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O Tempo e o Modo

Quinta-feira, 26.01.12

Máquina de escrever – Design Vitoriano

 

Num antiquário podem-se encontrar muitas velharias que ainda nos recordam a pujança criadora de tempos já passados mas ainda na nossa memória. Trata-se apenas de um objecto criado para a prestação de um determinado serviço, mas que como ferramenta equilibrada utilizada no dia-a-dia de trabalho, também apresenta uma característica particular e muito importante, hoje esmagada pela simplicidade tecnológica – a beleza da sua apresentação ao público como objecto divulgador da nova e inovadora arte industrial, como objecto de uso e partilha da memória cultural.

 

Já o que se passa com o Homem – ao contrário do que se passa com os Objectos – leva-nos a uma inqualificável descaracterização da nossa identidade, transformando-nos num ser sem valorização, face à sua rápida deterioração ao longo do seu curto tempo de vida: e como tempo é dinheiro, num Universo de espaço infinito e em constante movimento, tudo o que não sobressair desta confusão mental criada por estas instituições parasitárias, levará a uma contínua não existência nos mercados económicas, da imagem do Homem como capital valorizável e com capacidade temporal, de se tornar num bom investimento.

 

Natural da cidade do Porto e tendo lá vivido largos anos da minha juventude, ainda me lembro das visitas com a minha avó às lojas dos adeleiros, onde tudo se encontrava e tudo era reaproveitado; e de como objectos desprezados por alguns, colocados à venda como últimos desperdícios de uma época, se transformaram de novo em ícones do nosso quotidiano actual. Por outro lado verifico que com a degradação económico-social e a desvalorização do ser humano face ao objecto transaccionável e reciclável, já ninguém conscientemente quer ser amigo de alguém, já que o sucesso a qualquer preço impede a existência de relacionamentos mais dinâmicos, levando gradualmente à nossa extinção, como ser cuja característica principal é o de ter a capacidade de pensar e assim existir.

 

Nunca sobreviveremos como espécie, se optarmos por um sistema estático institucional, como consequência da nossa opção por um sedentarismo seguro e situacionista. Mas como estamos de novo numa fase de negação – com a crise decretada que atravessamos, daí vindo a figura histórica em Portugal, do camelo a atravessar o deserto – é deixar andar, obedecer e ter esperança, a última coisa a morrer (de um morto imaginário e vertical, que não se identifica com a sua imagem real e horizontal)!

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 14:59