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Trauma de Infância − A Terra do Nunca

Segunda-feira, 23.08.21

Perdido num mundo de adultos, localizado num território pretensamente desenvolvido e a caminho dos 10 milhões de Doutores & Engenheiros, situado pelas suas coordenadas temporais num momento em que a generalidade dos meus iguais (esmagadoramente de nível superior, tendo estes a “escola toda) se deixaram apanhar voluntaria e conscientemente pelas qualidades da SILLY SEASON (se necessário culpando o calor e o álcool, pelo ultrapassar dos limites auto impostos, durante o resto do ano) − certamente que cometendo algum tipo de pecado e disso culpando (preparado o alibi com antecipação) o suspeito do costume, “a sogra ou o diabo” – suspirando ainda nos delírios da minha esquizofrenia hereditária (bem patente no acreditar do desejo transformado sintoma de que “dentro de nós existe uma criação”) agravado ainda pelo meu não reconhecimento do que (e nunca de quem) verdadeiramente manda neste Mundo (como a igreja sempre o demonstrou, para quem queria ver, mantendo sempre a sua própria caixa de esmola) – o dinheiro, sendo o diploma e o título apenas mais uma estratégia de manutenção de poder, obtendo-se até por equivalência (ou em caves/subcaves, ao contrário do que se pensaria por altitude negativa, de nível superior) –

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Depois de percorrer com o meu dedo notícias que eu pensava impossível de se compreender (tantos os erros e incoerências que até um jovem minimamente instruído e ainda sem medo, descobriria) mas que ninguém se questiona imitando-se à leitura das “parangonas” − de facto o que se necessita de ter para se poder ser doutor e atirar à cara daquele que podendo saber mais não o sendo se atreve sequer a falar (logo sendo um insulto, um desrespeito pela hierarquia, como se o leigo/tendo lido mil livros não certificados, alguma vez pudesse saber mais que o erudito/tendo lido uns vinte manuais/colagens certificadas para o efeito) – deixando para trás o que para eles é mais um sintoma exemplar de “individuo traumatizado” não pelo meio onde vive mas com origem interior, oriundo de genes e cromossomas com defeito, suscitando esta doença e este tipo de atitudes e comportamentos tão típica de minorias-maioritárias − olhando para, esta triste história do homem, a raça agora dominante e descendente doutros monstros talvez e dadas as circunstâncias, melhores que nós, podendo-se mencionar entre estes seres menores os pretos, as mulheres, as crianças, os velhos, todos aqueles que não se podem defender ou que não gostam de ser escravizados mesmo dando-lhe títulos e medalhas,

Indo repentinamente ou talvez não em direção a uma dúvida vinda já da minha/nossa infância, passado já mais de meio século ainda sem resposta (dada a avalanche da prostituição psíquica e física que obrigatoriamente acompanha todo o adulto, até à reforma ou senilidade (neste caso sinónimos), morta aos poucos a criança (no contrato estabelecido com o outro lado, garantindo-nos uma vida de animal de zoo, limitado mas em segurança) existindo dentro de nós, e nem sequer nos questionando como pode (sendo isso o que Eles afirmam) o desenvolvimento do Homem estar atrás do desenvolvimento cientifico tecnológico que o mesmo aparentemente criou (mas será mesmo que são todos ou apenas uma minoria, sendo os outros ou seja nós o rebanho, bastando “meter-nos um dedo no cu, para nos pormos logo a rabiar, não de dor como dizem mas de prazer. Como aqui se vê (o trauma) mas tentando (superá-lo), tantos os pontapés que levamos, tanto o que aprendemos, mas não podemos comunicar (daí o valor imenso que dou a todo o tipo de emigrantes, nómadas, velhos ou novos, os nossos ascendentes e descendentes os nossos verdadeiros “Navegadores e Descobridores”, um dia no mar outro dia em terra, apenas nos custando a saudade dos do nosso círculo), antes de entrar e de tanto falar chegando vias travessas (ou talvez ainda não) à minha questão existencial (mudança de “armário”) − e que me transformou no péssimo exemplo que sou hoje (material, contabilístico e resumida numa simples pergunta, “quanto te pagam?) – “Onde fica a Terra do Nunca”? Tendo já gasto e ainda nada tendo dito sobre o assunto (que deveria estar aqui em análise, termo tão bonito usado pelos especialistas), muita da gasolina − outro sintoma da doença e do doente já em estado avançado (como eles dizem e eu acrescento de decomposição, podendo ainda ser adubo para algo ou alguém) que já não vai a lado nenhum: tal como em jovem alguns dos meus professores mais interessados diziam (vendo provavelmente que dificilmente chegaria a bom porto) “não gastes tanto tempo a pensar e responde”. Na realidade no meu 1ª exame de código para a carta de condução tendo chumbado, pois tendo acabado antes do tempo o teste teórico, pondo-me a pensar “melhor” emendando uma resposta certa e colocando uma errada e por esse motivo, levando com um chumbo (ao contrário das mulheres aí começando a revelar o seu potencial escondido e em geral passando logo à primeira algumas com 100%).

