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Encontro de Realidades

Segunda-feira, 17.02.14

Ficheiros Secretos – Albufeira XXI

(A Liberdade em Cenários Simulados)

 

A reunião estava marcada para um ponto específico do Sistema Solar, situado para além da cintura de asteróides. Juntava num mesmo local e durante um intervalo de tempo previamente estipulado, representantes máximos das hierarquias administrativas das duas galáxias adjacentes e que futuramente se intersectariam – neste caso a Via Láctea e a galáxia de Andrómeda – de modo a em conjunto e preventivamente elaborarem estratégias futuras de intervenção e de desenvolvimento, para o médio e longo prazo: no caso particular do CEO de Marte este estaria num período fulcral da sua avaliação e possível progressão na carreira, sendo sujeito a um teste que já estaria a decorrer (sem conhecimento do próprio) e cujos resultados seriam apresentados a um júri especializado que certificaria ou não a sua actuação e apresentaria os resultados ao Conselho Superior. Este deliberaria pela sua manutenção, despromoção ou subida hierárquica: o local escolhido para a reunião fora um dos satélites naturais de Júpiter Europa – uma das princesas pela qual Zeus se apaixonara – descoberto por Galileu há mais de quatrocentos anos e sendo hoje em dia (por coincidência) um dos locais mais prováveis para a existência de vida extraterrestre.

 

O Intruso

 

O problema surgiu com o aparecimento dum cogumelo de nome Apothecia num dos lotes de terreno recentemente concessionados para a montagem de cenários reais a partir da superfície de Marte, já as filmagens em directo se tinham iniciado nesse sector e a principal personagem se passeava livremente pelo terreno, enquanto que na Terra os técnicos operavam o controlo remoto do artefacto – a que se referiam como Rover – e lhe traçavam uma rota de actuação. Neste compromisso comercial estabelecido duma forma equilibrada entre duas partes, as imagens da realização cinematográfica seriam enviadas para a Terra e utilizadas pelos terrestres como se fizessem parte duma missão exclusivamente sua, mas desse modo e com este método revolucionário de intervenção concessionada a privados internos ou externos, economizando brutalmente no seu investimento financeiro esmagadoramente concentrado na produção e na viagem da sonda e de todo o equipamento associado.

 

O CEO colocado em Marte não compreendia como tal poderia ter acontecido. Os lotes eram constantemente inspeccionados e mesmos limpos e certificados antes de serem entregues à exploração. Ocorrera algo de estranho e se não identificasse o problema estava metido numa grande alhada. E agora ainda vinham os concessionados confrontá-lo com a situação, só porque um idiota qualquer no seu planeta afirmara que aquilo era um cogumelo. Desde que os terrestres tinham começado a viajar no espaço as suas intrusões por vezes incompreensíveis no espaço exterior tinham prejudicado o avanço do seu projecto de se tornar o primeiro prestador de serviços de todo o Sistema Solar: a autorização só chegara depois da realização dum acordo prévio entre partes, estabelecida através da realização duma reunião através dos canais de comunicação via satélite e nos quais apresentava o seu catálogo de preços, diferentes modelos e locais de intervenção. Inicialmente limitar-se-ia aos planetas principais, com hipóteses para algumas luas e até outros corpos celestes.

 

Alien Bolden

 

Em contacto com os terrestres o CEO marciano estabeleceu uma estratégia de actuação que teria que ser perfeita e irrepreensível. No edifício subterrâneo onde se situavam os módulos centrais do seu Estúdio Solar estabeleceu logo ali os três parâmetros a que teria que obedecer a sua intervenção, para se tornar definitiva e inquestionável, além de respeitadora do compromisso estabelecido: teria que ser tomada rapidamente, não colidir minimamente com os factos já divulgados (e absorvidos pelos destinatários da operação) e encaixar-se no cenário agora proposto, sem qualquer tipos de incongruências ou de lacunas interpretativas – através duma projecção agora explicada e documentada – utilizando unicamente as mesmas imagens não alteradas. Só tinha mesmo de explicar o sucedido introduzindo agora e naturalmente no contexto visual já disponível imagens mais detalhadas e trabalhadas (na apresentação da próxima edição solicitada), contemplando os mais cépticos com um esclarecimento, pelos próprios considerado irrefutável e inatacável. E esse era um programa muito simples de aplicar – dada a tecnologia de edição a que tinha acesso – e como tal impossível de erro.

