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Feriados Roubados

Sexta-feira, 31.01.14

A propósito do roubo dos feriados – e que para muitos governantes (já agora) se poderia referir a tudo:

- “Certas pessoas à procura de protagonismo deviam mas é estar caladas: não é falando com a voz do dono que as pessoas se deixam novamente enganar. Ainda por cima quando as mesmas foram mesmo roubadas”!

 

Miséria de Política

 

Roubados não!

Para além do entendimento ser excessivo, a linguagem utilizada é completamente inaceitável!

 

As cinco mulheres que tinham misteriosamente desaparecido do bloco 333 da Rua do Silva – pretensamente no fim do dia anterior – acabaram finalmente por ser devolvidas no final do dia seguinte aos seus respectivos lares, situados todos nesse mesmo bloco. Os seus cinco companheiros tinham anteriormente reportado à polícia o desaparecimento das mesmas, tendo na altura mencionado que começaram a estranhar essa ausência prolongada, quando elas nunca mais apareciam ou davam sinais de vida, passadas já tantas horas sobre a hora do jantar. Morando num prédio de três andares dispondo de apartamentos à esquerda e à direita, ainda perguntaram ao vizinho que morava no 2.ºEsq. se as tinha visto, ao que este respondeu de imediato “só agora estar de regresso a casa após mais um dia de trabalho e que estava com pressa para ir tratar das suas florinhas”.

 

Chamada a investigar a polícia desenvolveu desde manhã cedo todas as actividades que pudessem levar à resolução rápida deste caso no mínimo estranho, envolvendo cinco mulheres adultas, jovens, casadas e vivendo no mesmo prédio. Os primeiros a ser interrogados foram os seus cinco companheiros queixosos – os maridos oficiais e legais são sempre os primeiros suspeitos – mas daí a polícia não conseguiu obter nada, pois todos tinham como álibi a sua presença testemunhada no respectivo emprego e para além do mais a consequência da ausência das suas mulheres era bem visível: perdida a mulher sabe-se lá como, nas mãos de sabe-se lá de quem, eram bem visíveis as gotas de suor frio que lhes escorriam pelo rosto.

 

O passo seguinte foi o de contactar pessoas residentes nas proximidades do prédio: nesse sentido deslocaram-se à padaria, ao supermercado, ao café e até ao pequeno quiosque situado no jardim, que decorava a praceta adjacente ao prédio. Ninguém as tinha visto desde a hora do almoço do dia anterior e nem mesmo a senhora que trabalhava diariamente no quiosque das oito horas da manhã até ás oito da noite, as tinha visto passar. Os polícias encarregados da investigação regressaram então ao prédio e aí repensaram os novos procedimentos a adoptar. Foi nessa altura que viram alguém a sair do elevador do prédio e que um dos polícias se dirigiu ao seu encontro, apresentando-se como tal e solicitando a sua colaboração – logicamente após terem elucidado a pessoa do sucedido e das investigações que decorriam. A pessoa identificou-se como o vizinho do 2.ºEsq. e afirmou tranquilamente desconhecer qualquer tipo informação sobre o desaparecimento das cinco mulheres e que envolvesse qualquer tipo de indício duvidoso e susceptível de ser crime.

 

As cinco mulheres estavam todas a prepararem-se nas suas casas para iniciarem a feitura do seu jantar, quando foram convocadas individualmente para uma reunião de urgência do condomínio, a realizar pelo seu responsável actual, o Sr. Silva do 2.ºEsq. A única coisa que sabiam é que se tratava dum assunto de interesse para todos os condóminos e que segundo o Sr. Silva lhes poderia trazer vantagens futuras – para elas e até para os seus maridos. Como ainda não era muito tarde e a reunião deveria ser breve, resolveram marcar o encontro para as sete da tarde na casa do Sr. Silva: ainda daria tempo para fazerem o jantar. Ás sete horas em ponto saíram de casa e dirigiram-se para o encontro: o Sr. Silva já as esperava em sua casa e até lhes tinha preparado uns pequenos aperitivos. Viúvo e bem instalado na vida, o Sr. Silva seria certamente um bom partido para qualquer mulher à procura de companheiro, fosse como companhia, como fonte de rendimento ou até como objecto sexual: nenhuma mulher poderia considerar aquele homem de meia-idade mas bem conservado e musculado, como algo de deitar fora. E isso sabia-o ele com toda a certeza.

 

Miséria de Quotidiano

 

