ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Ilhas
Nasci na cidade do Porto (ainda no século passado) com uma ILHA na retaguarda, situada numa pequena viela da rua de Pinto Bessa (mesmo antes de chegar à igreja do Bonfim).
Porto – ilha na zona de Campanhã
Desde que me conheço que o Porto é considerado um território operário: não só por todos aqueles que ajudaram a construir a cidade (com o seu sangue, suor e lágrimas) – os operários – como também pela contribuição solidária e desinteressada de alguns dos seus privilegiados (nacionais e estrangeiros) – os patrões. Em muitos dos casos oriundos das mesmas regiões e por vezes até das mesmas famílias: motivo pelo qual esta deslocação forçada do campo para a cidade (de grandes contingentes de camponeses), nuns casos originaram ricos e nos outros muitos pobres (a esmagadora maioria desta tríade opressora – trabalhar, comer e dormir e por vezes fornicar). Resguardados numa Ilha dos problemas do Continente.
Porto – rua lateral a Pinto Bessa
Pessoas originários das Beiras como o meu avô-materno, que descendo do interior já esquecido e abandonado pelo regime nesse período no poder, procuravam no litoral Atlântico uma nova hipótese de vida (profissional) ou dar o salto para o outro lado (Brasil e EUA). Inclinando desde logo esta plataforma (Portugal) em direção ao mar e acumulando a maioria dos seus cidadãos numa faixa estreita de terra com os seus principais focos num ou noutro território – como o era o conjunto envolvendo a Invicta cidade do Porto. A porta de entrada e de saída de uma grande região (pessoas e mercadorias), socorrendo-se ainda da agricultura interna para poder sobreviver (fornecendo-lhe abastecimentos essenciais), utilizando uma Indústria dinâmica e objetivamente dirigida (como foi o caso dos têxteis) e ainda-por-cima assentando todo o seu desenvolvimento económico e social em torno de um meio de comunicação, de transporte e de comércio tão importante como era o rio Douro: numa região conhecida mundialmente como produtora do Vinho do Porto. Num sector produtivo e bastante lucrativo da Indústria e do Comércio introduzido pelos ingleses (rodando à volta do sector vitivinícola), que logicamente exigiu mais mão-de-obra, muitas mais acomodações e maior proximidade à empresa.
Porto – rua de Pinto Bessa
Numa distribuição dos novos agregados populacionais ainda hoje de fácil compreensão e visualização (como assim já estamos no ano de 2016 mas as Ilhas ainda existem), na qual um terreno era ocupado por edifícios de um ou mais andares, construídos de modo a ficarem de frente para os novos caminhos, acompanhando-os num circuito fechado como que formando um determinado polígono (através de um emaranhado de outras derivações) e simultaneamente preservando na sua retaguarda terrenos desocupados, propícios a outras construções e até a uma agricultura complementar e comunitária (de sobrevivência). Bastando abrir mais uma porta (convidando-nos como todas as outras) para aí aparecer mais uma Ilha (e um outro mundo desconhecido).
“A ilha do Porto é um tipo de habitação operária muito diferente do de outras cidades industriais, como Lisboa, onde existem os pátios, ou as cidades industriais europeias. Surgiram inicialmente na zona oriental da cidade, mas rapidamente se estenderam ao centro e aos concelhos limítrofes. Para o aparecimento das ilhas acredita-se que tenha contribuído a grande influência inglesa na cidade. O esquema das ilhas é frequentemente associado às primeiras back-to-back houses em Leeds, quer em termos de morfologia, de promotores e em termos de intuito de construção. A origem das ilhas é desconhecida sendo certo que no século XVIII já eram relatadas casas a que se chamava de ilhas. Em inquirições de D. Afonso IV (1291-1357) fazem-se referencia também a conjuntos de habitações com apenas uma saída para a rua. Foi, no entanto, no final do século XIX, com o desenvolvimento industrial da cidade, e com a chegada de muitos migrantes das terras do norte do país, que este tipo de habitação se massificou.” (wikipedia.org)
(imagens: Produções Anormais)
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O Senhor Bratislav Stojanovic
História de um Cidadão Europeu
A casa de Bratislav Stojanovic
O cidadão Bratislav Stojavonic nasceu há quarenta e três anos atrás no antigo e agora extinto país Europeu então conhecido como Jugoslávia. Com a desintegração completa deste país independente e a perseguição por diferentes grupos armados de todas as etnias aí residentes – contando para o efeito com o precioso apoio da Alemanha e com a colaboração armada das forças croatas que a tinham apoiado no período de domínio dos nazis, na sua luta contra os seus inimigos sérvios e respectivos apoiantes Aliados – este cidadão acabou por nunca mais encontrar um emprego regular, mergulhando profundamente num crescente monte de dívidas e perdendo no meio deste genocídio social a sua habitação. A solução encontrada pelo cidadão sérvio para arranjar um local onde morar, acabou por recair num cemitério da cidade de Nis e numa sepultura desconhecida e há muito abandonada pelos seus antigos proprietários. Aí viveu nos últimos quinze anos na companhia dos mortos aí sepultados, não tendo nenhuma razão de queixas destes: “De início ainda tive medo, mas habituei-me à situação rapidamente. Agora tenho mais medo dos vivos do que dos mortos”.
(a partir de notícia – Disinfo/Daily Mail)