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O Dia do Fim – 8.ª parte

Terça-feira, 24.09.13

Ficheiros Secretos Pós-a/341

(a/Apocalípticos)


Viagens de longo curso e sem tempo adicional

 

O grupo de estudantes tinha sido avisado para comparecer na sala Oval da nave Nietsnie TR-14 – um sector reservado para os diversos equipamentos electrónicos e restantes periféricos associados que suportavam o terminal de acesso ás bases de dados do Simulador Central, colocando-o em rede com a Máquina Central Estabilizadora, responsável pela sua confirmação (ou não) e arquivo – onde se iria dar inicio ao processo de selecção dos tês candidatos que iriam chefiar cada um dos quatro subgrupos de trabalho a criar posteriormente e que seriam constituídos aleatoriamente pelos restantes candidatos preteridos. Este processo teria como primeira etapa a participação dos doze elementos num Jogo de Estratégia e Intervenção baseado num antigo Jogo de Guerra agora adaptado a este novo tempo e civilização, elaborado cuidadosamente a partir de fontes antiquíssimas enviadas a partir da Terra por elementos especializados aí colocados e que não diferiria muito do cenário da aplicação original, de modo a que as intervenções assumidas por parte estudantes/candidatos não tivessem uma interpretação muito diferenciada e não possível de aplicação. Dirigiram-se para uma das extremidades mais abertas da sala Oval, onde os esperavam os seus respectivos lugares já assinalados através dum código próprio, pessoal e intransmissível, que sempre os acompanharia na sua curta estadia na nave, sob pena de afastamento imediato do projecto caso este se extraviasse: o código era a chave fundamental de acesso por parte dos doze estudantes a todo o projecto e ao seu respectivo enquadramento geral e progressivo no mesmo. Já com cada um dos elementos ligados em rede e a aguardarem as ordens para se dar início ao jogo desta 1.ªeliminatório, a confirmação da abertura das hostilidades foi dada pelo Simulador e então o Jogo começou. O Mestre Llessur como orientador de estágio e primeiro responsável pela implementação do Projecto em curso foi o primeiro a ser notificado dos resultados: agora só faltava passar à segunda e última etapa de selecção, definindo o mais rapidamente possível o vencedor e as suas linhas de acção, para uma intervenção decisiva e com sucesso total em torno do problema que parecia ameaçar a civilização terrestre e o seu natural desenvolvimento.

Essa questão foi decidida pelos líderes dos quatro subgrupos numa 2.ªeliminatória, em que foi bem notória a diferença de atitude e de intervenção dum desses subgrupos, que apesar da utilização de estratégias pouco comuns e nalguns casos de consequências que poderiam ser imprevisíveis, pelo seu detalhe, profundidade e adaptação à maneira primitiva de ser e de ver por parte dos terrestres, o Simulador desde logo referenciou: a taxa de efectividade da simulação escolhida manteve-se sempre e invariavelmente nos 100% de sucesso e somente devido à margem de erro que poderia sempre afectar esta aplicação nas condições particulares de aplicação no terreno, levou ao pedido de confirmação e autorização, com a resposta quase imediata e afirmativa por parte da Máquina Central Estabilizadora.

A missão teria três objectivos fundamentais:

- O primeiro e principal objectivo a alcançar seria o de provocar o afastamento dos intrusos exteriores que se vinham desde há muito tempo imiscuindo indevidamente nos problemas da Terra, oferecendo como contrapartida para as suas intromissões e intervenções completamente desajustadas e oportunistas, tecnologia avançada utilizada erradamente pelos terrestres, desvirtuando assim perigosamente as intenções da sua utilização; nem que para tal tivessem que actuar sobre estes intrusos duma forma mais enérgica e decisiva.

- O segundo objectivo a atingir teria que ser levado a cabo duma forma que não perturbasse ou influenciasse directamente as directivas e opções escolhidas pelos terrestres, assumindo-se neste campo como uma acção levada a cabo apenas como resposta a necessidades vitais que fossem no momento urgentes mas impossíveis de suprir, feitas duma forma não visível e que por outro lado levasse os humanos à sua reconstrução e solidariedade na evolução incluindo todas as espécies;

- O último objectivo relacionava-se com o pretenso objecto que poderia estar em rota de colisão com a Terra. O possível perigo teria sido completamente eliminado de todos os cenários previstos, tendo sido utilizada para a sua resolução a aplicação imediata da directiva geral sobre Salvaguarda Redundante de Simulações, aplicada nestes tipos de simulações, que previa o aparecimento de situações extraordinárias como esta e a adopção nestes casos da única solução aceitável: o da salvaguarda da espécie em causa.

E tal como previsto na Simulação seleccionada e posta em prática, a nave Nietsnie TR-14 operaria ainda a milhões de anos-luz da Terra, sem contacto directo e apenas fazendo passar a Aplicação, a qual ainda estaria protegida por outros programas de protecção e de segurança. Só num caso extremo e impensável – nunca ocorrido e com taxa de efectivação absoluta nula – se teria que recorrer a uma formatação de todo o Sistema – a qual poderia afectar todo o espaço intervencionado – mas tal só poderia acontecer num caso limite e com a autorização expressa do Corpo de Elite de Projecções Integradas. Uma Entidade sem corpo material e sem imagem objectiva, corporizada num conclave de representantes eleitos por sufrágio entre pares e auto denominados Servidores de Universos e que segundo estes teria como profissão de Fé e missão Divina, a simulação e adaptação ao Deus Global de toda a matéria e energia movimentando-se no Todo Infinito.


