E antes de irmos á água iniciamos o nosso jogo. Era constituído por um tabuleiro assente numa estrutura sedimentar de limites bem definidos, onde os mais variados tipos de peças assentavam e proliferavam nos mais diferenciados níveis e densidades. Do pacote de ferramentas acessórias ainda faziam parte uma bola, uns óculos de sol e um chapéu. O objetivo do jogo era o de, fosse onde fosse colocado o tabuleiro, tentarmos provar que na nossa zona de influência seria sempre possível de descobrir algo de relevante e o seu contrário: com o relativo e o absoluto fazendo parte do conjunto e confundindo-se entre eles (formando um todo consciente pelo contorno dos movimentos).

Lancei a bola…talvez sem sentido… (num texto nunca acabado)

 

Nunca esquecendo:

 

O Passado nunca pode ser usado para prever o Futuro;

Os Eletrões ao colidirem nos limites do Universo afetam a Terra instantaneamente;

A Luz nem sempre viaja tão rapidamente;

A maior parte do Universo parece estar em falta;

Todas as pessoas da Terra cabem no interior de uma laranja.

(a partir de cosmosup.com)

 

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Marte

Mais um artefacto visionado sobre a superfície marciana lembrando-nos logo o terminal de um aspirador…ou outra coisa qualquer deslocada do cenário

(Sol 821 – Rover Curiosity – Mast Cam Right)

 

No entanto e para quem até hoje já fez e viu tantos retratos, surgem por vezes casos que entre todos os outros sempre se destacam e curiosamente persistem (como muitas coisas na vida): o que tem acontecido várias vezes com muitas das imagens fornecidas pela NASA (abrindo livremente o seu conteúdo ao público), mas com muitas delas suscitando comentários e críticas constantes por ausência de explicação a quem foi disponibilizada a informação (quando entrego algo a alguém entrego-lhe sempre o manual de instrução, oferecendo até soluções para a resolução de problemas – como com a edição e os problemas de manipulação). Cidades, ossos, sarcófagos, conchas, tudo possível de encontrar mesmo num mundo distante e sem quaisquer vestígios de vida (passada ou presente). Incompatível com a nossa História (de única espécie inteligente conhecida), mas compatível com o Universo (o caos e a ordem) e com a intrusão Espaço/Tempo que nos baralha a mente, recusando espaços concorrentes e em pontos coincidentes (apenas aparentemente mas em diferentes contextos – não é o mesmo viver num buraco ou num buraco viver). Como ao olharmos para Marte: o que nos garante que ao olharmos para Marte estaremos a ver o futuro da Terra (um mau prognóstico para nós) e não que ao olharmos para Marte estaremos a ver o passado da Terra (um bom prognóstico para os marcianos e talvez para nós)? Mas sem sombra de dúvida entre todas as imagens a que até hoje tive acesso (oriunda das sondas marcianas) a que mais me impressionou (ficando mais tempo na memória) foi mesmo a do aspirador e da sua peça perdida; um objeto abandonado e completamente perdido na nossa memória do Espaço (e talvez pertencendo à cabeça de um monstro).

 

(imagens: NASA)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 15:18