ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
A Noite
Água do outro mundo
A vida é de duração limitada, como a bica de água da minha terra, que antes enchia centenas de garrafões de plástico e era a alegria de muitas crianças que aí se divertiam e que agora está parada e seca, como a múmia da tua avó. Eu já não tenho avós, mas nenhuma delas era uma múmia, trata-se apenas de uma forma divertida, atrevida e amiga, de falar daqueles, de quem nós gostamos mais.
A minha querida casinha
A noite já vai longa e estão de certeza à minha espera em casa. Não é que se aflijam muito com a minha ausência mais prolongada, mas os hábitos custam muito a quebrar e um atraso na chegada pode provocar insónias significativas em toda a restante família. Para já não falar nos outros animais domésticos aí residentes, incomodados provavelmente com aquele lugar desocupado na cama, quentinho, sossegado e com uma companhia pronta a dar-lhes mais uma festa na cabeça ou uma palmadinha no lombo – que desperdício de espaço e condições pensarão eles passando de imediato à execução da tarefa por demais evidente. Subalugas de um apartamento já por si pequeno de áreas e divisões, estes meus colegas de infortúnio fazem com que muitas vezes me veja acampado no interior de uma vedação, onde colegas como eu ladram sem parar e fazem buracos no chão.
A minhoca em acção
Gostaria de saber porque anda o Sol sempre às voltas e a passear todo contente. Em pequeno uma das primeiras coisas que aprendera fora que vivíamos num lindo planeta azul chamado Terra, que girava todo feliz e certinho à volta do Sol, na companhia de outros corpos solares mais ou menos parecidos. Ora, como referência para todos os corpos restantes que lhe prestavam vassalagem rodeando-o constantemente, o Sol só poderia estar parado e ser adorado e reverendado. Isto tudo porque até a minhoca gostava de ver o Sol, principalmente em dias de boa humidade e de boa comida garantida. No campo onde estou raramente as vejo, até porque apareço a horas impróprias. Mas por outro lado vejo cães, gatos, ratos, coelhos, lebres, galinhas, osgas, corujas, morcegos, sapos, cobras só a pele ou à distância, moscas, mosquitos, por vezes carraças e mais uma infinidade de bichos que me fazem esquecer o Sol, pelo menos a certas horas do dia.
Animais do campo do meu vizinho
Como observação final e socorrendo-me de uma enciclopédia, na história da classificação dos animais, aparece o nome do grande cientista sueco Lineu. “No esquema original de Lineu, os animais eram de um dos três reinos, divididos nas classes de Vermes, Insectos, Peixes, Anfíbios, Répteis, Aves e Mamíferos. Os quatro últimos foram subunidos num único grupo, o Chordata, enquanto as outras várias formas foram separadas.”
Na minha vida já me integrei e já conheci todos!