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Biblioteca Viva para Mortos

Quinta-feira, 12.07.12

“Os livros respiram mesmo que sejam dados como mortos – por isso ainda enchem as salas na companhia de todos os tempos”

 

O morto levantou-se do chão e olhou o mundo em seu redor. Tudo estava parado, nenhum ser era visível em qualquer área da sua visão distorcida, não se ouvia um único ruído sequer, fosse em que lado fosse do espaço circundante e lá em cima, o céu vermelho e carregado, asfixiava com um calor intenso e uma pressão atmosférica tremenda, o pouco resto de cérebro que lhe escorria persistentemente pelos olhos e orelhas. Caiu indiferente a tudo o que pudesse existir em seu redor – mas que ele já não reconhecia como sendo da sua pertença – e então o seu olhar foi levado até a um espaço que se abria ao fundo de uma rua estilhaçada e que ainda parecia poder proporcionar numa certa penumbra acolhedora, um momento de recordação de um mundo fascinante que já não existia, por traição de uns poucos e a indiferença de todos os restantes. A livraria abandonada e solitária chorava o seu Último Homem, por morte do seu pai e do seu filho o Último Herdeiro. E o pó que a ia cobrindo calmamente e com muito tempo disponível a perder, assentava lhe tão bem, que já nada nem ninguém foi dando por isso.

  

 

 

No fim do nosso mundo, deu-se o fim da nossa história e restaram os livros abandonados como fósseis, nas prateleiras de armários e estantes, aguardando viajantes e peregrinos perdidos e vindos de mundos distantes.

 

Esta imagem de morte poderia muito bem fazer parte de um filme de terror.

 

(imagem - web)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 10:49