ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Hoje fui ao campo
Bicharoco
Hoje fui ao campo, dar de comer aos bichinhos. Passei pelo Solar para almoçar, mas já não havia pezinhos – lá nos contentamos com uma vitela estufada e cozido à portuguesa. De seguida passei pelo super e trouxe mais umas coisinhas, umas para mim, outras para a bicharada. O dia estava frio mas não chovia, o campo estava verde e molhado e o caminho lá estava, entre buracos de água, que por aqui e ali, serpenteava entre casas, muradas e paradas. O tempo cinzento rodeia este mundo com a chuva sempre à espreita. No início do asfalto virei à esquerda e ao fundo, lá apareceu o Noddy a correr: abri o portão com o cão sempre à perna, tentando-me dar as boas tardes com as patas no ar, chafurdadas de lama, prestes a saltar. Parei a Ford e lá fui na minha rotina inicial de chegada – sacos, casa do cão, chaves, abrir a porta, entrar, liga o aquecedor na sala, ligar a TV, ir à cozinha preparar de tudo um pouco e pôr a comida a fazer, isto tudo sempre a andar e com pouco tempo a perder. É que o cão pequeno ao sentir a chegada, nunca mais para de berrar e é vê-lo a atirar-se à vedação, abanando-a freneticamente, com todas as unhas e dentes. Ao abrir a porta sai tudo em debandada e num abrir e fechar de olhos, deixa-se de se avistar os cães. Os ratos tiveram sorte e lá resolvemos limpar as gaiolas – todas arrumadinhas, que até ao voltarem, até estranharam. Enquanto a comida se faz a menina vai fazendo companhia aos bichinhos, tropelias seguidas umas às outras, saídas e entradas a correr, brincadeiras de dar cabo de tudo, rosnadelas barulhentas e até, por vezes, para educar o mais novo, umas mordidelas, mas só de raspão, passando muitas vezes ao lado. Esperamos todos pela papa, cheira bem, mas não me deixam comer. À vez, cada um come a sua parte da panela, enquanto se renova a água e os biscoitos de cão. O dia cai depressa, a escuridão espalha-se pelo campo, a humidade e o frio começam a instalar-se e a luz agora é a dos candeeiros exteriores. Por vezes a Lua Cheia dispensa a iluminação e o campo torna-se diferente e irreal, exteriorizando a sua beleza naquela escuridão iluminada. O Inverno começara há poucos dias, o Natal era amanhã e era preciso ir fazer o bacalhau. Fechei tudo, desliguei a água e parti do Algoz para Albufeira. No caminho não choveu e à chegada, lá estava a festa no acampamento cigano de Natal. Depois veio o frio e começou a chover mas a festa continuou.