Enquanto o Burro ia subindo lentamente as escadas, pensava filosoficamente na sua refeição.
Entrei no edifício e fechei a porta atrás de mim.
No interior da sala sentia-se um odor estranho.
Olhei à direita para a cozinha e vi no chão um rasto de sujidade.
Segui em frente e dirigi-me à casa de banho.
Na banheira um fardo de feno enchia-a de uma ponta à outra.
Então tocaram à campainha e fui ver quem era.
Se verificasse resistência por parte do co-inquilino, o prazer das suas ruminações seria prejudicado.
Marte – Cratera Endurance – Dunas
E se o pó cobrisse o mundo e não se vissem fronteiras?
Não existiriam portas e estaríamos sempre no mesmo lugar.
Abri a porta e do outro lado estava um Burro.
Deu-me os bons dias e pediu-me gentilmente para entrar.
Atrás dele o funcionário da câmara deu-me o recibo e apresentou-me o bombeiro.
Pegou-me no braço, mediu-me a tensão e o batimento cardíaco.
O Burro comeu, rezou e desejou sorte a todas as bestas.
À saída deu-me um coice, amparei-me no funcionário, que me deixou cair chamando o bombeiro.
O Burro sentia que uma sequência demoradamente trabalhada só prolongava a vida.
Se encarares a tua vida como um período de transição entre o zero e o infinito, muito dificilmente regressarás à origem e certamente te perderás em algo de diferente. Assim dito e assim feito, o Burro entrou no lote seguinte – enquanto cá fora os outros quadrúpedes leiloavam entre os presentes a próxima visita ao Zoo.
(imagem – NASA)