ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Feriados Roubados
A propósito do roubo dos feriados – e que para muitos governantes (já agora) se poderia referir a tudo:
- “Certas pessoas à procura de protagonismo deviam mas é estar caladas: não é falando com a voz do dono que as pessoas se deixam novamente enganar. Ainda por cima quando as mesmas foram mesmo roubadas”!
Miséria de Política
Roubados não!
Para além do entendimento ser excessivo, a linguagem utilizada é completamente inaceitável!
As cinco mulheres que tinham misteriosamente desaparecido do bloco 333 da Rua do Silva – pretensamente no fim do dia anterior – acabaram finalmente por ser devolvidas no final do dia seguinte aos seus respectivos lares, situados todos nesse mesmo bloco. Os seus cinco companheiros tinham anteriormente reportado à polícia o desaparecimento das mesmas, tendo na altura mencionado que começaram a estranhar essa ausência prolongada, quando elas nunca mais apareciam ou davam sinais de vida, passadas já tantas horas sobre a hora do jantar. Morando num prédio de três andares dispondo de apartamentos à esquerda e à direita, ainda perguntaram ao vizinho que morava no 2.ºEsq. se as tinha visto, ao que este respondeu de imediato “só agora estar de regresso a casa após mais um dia de trabalho e que estava com pressa para ir tratar das suas florinhas”.
Chamada a investigar a polícia desenvolveu desde manhã cedo todas as actividades que pudessem levar à resolução rápida deste caso no mínimo estranho, envolvendo cinco mulheres adultas, jovens, casadas e vivendo no mesmo prédio. Os primeiros a ser interrogados foram os seus cinco companheiros queixosos – os maridos oficiais e legais são sempre os primeiros suspeitos – mas daí a polícia não conseguiu obter nada, pois todos tinham como álibi a sua presença testemunhada no respectivo emprego e para além do mais a consequência da ausência das suas mulheres era bem visível: perdida a mulher sabe-se lá como, nas mãos de sabe-se lá de quem, eram bem visíveis as gotas de suor frio que lhes escorriam pelo rosto.
O passo seguinte foi o de contactar pessoas residentes nas proximidades do prédio: nesse sentido deslocaram-se à padaria, ao supermercado, ao café e até ao pequeno quiosque situado no jardim, que decorava a praceta adjacente ao prédio. Ninguém as tinha visto desde a hora do almoço do dia anterior e nem mesmo a senhora que trabalhava diariamente no quiosque das oito horas da manhã até ás oito da noite, as tinha visto passar. Os polícias encarregados da investigação regressaram então ao prédio e aí repensaram os novos procedimentos a adoptar. Foi nessa altura que viram alguém a sair do elevador do prédio e que um dos polícias se dirigiu ao seu encontro, apresentando-se como tal e solicitando a sua colaboração – logicamente após terem elucidado a pessoa do sucedido e das investigações que decorriam. A pessoa identificou-se como o vizinho do 2.ºEsq. e afirmou tranquilamente desconhecer qualquer tipo informação sobre o desaparecimento das cinco mulheres e que envolvesse qualquer tipo de indício duvidoso e susceptível de ser crime.
As cinco mulheres estavam todas a prepararem-se nas suas casas para iniciarem a feitura do seu jantar, quando foram convocadas individualmente para uma reunião de urgência do condomínio, a realizar pelo seu responsável actual, o Sr. Silva do 2.ºEsq. A única coisa que sabiam é que se tratava dum assunto de interesse para todos os condóminos e que segundo o Sr. Silva lhes poderia trazer vantagens futuras – para elas e até para os seus maridos. Como ainda não era muito tarde e a reunião deveria ser breve, resolveram marcar o encontro para as sete da tarde na casa do Sr. Silva: ainda daria tempo para fazerem o jantar. Ás sete horas em ponto saíram de casa e dirigiram-se para o encontro: o Sr. Silva já as esperava em sua casa e até lhes tinha preparado uns pequenos aperitivos. Viúvo e bem instalado na vida, o Sr. Silva seria certamente um bom partido para qualquer mulher à procura de companheiro, fosse como companhia, como fonte de rendimento ou até como objecto sexual: nenhuma mulher poderia considerar aquele homem de meia-idade mas bem conservado e musculado, como algo de deitar fora. E isso sabia-o ele com toda a certeza.
