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Cenários Desenquadrados (3)

Quarta-feira, 09.10.13

Ficheiros da Desintegração

As Necessidades Extraordinárias do Gato Tobias

(sob critério SMALL)

 

Recolha de indícios, de lacunas e de outras descompensações, entre os mundos imaginados e a realidade dos humanos.

 

Mundo Zombie

 

As primeiras referências ao Castelo de Paderne remontam ao final do século XII e ao reinado de D. Sancho I, um período da História de Portugal que ainda apanhou a invasão e ocupação – e posterior fuga – de territórios do sul da Península Ibérica por parte de tribos árabes provenientes do norte de África. Mais tarde e com a sua perda de importância militar face ao fim das invasões muçulmanas e ao início da aventura dos descobrimentos portugueses, o Castelo perdeu a sua importância estratégica, acabando progressivamente por ser abandonado e ocupado pelas populações locais, que ignorando a sua simbologia nacionalista – XXXX – o deixaram cair em ruínas nos anos que se seguiram. Já em pleno século XVIII e com o terramoto de 1755 foi dada a machadada final na sua estrutura, actualmente em grande parte desaparecida ou em avançado estado de ruínas: restando nos dias de hoje algumas muralhas, a Torre Albarrã e as paredes em ruínas da Capela.

 

Quanto à história desconhecida que envolvia a criação destas construções misteriosas edificadas no seu subsolo profundo, eram poucas as informações conclusivas que pudessem esclarecer definitivamente a sua origem: as poucas informações fornecidas pelo documento denotavam algum secretismo na divulgação de certos aspectos mais sensíveis sobre toda a história envolvendo os seus possíveis construtores, construindo o próprio documento uma nuvem espessa e opaca que não deixava ver para além do que os próprios autores desejavam, mas deixando no ar a forte possibilidade destas construções serem da autoria e responsabilidade duma raça misteriosa de seres extremamente eruditos, vindos de paragens muito distantes e situadas para além do Sol. Uma das razões subentendidas e expressas muito levemente nas poucas e limitadas páginas do documento – sobre essa raça vinda dum mundo distante – atribuía-lhes uma missão levada a cabo pelos mesmos em nome da protecção e da segurança das populações locais e zonas circundantes, que segundo estes correriam um grande perigo de intrusão violenta e extrema, devido a possíveis acções levadas a cabo por entidades vindas do exterior do mundo conhecido, completamente desestruturadas e actuando sem qualquer tipo de limites ou respeito – fosse pelo que fosse que encontrassem à sua frente – e lutando ferozmente mas sem grandes hipóteses de sucesso contra um vírus degenerativo e mortal criado em experiências de laboratório por eles próprios levadas a cabo e que tinham afectado inesperada e definitivamente toda a sua espécie. No último parágrafo do documento o seu autor ainda acrescentava que apesar da ameaça inicial ter sido aparentemente sustida, nem todas as questões daí decorrentes tinham sido completamente esclarecidas, desconhecendo-se se essa raça deixara definitivamente de constituir uma ameaça ou se algo relacionado ficara por resolver. De resto nada mais esclarecia.

 

E aí o terceiro documento parecia ser muito mais esclarecedor: o próprio nome atribuído pelo povo a estes “seres humanos alterados” fazia lembrar ao Tobias as histórias modernas em torno dos Mortos-Vivos, levando-o a recordar-se do terror que os mesmos provocavam entre os vivos – pelo menos nos filmes e séries ficcionadas – associando-os às mortes mais terríveis de suportar: morrer e continuar morto entre os vivos, sem nenhuma possibilidade de ressurreição ou reencarnação – depois dum Inferno de Vida só mesmo uma Morte Infernal.

 

Consultando como sempre a sua “inseparável e incorporada” bio-agenda, o gato Tobias pôs-se num instante ao corrente de algumas informações de arquivo relacionados com estes Caminhantes da Morte, incluindo das suas possíveis origens. Muitos dos links encontravam-se de momento inacessíveis ou indicavam terem deixado de existir. No entanto e contornando algumas protecções de segurança impostas pelos sites, lá conseguiu chegar ao seguinte:

