ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Albufeira: Meia-Laranja
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Tentei encontrar imagens do jardim público da Meia Laranja – com o seu lago central e coreto – no centro antigo de Albufeira, mas não encontrei nada relacionado com os anos oitenta.
Apenas esta imagem de meados dos anos setenta, em que se verifica ainda a ocupação e circulação automóvel, através de espaços agora interditos ao trânsito.
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Deslocando-me para um dos lados do jardim e saindo pela rua dos bares, dirijo-me entre barulho, gente e bugigangas, para a Praia dos Pescadores. Cada vez menos interessante.
Já nada do mercado do peixe, da amêndoa amarga sob o calorzinho do Sol no café Oceano, da antiga tasca da D.Ana com os seus peixinhos fritos e sopas de massa com grão, dos barcos na praia com os pescadores remendando as suas redes, preparando as armadilhas, convivendo entre si em conversas familiares – enquanto os ratos saiam dos esgotos abertos ao mar, aproveitando tudo o que ficava no areal próximo.
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Ao fundo, vestígios da muralha do castelo/fortaleza de Albufeira, hoje em dia transformado no restaurante, A Ruína: o mercado à direita já foi; os barcos como os seus mestres e pescadores, na maioria já desapareceram ou foram desterrados para o porto de abrigo; e eu raramente lá vou – já tudo foi cilindrado e todo este mundo se esfumou.
A beleza está na possibilidade que a memória nos dá, de podermos relembrar momentos seleccionados da nossa vida – mas é uma tristeza ver a destruição de espaços, como registos fundamentais da nossa cultura. Amanhã vamos falar de quê?
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Veja o contraste entre estas duas imagens da Praia do Peneco em Albufeira, que não se resume apenas à diferença entre a apresentação a preto e branco e a apresentação a cores.
O progresso industrial obrigou a economia a uma maior disciplina na sua relação obrigatória e não desejada com o mundo do trabalho e com a lógica inevitável da remuneração salarial – veja-se que hoje em dia os negócios mais lucrativos, ainda se baseiam na escravatura social, com os direitos de quem é obrigado a trabalhar, a diminuírem aceleradamente nos países ditos mais avançados.