Miséria de Quotidiano
Depois de bem medicamentadas com bolinhos e licores, as três mulheres estavam agora preparadas e prontas a ser testadas. O Sr. Silva era um grande defensor da reprodução selectiva, como garantia de estabilização biológica das sociedades futuras: ele não compreendia que numa civilização que se queria perfeita e avançada, ainda se permitisse que os objectos e os sujeitos não fossem testados antes de serem consumidos, agora que até a grande dos produtos existentes no mercado tinham prazo de validade. Era moralmente obrigatório para qualquer cidadão consciente e responsável que ainda desejasse preservar o seu bom nome e o do seu país, assumir o seu papel na defesa de certas tradições ancestrais mesmo que parecendo conservadoras ou reaccionárias, nem que para tal este se tivesse que sacrificar pessoalmente, envenenando o seu corpo e podendo mesmo morrer (o máximo sacrifício). A sua exaltação patriótica tinha sido alimentada, apoiada e subscrita abstractamente, a partir da leitura dum folheto histórico que lera ainda há pouco tempo e que mencionava duas medidas extraordinárias: o abandono dos idosos à beira da morte no meio do monte longínquo e o papel desempenhado pelos provadores, heróicos no caso das prévias provas alimentares executadas antes do seu chefe comer (defendendo-os até à morte e morrendo muitas vezes envenenados em seu nome – que honra!). Mas muito mais importante do que isso até pelo sacrifício Real envolvido – demonstrativo da sua grandeza e do seu amor pelo povo – a assunção pelo Rei (em favor dos nobres e dos seus Vassalos) dos perigos transportados pelas suas donzelas e futuras esposas, ao ser a primeira pessoa a testar o certificado de garantia sexual dessas mulheres: se o desejo sexual era unicamente uma ferramenta reprodutiva, a luta contra as doenças sexuais passíveis de transmissão era um objectivo de vida.
Violadas uma a uma e registados os efeitos provocados no corpo do Sr. Silva, foi com grande alegria e satisfação que este as informou da sua aprovação e da passagem do respectivo certificado de garantia: poderiam agora recolher aos seus lares para junto dos seus maridos, com a certeza absoluta de que nenhuma delas se encontrava contaminada. Os seus maridos só poderiam estar agradecidos. Um pouco confusas com o que se estava a passar com elas, vestiram-se, olharam para o vizinho e abandonaram o apartamento. O Sr. Silva despediu-se muito educadamente, fechou a porta à saída destas e foi tomar banho.
Passadas vinte e quatro horas sobre o seu desaparecimento e ainda com os maridos em casa nervosos e preocupados sem saber o paradeiro delas, cada um deles ouviu a chave a entrar e a rodar lentamente na fechadura, a porta a abrir-se e a respectiva mulher a entrar na habitação visivelmente alterada e com as roupas completamente desalinhadas (ou trocadas) e até com algumas peças de roupa interiores transportadas em mão. Drogadas e violadas foram as duas conclusões imediatas tiradas por cada um dos seus companheiros, conclusão imediatamente comunicada às autoridades. Comparecendo de imediato a polícia tomou conta deste novo episódio, agregando-o aos dados já recolhidos e relacionados com a ocorrência. Durante o interrogatório constataram que as mulheres teriam sido drogadas e posteriormente violadas, faltando esclarecer se por livre vontade ou se tinham sido forçadas a tal. Depois de muito insistirem e dada a forma alterada como as cinco mulheres reagiam às questões e ao ambiente carregado que as rodeava, elas lá conseguiram dizer que apenas tinham deixado um dos apartamentos do prédio e entrado noutro. O mistério ainda se adensou mais até que se lembraram do simpático e bem-educado Sr. Silva.