 - A origem dos Caminhantes da Morte – hoje em dia vulgarmente conhecidos como Mortos-Vivos ou Zombies – estava inicialmente associada à religião afro-americana praticada no Haiti, sendo conhecida pelos seus praticantes e discípulos como Vodou. Esses Caminhantes seriam mortos que teriam voltado a estar vivos por acção dum feiticeiro – noutros casos a sua alma seria capturada e utilizada com outros objectivos – tendo como principais características não apresentarem vontade própria e gostarem de comer carne de humanos, preferencialmente de vivos e até à exaustão. Mas na realidade este fenómeno poderia ter sido induzido propositadamente nos seres vivos através do uso de certos fármacos com acção paralisante, os quais reduziriam drasticamente os níveis respiratórios e de batimentos cardíacos, transformando-os em seres clinicamente mortos, mas nem tanto como isso. Confusos e sem memória teriam de qualquer modo um objectivo a cumprir: tal como os seres humanos vivos, superar o seu trauma comendo;

- Interessava porém e se possível confirmar se este seria um facto pretensamente de origem religioso, ou se não o fosse, quem e quando o teriam induzido e mais importante ainda o verdadeiro motivo e se era ou não um facto reversível.

 

A viagem deles estava agora num impasse. O Tobias não tinha a certeza que o resto do percurso subterrâneo (até Albufeira) pudesse ser feito tranquilamente e sem acidentes imprevistos, já que a imagem dos Zombies a persegui-los e tentando devorá-los sem dó nem piedade não lhe largava o pensamento, deixando o funcionamento do seu cérebro e do respectivo sistema nervoso completamente alterados e desse modo contribuindo para diminuir exponencialmente e duma forma catastrófica os seus níveis de concentração e de ansiedade, o que para além de ser extremamente incómodo era ainda mais perigoso. Sabia que jamais poderia pôr em risco a sua vida e do seu companheiro, já que o tinha convidado com o único e lúdico pretexto de lhe proporcionar uma aventura nocturna em cima do seu skate antigravitacional – aproveitando a ocasião para fazer uma rápida incursão a um local por si já anteriormente visitado e muito bem conhecido; e que agora por sua iniciativa e sem o informar previamente mudava tudo, pondo em causa duma forma prepotente a própria integridade física do companheiro. Tinha que falar com ele sobre o assunto, mas antes tinham que encontrar maneira de sair dali fosse por onde fosse: se a opção pelo túnel não se revelasse segura – e nem sequer tinham identificado ainda a sua localização – teriam de descobrir outro ponto de saída daquela galeria para desse modo atingirem o exterior, de certeza mais seguro e confirmadamente iluminado. Foi o que fizeram de imediato, com o Tobias a tomar conta de um semi-círculo imaginário – a este e deslocando-se no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio – e o Dog encarregando-se do outro – a oeste e deslocando-se em sentido contrário ao tomado pelo Tobias.


A criatura Albina

 

Nem dez minutos tinham passado desde que se tinham separado para darem início às suas investigações e já se começava a ouvir nitidamente e duma forma persistente o latir excitado do Dog, no início com uns uivos à mistura com um latir entusiasmado e denotando felicidade e que se transformou em segundos num som de passos apressados intervalados por um ou outro ganir de dor, significativos da ânsia com que o cão queria transmitir as suas novidades que pelos sinais deveriam ser boas. Enquanto se apressava em direcção ao ponto de encontro, ainda pode reparar numa ligeira imperfeição visível apenas por brevíssimos instantes na parede que circundava a galeria, que poderia ser apenas um reflexo momentâneo provocado pela luz projectada obliquamente pela sua lanterna enquanto ele se deslocava; facto que acabou por ignorar e esquecer quando viu de repente o seu amigo Dog a aparecer diante de si, correndo como um doido e com a língua toda de fora. Pelos vistos descobrira uma saída para o exterior por onde poderiam facilmente passar os dois com as suas respectivas mochilas (e com o skate), que ia dar a um terreno situado mesmo ao lado duma das margens do ribeiro, praticamente vizinho da ponte romana. Curioso o Tobias foi confirmar a descoberta feita pelo amigo – até para este se sentir realizado e orgulhoso com a confirmação do seu feito – e passado pouco tempo lá estava ele a meter a cabeça na abertura para o exterior: de início ficou temporariamente cego e desorientado devido ao choque violento provocado pela rápida mudança entre a escuridão interior e a forte claridade da manhã vinda do exterior, adaptando-se no entanto num curto espaço de tempo e acabando por ver bem definido diante de si, o rio e ao lado a ponte romana. Estava na hora de falar com o Dog e delinear com ele o plano a adoptar. E foi nesse momento de reflexão profunda que o gato Tobias teve uma descarga mental condicionada e que por associação de factos e espaços diferentes mas proporcionados por situações semelhantes – o caso anterior dos efeitos provocados pela luz na parede e agora os efeitos provocados pela luz vinda do exterior – chegou à brilhante conclusão (mais tarde confirmada) que a porta de acesso ao túnel poderia muito bem não estar descaradamente à vista de todos, mas de alguma forma disfarçada e passível de detecção: e os efeitos provocados anteriormente numa determinada zona da parede – que ele achava conseguir situar – aquando da sua passagem para se encontrar com o Dog, só podiam ser um sinal da presença da porta naquele local.

