ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Digital
Digitalização de Verão
Se um dia Eu fosse Digital, só precisava de três teclas de acesso (duas nos meus tomates e outra na ponta da piroca).
Para dizer SIM, para dizer NÃO e para dizer FODA-SE.
Mas até hoje nunca me deixaram. Preferiram complicar-me a vida e aplicar-me o degradante tratamento Analógico.
Hoje tenho dois ponteiros – um para as horas e outro para os minutos – com um deles espetado no cu. Não sei qual deles é, mas já parece uma eternidade.
Queixei-me à minha mãe, mataram o relojoeiro e incendiaram-lhe a casa e no fim-de-semana seguinte, ela deu-me um Digital: baseava-se num processador biotecnológico de alta velocidade e definição, associado a um monitor multidimensional dispondo de apenas três botões.
Naquela tarde de Verão junto da piscina (prestes a mergulhar) e com os raios do Sol a incendiarem o corpo, só faltava mesmo a mulher chamar pelo seu Digital pedindo-lhe ajuda. A resposta imediata foi FODA-SE.
Após o Orgasmo só faltavam duas coisas: dizer SIM a uma ceia com caviar, lagosta e champanhe e dizer NÃO à conta que os pariu!
(imagem – Web)
Autoria e outros dados (tags, etc)
A Morte dos Analógicos
“Também vivi o mundo dos Marretas, bonecos que sempre farão parte da minha memória e cultura e que no fundo partilharão comigo até à eternidade, todo o espaço da minha vida”.
Digital
A anterior realidade já não existe desde que fomos digitalizados – agora existe uma infinidade de cópias, uma infinidade de realidades e uma profusão infindável de EUS, dentro do nosso e anteriormente único e inviolável EU
Com a crise de identidade biológica a espalhar-se rapidamente por todo o mundo – dos humanos – e a afectar colateralmente todos os restantes seres vivos que os rodeiam, o fenómeno de extinção já se iniciou para muitas das espécies que conhecemos, chegando-se ao cúmulo de muitas delas iniciarem este seu percurso final, começando por eliminar as suas imagens mais chegadas e fieis: os bonecos. Nos EUA os Marretas lutam já contra a crise imparável que afecta os bonecos manipuláveis – com crescentes limitações de encargos e novos despedimentos – esmagados pelos seus tão perfeitos e fidedignos hologramas, criados com todo o cuidado e precaução em inovadores viveiros informáticos.
“Tal como eles já começamos a ser substituídos.
Mas como ainda não chegou a nossa hora, para já não nos preocupamos com isso.
É só uma questão de espaço e de movimento, até que toda a energia destruidora nos extermine de uma só vez”.
E os bonecos ainda passíveis de manipulação – fosse ela boa ou fosse ela má – foram então e sem excepção desqualificados. Até eles se sujeitaram à catana impiedosa dos tentáculos financeiros estruturalmente estáticos do evento – e como consequência mortais por ausência de movimento – sujeitando-se sem apoio contraditório à pressão dum mercado entretanto possuído e violado (sistematicamente e sem critérios visíveis), por estes vírus parasitário dum simples e insultuoso jogo de casino.
Do pouco que víramos circulando à volta dos bonecos, tudo o que era o todo se perdera no rodopio: o sujeito particular desaparecera, a transferência de dados apresentara ERRO e até a aplicação biónica de intersecção fonte+alvo, mais uma vez não fora reconhecida (como válida).
Pobres Marretas, pobres bonecos – pobres de nós sem instrumentos de Vudu!
Analógico
O jovem encontrou dois objectos enterrados debaixo dum montão de lixo e desperdícios numa das salas da casa abandonada: um deles era um objecto plano e sem grandes detalhes particulares que o identificassem – a não ser três letras maiúsculas, IBM – imediatamente descartado dos planos exploratórios do jovem, pela sua vulgaridade sensorial e falta de profundidade, enquanto que o outro objecto sobressaia desde logo do contexto geral que o rodeava, pela sua variedade, beleza e presença física – que parecia emanar em todas as direcções – tocando-o subliminarmente através do seu aspecto geral, em algo de muito profundo que o jovem sabia ter em comum com ele. Escolheu o boneco!
Hoje muitos de nós já nos transformamos em nativos digitais. Quem é que hoje em dia já não tem – muito graças a intervenções brilhantes e não reconhecidas condignamente por nós, como foi o caso do lançamento do computador Magalhães – nas suas mãos antigamente calejadas e actualmente muito bem acompanhadas, um qualquer tipo de artefacto tecnologicamente avançado e sugerindo intervenção alienígena, tal como o telemóvel, o MP3 ou até mesmo o iPod?
Assim para que serve então este miserável e impedidor sujeito particular, seja ele racional ou irracional, perceptível ou insensível, mas inequivocamente e sem ressaltos de interpretação e concretização, factualmente material e notoriamente palpável? Provavelmente para significativamente nada, dificultando isso sim e no essencial a mais simples e eficaz forma de comunicação entre conjuntos, fazendo intervir sem justificação e como impedimento temporal, a utilização e transformação de matéria-prima. Ou não será que a informação não necessita dum suporte físico para ser real?
Pessoas nascidas na Era da Informação apenas têm um conhecimento básico e superficial sobre a função e utilização histórica do papel, resumindo a sua cultura de utilização e manipulação deste produto – obtido a partir da madeira produzida por elementos vegetais – à industria multinacional de produção de papel higiénico. Como tecnologia popularizada duma forma leiga no século XX e vulgarizada através da massificação distributiva dos manuais técnicos no actual e erudito século XXI – e distribuída sem avenças para os Aprendizes do Futuro.
(imagens – Web)