ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
25 de ABRIL – Já lá vão 42 anos
“A libertação deu-se já à noite, e à luz dos archotes, os presos levados em triunfo, os cantos revolucionários, o entusiasmo da imensa multidão que se juntara desde a véspera constituiu um espectáculo de beleza rara e duma emoção que ainda hoje me comove, me inebria e me faz sentir feliz, por ter cumprido, como português e como homem, tudo o que me foi possível e me foi pedido para libertar Portugal.” (Francisco Sousa Tavares – Aquando da libertação dos presos políticos da prisão de Caxias – sábado.pt)
Comemoração do 1ºAniversário do 25 de Abril de 1974
(José Vilhena)
Há 42 anos num golpe de estado levado a cabo pela ala militar no poder, Portugal deixou finalmente para trás o que restava do chamado ESTADO NOVO: no dia 25 de Abril de 1974 já depois do desaparecimento de António de Oliveira Salazar e com Marcelo Caetano no poder, deu-se a chamada REVOLUÇÃO de ABRIL e a chegada do regime democrático.
Mesmo apanhado de surpresa o POVO reagiu de imediato e fundamentando-se nas suas razões (que não eram poucas, como o do envio dos seus filhos para a morte na Guerra Colonial) apoiou desde as primeiras horas o golpe, incentivou-o até à exaustão e aos poucos tentou ingenuamente assenhorear-se dele.
Estando ainda na memória de muitos a operação militar levada a cabo por SALGUEIRO MAIA no cerco ao Quartel do Carmo, onde no meio de uma enorme multidão entusiasmada e que assistia a este acontecimento único e marcante na cronologia do golpe, Marcelo Caetano (aí refugiado) se rendeu, com ele ruindo o que ainda restava da herança do SALAZARISMO.
Quarenta e oito anos após o golpe de 28 de Maio de 1926 que consagraria mais tarde a Constituição de 1933 e introduziria o regime do infelizmente célebre ESTADO NOVO, Portugal virava finalmente a última página da sua História tentando encaminhar-se finalmente na direção de um regime DEMOCRÁTICO.
É certo que estes momentos duraram apenas uns poucos dias, já que pouco tempo depois da concretização do golpe a esmagadora maioria dos políticos (de todos os quadrantes) trataram logo de controlar o povo, manipulando-o e começando-o a dividir em pequenos grupos. No entanto nunca fazendo esquecer o ponto alto destas grandes manifestações populares que se realizaram após o fim do ANTIGO REGIME, o 1º de MAIO DE 1974.
Hoje e de ontem pouco resta – a não ser uma noção cada vez mais estreita e estranha de democracia – o que inevitavelmente e num prazo ainda mais curto do que pensaríamos nos reconduzirá de novo para os tempos difíceis e sem liberdade já previamente vividos pelos nossos antepassados, sem esperança e sem futuro. E nesse sentido não é Portugal que necessita de uma revolução mas todo o Mundo em extensão e compreensão (para deixarmos de ter dúvidas).
Os livros como objeto de censura no período do Estado Novo
(Aquilino Ribeiro)
Antes do 25 de Abril de 1974 era assim:
CENSURA – RELATÓRIO Nº 6282 (7 DE FEVEREIRO DE 1959)
RELATIVO A “QUANDO OS LOBOS UIVAM” DE AQUILINO RIBEIRO
(blogue Ephemera – Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
«O autor intitula este livro de romance, mas com mais propriedade deveria chamar-lhe de romance panfletário, porque todo ele foi arquitectado para fazer um odioso ataque à actual situação política.
Escrito numa prosa viril, classifica o governo de "piratas" e descreve várias Autoridades, Funcionários, Polícia, Guarda Republicana e Tribunais em termos indignos e insultuosos.
Um interrogatório num posto da G.N.R. e uma audiência dum Tribunal Plenário, são focados de uma forma infamantes.
São desnecessárias mais citações, porque basta folhear o livro, encontra-se logo matéria censurável em profusão.
É evidente que, se o original tivesse sido submetido a censura prévia, não teria sido autorizado, porque é, talvez, a obra de maior ataque político que ultimamente tenho lido.
Sucede, porém, estou disso certo, que já devem ter sido vendidos muitas centenas de exemplares, e muitos outros também, já devem ter passado a fronteira, por isso, deixo ao esclarecido critério de V. Exa., decidir se nesta altura, será de boa política mandar apreender o livro, fazendo-lhe (...)»
Com base no relatório, lê-se, foram tomas das seguintes decisões:
1) Não autorizada a reedição;
2) Não permitidas críticas em imprensa;
3) Apreender os poucos exemplares que, possivelmente, existam (...)
(texto final/itálico: quandooslobosuivam.blogs.sapo.pt – imagem: José Vilhena/Gaiola Aberta e Livraria Bertrand/bertrand.pt)