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Já me esquecendo outra vez do tema que aqui me trouxe, o tema da minha dúvida existencial (pelos vistos sendo um leigo, aparecendo estas em catadupa, certamente por prolema mental), sabendo hoje graças ao coronavírus e dado ter sentido efeitos colaterais da vacina (que ainda perduram) das reações vagais (e seus sintomas) ligando através de um nervo (por favor sou doente, pelo menos da cabeça, não se riam) a cabeça ao estomago. Então vejamos o que sobra para poder recuar no tempo e provavelmente ao armário que ainda ocupo, talvez por nunca ter querido encontrar a maçaneta.

E para prosseguir (doem-me já as costas) tendo de novo de ir visitar os Média e sendo aí mais uma vez surpreendido por um questionário prévio de entrada, certamente mais um exame − um QUIZ para ser mais culto e rigoroso (a moda, mesmo na escrita, também entra nisto) − dando-me um possível cartão de acesso a um mundo pelos vistos igualmente condicionado (naturalmente e sendo nós quase 8 biliões, só para alguns): já imaginaram se em vez de trabalharem esses 8 biliões se pusessem a sonhar e a imaginar? Pelo menos e para sermos práticos os EUA poderiam a recomeçar a recuperar todas as suas infraestruturas, tornar-se de longe no maior e melhor país e território do Mundo bastando para tal sonhar que em vez de gastarem triliões com Guerras (como a do Afeganistão) com biliões fariam a festa podendo-se dar ao luxo de convidar todo o Mundo (até chineses, russos e norte-coreanos). Mas voltemos ao maldito/bendito QUIZ (para uns, não entendendo ser o mesmo objeto visionado, tendo interpretações diferentes, conforme o ponto de observação). Mas como sempre não me sujeitando a mais um teste de acesso tipo “Golden Visa” e certamente sendo-me mais uma vez vedada a entrada agora a um mundo pensando eu não ser o deles − mas pelos vistos, por prevenção e porque “a ocasião faz o ladrão” (existindo ou não, o deles) fazendo – vendo-me ultrapassado repentinamente, com milhares à minha frente, alguns já com o certificado eletrónico adquirido e até tatuado nos homens (já que estamos na Silly Season) na ”ponta-da-respetiva-gaita”.

Mas sendo democrata e estando-me a “cagar para muitos, que não vocês” (sendo eu igual e por ser obvio, um dos muitos e muitos vocês), deixando a possibilidade de participar no QUIZ indo para tal ao servidor Sapo. Passando-se no interrogatório talvez sendo-se selecionado para algo, talvez como formador: e assim se eliminando mais uma vez do cenário (o palco já lho retiraram os adultos-pedófilos debaixo dos pés) as crianças, esses seres cruéis nunca tendo aprendido com os pais nem com as circunstâncias do meio envolvente, mas crescendo com o mal e com o diabo já bem incrustado no corpo. Nem para tal se necessitando de mais provas da “crueldade atroz das crianças” mesmo entre elas (naturalmente o seu primeiro e mais próximo alvo de experiências, como o comprovam com os adultos ao observá-los), bastando analisar nesta ainda curtíssima era Covid-19, as crianças e os adultos, os seus comportamentos e atitudes, as suas opiniões sore cada um dos lados, tantos meses já passados e fechados em casa − com os pais a de uma forma ou de outra, incomodados na sua vidinha e no seu rame-rame monótono, diário mas garantido, a já não os poderem ver à sua frente (esses seres sorrateiros, lançando-nos olhares enganosos de vítimas, potencialmente saindo a nós e no fundo culpando-nos/não compreendendo por isso) tal como muitos homens já o tinham feito anteriormente com as mulheres (e já aí e por tabela as crianças). Logo no dia em que fiquei a saber que para se ser apoiante do movimento feminista (saído da boca de uma mulher, achando-se feminista), tendo de se ser do sexo feminino (será que se o for um dia apoiante, terei que mudar de sexo?).

