ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Baratas-Voadoras
Mas quem não conhece um inseto tão cosmopolita
(no espaço como no tempo)
Como o é nossa conhecida Barata?
Um fenómeno observável até em Albufeira aquando dos dias extremamente quentes e sufocantes de Verão e que leva (tal como o Homem) as Baratas a saírem de casa, a passearem pela rua, a voarem para todos os lados e a aventurarem-se no exterior – entrando em nossa casa tanto pelas portas como pelas janelas.
A Barata
Num aparente e invisível conflito territorial envolvendo duas espécies distintas (a Barata e o Homem), enquanto uma delas vai desenvolvendo e aplicando os procedimentos quotidianos e necessários para a sua sobrevivência (sempre novos e a curto-prazo no caso da Barata), do outro lado e como se esta se tivesse deixado levar pela monotonia garantida do seu dia-a-dia (repetitivos e a longo-prazo no caso do Homem) nada se faz a não ser surpreender-se (ainda por cima com a espécie inferior): e é assim que a Barata surpreende o Homem (a raça superior) ao olharmos e ao vê-las a Voar. Uma espécie já existente no planeta Terra muito tempo antes de o Homem aparecer e que certamente sobreviverá muitos e muitos anos depois da nossa própria extinção (como espécie organizada, inteligente e dominante) – com as suas antenas sempre em movimento talvez no futuro rezando por nós.
Um conflito que nas condições presentes se agrava ainda mais em certos períodos bem identificados do ano, mais propícios a uma maior acumulação de detritos e estando sujeitos a temperaturas elevadas e altas taxas de humidade: sendo o Verão um desses períodos de ouro (deste conflito já antigo Homem-Barata), com o aumento populacional (do Homem) em certos locais a fazer crescer exponencialmente a pressão sobre todos os ecossistemas (com a maior produção de detritos), criando as condições ambientais perfeitas para a sua proliferação (das baratas, simultaneamente com boa comida e com bom tempo) e até para momentos de inovação (como ver baratas a voar). Num conjunto que aponta decisivamente para um belo futuro para esta espécie que tudo come e aproveita (vegetais, carne e até mos podendo picar) e que talvez seja de estudo interessante para a sobrevivência do Homem.
(imagem: WEB)
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O Triunvirato
Estes animais pensavam chegar ao Algarve e marcar um encontro com o animal Coelho na festa/comício do Pontal. Mas este lixou-os a todos, refugiando-se numa sala fechada, confundindo-se com os súbditos da sua espécie e alegando estar ainda de férias, como o comprovou com o seu bilhete previamente adquirido para o AQUASHOW de Quarteira.
O Triunvirato veio e viu – e então verificou que já tinha perdido há muito tempo atrás
Três representantes do Mundo Animal reuniram-se este fim-de-semana numa unidade hoteleira ecológica situada nas redondezas de Vilamoura, com o objetivo de analisar a atual situação dos seus amigos de espécie portugueses, após os terríveis incêndios que deflagraram recentemente na região Algarvia e particularmente nas zonas de Tavira e de São Brás de Alportel.
A preocupação destes três VIP aumentou exponencialmente durante a sua viagem até à unidade hoteleira onde ficaram hospedados, face a todas as estruturas artificiais completamente desenquadradas e desproporcionadas, que foram observando e registando em seu redor e que foram sendo construídas como cogumelos mágicos, sem qualquer tipo de preocupação de preservação ambiental do espaço disponibilizado e apenas com o objetivo de obtenção de lucros imediatos.
Mais chocados ficaram quando se deslocaram ao fim do dia ao centro turístico e comercial da localidade – após um delicioso jantar integrando apenas produtos regionais e artesanais – e verificaram atónitos a completa destruição de qualquer tipo de paisagem natural que aí pudesse ter anteriormente existido, ainda-por-cima equipado com uma estrutura central à qual chamavam marina e que não passava senão de um buraco mal cheiroso de águas fétidas e podres, que mais à frente ia criminosamente desaguar ao mar e que milhares de animais de outras espécies provavelmente incautos ou enganados – mas tidos em muita consideração, devido ao seu alto potencial de racionalidade – frequentavam com toda a alegria e prazer do mundo, apesar de todos os vírus e doenças terríveis que transportava.
E a multidão de elementos da mesma espécie com que se depararam e que ultrapassava todos os limites imaginários da máxima concentração populacional saudável admissível – aqui e ali entrecortada por uma ou outra espécie acompanhante, mas minoritária e apenas decorativa – levou-os a um grau tal de desespero emocional, que tiveram de abandonar imediatamente o local, antes de serem transformados em mais um dos figurantes deste circo doentio e suicida.
Ainda tentaram marcar uma reunião de sensibilização destinada a todas as espécies ainda vivas e presentes na região, tendo comparecido apenas alguns caracóis, umas osgas, uns quantos tordos, charnecos recém-chegados, melros e cegonhas adultas e vinda expressamente do mar de Quarteira, uma família consciente de sardinhas, acompanhada pelos seus filhos mais novos as petingas e alguns amigos destes – a quem os respetivos pais tinham pedido anteriormente para tomarem conta durante a sua ausência de férias – como o eram os seus amigos de diversão e refeição os jaquinzinhos, muitos deles falando já correta e fluentemente, a bonita língua espanhola. Os caracóis presentes na reunião e apesar de serem lentos na sua locomoção foram rápidos a verificar os pratos e as ementas que transportavam: estavam a ser vítimas de um autêntico genocídio de Verão que se repetia periodicamente todos os anos e mesmo os seus amigos os insetos, já andavam agora mais preocupados face à forte invasão chinesa que agora se registava a nível do comércio, receando estes futuramente a chegada desta espécie à gastronomia regional, oferecida nos imensos restaurantes distribuídos por toda a região Algarvia. “As baratas e outros mariscos semelhantes que se cuidem” era a frase mais ouvida no final desta reunião informal e sem repercussão na comunicação falada ou escrita regional.
No final desta reunião mal sucedida – por não ter dado frutos viáveis numa terra conspurcada por campos de golfe – as três individualidades retiraram-se em silêncio e cabisbaixas, recolhendo rapidamente aos seus mundos, antes de serem postos a descoberto e despidas, mortas, marinadas e cozinhadas – para tudo há sempre um começo!
(imagens retiradas da Web)