ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Colateral
Albufeira – Ficheiros Secretos
O Estranho caso do Agente Borboleta
Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma
(Lavoisier)
A HISTÓRIA DE IBÉRIO ALGAR
Esta história – entre muitas outras histórias assinaláveis, guardadas num arquivo privado de manuscritos antigos e de confirmada origem árabe – foi-me contada numa tarde de Verão do passado mês de Setembro, sentado no miradouro do Pau da Bandeira e observando deliciado este mar calmo e sereno. O meu contador de Histórias apresentou-se como descendente do famoso poeta árabe Ibério Algar, que na sua passagem por terras algarvias terá deixado para os seus discípulos e descendentes, muitas histórias verídicas e de encantar.
Nessa história o poeta descreve uma das suas passagens pelo estreito de Gibraltar, deixando a pairar no ar um certo perfume de mistério e de fantasia, ao afirmar ter efetuado uma travessia sem nenhum tipo de sobressaltos, observando do alto e sentado numa cadeira bem confortável e rotativa, toda a extensão do mar Mediterrâneo. Sugerindo até ter repetido a mesma viagem – a pedido e por puro prazer e divertimento – no mesmo dia e à mesma hora. Isto fez-me lembrar a Máquina do Tempo.
Os Árabes foram muito importantes para o desenvolvimento cultural e científico da Europa durante a sua passagem e estadia pelo nosso continente, podendo-se integrar nesse grupo o nosso poeta Ibério Algar
E para uma melhor compreensão da filosofia e experiência de vida de Ibério Algar, nada melhor do que a citação de uma frase a si atribuída: “O tempo não existe e daí a nossa possibilidade de viajarmos entre mundos de diferentes realidades opcionais, mas alternativas e paralelas. Atravessando níveis de realidade dispostas em camadas sobrepostas caoticamente, com diferentes alterações de valores padronizados de energia, capazes de aproveitar o aparecimento de buracos na matéria – por alteração da sua massa – para se transportar instantaneamente para outras órbitas energéticas diferenciadas, mas constituindo sempre como plataforma de vida, o mesmo elemento básico – a Partícula e o seu Universo”.
Com o início da reconquista cristã Ibério Algar acabou por se refugiar em Espanha partindo em direção à região de Granada, onde ficou instalado num palácio de um príncipe árabe durante um curto e merecido espaço de tempo, para repouso e recuperação necessária de tantas canseiras e sofrimentos. O seu rasto acaba por se perder nos misteriosos palácios e jardins de Alhambra, à procura daqueles que vira e com quem convivera outrora – numa das suas viagens “aéreas” – e que agora pareciam querer esconder-se ou fugir dele, talvez como desafio á força da sua fé e à sua crença nas forças do Universo.
O AGENTE BORBOLETA
(Ibério Algar pelo seu contador)
Criatura Sobrenatural muitas vezes associado ao fenómeno OVNI
I
A borboleta atravessou apressada a teia de aranha que se encontrava à sua frente e entrou pela janela do 1.º andar do prédio em ruínas, sem sequer pedir desculpa à aranha detentora daquela rede de alimentação. O dia estava frio e chuvoso e a hora combinada para o encontro aproximava-se rapidamente. Não queria falhar mais uma vez com a sua presença face ao intruso, nem deixar que a osga sua amiga se escapasse por entre as paredes rachadas da habitação, desaparecendo de novo como se não tivesse nada a ver com o assunto.
II
Aos olhos da borboleta a casa parecia ter uns mil anos, forte nos alicerces que a sustinha mas frágil nas paredes de madeira e de estuque que a fechavam. Os tetos já tinham desabado parcialmente, apresentando bocas abertas e escancaradas para os andares superiores do edifício em ruínas, que por um lado arejavam todos os animais aí residentes mas pelo outro lado permitia aos metediços e mal cheirosos morcegos entrarem e saírem a seu belo prazer. Tudo parecia ter sido mais uma vez combinado para a atrasar na sua missão, boicotando assim e de uma forma repetitiva, os seus planos tão minuciosamente elaborados.
O Sol é o farol da vida e o guardião do conhecimento do mundo onde vivemos. Mas não nos deixemos encandear pela força da Natureza e com isso, a maltratemos com as nossas experiências egocêntricas e absurdas
III
No interior da habitação do 1.º andar a borboleta virou à direita, dirigindo-se de seguida para o fundo do corredor mergulhado numa escuridão variável, dependendo do baloiçar do único candeeiro ainda em funcionamento. A corrente de ar quase que a fez chocar contra essa inesperada mas orientadora presença luminosa e enquanto se desviava para o seu lado esquerdo, ainda conseguiu vislumbrar no interior da bola iluminada o seu conhecido gafanhoto, lutando furiosamente contra aquela luz ofuscante e mortal; reparou de passagem numa outra cena deveras preocupante para o inseto – colocado mais acima sobre o cabo de suporte do candeeiro, numa posição de espera e de paciência próprio de um caçador experimentado, estava um cruel camaleão de estimação.
Construída à nossa imagem a casa física morre como nós, deixando no entanto espaços misteriosos por revelar, que nos inundam o pensamento e nos põe a sonhar
IV
Estava uma noite de Lua Cheia e a luz infiltrava-se por todos as fendas da casa. A zona das escadas era uma das mais bem iluminadas por esta luz suave e natural – vinda do exterior através da claraboia instalada no terraço – e por essa razão a ideia fixa da borboleta de se dirigir na sua direção, subindo as escadas aí construídas em espiral de modo a rapidamente alcançar o terraço. O encontro com a osga e com o intruso – a sua sombra sempre presente – fora combinado previamente e para esta noite, realizando-se no canto norte desse terraço. Mas a borboleta também já fora preparada para o que desse-e-viesse e alguns amigos de sangue estavam desde há momentos de alerta, para possíveis acidentes de percurso.
