ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Da Selva de Calais para o Luxo de Paris
“Paris police began destroying migrants’ tents on Monday after a surge in the number of people camping in the streets following the clearance of the Calais “Jungle” last week. Dozens of armed riot police arrived at a camp in northern Paris before dawn and cordoned off two streets as workmen piled tents and mattresses on to garbage trucks. However, after a few hours most of the police left, making no attempt to stop migrants who moved back in and pitched tents in the area that had been cleared.” (David Chazan – 31.10.2016 – telegraph.co.uk)
De Calais para Paris numa viagem de 300Km
Da selva provinciana ao luxo citadino
(foto: Christophe Ena)
Depois de meses consecutivos (já vamos em mais de um ano) a varrer os migrantes em fuga (do norte de África e do Médio Oriente) para debaixo do tapete (por vezes para debaixo de água se contarmos com os afogados), não é nenhum o espanto se virmos nalgum ponto da Europa uma borbulha surgir e de seguida explodir (rebentar).
E não é ao expulsar as vítimas de anteriores perseguições (fugindo da destruição, da doença e da morte) que se cura a doença ou se faz prevenção: apenas se disfarça o mal (retocando a epiderme), se dissemina as suas causas (redistribuindo os indivíduos) e se expõe os resultados (reais) da mais vasta hipocrisia (política) e total falta de vergonha (por perda progressiva de valores civilizacionais).
Sabendo-se da total falta de liderança, confiança, agenda política (para já não falar da morte das ideologias) ou sequer salvaguarda dos verdadeiros motivos que levaram à constituição desta (como prometido, mais vasta e poderosa) União Europeia, completamente ajoelhada na defesa exclusiva dos interesses geoestratégicos dos EUA (para tal servindo atualmente a NATO): nem que para tal tenha que participar no guião destes, provocando o anterior amigo e grande vizinho europeu (por sinal a Rússia muito mais poderosa) – talvez para uma nova guerra na Europa – e simultaneamente aceitando sem discussão os maus despojos de guerra – os refugiados fugindo aos milhares de todos os últimos genocídios (acho que são sete) contando sempre com a presença da maior potência (militar) mundial.
Inevitavelmente desejando uma repatriação para a selva
Refletindo no espelho algo nunca imaginado
(foto: Lionel Bonaventure)
Uma estratégia natural levada a cabo pelos EUA na tentativa de manter a sua supremacia e hegemonia mundial (pelo menos a nível militar curiosamente num sector ligado à sua maior Indústria), mas que se torna incompreensível em relação à defesa dos verdadeiros e mais prementes interesses da Europa, já tão afetada pela bolha (financeira) atirada do lado de lá do Atlântico sobre nós e agora levando ainda em cima com um contingente imparável de milhares de indivíduos e de famílias em fuga, à procura da terra prometida e do país onde até as ruas são forradas a ouro (provavelmente por associação desses migrantes às torneiras de ouro das casas-de-banho de muitos dos seus ditadores).
Num cenário de guerra que se prevê de difícil resolução, onde diversos países estão presentes sendo vítimas de agressão (como são os casos mais visíveis do Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria e Iémen), onde dois lados que se opõem travam uma luta sem quartel (EUA/EU/Arábia Saudita/Al-Qaeda/ISIS de um lado e Rússia/regime da Síria do outro) e onde como resultado de mais este trágico Evento as ondas de choque de terror e de violência de mais esta temporada (de genocídios) se propagaram a grande distância acabando por nos atingir. Com o Reino Unido alheando-se do problema (como se não fosse também dele) e fechando imediatamente fronteiras à turba de invasores (racismo bom?).
Projetando-se num futuro próximo o isolamento (da Ilha) face à Europa (protegendo-se de um possível conflito no continente), com a Alemanha a chamar a si todo o protagonismo político (económico e financeiro mas sob alçada norte-americana), com todos os outros países a fazerem contas à vida (terminado o sonho solidário europeu) e lá mais para o fundo pertencendo também à Ásia com a Rússia a observar (como em conflitos passados), procurando alternativas e logo ali vendo a China. Em certos pontos que não poucos (como o da nossa sobrevivência) mais uma réplica irracional (e criminosa) do passado.
(imagens: thestar.com)