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Espinho

Segunda-feira, 22.08.11

Capela dos Galegos

 

Em recuados tempos, um naufrágio deixou, sobre as águas do nosso mar, dois espanhóis naturais da Galiza, que baldadamente procuravam alcançar o areal, recobrando forças num voto feito a Nossa Senhora, de construir uma capelinha em sua honra, se Ela os ajudasse a vencer as águas, o que tiveram por milagre quando sentiram chão firme debaixo dos pés.

Assim passou a lenda, através de gerações, mas a dar-lhe foros de verdade, tivemos a primeira capela e, nas descendências dos espanhóis que, de seus nomes, dizia-se chamarem-se Eugénio e Márcio Esteves, os apelidos, muito vulgares, de Esteves Galego.

Ainda há muitas famílias de vareiros que o usam, o que parece confirmar a lenda.

Já, a esse tempo, o nosso areal devia ser povoado de pequenos palheiros, embora com reduzida população, pois a Capela, a despeito das suas pequenas proporções, já devia ser destinada a um razoável número de habitantes.

Diz-se que os dois galegos, uma vez alcançada a praia, agarrados a uma prancha auxiliadora, se deram ao cuidado de ver de que madeira ela era feita e enquanto, que um dizia ser de castanho, o outro afirmava, peremptoriamente ser de pinho, e assim, no seu falar galego exclamava: «No! És piño!», e que, desta discussão, nasceu o nome de Espinho.

Nas «Memórias sobre os Forais das Terras Portuguesas», pode ler-se:

«Creio que Espinho deve o seu nome à penedia espiniforme, a qualquer espinhaço de praia: há ali um lugar chamado Espinho da Terra, indicando um Espinho do Mar».

 

Álvaro Pereira

 

Largo

 

Uma das histórias que sempre ouvi contar sobre Espinho e que se manteve na minha imaginação desde a infância, até por revelar toda a força e grandeza do mar e as próprias origens desta futura cidade, do litoral norte português. E da vida dura dos seus primeiros habitantes, agora e como sempre e em todo o lado esquecidos, os pescadores – não chega meter um pouco deles, num museu! Para uma criança como eu, um mistério da vida, que nos convidava a sonhar e a viver, uma aventura do pensamento.

 

Largo da Senhora da Ajuda, actualmente ocupado pelo mar

 

 Feira

 

Uma das recordações que tenho de Espinho, é o da grande feira que se estendia por várias centenas de metros acompanhando toda a Avenida 24, espaço inicialmente previsto para a passagem da linha de comboio, que seria assim deslocada do seu anterior local, para deste modo desobstruir toda a faixa litoral. Aí encontrava-se um pouco de tudo, desde o ouro aos animais domésticos, do vendedor ambulante à tenda do cigano. Sem motivo alguém a destruiu e o progresso fez o seu restante papel. Até me lembro da passagem dos tropas em treino e a pé, com os seus carros de combate e jipes, a caminho da sua base em Silvalde.

 

Feira de Espinho, hoje às portas da morte

 

Piscina

 

Uma das curiosidades da piscina de Espinho é que a sua água é salgada, tirada e tratada directamente do mar. Durante anos sofreu diversas alterações, mas a sua arquitectura geral manteve-se inalterada no seu essencial. Lembro-me das correrias diante do muro em frente ao mar, quando as ondas das marés vivas batiam no muro de protecção e galgavam a distância para a parede da piscina – o objectivo era atravessar a longa extensão exposta à força das águas, sem ser engolida por estas. E também da presença de um artista simpático mas para mim ainda distante, chamado Artur Agostinho, num Verão quente e juvenil, passado ainda sob a protecção do antigo regime.

 

Piscina de Espinho – lazer em água salgada

 

Pescadores

 

Toda a terra tem um momento em que a sua história começa a ser contada.

Os bois puxavam as redes de pesca, no regresso da árdua labuta dos pescadores.

Era ver o povo rodeando a rede, enquanto os bois as puxavam para terra.

Hoje em dia, a vida de pescador já não existe.

Encontra-se por vezes em breves encontros de pescadores e na sua conversa sobre a sua vida passada.

O tractor matou o boi e o povo foi substituído pelo turista.

A sua cultura só não é transmitida nem evolui, porque os seus agentes têm vergonha de quem os criou.

Até a sardinha está seca e prestes a passar a gourmet!

 

Pescadores voltando da pesca à sardinha

 

Câmara

 

Ficava perto do local onde morava. Perto também, a feira que lançara Espinho aos quatro ventos, a maior feira de Portugal, um local de convívio entre o interior e o litoral. Muitos tinham descido de Aveiro e invadido toda a orla costeira fronteira ao seu distrito. E aí tinham lançado as suas raízes, iniciando a destruição dos seus indígenas e da sua cultura de sobrevivência – os pobres e trabalhadores, pescadores. Perto da câmara ficava também a mercearia do senhor Albino e bons restaurantes para comer, à segunda-feira, dia de mercado. Aí registei a minha licença de condutor de velocípede com motor e a minha filha Daniela.

 

Câmara Municipal de Espinho

 

Fonte

 

Fui viver para Espinho nos anos setenta, apesar de já conhecer a terra anteriormente. Confesso que não me lembro de me terem falado na Fonte do Mocho, apesar de este nome não me ser estranho, mas associado talvez a outra zona da localidade. Sou do tempo da construção do pavilhão da A.A.E., mas não tenho ideia da ocupação e evolução deste espaço, no tempo que antecedeu este episódio: talvez uma zona ainda selvagem, entre árvores, arbustos e outra vegetação selvagem, em que os miúdos aventureiros, usufruíam da presença criadora dos adultos.

 

Fonte do Mocho

 

(fotos retiradas da Web – Álvaro Pereira e Prof2000)

 

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 13:55