 

O acesso ao túnel estava lá. À primeira vista e devido à maior escuridão que envolvia o local, não se tinham apercebido logo dalguns pormenores que poderiam denunciar a sua presença: ao contrário da restante parede, esta secção apresentava-se naquele local com uma textura ligeiramente diferenciada, parecendo ter sido recoberta à superfície com um material de cor muito semelhante à cor natural exibida pelo material que a constituía e acabando por revelar após uma análise mais cuidada e detalhada a sua forma e dimensão. Retirada a fina camada de material que na maioria da sua área ainda a recobria, desenharam diante deles uma porta duma forma circular perfeita, com a sua base inferior a iniciar-se a poucos centímetros do solo e com um diâmetro suficiente para a passagem de duas pessoas uma ao lado da outra. A partir daí descobrir a fechadura foi fácil: em princípio a pequena e única imperfeição que a porta apresentava – um pequeno e quase indetectável relevo no seu lado direito – seria o órgão de comando que a accionaria, abrindo-se esta para a entrada do túnel após ter sido accionado o seu mecanismo. Isso seria confirmado sem surpresa dentro de pouco tempo, apoiados ainda pela descoberta dum símbolo já muito desgastado e pouco perceptível, desenhado sobre o relevo.

 

A conversa pode-se então iniciar. O Tobias pôs o Dog ao corrente das opções agora em aberto para chegarem a casa e que se resumiam a duas: ou continuavam pelo túnel ou escolhiam a alternativa exterior. Nunca ignorando que em último caso até poderiam voltar para trás, o que agora não era uma opção que interessasse, desde que tinham descoberto a saída segura que ia dar à ribeira. Por essa altura o cão parecia indiferente à escolha que se fizesse e queria mas é sair dali. Mas chegada a altura – e como tinha prometido a si próprio – o Tobias teve mesmo que contar as suas preocupações crescentes sobre a opção pelo túnel. E foi ao falar nos hipotéticos e talvez meramente imaginários Caminhantes da Morte – que até poderiam encontrar para lá daquela porta ou então nunca terem existido – que “o caldo ficou entornado”: bastou ver o Dog todo a tremer e com o pelo todo eriçado, para se perceber que para o cão uma coisa era certa, absoluta e inegociável – “entrar ali nem morto”! E a partir foi um castigo para o Tobias tentar acalmar o companheiro, sabendo como nestes casos ele era um supremo medricas, não querendo saber de mais nada senão fugir dali e nem sequer ouvindo o que razoável lhe queriam dizer. Só passados uns largos minutos é que o Tobias o conseguiu acalmar, combinando com ele uma estratégia de acção que lhe garantiria sempre o direito de escolher livremente, o seu caminho de regresso. Só iriam abrir a porta de acesso ao túnel depois de preparem bem todos os planos alternativos de fuga – para cada um deles – de modo a que se algo acontecesse estivessem preparados: ficou assim combinado que se vislumbrassem algum perigo ao abrirem a porta, imediatamente iniciariam a sua fuga pelo caminho que ia dar à ribeira, deixando para trás todo o equipamento que só os iria incomodar no decorrer do processo e que iria levantar muita estranheza para as pessoas que os vissem a passar (um cão e um gato) todo equipados; se por acaso nada se passasse mantendo-se tudo dentro da normalidade – fosse isso o que fosse e que muito incomodava o cão – então cada um deles poderia optar por onde iria, só ou acompanhado, mas só se estivessem de comum acordo. Decidiram ainda que nesse caso – de cada um seguir um trajecto diferente – o Tobias transportaria todo o equipamento no seu skate, ficando ao seu amigo e como único objectivo final chegar a casa são e salvo. O primeiro a chegar teria a responsabilidade de não descansar enquanto o outro não chegasse, fazendo todos os possíveis e impossíveis para o encontrar e o levar de regresso a casa. Em qualquer dos casos e se tudo corresse bem, estariam de regresso ainda antes do meio-dia.

