ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Monchique teve mesmo um Vulcão
Já dizia a professora primária – e com razão!
“Extinto há mais de 70 milhões de anos nada nos garante que dentro de outros milhões, o vulcão de Monchique ressurja ativando de novo o complexo vulcânico do Algarve.”
Pontos de subdução existentes entre as placas tectónicas
Quando passamos pela vila algarvia de Monchique e olhamos para os picos da Fóia (902m) e da Picota (774m) – com outras pequenas elevações espalhadas pelo terreno e ondulando como vagas até ao mar – a primeira coisa que nos vem logo à cabeça (não só pela constituição do terreno, pela sua evolução ao longo de milhões de anos, como até pela presença de águas termais a cerca de 32⁰C de temperatura nas Caldas de Monchique) é que esta região poderá ter tido num passado já muito distante o seu próprio Vulcão (ou vulcões): há muitos anos atrás quando cheguei a esta região ainda ouvindo falar pelos mais antigos e residentes na zona (e áreas adjacentes) do antigo e agora extinto Vulcão de Monchique (um vulcão declara-se extinto se não se verifica atividade visível ao fim de 10.000 anos – e se não tiver magma debaixo dele; adormecido se tiver tido uma erupção recente ou algum tipo de atividade menor e visível).
Na realidade com os dois picos a serem mesmo de origem vulcânica com o terreno (geologicamente falando) composto por SIENITO (uma tipo raro de rocha plutônica semelhante ao granito) e XISTOS (um tipo de rocha metamórfica predominante nas zonas menos elevadas): sendo esse território argiloso muito característico de alguns terrenos algarvios (xistosos), dado ter sido a partir da argila ao ser sujeita a grandes pressões e temperaturas que se obteve o produto final – o tal Xisto (uma rocha metamórfica – uma rocha obtida a partir de reações químicas e físicas aplicadas a uma outra rocha original). Sabendo-se que em Portugal Continental de momento todos os vulcões existentes e tendo estado em atividade no passado (já muito remoto) se encontram completamente extintos (pelo menos sem atividade visível do exterior) – em todos os complexos vulcânicos conhecidos: como o Complexo Vulcânico de Lisboa (tendo estada em atividade há cerca de 70 milhões de anos) e o complexo associado à serra de Monchique (tendo estado em atividade há mais de 72 milhões de anos).
Num processo de transformação contínua de toda a superfície da Terra (á vista ou submersa), no qual uma zona ativa tornada inativa poderá posteriormente ressurgir entrando num novo ciclo evolutivo (e geológico): o que poderá significar recolhidos alguns dados entretanto analisados e esclarecedores (indícios, vestígios, sinais) que poderemos no futuro entrar numa nova era de vulcanismo no Mundo como em Portugal – mas como tudo demorando o seu tempo e talvez ocorrendo daqui a mais uns milhões de anos.
“Existindo há mais de 4,5 biliões de anos o planeta Terra já testemunhou na sua História Geológica a existência de vários Supercontinentes: provavelmente num deles com a África e a Europa ligadas entre si e com o mar Mediterrâneo (então um território emerso, vulcânico e bastante fértil) isolado do oceano Atlântico pela então existente junção (terrestre) localizada no estreito de Gibraltar.”
Falha do Marquês de Pombal nas proximidades do Cabo de S. Vicente
Com todo este percurso sequencial e vulcânico ativo-inativo-ativo a poder ser explicado pela presença a sul de Portugal e submersa sob as águas do oceano Atlântico de uma importante falha tectónica separando a placa euroasiática da placa Africana: na sua deslocação provocando sismos (propagando-se em terra), abaixamento e elevação de terrenos (do fundo do mar) e em certos casos originando ondas gigantes (tsunamis). Como terá acontecido no sismo de 1755 em Lisboa (a zona de maior densidade populacional, mais exposta, mais afetada e vítima de um tsunami) – com uma nova zona de subdução a surgir a sudoeste da Península Ibérica (a falha do Marquês) a pouco mais de 100Km do cabo de São Vicente e talvez a iniciar aí as suas próprias ações para a formação futura de um Novo Continente (a que até já dão o nome de AURICA). No caso português com a placa oceânica a mergulhar sob a placa continental bem à frente de Portugal. Com ÚR a poder ter sido o 1º Supercontinente da Terra (teoricamente) há cerca de 3-4 mil milhões de anos.
Regressando a Portugal Continental e como comprovativo da passada atividade vulcânica nessas zonas do território português, podendo-se mencionar (entre outras) a chaminé vulcânica de Monsanto (Lisboa), a mina de Neves Corvo (Baixo-Alentejo), as chaminés de Sines (Setúbal) e o complexo vulcânico do Algarve – com a chaminé vulcânica da Praia da Luz (Lagos). Em conclusão bastando olhar, já que o solo é testemunha.
