ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Pulsações (3/3)
Ficheiros Secretos – Albufeira XXI
(Mundo Sequencial – Transmissão Indiferenciada por Pulsação e Contacto)
“Acordei às oito no cumprimento do dever: duas horas depois abdiquei definitivamente dos meus direitos”. Simplesmente por Intervenção Exterior: Divina, Alienígena ou Humana.
Simplesmente por Intervenção Exterior: Divina, Alienígena ou Humana
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A partir das janelas as vítimas só tinham visto um rápido flash, seguido de imediato e sem dor pela violenta implosão registada no local. As notas do seu diário tinham a última entrada registada no início da manhã desse dia e que apenas dizia: “Parece que tudo mudando não muda, comigo constantemente perdido da frente para trás e de trás para a frente. Não sei mesmo o que agora me espera”. Entretanto a BCRS (Biologic and Cybernetic Reproduction Systems) já se tinha protegido previamente das futuras sequelas do passado e a sua intervenção – como o futuro o comprovava – tinha sido um sucesso completo: a linha de ADN tinha sido eficazmente preservada e positivamente continuada.
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A pequena particularidade tinha sido finalmente ultrapassada. Desse modo o programa pode continuar a desenvolver-se tranquilamente, com o operador a ausentar-se rapidamente e a ir a correr almoçar: a cantina estava prestes a fechar e só passadas umas quatro horas é que voltava a abrir. Sentou-se sozinho no canto da mesa perto da janela e daí, enquanto comia, pode apreciar a vasta e iluminada superfície lunar, carregada de crateras e com umas quantas elevações espalhadas mais para norte. A sua superfície era árida e deserta, só se vendo na planície situada mais a norte uma nuvem de poeira que se erguia lentamente sobre o solo, talvez originada pelo transporte de algum carregamento de minério. Já perto do fim da refeição o intercomunicador tocou: era chamado pelo seu supervisor de programação para discutirem em conjunto o aparecimento da particularidade – dentro de uma hora – solicitando-lhe este que viesse acompanhado do relatório sumário e preliminar de danos causados/solucionados, relacionados com a mesma. Saiu da sala e voltou ao trabalho: tudo estava a funcionar normalmente. Levantou-se e foi fazer o relatório: só não sabia ainda, como explicar o sucedido.
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Desde que a VIRGIN se lançara em direcção à Lua, o conglomerado liderado por Mister RH tomara nas suas próprias mãos o início da colonização lunar: enquanto a Rússia e a China brincavam com os seus veículos telecomandados, espalhando-os sem critério e por puro espectáculo pela imensa vastidão do espaço, a empresa privada decidira substituir-se à poderosa organização espacial ligada ao estado norte-americano – a NASA – e dirigir todas as suas baterias para a conquista dum único e proveitoso objectivo, a Lua. Com todas as prioridades de investimento dirigidas para o satélite da Terra e contando com o apoio técnico e financeiro de retaguarda por parte do estado – a NASA serviria como backup oficial, garantindo a presença e toda atenção por parte do estado – em poucos meses foram montados os módulos que constituiriam o núcleo central da base, a partir dos quais mais tarde se chegaria à constituição da primeira urbe lunar. Mas a grande explosão de desenvolvimento registada nos anos que se seguiram sobre a superfície da Lua, não veio bem da parte de cima mas sim do seu subsolo: primeiro foram os minérios, depois os vestígios da presença anterior de outras civilizações, depois a descoberta da Máquina e finalmente o momento tão desejado e no entanto tão adiado, o ponto cronológico estabelecido para o início do contacto. Com a Máquina na sua posse e a neutralidade tácita dos estrangeiros, o acesso a outras tecnologias foi só mais um passo, não para a Humanidade como era hábito anterior, mas para o fortalecimento do conglomerado dominado por Mister RH. Agora que tinham acesso a velocidades superiores à da Luz dominavam as grandes distâncias, podendo lançar-se para lá da fronteira dos planetas interiores, à conquista de outros mundos e de outras direcções inovadoras. O sonho da utilização de projecções opcionais em situações de realidades desfavoráveis, modelando-as sem as alterar era o próximo alvo a atingir: a partir daí seriam eles próprios a criar e implementar a simulação. Nada de extraordinário num mundo infinito de sobreposições sucessivas.