 

Estavam agora preparados para começarem a abrir a porta. O Tobias via no entanto o seu amigo a ficar cada vez mais nervoso com o tempo de espera e enquanto o ia acalmando com algumas piadas, não perdeu mais nenhum segundo e accionou o botão. Enquanto o Tobias olhava atento para a porta que se abria diante deles, pelo canto do olho via o seu amigo a começar a esconder-se atrás de si, com os pelos da sua cauda cada vez mais esticados como se lhes tivesse sido aplicado um gel fixador: a cena até tinha alguma piada, não fosse desconhecerem o cenário que os esperava para além da porta. Esta acabou por se abrir completamente, não se apercebendo muito bem e de imediato o que estava do lado de lá, devido essencialmente à penumbra que a envolvia e a algum receio nosso em nos aproximar-mos um pouco mais e espreitar para o seu interior. E quando nos preparávamos para avançar uma silhueta deslocando-se lateralmente apareceu inesperadamente à porta pondo-se a olhar para nós: nem deu para pensar ou fazer algo e já o Dog fugia a toda a velocidade em direcção à escapatória que ia dar à ribeira, uivando de medo que nem um louco e urinando-se enquanto corria tresloucado e aos trambolhões.

 

O que o Tobias via à sua frente não seria obviamente a personificação dum zombie, mas uma criatura alta e esguia que sob os raios da sua lanterna revelava ter um tom de pele de tal maneira clara, que se poderia mesmo afirmar que seria dum branco perfeito: um verdadeiro Albino.


O Túnel

 

Passado o momento inicial durante o qual o Dog saiu “como uma bala” em direcção ao espaço exterior, completamente possuído pelo terror suscitado pelo aparecimento súbito do “seu fantasma” – para ele a confirmação real de todos os seus piores receios – a paz e o silêncio retornaram de novo ao local. Concentrando-se agora no Albino – ainda parado do lado de lá, da porta de acesso ao túnel – o Tobias pode constatar em poucos segundos de análise superficial, a sensação não impositiva e serena que o mesmo parecia transmitir. Parecia calmo perante a situação em que se encontrava actualmente, não denotando no seu rosto ou na sua expressão corporal, qualquer traço fisionómico que pudesse sugerir ser uma criatura violenta. Pelo contrário: com uma tranquilidade que se espalhava como uma aura por todo o espaço que o envolvia – e que já atingia o Tobias, antes de qualquer movimento da criatura – foi o próprio Albino a tomar a iniciativa e a transpor a porta para ir ter com ele. Ao chegar perto do Tobias o Albino baixou-se um pouco e passou suavemente a sua mão no corpo deste, fazendo com que os seus pelos se eriçassem instantaneamente e por uns largos segundos “em direcção ao céu”, talvez extasiados com a mensagem de serenidade e de confiança transmitida: o Albino transmitia a bondade e a partilha dos seus donos e assim era impossível resistir-lhe. E antes mesmo da situação entre os dois evoluir – como prova suplementar de amizade e de solidariedade – garantiu pessoalmente ao Tobias que asseguraria até aos seus limites que nada de mal aconteceria ao seu companheiro na sua viagem de regresso a casa.

 

Virando-se para a porta do túnel e utilizando uma clara linguagem gestual que espantou um pouco o Tobias pela sua fácil compreensão, o Albino convidou-o a acompanhá-lo numa pequena visita às suas humildes instalações, onde prometia algum descanso e alimentos, uma explicação importante sobre o trajecto subterrâneo que o Tobias pretendia seguir até Albufeira e – ligado ao ponto anterior – contar-lhe uma pequena história sobre o passado desta região e de todos os intervenientes (internos e externos) na sua concretização. Entraram numa grande sala onde três seres os esperavam – não parecendo ser Humanos nem Albinos – dirigindo-se para um módulo esférico que aí se encontrava, encostado a um dos pilares que suportava a abóbada do tecto: enquanto o Albino falava com os outros presentes entrou no módulo e ficou espantado com a quantidade de equipamento ali existentes. Ainda pode verificar que o grupo de três elementos que vira anteriormente era constituído por dois seres que dali não conseguia identificar, mas que se assemelhavam pela sua forma e atitudes a biomáquinas, enquanto que o terceiro era um Humano. Após alguns minutos de conversa entre os três elementos do grupo e o Albino – e de um olhar divertido lançado pelo humano na direcção do Tobias (que o olhava sem parar) – o grupo afastou-se, enquanto o Albino se dirigiu para o módulo ao encontro do gato Tobias.


