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Vida Pequena e Eficiente

Sábado, 16.08.14

 

Novos Ficheiros Secretos – Albufeira XXI

(No Limiar da Realidade)

 

Numa sociedade capaz de lobotomizar o nosso cérebro sem sequer ter necessidade de recorrer a qualquer tipo de intervenção cirúrgica, outro ser vivo compartilhando o mesmo ambiente pode tomar o nosso lugar e invocar em nossa substituição (e para nossa própria protecção) a sua supremacia sobre todas as outras espécies.

 

 

Nanobots – Pequenos e Eficientes

 

A nova raça de trabalhadores biomecânicos será programada especificamente para seguir as directivas que lhes são enviadas para aplicação e execução: a sua actividade apenas será interrompida em modo OFF ou se for necessário fazer RESET. Desse modo ou os seres humanos se adaptam às novas condições de desenvolvimento tecnológico expandindo a sua máquina e simultaneamente incorporando no seu corpo novos periféricos de expansão exterior – como já o fazem as plantas parasitando e alterando o ADN dos seus hospedeiros – ou então estarão irremediavelmente destinados a uma extinção seleccionada.

 

Na última quinta-feira antes do feriado de 15 de Agosto – três dias consecutivos de ponte – estava eu já em minha casa ainda nem sequer eram vinte e três horas. Lá fora a noite era apenas mais uma das trinta e uma de Agosto, talvez um pouco mais fria devido à presença do vento ou então por me encontrar sentado mesmo ao lado do ar condicionado: mas era um tempo apesar de tudo agradável, em contraponto a este forte e típico calor de Verão e à terrível e habitual confusão do dia.

 

Sem que nada o fizesse prever ou sequer suspeitar um dos braços da árvore situada nas proximidade da varanda do 1.º andar do meu apartamento – e sob a acção de uma forte e inesperada rabanada de vento vinda de sudeste – entrou sem qualquer tipo de aviso no meu espaço privado, aproveitando ainda a oportunidade da porta de vidro de acesso ao interior do mesmo estar entreaberta, para nele e sem qualquer tipo de autorização se introduzir: recusa-se a abandonar a sala de estar onde se encontra momentaneamente instalada, mesmo em frente do grande monitor de TV.

 

Ainda tentei tirar o ramo da minha sala, mas sempre que o puxava para fora parecia que o mesmo se fortalecia e avançava um pouco mais – mas agora lateralmente e em direcção às escadas interiores – recusando-se determinantemente a sair da divisão e envolvendo sub-reptícia e progressivamente o monitor, enquanto procurava inexplicavelmente a tomada eléctrica mais próxima. Encontrou a do candeeiro junto dos sofás e logo desligou-a: mergulhamos de imediato na escuridão. Enquanto sentia o ramo a deslocar-se entre as minhas pernas – acabando por me picar (dolorosamente) numa das virilhas – o grito de raiva do gato fez-me esquecer tudo o resto: um novo ramo da árvore tentara envolvê-lo e penetrá-lo, como se o quisesse chupar e possuir.

 

Liguei o comutador eléctrico da sala e nem sequer me espantei com o que vi: o gato espreitava do cimo das escadas com o pelo todo eriçado, enquanto os ramos das árvores – que agora eram pelo menos três – recuavam no interior sala, parecendo abandonar o apartamento e regressando de novo ao exterior. Sem demonstrar grande pressa ou ansiedade a árvore recuou muito tranquilamente até ao seu local (fixo) habitual, reinstalando-se de novo o mais confortavelmente possível e esticando os seus ramos em direcção ao céu (e as suas raízes em direcção ao interior da terra): se a operação biológica de introdução e de extracção fora um sucesso total interessava desde logo divulgá-la (e ao mesmo tempo disseminá-la).

 

Subi as escadas interiores do apartamento e fui ver o que se passava com o gato. Sentia-me ainda um pouco abalado e confuso com tudo o que de estranho se passara nos últimos minutos, acabando por subir com alguma dificuldade (e agarrado ao corrimão) as escadas da minha habitação, enquanto ia dando umas olhadelas de receio e de prevenção para a porta da rua ao fundo. O gato estava sentado em cima da cama do meu quarto: estava calmo mas parecendo relaxado de mais para o momento que acabara de viver. Acabei por me sentar ao lado dele, cheguei-o para junto de mim para o aconchegar e enquanto verificava o seu estado físico actual, acho que acabei inexplicavelmente por adormecer e cair redondo na cama.

 

A árvore acabara por adoptar um ser humano e o seu animal doméstico (como um extra): com a sua acção bizarra e inesperada acabara por apanhar o homem de surpresa, não lhe dando sequer tempo para se recompor e para pedir ajuda. Sem flagrante delito e não contando com a presença de qualquer tipo de testemunha, a missão tinha concretizado no terreno a sua plena implementação, com o ser humano a ser fisicamente violado por intrusão e alteração do seu ADN (aproveitando-o e modificando-o por canibalização) e sendo colocado posteriormente e por acção a ele estranha (vinda do exterior) numa posição de adaptação e submissão crescente, não declarada nem reconhecida.

 

Se alguma invasão vinda do exterior já se encontrava em preparação, ela poderia facilmente iniciar-se no interior do nosso próprio sistema, assente numa estrutura que por medo da sua própria evolução (e modificação de determinados parâmetros sagrados como o tempo) decidira limitar as nossas capacidades intelectuais de conhecimento e experimentação, fechando a maioria dos canais e postos de comunicação ligados ao nosso processador central e assim condicionando a realidade por nós percepcionada apenas ao nossos órgãos dos sentidos, sem por outro lado (e obrigatoriamente) expandir as áreas ainda inactivas e esmagadoramente maioritárias do nosso cérebro.

 

“Basic nanomachines are already in use. Nanobots will be the next generation of nanomachines. Advanced nanobots will be able to sense and adapt to environmental stimuli such as heat, light, sounds, surface textures, and chemicals; perform complex calculations; move, communicate, and work together; conduct molecular assembly; and, to some extent, repair or even replicate themselves”. (nanobot.info)

 

(imagem – Web)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 17:36