Depois de bem medicamentadas com bolinhos e licores, as três mulheres estavam agora preparadas e prontas a ser testadas. O Sr. Silva era um grande defensor da reprodução selectiva, como garantia de estabilização biológica das sociedades futuras: ele não compreendia que numa civilização que se queria perfeita e avançada, ainda se permitisse que os objectos e os sujeitos não fossem testados antes de serem consumidos, agora que até a grande dos produtos existentes no mercado tinham prazo de validade. Era moralmente obrigatório para qualquer cidadão consciente e responsável que ainda desejasse preservar o seu bom nome e o do seu país, assumir o seu papel na defesa de certas tradições ancestrais mesmo que parecendo conservadoras ou reaccionárias, nem que para tal este se tivesse que sacrificar pessoalmente, envenenando o seu corpo e podendo mesmo morrer (o máximo sacrifício). A sua exaltação patriótica tinha sido alimentada, apoiada e subscrita abstractamente, a partir da leitura dum folheto histórico que lera ainda há pouco tempo e que mencionava duas medidas extraordinárias: o abandono dos idosos à beira da morte no meio do monte longínquo e o papel desempenhado pelos provadores, heróicos no caso das prévias provas alimentares executadas antes do seu chefe comer (defendendo-os até à morte e morrendo muitas vezes envenenados em seu nome – que honra!). Mas muito mais importante do que isso até pelo sacrifício Real envolvido – demonstrativo da sua grandeza e do seu amor pelo povo – a assunção pelo Rei (em favor dos nobres e dos seus Vassalos) dos perigos transportados pelas suas donzelas e futuras esposas, ao ser a primeira pessoa a testar o certificado de garantia sexual dessas mulheres: se o desejo sexual era unicamente uma ferramenta reprodutiva, a luta contra as doenças sexuais passíveis de transmissão era um objectivo de vida.

 

Violadas uma a uma e registados os efeitos provocados no corpo do Sr. Silva, foi com grande alegria e satisfação que este as informou da sua aprovação e da passagem do respectivo certificado de garantia: poderiam agora recolher aos seus lares para junto dos seus maridos, com a certeza absoluta de que nenhuma delas se encontrava contaminada. Os seus maridos só poderiam estar agradecidos. Um pouco confusas com o que se estava a passar com elas, vestiram-se, olharam para o vizinho e abandonaram o apartamento. O Sr. Silva despediu-se muito educadamente, fechou a porta à saída destas e foi tomar banho.

 

Passadas vinte e quatro horas sobre o seu desaparecimento e ainda com os maridos em casa nervosos e preocupados sem saber o paradeiro delas, cada um deles ouviu a chave a entrar e a rodar lentamente na fechadura, a porta a abrir-se e a respectiva mulher a entrar na habitação visivelmente alterada e com as roupas completamente desalinhadas (ou trocadas) e até com algumas peças de roupa interiores transportadas em mão. Drogadas e violadas foram as duas conclusões imediatas tiradas por cada um dos seus companheiros, conclusão imediatamente comunicada às autoridades. Comparecendo de imediato a polícia tomou conta deste novo episódio, agregando-o aos dados já recolhidos e relacionados com a ocorrência. Durante o interrogatório constataram que as mulheres teriam sido drogadas e posteriormente violadas, faltando esclarecer se por livre vontade ou se tinham sido forçadas a tal. Depois de muito insistirem e dada a forma alterada como as cinco mulheres reagiam às questões e ao ambiente carregado que as rodeava, elas lá conseguiram dizer que apenas tinham deixado um dos apartamentos do prédio e entrado noutro. O mistério ainda se adensou mais até que se lembraram do simpático e bem-educado Sr. Silva.

 

A reacção do Sr. Silva ao abrir a porta do seu apartamento e ao ver-se perante três polícias com um mandato de captura passado em seu nome, deixou-o incrédulo e paralisado: nunca na vida tinha roubado algo a quem quer que fosse, quanto mais o corpo de outra pessoa. Indignado ainda reagira de início àquela inacreditável detenção, ele que apenas lutava pela salvação dos outros com o seu próprio sacrifício. E quando as autoridades ali presentes o acusaram de novo de violação, ele contrapôs com uma frase que de certeza os elucidaria e assim evitaria o arrastar deste deplorável episódio, para ele sem existência e sem possibilidade de existência de qualquer tipo de processo-crime:

- Como se poderia criminalizar uma praxe tão clara e ancestral, replicada por ele a partir de exemplos vindos de elites eruditas e poderosas – oriundas do clero, da nobreza ou de outras entidades de nível superior – quando o único objectivo dele era salvaguardar a saúde de alguns cidadãos e nunca usufruir do prazer associado a essa acção desinteressada. Jamais fora o prazer o seu objectivo prioritário de acção, mas no entanto toda a gente sabia que na guerra muitas das vezes era impossível evitar danos secundários colaterais: e se os homens não compreendiam a sua benfeitoria, então era mesmo cornudos. A Justiça no final dar-lhe-ia razão: a sua posição, a sua formação e toda a sua contribuição para o bem-estar geral da comunidade, certamente que contribuiria decisivamente para a declaração da sua inocência e para afastar de vez a voz daqueles marginais da sociedade que só o sabiam caluniar.

 

O Sr. Silva acabou por ser mandado em liberdade devido a um pretenso erro processual, enquanto as suas vítimas não declaradas continuaram incógnitas e cabisbaixas com a sua pobre vidinha.

 

(imagens – Web)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 00:25


1 comentário

De Comentário sem relação com o post . a 03.02.2014 às 17:50

Soube hoje que os reformados da CP deixaram de ter direito a viagens grátis. E pelos vistos já é assim há um ano.
A MESQUINHEZ deste governo não tem paralelo. Parece que se sentiam incomodados com qualquer pequeno prazer que um pobre reformado da CP pudesse ter. Como se, com esta medida, os reformados da CP passando a pagar fossem motivo de lucro para a companhia. Que gente IGNÓBIL!
Sei que o insulto não é argumento mas perante isto qualquer argumento, que não o insulto, seria estúpido.

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