A reacção do Sr. Silva ao abrir a porta do seu apartamento e ao ver-se perante três polícias com um mandato de captura passado em seu nome, deixou-o incrédulo e paralisado: nunca na vida tinha roubado algo a quem quer que fosse, quanto mais o corpo de outra pessoa. Indignado ainda reagira de início àquela inacreditável detenção, ele que apenas lutava pela salvação dos outros com o seu próprio sacrifício. E quando as autoridades ali presentes o acusaram de novo de violação, ele contrapôs com uma frase que de certeza os elucidaria e assim evitaria o arrastar deste deplorável episódio, para ele sem existência e sem possibilidade de existência de qualquer tipo de processo-crime:
- Como se poderia criminalizar uma praxe tão clara e ancestral, replicada por ele a partir de exemplos vindos de elites eruditas e poderosas – oriundas do clero, da nobreza ou de outras entidades de nível superior – quando o único objectivo dele era salvaguardar a saúde de alguns cidadãos e nunca usufruir do prazer associado a essa acção desinteressada. Jamais fora o prazer o seu objectivo prioritário de acção, mas no entanto toda a gente sabia que na guerra muitas das vezes era impossível evitar danos secundários colaterais: e se os homens não compreendiam a sua benfeitoria, então era mesmo cornudos. A Justiça no final dar-lhe-ia razão: a sua posição, a sua formação e toda a sua contribuição para o bem-estar geral da comunidade, certamente que contribuiria decisivamente para a declaração da sua inocência e para afastar de vez a voz daqueles marginais da sociedade que só o sabiam caluniar.
O Sr. Silva acabou por ser mandado em liberdade devido a um pretenso erro processual, enquanto as suas vítimas não declaradas continuaram incógnitas e cabisbaixas com a sua pobre vidinha.
(imagens – Web)
Autoria e outros dados (tags, etc)
O País do Pródigo Olho do Cu
Portugal – o País dos Machões, das Machonas e dos Remediados
Subproduto
Localizado na parte superior do nosso corpo, encontramos o maior buraco negro da nossa vida. Um órgão inexistente face ao poder do mundo fantástico situado entre as nossas pernas e que conjuntamente com o dinheiro e um grupo de mercenários contratados são a fonte do sucesso do capitalismo selvagem, inspirado sobretudo em duas fontes essenciais – o roubo e a violação!
Infelizmente – e é alguém da minha família que me ataca e que o diz para o confirmar – eu não pertenço a nenhum desses grupos dirigentes e consensuais. Faço parte do Clube dos Outros – Os Paus Mandados – e não estou autorizado a falar, porque poderei incomodar os prostitutos do capitalismo selvagem e com isto, travar o ordenado ou emprego de alguém da minha família, levando-nos em conjunto e por minha única e exclusiva responsabilidade, para o abismo sem retorno da não socialização. E tudo isto por minha culpa, o elemento mais próximo de Judas, o predestinado a quem acusar!
Consequências
Nesse sentido sinto-me duplamente traumatizado, não só por não ter utilizado a minha juventude para fornicar e ejacular (quantas vezes não fomos convidados na adolescência a ir às putas e a saber crescer, com solicitações constantes, fosse da parte de jovens conservadores ou revolucionários, que não compreendiam que o problema residia no sedentarismo das suas relações – estas nunca poderão ser sujeitas a regras ou exceções, mas ao acaso e às necessidades) como por posteriormente não ter aderido (e mais uma vez – por isso entrepostos familiares me considerarem imbecil) às campanhas do adesivo mágico e cintilante, que afirmava categoricamente e com o apoio das mulheres em paridade artificial, que o que interessa neste mundo é mandar e fornicar – com o pénis que cada um/uma tem – enquanto o outro não compreender e não estiver a ver”!
(Autor – C&V)