(imagens: Sapo e Gato Preto)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 19:22

Sonhos e Realidade

Sexta-feira, 30.07.21

[Antes de entrarem no Mundo Real, ensaiando no Mundo dos Sonhos.]

Eyes wide shut:

How newborn mammals dream the world they're entering

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Mother mouse with young

 

Date: July 22, 2021 Source: Yale University Summary:

As a newborn mammal opens its eyes for the first time, it can already make visual sense of the world around it. But how does this happen before they have experienced sight?

 

A new Yale study suggests that, in a sense, mammals dream about the world they are about to experience before they are even born.

Writing in the July 23 issue of Science, a team led by Michael Crair, the William Ziegler III Professor of Neuroscience and professor of ophthalmology and visual science, describes waves of activity that emanate from the neonatal retina in mice before their eyes ever open.

This activity disappears soon after birth and is replaced by a more mature network of neural transmissions of visual stimuli to the brain, where information is further encoded and stored.

(continua)

[artigo integral: https://www.sciencedaily.com/releases/2021/07/210722142037.htm]

(texto/legenda e imagem: Yale University e

tilialucida/stock.adobe.com em sciencedaily.com)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 00:20

E Lá continua a Paranóia da Perfeição

Quinta-feira, 12.03.15

“Talvez um dia encontremos o lugar onde os nossos sonhos e a realidade colidam”
(Deviant Art)

 

perfect_dreams_or_imperfect_reality__by_jetblackhe

 

Ultimamente sujeitos a mais horas de trabalho extraordinário, todos os FAZEDORES/REDUTORES de cabeças usufruindo das suas capacidades intrínsecas e privilegiadas em acederem de uma forma brilhante às notícias da LUSA (oferecendo-nos graciosa e desinteressadamente a sua respectiva INTERPRETAÇÃO/TRADUÇÃO doutrinária), descobriram mais qualquer coisinha que associada à grande discussão em que o país mergulhou recentemente, nos poderá esclarecer melhor do que na realidade é (ou aparenta ser) PERFEITO ou IMPERFEITO.

 

Apesar do OUTRO (candidato) já ter arquivado o assunto (talvez por também acreditar na dicotomia Perfeito/Imperfeito e temer ser alienado por/para um dos lados – já agora qual?) e ao contrário do que muitos também pretendiam e até já visualizavam, o tema feliz e/ou infelizmente ainda não morreu: a culpa é da LUSA e também dos CIENTISTAS (ainda por cima com um estudo oriundo de uma universidade ALEMÃ).

 

“Há um sítio em Portugal onde os raios UV são quase perfeitos” – tal e qual!
“A luz solar em Santiago do Cacém tem um nível quase perfeito de raios ultravioleta (UV), que estimulam a produção de vitamina D pelo corpo humano, o que ajuda a manter o organismo equilibrado e a combater diversas doenças, revelaram esta quarta-feira investigadores de uma universidade alemã” – o que poderá provocar uma grande hemorragia na capital, com uma migração humana maciça em direcção às zonas de UV Perfeitos.

 

O que poderá vir a ter consequências MUITO GRAVES para o nosso país, na sequência do STRIPTEASE público do nosso PRIMEIRO-MINISTRO (a quanto o poder obriga!) – e que exibiu as suas partes, deixando o resto em banho-maria (já que ao contrário do que afirmam, os mirones nunca se cansam). Podendo até nada se passar pois o Outro (candidato) vem a caminho. E que certamente não quererá repetir este acontecimento embaraçoso.

 

(imagem – deviantart.com)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 13:49

Brian Eno (e aqueles malditos palestinianos)

Quarta-feira, 06.08.14

Antes ainda tínhamos sonhos, agora nem tempo temos para dormir!

 

Brian Eno (à direita) com Robert Fripp (à esquerda) – e David Bowie ao centro

 

Em primeiro lugar escutem sem preconceitos: se nem sequer conhecem o homem, porquê atacá-lo logo, só por que pensam que ele é parcial.

 

E vocês seus animais acéfalos, destituídos de memória e de cultura?

 

Em segundo lugar só me lembro dos ultra-revolucionários analfabetos e futuros protagonistas do regime, que antes nos pediam que nos ultrapassássemos e que agora nos tratam apenas e somente como simples funcionários (de percurso e que ao contrário do que dizem ainda são os únicos que funcionam).