Instalações Subterrâneas

 

E já no interior do módulo com todos bem instalados, alimentados e confortáveis, o Albino começou a sua lição de História. Não se esquecendo previamente de dizer que sabia muito bem quem era o Tobias e quais as suas verdadeiras origens – “mas isso ficaria para mais tarde”, disse ele gracejando. Por essa altura e depois duma correria louca que durou uns bons dez minutos fazendo-o passar pelo lugar das Fontes em direcção à vila de Paderne, o Dog atravessou a ponte no Purgatório, virou à sua esquerda e enfiou pela estrada que ia dar às Ferreiras. Aí encontrou um jipe estrangeiro de caixa aberta, parado ao lado da estrada no sentido das Ferreiras, pelo que sem perda de tempo e inúteis reflexões, aproveitou a ausência do condutor para entrar à socapa e apanhar uma boleia. Mal o fez o condutor verificou que estava na altura de regressar – o elemento humano que o Tobias visionara de relance nas instalações para onde o levara o Albino – pelo que se dirigiu em direcção ao jipe, entrou nele e pondo o motor a trabalhar, arrancou para Albufeira.

 

A História da Terra era imensa. Para não falar das suas etapas de formação e de todos os outros períodos que se lhe seguiram e se foram perdendo no tempo – e que comportavam já uma mão cheia de civilizações erguidas e de seguida desaparecidas e esquecidas – o Albino decidiu limitar-se apenas ao último período histórico da Terra, no fundo aquele que actualmente se desenrolava e que mais interessava a todos os seres vivos. Até porque o tempo de que dispunham era limitado.

 

E no centro duma esfera enigmática e acompanhado por uma entidade desconhecida e misteriosa, o Albino começou a contar:

- A observação da Terra por parte de Entidades exteriores ao planeta já vinha de tempos anteriores ao aparecimento do Homo Sapiens, quando na sua origem evolutiva – talvez há mais de seis milhões de anos – surgiram os primeiros seres apresentando características dos primatas originais, associadas a outras características que definiriam os futuros hominídeos – bípedes e com maior volume craniano. Mais tarde essas Entidades deixariam de dar prioridade absoluta ao estudo evolutivo dos processos de formação do Sistema Solar e particularmente do planeta Terra, começando duma forma crescente a interessar-se pela evolução de todos os seres vivendo à sua superfície, principalmente desde que uma dessas espécies já relevantes anteriormente – e que se sobrepunha às restantes, tentando exercer sobre as outras espécies o seu domínio e exploração – iniciou o seu processo de registo dos acontecimentos que tinham vivido e experimentado, “inventando” a escrita e tornando-se capazes de guardar os seus conhecimentos adquiridos durante o seu período de vida, para posterior utilização e desenvolvimento dos seus grupos organizados e dos seus sucessores: ou seja – e de acordo com a nossa História da Humanidade – desde o fim da Pré-História e ao início da História. Esse tempo de mudança suscitou no entanto o crescente interesse de diversas Entidades vindas do exterior, cujo nível de intervenção se verificaria ser muito diferenciado – mais ou menos directos, mais ou menos activos – e que mais tarde se revelou contraproducente e mesmo nalguns casos abusivo, interferindo indevidamente no processo de desenvolvimento interno deste mundo ainda em formação e alterando os seus processos naturais e internos de estabilização e de desenvolvimento. São incontáveis ao longo da História da Terra e do início do registo dos acontecimentos mais intensos vividos por parte da sua raça dominante – pelo menos no último período já com mais de 5.000 anos – os relatos de todo o tipo de aparições inexplicáveis presenciados pelos humanos, desde o contacto com seres com capacidades extraordinárias, até naves voadoras vindas do céu trazendo morte ou felicidade. Que por um simples acaso coincidiram com a concretização de grandes feitos por parte do Homem, mas também com o aparecimento de guerras e de outras catástrofes – naturais ou provocadas – que afectaram negativamente o seu desenvolvimento. Nesse ponto da sua história o Albino interrompeu o seu relato, dirigindo-se ao Tobias como se o fizesse a toda a raça humana: “se desde há mais de cinquenta milénios os seres humanos se tinham lançado à conquista do seu planeta e lar, como explicar racionalmente esta explosão de conhecimentos e de elevado desenvolvimento tecnológico aplicado, registada e concentrada maioritariamente nos últimos cinco milénios? É que já há mais de um milénio, se trabalhavam os metais”!

 

Fim da 3.ª parte de 8

 

(imagens – WEB)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 19:42