V
A osga e o intruso estavam à espera quando a borboleta transpôs finalmente a claraboia e se introduziu no espaço iluminado pela Lua, completamente às claras e a céu aberto. Inicialmente nada se passou, apenas se ouviu um ligeiro ruído em redor dos muros meios desfeitos que rodeavam todo o terraço. A borboleta pousou sobre o suporte apodrecido da antena de televisão, enquanto alguns grãos de ferrugem caiam sobre o telhado fendido e cheio de musgo, que ainda cobria parte da casa. Parou e pôs-se a observar. Enquanto isso a osga olhara para o intruso, acabando por ignorar as causas do ruído. Nesse momento tudo parou, até ao momento em que se deu a sucessão rápida de acontecimentos.
A Osga
Monstro meio-homem meio-réptil, o seu desejo é o de destruir todos os humanos à face da Terra
VI
Relembre-se que de um dos lados da barricada estavam a osga e o intruso e do outro lado a borboleta e um número indeterminado de amigos de sangue. Numa primeira fase a borboleta bateu as asas como combinado, esperando pela resposta sonora da osga. Ela deveria aparecer de seguida diante de si, assinalando a sua presença com uma luz emitida por um pirilampo fixado no seu corpo e transportando consigo a encomenda combinada. Tal não sucedeu o que começou a incomodar a borboleta. Numa segunda fase o intruso avisou a osga de que iria abandonar o local, deslocando-se em direção ao cabo desligado da antena, que se balouçava perto de uma tomada elétrica de emergência. A borboleta não o viu mas sentiu o seu calor e movimento. Enquanto isso a osga deslocou-se sorrateiramente até `perto da antena, colando-se a ela como um fantasma, numa posição acessível de ataque e de sucesso garantido, ficando aí pacientemente a aguardar. O intruso ligaria a antena à tomada, a borboleta sairia disparada com os efeitos da descarga, a osga cumpriria a sua função alimentar e acima de tudo a encomenda seria preservada.
O aparecimento do Intruso poderá ter ligações ao mundo fantástico do temível Chupa-Cabras
VII
Mas nada se passou assim. A borboleta levantou voo e a antena até aí equilibrada com a distribuição do peso insignificante do seu corpo, acabou por cair para o lado oposto ao do seu voo, esmagando e eletrocutando o intruso – que depois se veio a descobrir ser a fêmea tirana do casal – na sua queda aparatosa no chão. A osga desorientada com o sucedido, ainda tentou escapar-se no meio da confusão instalada, procurando escapulir-se no meio da primeira fenda viável que viesse a encontrar, o que também não conseguiu. Ao tentar pôr-se em retirada viu-se perante um verdadeiro exército de pulgas, térmites e carraças sugadoras que a cercaram, picaram, devoraram, furaram-lhe os olhos, empalmaram e desmontaram, não deixando nada para trás dado o perigo de voltarem a aparecer. A encomenda acabou por ser entregue ao seu legítimo dono, evitando-se assim males maiores para a humanidade e a continuidade da normalidade do quotidiano de todos os animais vivendo à superfície da Terra.
A Cibernética criou Marvin, O Androide Paranoide
Robot possuidor de um QI extraordinário, utilizado a bordo da nave espacial “Coração de Ouro” e exercendo as suas funções para a Companhia Cibernética Sírius
VIII
No seu quarto o agente começou a arrumar cuidadosamente os seus aparelhos eletrónicos, concluída que estava a missão que lhe tinha sido superiormente atribuída. Técnico reputado na área da cibernética e especializado em nano máquinas, era fácil constatar a delicadeza e carinho com que tratava os seus animaizinhos mecânicos – verdadeiros soldados da fortuna – não só pelo privilégio de tratar deles como de seres vivos se tratassem – pareciam cada vez mais conscientes das suas ações – como pela liberdade e segurança de ação que eles proporcionavam. Tinha vencido os outros agentes inimigos, não tendo a lamentar nenhuma vítima colateral.
IX
Pegou então na sua pequena mochila pessoal, olhou mais uma vez pela janela do seu pequeno quarto de hotel e comparando mentalmente este nascer do Sol com o do seu ponto de origem, pensou que poderia viver neste mundo alternativo sem grandes problemas de adaptação. Mas o arbítrio não o convencia a aceitar o desafio e sabia de antemão, que este nunca seria o seu verdadeiro lugar no Universo.
Falando de Espaço-Tempo: utilizando os “Buracos de Minhoca” podemos atalhar entre dois pontos muito distantes no Universo
X
Ligou finalmente o aparelho de transporte RET (redimensionador espácio-temporal), aplicado com técnicas biotecnológicas inovadoras no pulso do seu braço esquerdo – artefacto de alta tecnologia que o iria levar de volta ao seu lugar de partida – programando-o com toda a precisão e precauções associadas, de modo a atingir uma execução com pleno sucesso de todo o plano inverso de retorno. E então deixou de existir subitamente, engolido pelo espaço e recolocado no seu lugar.
(imagens – Google.com)