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O Triunvirato

Segunda-feira, 20.08.12

Estes animais pensavam chegar ao Algarve e marcar um encontro com o animal Coelho na festa/comício do Pontal. Mas este lixou-os a todos, refugiando-se numa sala fechada, confundindo-se com os súbditos da sua espécie e alegando estar ainda de férias, como o comprovou com o seu bilhete previamente adquirido para o AQUASHOW de Quarteira.

 

       

O Triunvirato veio e viu – e então verificou que já tinha perdido há muito tempo atrás

 

Três representantes do Mundo Animal reuniram-se este fim-de-semana numa unidade hoteleira ecológica situada nas redondezas de Vilamoura, com o objetivo de analisar a atual situação dos seus amigos de espécie portugueses, após os terríveis incêndios que deflagraram recentemente na região Algarvia e particularmente nas zonas de Tavira e de São Brás de Alportel.

 

A preocupação destes três VIP aumentou exponencialmente durante a sua viagem até à unidade hoteleira onde ficaram hospedados, face a todas as estruturas artificiais completamente desenquadradas e desproporcionadas, que foram observando e registando em seu redor e que foram sendo construídas como cogumelos mágicos, sem qualquer tipo de preocupação de preservação ambiental do espaço disponibilizado e apenas com o objetivo de obtenção de lucros imediatos.

 

Mais chocados ficaram quando se deslocaram ao fim do dia ao centro turístico e comercial da localidade – após um delicioso jantar integrando apenas produtos regionais e artesanais – e verificaram atónitos a completa destruição de qualquer tipo de paisagem natural que aí pudesse ter anteriormente existido, ainda-por-cima equipado com uma estrutura central à qual chamavam marina e que não passava senão de um buraco mal cheiroso de águas fétidas e podres, que mais à frente ia criminosamente desaguar ao mar e que milhares de animais de outras espécies provavelmente incautos ou enganados – mas tidos em muita consideração, devido ao seu alto potencial de racionalidade – frequentavam com toda a alegria e prazer do mundo, apesar de todos os vírus e doenças terríveis que transportava.

 

E a multidão de elementos da mesma espécie com que se depararam e que ultrapassava todos os limites imaginários da máxima concentração populacional saudável admissível – aqui e ali entrecortada por uma ou outra espécie acompanhante, mas minoritária e apenas decorativa – levou-os a um grau tal de desespero emocional, que tiveram de abandonar imediatamente o local, antes de serem transformados em mais um dos figurantes deste circo doentio e suicida.

 

Ainda tentaram marcar uma reunião de sensibilização destinada a todas as espécies ainda vivas e presentes na região, tendo comparecido apenas alguns caracóis, umas osgas, uns quantos tordos, charnecos recém-chegados, melros e cegonhas adultas e vinda expressamente do mar de Quarteira, uma família consciente de sardinhas, acompanhada pelos seus filhos mais novos as petingas e alguns amigos destes – a quem os respetivos pais tinham pedido anteriormente para tomarem conta durante a sua ausência de férias – como o eram os seus amigos de diversão e refeição os jaquinzinhos, muitos deles falando já correta e fluentemente, a bonita língua espanhola. Os caracóis presentes na reunião e apesar de serem lentos na sua locomoção foram rápidos a verificar os pratos e as ementas que transportavam: estavam a ser vítimas de um autêntico genocídio de Verão que se repetia periodicamente todos os anos e mesmo os seus amigos os insetos, já andavam agora mais preocupados face à forte invasão chinesa que agora se registava a nível do comércio, receando estes futuramente a chegada desta espécie à gastronomia regional, oferecida nos imensos restaurantes distribuídos por toda a região Algarvia. “As baratas e outros mariscos semelhantes que se cuidem” era a frase mais ouvida no final desta reunião informal e sem repercussão na comunicação falada ou escrita regional.

 

No final desta reunião mal sucedida – por não ter dado frutos viáveis numa terra conspurcada por campos de golfe – as três individualidades retiraram-se em silêncio e cabisbaixas, recolhendo rapidamente aos seus mundos, antes de serem postos a descoberto e despidas, mortas, marinadas e cozinhadas – para tudo há sempre um começo!

 

(imagens retiradas da Web)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 14:14