 

Contactou através dum canal dedicado de telecomunicações o administrador da NASA Charles Bolden e com ele combinou todos os pormenores conjuntos de actuação correctiva (e até preventiva). Foi aí que o representante da agência espacial norte-americana apresentando-se como legítimo procurador dos interesses dos EUA e do seu Presidente e no estrito cumprimento do contrato estabelecido e das suas cláusulas indemnizatórias, lhe propôs uma nova concessão doutro lote marciano, mas agora para uma área até agora considerada pelo concessionária considerada interdita e inegociável: uma zona no pólo norte de Marte com vestígios evidentes da presença de água. Tal actuação era justificada pelos terrestres como necessária para a presença de poderosos financiadores no seu projecto espacial, cativando-os com investimentos virtuais directos e exteriores com retorno futuro assegurado; o que só iria dificultar ainda mais as suas conversações com as diferentes entidades representantes do planeta Terra – além dos norte-americanos – cada vez em maior número e pretendendo mais e mais concessões. Europeus, russos, chineses, japoneses, indianos, iranianos, norte-coreanos e até algumas corporações privadas multinacionais, corriam desenfreadamente pela obtenção de concessões em zonas por eles consideradas prioritárias, alguns mesmo sem objectivos claros pré-definidos. Teria que acalmar Charles Bolden em mais um dos seus delírios administrativos.

 

Rastos do NAC-MT4

 

Na impossibilidade de actuar no local em questão utilizando o Rover associado ao lote concessionado e já em plena actividade privada contratual, só lhe restava recorrer a um outro artefacto que se encontrasse disponível em stock e que fosse capaz de se deslocar ao local e intervir em zonas interiores e envolventes ao cenário. Recorreu ao agente cibernético NAC-MT4 – inspirado no primeiro astronauta terrestre (Neil Armstrong) a pisar o solo doutro corpo celeste mais precisamente a Lua – activando-o de imediato e pondo a correr o seu plano de execução: pôs os concessionados ao corrente da sua intervenção localizada, garantiu-lhes não visibilidade na sua actuação operacional e lançou o agente no terreno. O agente NAC-MT4 só teve que se deslocar ao local, introduzir vestígios adicionais em pontos de confirmação da versão dos factos a introduzir – que posteriormente seriam explicados como elementos adicionais pretensamente já existentes – e retirar-se em poucos segundos e sem nunca ser visível da zona concessionada. Cumprida com sucesso absoluto, a intervenção ainda fez sorrir o CEO: com uns simples saltos do agente cibernético NAC-MT4 nas imediações da ocorrência – o mais utilizado por ser o mais experiente quantitativamente em intervenções de risco – este simulara perfeitamente com os sulcos das suas botas o rasto deixado pelo Rover na sua deslocação sobre a superfície marciana. No fim a culpa seria atribuída a uma intervenção involuntária do Rover, que ao deslocar-se sobre a superfície marciana e com as suas rodas, teria inadvertidamente levantado uma rocha do solo deixando-a cair mais adiante: simples, eficiente e só possível num génio como ele. Por isso ser CEO e ambicioso e ter a certeza de que amanhã a sua estratégia de intervenção comercial seria recompensada e alargada, a outros espaços mais vastos e lucrativos.

 

Na Terra a agência espacial confirmava a versão explicativa utilizando como bode expiatório as rodas do Rover, anexando à edição marcas deixadas no terreno pela ocorrência de tal fenómeno considerado na altura estranho e bizarro, mas tão fácil de perceber agora que todas as imagens eram disponibilizadas, podendo ser profundamente analisadas e confirmadas. Calavam-se assim aqueles que afirmavam coisas absurdas senão mesmo ridículas – chegando mesmo a ameaçar expor pretensas incorrecções ou mentiras por parte da NASA – como era o caso do Dr. Rhawn Joseph; e ao mesmo tempo restabelecia-se a calma nas transmissões e a tranquilidade entre os espectadores.

Sentado no seu posto de comando o CEO regressou à sua actividade normal e quotidiana, enquanto que ia apreciando os novos pedidos de concessão que iam chegando cada vez em maior número à sua secretária e se entretinha num convívio cada vez mais profundo e interligado com o seu modelo preferido, inspirado na cultura comunicativa e extremamente intrusiva e sensitiva aplicada naquele pequeno planeta, por estes curiosos e interessantes seres vivos: a agente cibernética de apoio HB-T1 uma réplica adaptada da actriz Halle Berry.

 

(imagens – space.com e Web)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 21:46

Camping

Sábado, 10.03.12

A Suinicultura aplicada aos humanos é uma boa estratégia económica de investimento em produtos de desgaste rápido que, como assim, se desvalorizam rapidamente. E mesmo alguns de nós, poderemos ser sempre e em qualquer altura reciclados – o sistema aceita tudo, desde o porco, a porca, o leitão e até o porco preto! Para não falar na anilha.

 

 

As Tendas não aceitam Suínos

 

O tempo está excelente para montar uma tenda: não chove, a temperatura está amena e os insetos de Verão ainda não chegaram para nos devorar a carne.

 

Lá fora, no exterior deste mundo único, a selvajaria continua, com a exposição repetida à exaustão dos sacrifícios humanos proporcionados pela elite; para dela afastar todas as doenças e delírios de um povo inexistente, mas ingenuamente, com esperanças de vida.

 

Muitos não sabendo ainda por alienação ou lobomotização, serem replicados sem limites em casernas de escravos, com um objetivo definido, intransponível por lei e limitado por coação dos iluminados, de apenas comerem, produzirem e defecarem – uma porcaria!

 

Louvada tenda, maldita barraca!

 

(imagem – boingboing.net)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 20:08