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Do outro lado da Lua as criaturas de Allen Hills controlavam até ao mínimo pormenor todas as acções realizadas pelos terrestres sobre a superfície da Lua, ao mesmo tempo que monitorizavam todos os movimentos em que estes pudessem por em causa o acordo previamente estabelecido, sobre limites e áreas de influência: o primeiro aviso dirigido aos terrestres fora efectuado aquando das suas primeiras visitas tripuladas ao satélite, especialmente a partir da primeira alunagem efectuada pelos astronautas das missões Apollo. Inicialmente com uma presença não muito evidente – mas deliberada e impositiva – aquando da chegada dos veículos pioneiros vindos do planeta Terra, a sistemática intromissão dos terrestres sobre este satélite estratégico e ali colocado com uma função de observação e acompanhamento temporário e preparação das condições futuras para um novo salto orbital, começou a tornar-se cada vez mais insuportável: uma reunião restrita e secreta fora realizada no próprio planeta Terra, com as criaturas de Allen Hills a imporem tudo o que queriam aos terrestres e a criarem um período alargado de proibição de entrada na Lua ou na sua órbita de influência de qualquer tipo de missão tripulada. Em troca ofereciam tecnologia avançada a este grupo restrito de terrestres – privilegiando-os nesse sentido – o que para as criaturas não constituía qualquer tipo de perigo para a sua segurança, dado o nível rudimentar para a sua civilização dos aparelhos e elementos fornecidos. Os terrestres acabaram por aceitar o acordo proposto pelas criaturas instaladas na Lua, pois começavam agora a compreender todo o poder e avanço tecnológico desta civilização da qual já suspeitavam da sua existência há quase trinta anos, desde que em Dezembro de 1984 tinham descoberto o meteorito de Allen Hills na zona gelada da Antárctida: na prossecução do Projecto ANSMET um grupo de exploradores tinha aí descoberto o célebre meteorito de Marte – apresentando estruturas evidentes de vida extraterrestre muito semelhante às existentes na Terra – além de muitos outros artefactos não revelados e desde aí secretamente analisados e mesmo em certos casos ensaiados.
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A primeira projecção conhecida do Sistema Solar apresentava-o como um grande estrutura espalhando-se por milhões de anos-luz, com uma jovem estrela no seu centro e trazendo todo este conjunto atrás de si numa viagem por todo o Universo: mas a particularidade que o tornava especial era a presença de vida no planeta situado mais próximo dessa estrela. O planeta orbitava a estrela com um período de translação constante, levando atrás de si um outro corpo celeste que, também orbitando a estrela, orbitava ao mesmo tempo esse planeta: tratava-se de um satélite artificial criado e aí colocado para acompanhar toda a evolução da vida nesse sistema ao longo de todo o seu processo reprodutivo e evolutivo. Após a fecundação desta zona-óvulo do Espaço por impacto directo de uma fantástica e brutal quantidade de matéria excitada, pelo movimento e pela energia libertada durante este verdadeiro acto sexual de prazer e procriação, o novo Ser surgiu expondo a sua marca e identidade: a Vida.
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O sistema poderia ser visto duma forma simplificada e perceptível para todos, como uma simples partícula um átomo – com o centro aparentemente estático e pesado a ser orbitado por um conjunto variável doutros corpos “excêntricos”, mais livres e dinâmicos.
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“Desde o início dos tempos a espécie desenvolveu-se em torno da sua estrela-mãe o Sol, aproveitando sofregamente a paisagem luxuriosa que o planeta graciosamente lhe oferecia – num processo que parecia intemporal e sem fim claramente visível (por passividade na acção) – e usufruindo duma forma egocêntrica e levada até ao limite, de todas as delícias que este paraíso original lhe ia proporcionando, nunca pedindo algo em troca. Acompanhava-a um outro corpo celeste, responsável pela manutenção temporária do equilíbrio ambiental que sustinha a evolução desta nova espécie e pela preparação do seu salto seguinte no seu quadro evolutivo de aperfeiçoamento e expansão: a Lua, esse corpo celeste eremita colocado no centro do Sistema Solar por uma raça diferente mas inovadora e criativa, capaz de construir mundos mesmo que simulados e edificar construções (artificiais) únicas e extraordinárias. A Lua era uma dessas construções. Com o decorrer do seu processo evolutivo o Sol foi estendendo a sua área de influência, forçando a nova espécie a emigrar para corpos celestes similares entre saltos planetários e sempre acompanhada pela Lua: como um electrão residente num átomo activo e excitado, esta procurava libertar-se do poder centralizador do seu núcleo central, saltando entre órbitas e procurando continuamente o exterior, o desconhecido, talvez um parceiro. E esse seria o futuro desta nova espécie, se ela fosse capaz de se impor aos seus medos”.
Fim da 3.ª parte de 3
(imagens – Web)