Em todo o caso – e para todos nós que passamos a maioria da nossa vida com os pés bem assentes (ou não) em terra – devendo apenas preocuparmo-nos com os possíveis sinais de alarme vindos do exterior (podendo ser progressivos e só se manifestando de forma mais violenta a muito longo prazo) e no caso de aí chegarmos (certamente muitas gerações passadas) e habitando em terra firme verificarmos (pelo perigo que o seu aumento pode constituir): a temperatura do solo, a sismicidade e a variação magnética.
(dados: LUSA/meteopt.com – imagens: rtp.pt)
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A Vida do Vizinho Moisés e das suas Bestas de Companhia
Moisés – Desenho de Alenka Sottler
A vida estava vazia e o zero era o seu significado
1
Um dia recebi na minha caixa de correio um postal do pastor de rebanhos conhecido na sua terra pelo nome de Moisés, desenhado num sonho de uma noite de Inverno pela sua amiga e confidente de há muito tempo e a mim enviada como um convite à descoberta das durezas e belezas desta vida e à partilha sem interesses ou segundas intenções escondidas, do espaço a partilhar com ternura e amor, com os animais e com a natureza que ali se nos ofereciam.
2
O pôr-do-sol aproximava-se rapidamente e os animais começavam a impacientar-se com o atraso na recolha à sua zona de protecção. Lá ao longe as pessoas regressavam rapidamente às suas habitações, recolhendo no piso inferior os animais para os proteger do frio e dos seus predadores e ao mesmo tempo para aquecer com o ar quente da sua respiração, o piso superior onde viviam e iriam pernoitar. A união das espécies mesmo que inconsciente, era perfeita e o calor emitido pelo corpo dos animais era aproveitado na sua plenitude, para manter durante a noite e para todos, o aquecimento central desta casa temporária. Na escuridão que se ia instalando lá na aldeia, as luzinhas das velas tremeluziam entre as cortinas íntimas e protectoras das janelas, enquanto o fumo quentinho das lareiras, ia subindo como espadas flamejantes pelas eternas e encantadoras chaminés, erguidas com orgulho, para assim nos fazerem atingir o céu. Na serra em volta e à procura de uma fogueira para se aquecer contra as investidas deste vento penetrante e arrepiante, Moisés sentira-se mais uma vez abandonado: a madeira molhada custara a pegar e nem mesmo as pinhas e os arbustos tinham ajudado à sua criação e formação. O frio era agora, o seu maior problema.
3
A noite tinha sido dura de passar, apesar da capa grossa que protegia Moisés do frio e da humidade, que se ia enfiando progressivamente pela abertura da gruta onde se protegera desde há dias, com todos os seus animais. As dores de cabeça, provocadas pela persistência do frio gelado da noite em invadir o seu corpo e penetrar os seus ossos, juntava-se a uma fraca e mal requentada ceia ingerida no fim do dia anterior, que lhe fazia pesar ainda mais o seu velho corpo, prestes a quebrar sob o peso de muitos anos de luta pela sobrevivência.
4
O dia levantara-se cedo e o rebanho começara a mostrar-se irrequieto e pronto para sair de imediato, à procura de água e alimento. A ovelha Chulé adiantara-se às suas colegas e protestava veementemente junto à vedação que o pastor montara na noite anterior à entrada da gruta, para que elas não resolvessem sair de noite, sem o avisar. As mais jovens tinham passado pelos buracos na vedação, que as mesmas tinham descoberto durante as suas brincadeiras da noite e usufruíam agora e em antecipação às demais, do prazer do calor que o Sol lhes atirava, sobre o seu protegido corpo de lã. Moisés desimpediu a passagem e o rebanho começou mais um dia de pastoreio. O dia estava claro mas um pouco ventoso, com o cume das montanhas cobertas por pequenos mantos de neve e pouca gente visível a movimentar-se na aldeia. Algumas bestas passeavam-se pelos campos e a passarada já se tinha toda posta a cantar. O pequeno riacho deslizava entre as margens verdejantes e via-se uma mulher a chegar com a sua carga de roupa para lavar, no tanque cedido pela junta de freguesia, situado muito próxima da loja de mercearias da prima Celeste Miquelino.
5
Moisés sempre fora um nómada solitário que escolhera esta vida, porque tinha sido esta que a vida lhe oferecera. Nunca pedira nada para ele, apenas a companhia passageira daqueles que ia encontrando ao longo da estrada e das serras que percorria. Esperara durante muitos anos que se confirmasse, para o seu mundo também, que a terra fosse redonda e que com isso pudesse encontrar, mesmo que de passagem, alguém com quem pudesse compartilhar o mundo que ele criara. Mas ao contrário das histórias e daquilo que elas contavam, o mundo era muito maior do que aquilo que alguém alguma vez supusera, sendo difícil e senão mesmo impossível, pelo menos neste mundo, encontrarmos o nosso reflexo de infância, com toda a esperança e ilusão, ainda imaculada. Moisés não era um santo, apenas um caminhante de viagens, na companhia de outras bestas, solitárias como ele.
O Céu é dos pobres de espírito – e tu também querias lá estar!