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Digital

Sábado, 23.08.14

Digitalização de Verão

 

 

Se um dia Eu fosse Digital, só precisava de três teclas de acesso (duas nos meus tomates e outra na ponta da piroca).

 

Para dizer SIM, para dizer NÃO e para dizer FODA-SE.

 

Mas até hoje nunca me deixaram. Preferiram complicar-me a vida e aplicar-me o degradante tratamento Analógico.

 

Hoje tenho dois ponteiros – um para as horas e outro para os minutos – com um deles espetado no cu. Não sei qual deles é, mas já parece uma eternidade.

 

Queixei-me à minha mãe, mataram o relojoeiro e incendiaram-lhe a casa e no fim-de-semana seguinte, ela deu-me um Digital: baseava-se num processador biotecnológico de alta velocidade e definição, associado a um monitor multidimensional dispondo de apenas três botões.

 

Naquela tarde de Verão junto da piscina (prestes a mergulhar) e com os raios do Sol a incendiarem o corpo, só faltava mesmo a mulher chamar pelo seu Digital pedindo-lhe ajuda. A resposta imediata foi FODA-SE.

 

Após o Orgasmo só faltavam duas coisas: dizer SIM a uma ceia com caviar, lagosta e champanhe e dizer NÃO à conta que os pariu!

 

(imagem – Web)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 12:30

A Morte dos Analógicos

Domingo, 30.06.13

“Também vivi o mundo dos Marretas, bonecos que sempre farão parte da minha memória e cultura e que no fundo partilharão comigo até à eternidade, todo o espaço da minha vida”.


Digital

A anterior realidade já não existe desde que fomos digitalizados – agora existe uma infinidade de cópias, uma infinidade de realidades e uma profusão infindável de EUS, dentro do nosso e anteriormente único e inviolável EU

 

Com a crise de identidade biológica a espalhar-se rapidamente por todo o mundo – dos humanos – e a afectar colateralmente todos os restantes seres vivos que os rodeiam, o fenómeno de extinção já se iniciou para muitas das espécies que conhecemos, chegando-se ao cúmulo de muitas delas iniciarem este seu percurso final, começando por eliminar as suas imagens mais chegadas e fieis: os bonecos. Nos EUA os Marretas lutam já contra a crise imparável que afecta os bonecos manipuláveis – com crescentes limitações de encargos e novos despedimentos – esmagados pelos seus tão perfeitos e fidedignos hologramas, criados com todo o cuidado e precaução em inovadores viveiros informáticos.

 

“Tal como eles já começamos a ser substituídos.

Mas como ainda não chegou a nossa hora, para já não nos preocupamos com isso.

É só uma questão de espaço e de movimento, até que toda a energia destruidora nos extermine de uma só vez”.

 

E os bonecos ainda passíveis de manipulação – fosse ela boa ou fosse ela má – foram então e sem excepção desqualificados. Até eles se sujeitaram à catana impiedosa dos tentáculos financeiros estruturalmente estáticos do evento – e como consequência mortais por ausência de movimento – sujeitando-se sem apoio contraditório à pressão dum mercado entretanto possuído e violado (sistematicamente e sem critérios visíveis), por estes vírus parasitário dum simples e insultuoso jogo de casino.

 

Do pouco que víramos circulando à volta dos bonecos, tudo o que era o todo se perdera no rodopio: o sujeito particular desaparecera, a transferência de dados apresentara ERRO e até a aplicação biónica de intersecção fonte+alvo, mais uma vez não fora reconhecida (como válida).

 

Pobres Marretas, pobres bonecos – pobres de nós sem instrumentos de Vudu!


Analógico

O jovem encontrou dois objectos enterrados debaixo dum montão de lixo e desperdícios numa das salas da casa abandonada: um deles era um objecto plano e sem grandes detalhes particulares que o identificassem – a não ser três letras maiúsculas, IBM – imediatamente descartado dos planos exploratórios do jovem, pela sua vulgaridade sensorial e falta de profundidade, enquanto que o outro objecto sobressaia desde logo do contexto geral que o rodeava, pela sua variedade, beleza e presença física – que parecia emanar em todas as direcções – tocando-o subliminarmente através do seu aspecto geral, em algo de muito profundo que o jovem sabia ter em comum com ele. Escolheu o boneco!

 

Hoje muitos de nós já nos transformamos em nativos digitais. Quem é que hoje em dia já não tem – muito graças a intervenções brilhantes e não reconhecidas condignamente por nós, como foi o caso do lançamento do computador Magalhães – nas suas mãos antigamente calejadas e actualmente muito bem acompanhadas, um qualquer tipo de artefacto tecnologicamente avançado e sugerindo intervenção alienígena, tal como o telemóvel, o MP3 ou até mesmo o iPod?

 

Assim para que serve então este miserável e impedidor sujeito particular, seja ele racional ou irracional, perceptível ou insensível, mas inequivocamente e sem ressaltos de interpretação e concretização, factualmente material e notoriamente palpável? Provavelmente para significativamente nada, dificultando isso sim e no essencial a mais simples e eficaz forma de comunicação entre conjuntos, fazendo intervir sem justificação e como impedimento temporal, a utilização e transformação de matéria-prima. Ou não será que a informação não necessita dum suporte físico para ser real?

 

Pessoas nascidas na Era da Informação apenas têm um conhecimento básico e superficial sobre a função e utilização histórica do papel, resumindo a sua cultura de utilização e manipulação deste produto – obtido a partir da madeira produzida por elementos vegetais – à industria multinacional de produção de papel higiénico. Como tecnologia popularizada duma forma leiga no século XX e vulgarizada através da massificação distributiva dos manuais técnicos no actual e erudito século XXI – e distribuída sem avenças para os Aprendizes do Futuro.


(imagens – Web)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 19:18