 

É que os privados foram os primeiros a ser abatidos!

 

É verdade: os palestinianos como os judeus são apenas mais uma raça (tribo) de árabes.

 

Today I saw a weeping Palestinian man holding a plastic bag of meat: it was his son.

(stopwar.org.uk/sott.net)

 

Brian Eno (à esquerda) com o líder dos Roxy Music: Brian Ferry (ao meio)

 

Dear All of You:


I sense I'm breaking an unspoken rule with this letter, but I can't keep quiet any more.

 
Today I saw a picture of a weeping Palestinian man holding a plastic carrier bag of meat. It was his son. He'd been shredded (the hospital's word) by an Israeli missile attack - apparently using their fab new weapon, flechette bombs. You probably know what those are - hundreds of small steel darts packed around explosive which tear the flesh off humans. The boy was Mohammed Khalaf al-Nawasra. He was 4 years old.

 
I suddenly found myself thinking that it could have been one of my kids in that bag, and that thought upset me more than anything has for a long time.

 
Then I read that the UN had said that Israel might be guilty of war crimes in Gaza, and they wanted to launch a commission into that. America won't sign up to it.

 
What is going on in America?

 

E no Mundo?

 

(texto/parcial/inglês: sott.net – imagens: Web)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 23:40

Salto – Body Jumping (2)

Quinta-feira, 10.04.14

Ficheiros Secretos – Albufeira XXI

(Universalidade Alienígena e Rituais Terrestres – O Direito da Criança à Aventura)

 

De acordo com um estudo secreto levado a cabo por uma organização de pais e educadores não governamentais e posteriormente divulgado por uma Associação de Pais não alinhada e em ruptura total com os poderes oficiais instituídos, um em cada três estudantes inseridos no sistema educativo acredita que o seu professor é um alienígena ou então está controlado por eles”.

 

Os vizinhos

 

Como já era hábito por aqueles lados desde há alguns anos atrás, a família de agricultores que vivia perto deles e que conheciam desde novos, aproveitava todos os sábados de todos os fim-de-semana para dar um salto a casa deles e aí comerem em conjunto uns deliciosos petiscos, enquanto iam falando das novidades da terra e recordando alguns factos passados. O casal vinha sempre acompanhado por toda a família constituída no total por nem menos nem mais do que 14 elementos: o casal, os seus seis filhos, os dois avôs viúvos e ainda quatro amigos que se lhes tinham juntado neste convívio alguns anos mais tarde. De tal forma que vinham sempre na carrinha de caixa aberta, confraternizando desde logo alegremente e como se estivessem numa excursão através do campo e da bicharada. Nesse dia e como sempre chegaram à hora certa. Mas bem lá cima no espaço sideral, confortavelmente instalados nos seus sofás relaxadores e indutores das fortes sensações vindas do exterior – para sua melhor compreensão e catalogação detalhada, de modo a possibilitar um possível e melhorado usufruto educacional futuro – e bebendo a última bebida alucinógenica lançada no mercado antes da sua partida, os dois seres estranhos não poderiam ignorar a presença de novos figurantes agora colocados inadvertidamente em cena sem os integrar também no guião, aumentando assim as suas opções de desenvolvimento activas e criando uma situação ainda mais confusa e sem conclusão determinada, que adicionada a todas as regras e leis absurdas e castradoras pelos quais os terrestres se regiam, iria tornar tudo muito mais incerto e sobretudo divertido. E enquanto no interior da casa a confusão era ainda tremenda não só pela transformação recente sofrida pelos seus ocupantes como pelo receio e pânico que sentiam ao verem os seus amigos a chegar (o que fariam, o que diriam, como reagiriam?), no exterior o que sucedeu não só apanhou os vizinhos de surpresa como deixou mais uma vez perplexos e paralisados todos os que se encontravam no interior: um pequeno artefacto aparecera na retaguarda dos seus vizinhos sem que estes se apercebessem da sua aproximação e presença, parecendo aparentemente rodeado de três pontos minúsculos que se deslocavam em conjunto formando um trilátero perfeito. O que aconteceu foi instantâneo e se o mesmo ou algo de semelhante não tivesse acontecido com eles provavelmente estariam a esta hora todos a rir-se: num segundo o grupo constituído pelos seus catorze vizinhos foi como que cercado e engolido por uma nuvem densa e brilhante que iluminou momentaneamente todo o campo em seu redor deixando-os no interior da casa como que cegos e sem compreenderem o que se estava realmente a passar. E ao abrirem os olhos e para espanto de todos no interior da casa, o cenário que agora lhes era apresentado e proposto como sendo real era praticamente idêntico ao que poderiam estar a assistir numa projecção efectuada numa sala de cinema, como se estivessem a ver um filme de banda desenhada a três ou mais dimensões, contando com a participação dalguns dos seus mais conhecidos e famosos cartoons. Talvez fosse fantástico talvez fosse terrível! Lá fora os vizinhos agora transformados em cartoons olhavam uns para os outros e não acreditavam no que viam: segundo os critérios limites de credibilidade e socialização que tinham eficazmente digerido ao longo dos seus períodos educativos e formativos de aprendizagem e integração social, tal era impossível (e inaceitável) de estar a acontecer – deviam ter sido inadvertidamente drogados ou então sujeitos a uma pura ilusão projectada por impostores que apenas pretendiam destruir o seu mundo e sociedade.