Atlas do Universo ou Mapa do Céu – sem detalhes do Inferno ou do Purgatório

 

Dia 26 – 15h 00mn

Tinham passado vinte e quatros horas desde o momento em que sentado tranquilamente no café do Oliveira tinha ouvido uma notícia sobre uma erupção violenta e inesperada dum vulcão localizado no continente americano mais precisamente nos EUA, que teria provocado a fuga em pânico de muitas das pessoas residentes nas proximidades, face à violência da explosão e à devastação provocada. No entanto encontrava-me de novo sentado a uma mesa do café, rodeado pelas mesmas pessoas assistindo atentamente ao jogo de futebol que se ia tranquilamente desenrolando num qualquer buraco do país, num ritmo normal dum quotidiano de todos os dias sempre repetitivos e sem fim e como se nada de anormal se tivesse passado à nossa volta: algo estava errado naquele cenário presente onde agora me encontrava, com os meus órgãos dos sentidos a confirmarem a minha posição actual no espaço, mas com as minhas memórias a confluírem desordenadamente como numa avalanche em direcção ao centro temporal do meu cérebro. As recordações que neste instante me invadiam a razão do pensamento, não podiam estar completamente isoladas da realidade que as parecia inequivocamente representar, tão profundos eram os sentimentos que provocavam e tão fortes eram as sensações induzidas por experiências de percepção anteriormente vividas. No meio desta loucura momentânea que me apanhara desprevenido, parecia estar a viver na confluência de dois mundos: enquanto saía de um mundo e caía no outro, imediatamente o outro me perseguia obrigando-me a sair de novo e a voltar a cair no anterior. Sem fim à vista neste esquema rotativo e circular de movimento, deixei-me levar pela persistência da alternância e foi nesse preciso momento que compreendi que saltava entre mundos paralelos.

 

Acordei um pouco sobressaltado já passava das tês horas da tarde. Só não sabia de que dia.


Se são as Equações definem o Mundo então são elas que são Infinitas

 

O Sonho fazia parte integrante do nosso corpo e da nossa vida. Logo, se nós existíamos e éramos reais os sonhos também o seriam. Sendo real o sonho teria a sua imagem, como reflexo dum objecto que representaria a sua realidade. Por outro lado todos sabíamos que em termos relativos – já que ainda não compreendemos o Absoluto – um determinado objecto ou está em movimento (vivo) ou revela a sua ausência (morto): se o objecto estiver Vivo fica desde logo provado que os Sonhos são retratos fiéis (apesar de não crentes) da realidade; mas se por outro lado o objecto estiver Morto, isso não significa que os Sonhos não sejam um reflexo da realidade, já que o que sucedeu foi apenas uma opção errada de vida – estilo zombie – baseada na segurança e na recusa de liberdade. Ora e como todos nós deveríamos saber a realidade que reflecte a vida admite uma Infinidade de opções saudáveis e realizáveis – aqui ou no mundo dos sonhos – o que não quer dizer que alguns de nós não quisessem ter uma vida de Vampiro: sem imagem reflectida no espelho, sem uma vida baseada numa qualquer realidade que seja, mas acreditando como um acidentado por lobotomia, que os sonhos são um desperdício de tempo (e dinheiro), não representando o grupo nem a realidade do mercado.

 

A Realidade que anteriormente tinha deixado para trás num misto de sonho passado e presente, tinha no entanto prosseguido e chegado às suas conclusões finais: um defeito de tradução na linguagem máquina utilizada no processo em aplicação teria sido provocado por acção de agentes externos, o que teria originado como consequência lógica o aparecimento dum erro grave enquanto decorria a mesma aplicação, alterando completamente as características técnicas internas do programa em curso e provocando um colapso no sistema. Ao colapsar o sistema por insuficiências na aplicação, a mesma libertou no entanto um outro subprograma escondido numa rotina e contendo um vírus não conhecido ou detectado anteriormente, que levou à completa destruição do holograma material ainda não consolidado e que estaria a ser colocado em torno da Terra, obliterando-a e deixando apenas como vestígios da sua anterior existência a sua replicação por outros mundos paralelos ou sequenciais: é que até os Deuses falham porque como nós apenas existem.

 

Assentava tudo num grande plano e nós éramos apenas um mero instrumento, ansiando no futuro transformarmo-nos numa ferramenta e assim sonharmos mais uma vez (com a imortalidade), tornando-nos Deuses mas de papel e que ao arder mas sem se ver, se dissiparam sem rasto, desaparecendo nos intervalos alienados desse mundo excluído de vida.

 

Fim da 8.ª parte de 8

 

(imagens – retiradas da Web)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 11:43