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Albufeira

Domingo, 22.01.12

Albufeira poderia ter sido, uma terra muito bonita!

 

Albufeira – pintura de Liz Allen

 

Onde estão as refeições na tasca da D. Ana, com os seus peixinhos fritos, a sua bela sopa bem quentinha e a pretinha simpática que a todos atendia com um sorriso nos lábios, enquanto os pescadores, nós e os camones, lá íamos degustando estes verdadeiros e para sempre perdidos, petiscos gourmet?

 

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No passado Albufeira foi uma terra de pescadores pobres em bens materiais, mas ricos na preservação da natureza que os envolvia, tal como a cidade de Espinho de onde eu viera. Se na cidade costeira do norte e devido à sua proximidade à cidade do Porto, a comunidade pescadora foi mais rapidamente destruída, sendo engolida pelo emprego na cidade, na industria ou nos serviços, quando cheguei a esta cidade do sul e com a explosão do turismo que então se verificava, o seu fim como desde sempre fora, já se temia estar próximo, sob toneladas de álcool, sexo e betão.

 

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Onde está a entrada principal de Albufeira, com as suas árvores ladeando a estrada, como figuras locais recebendo os viajantes e acolhendo-os debaixo dos seus ramos protectores?

 

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Onde está o Jardim do centro histórico, chamariz da sua população para o mercado diário das frutas e legumes, local onde a gente da terra e os turistas se reuniam para o seu encontro diário, as suas conversas e troca de impressões sobre o dia-a-dia que ia passando?

 

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E o que é feito de um dos maiores e mais bonitos postais representativos de Albufeira, a sua Praia dos Barcos, com todos os seus veículos de vida apontados ao mar e as suas redes diariamente trabalhadas e ansiando a sua utilização pelos seus guardiões, os pescadores, a alma e a origem de Albufeira?

 

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E o passeio da Praia de Peneco, onde em tantos dias de calor infiltrando o nosso corpo, nos regalávamos com a vista deste mar tranquilo e oferecido e com a beleza da vista da costa estendendo-se para lá do Inatel sob os pés de centenas de nómadas sorridentes e aproveitadores de cada segundo, como se este fosse o último?

 

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E os pássaros gritando alegremente sobre as árvores residentes desta terra, absurdamente abatidas devido aos cocós voadores dos seus ocupantes, juntando-se aos milhares nas quentes noites de Verão e gritando aos nossos ouvidos a sua presença constante e a sua alegria de viver?

 

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E onde estão os algarvios naturais desta terra de campo, praia e calor, desde há muitos anos já detectados com problemas de integração na sua terra, por especialistas pró construção civil, acabadinhos de chegar de outras metrópoles já por si destruídas?

 

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E muito mais aconteceu nesta terra, como em muitas outras terras de Portugal, sempre em nome do progresso e com o mesmo destino traçado de sempre – violação intensiva do espaço ocupado e envolvente de preservação, até ao desmembramento total de toda a cultura e memória da terra e do seu povo indígena. Tal como aconteceu na costa ocidental Atlântica, como se propagou à sua costa sul algarvia e como parecia que iria acontecer à costa ainda livre alentejana, mas que a crise parece querer proteger.

 

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Os culpados são fáceis de identificar, só que por uma razão ou por outra, ninguém os quer ver! Só sei que são todos profissionais de gabarito, filhos de outros profissionais de gabarito e que amanhã serão continuados pelos seus filhos, futuramente também profissionais de gabarito. A hereditariedade como um mito é um processo histórico de repetição criada para manter eternamente as duas únicas castas que sempre tiveram acesso ao poder e que sempre se associaram a todas as plataformas legislativas e económicas de controlo e posterior execução legal de todas as iniciativas ditas sociais – o clero e a nobreza.

 

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O restante resume-se a elementos amorfos que apenas fazem parte da paisagem, por consentimento coercivo de não ocupação de outros espaços previamente reservados.

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 22:56