ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Pormenor numa duna de Marte
Eu sei que sem sexo não há audiências. Mas será que já pensaram que uma formiga (certamente) ou até mesmo um calhau (em vias de resolução) têm pénis e vagina? Se têm dúvidas usem a mão (o maior instrumento do Homem a seguir ao outro membro – e ambos dando prazer) e mantenham a vossa ilusão.
Uma Formiga em Marte
(ou algo que se lhe pareça)
Imagem capturada pelo rover da sonda Curiosity na passada sexta-feira dia 29 de Janeiro: utilizando para o efeito uma das suas câmaras no caso a Navcam Right B. Nesse registo o veículo motorizado da NASA mostra-nos um cenário parcial das dunas marcianas, presentes no terreno onde o mesmo se movimenta atualmente – nas proximidades das dunas de Namib. Dunas essas distribuídas e integradas (por zonas) num território bastante mais vasto e partilhando esse mesmo espaço árido e desértico com outras estruturas geológicas bem diferenciadas das suas.
Uma duna aparentemente de aspeto normal fotografada pela sonda Curiosity no seu 1237º dia de permanência na superfície de Marte (com o dia marciano a ser ligeiramente maior que o terrestre). E apenas nos despertando a atenção após uma simples observação (recorrendo unicamente a um dos nossos órgãos dos sentidos a visão) devido à presença inesperada do lado direito da imagem de uma pequena sombra ou imperfeição. À primeira vista (interpretação) parecendo um código de barras. Mas que ao ser ampliado e devido à nossa visão (a nossa forma de ver o mundo) já parecia outra coisa.
Imaginando uma realidade distante (e por mais inverosímil que fosse), vendo diante dos meus olhos (de terrestre) e num mundo a mim estranho (alienígena), num ambiente infernal e sem sinal de movimento, um ser do lado de cá (meu conhecido) e irmão do dia-a-dia (quotidiano), circulando calmamente sobre uma duna do distante planeta Marte: a mais de 60 milhões de quilómetros e sendo uma formiga marciana.
E se por um lado o visionamento (ou projeção) de um objeto conhecido, num cenário impróprio por estranho (por não respeitar as condições que consideramos mínimas para garantir a sua existência), pode ser interpretado e justificado com a existência de uma ou mais deficiências na transmissão de informação estabelecida entre o remetente e o destinatário – com as armadilhas dos pormenores das imagens e a interpretação do seu tradutor visual a serem questionadas e postas todas em causa (seja por erros de visão ou interpretações condicionada à nossa imagem) – porque não acreditar nas exceções (como assim tudo, nada e o seu complemento fazem o nosso Universo) muitas vezes inovadoras, em muitos casos excecionais e sempre criadoras. Porque não uma formiga?
E se não, porque não acreditar que outra forma de vida qualquer, orgânica, mineral ou mesmo mista, racional ou irracional, inteligente ou não (só para nos reconfortarmos com a existência dessas possíveis e mais que certas exceções) possa existir algures (ter existido ou vir a sê-lo, mas em diferentes espaços) e um dia se expor?
Talvez um conjunto de pedrinhas dunares inteligentes e privilegiadas, caminhando em fila indiana sobre a sua geologia nativa e marciana. Demonstrando assim a todos (mesmo aos terrestres) que até os calhaus podem pensar. E inovar.
E se esta formiga não o for então será uma espécie (e talvez mesmo com sexo).
(imagens: NASA)