 

O interlocutor privilegiado

 

No entanto todo o Universo está interligado entre si – nem que seja por mera proximidade ou contacto – e nenhuma acção por mais pequena e pretensamente não influente que seja é independente do resto do conjunto ao qual pertence. Não existindo propriamente uma cadeia de comando hierarquicamente instituída e aplicada ao sistema, que este naturalmente rejeitaria como vazia e sem sentido, dada a sua infinidade replicada por diversos outros sistemas estes também sem origem nem destino, apenas suscitando como operadores da vida e com o seu movimento casual e necessário – para a sua transformação, evolução e expansão – a reorganização do seu sentido incorporando-a na matéria através da alteração do seu nível energético: se por qualquer motivo um electrão saltasse da sua órbita e procura-se um outro nível de existência dentro do sistema, isso verificar-se-ia por alteração do seu estado de neutralidade conjuntural e não apenas por “vontade” sua. Integrado num sistema congregando elementos que associados se completavam formando um corpo vivo, esse electrão dependeria no seu movimento do conjunto de matéria a que estivesse associado e às trocas de energia que com ele efectuasse. Poderia assim procurar um outro mundo ou conjunto exterior mas nunca independentemente do primeiro nem do subsequente, mas pelo contrário levando e incorporando consigo sempre o seu sinal genético particular e compartilhando-o com o conjunto adjacente, influenciando e sendo influenciado e assim se sujeitando não a uma limitação agora exercida por dois conjuntos mas na sua individualidade transformando-o num novo sistema dual, modificando ambos por comunicação e manutenção do equilíbrio geral. Desse modo tudo era potencialmente susceptível de transformação mas num sentido evolutivo do nosso estado de vida e não de subordinação à matéria: toda a acção era filosoficamente susceptível de reacção, mas num Universo a vida não era susceptível era o motor do Universo. Logo seria natural que os dois seres estranhos não tivessem as mãos completamente livres – também pertenciam a um todo. Não foi pois de espantar que no meio da sua brincadeira infantil, desregrada e inconsciente alguém viesse ter com eles e lhes pedisse ou sugerisse uma explicação. E assim sucedeu. Ainda os terrestres se olhavam entre si emaranhados e sem reacção visível na sua nova e nunca imaginada transformação – talvez só concretizada em instantes ilusórios, reconstruídos como realidades nos sonhos de criança – e já os dois seres estranhos saltavam dos seus sofás com algum nervosismo e inquietude, face à chegada inesperada mas no fundo talvez previsível do novo interlocutor, agora ali postado diante deles como um mero observador, mas simultaneamente exigindo gestualmente silêncio e prudência, ao mesmo tempo que com a sua postura e atitude impositiva claramente revelava para o que ali estava. Dentro do caos organizativo que rodeava muitas das acções levadas a cabo pelos seres vivos, convinha sempre relembrar-lhes que se nada nunca se criava ou perdia, as transformações teriam que ter sempre em conta o máximo respeito por todo o processo evolutivo e por todos os seus componentes materiais e energéticos, em conjunto devendo ser sempre compreendidos e aceites – se dele quisermos usufruir de algo nunca totalmente parametrizado – como um Universo Vivo. Como um tutor chegado para pôr de novo tudo em ordem o observador estava ali para lhes puxar as orelhas e chamá-los à responsabilidade: uma intrusão indevida poderia provocar ondas de choque, acabando até por poder afectar os seus inconscientes operadores pelos danos ao ambiente pelos próprios provocados. Teriam que acabar de imediato e da melhor maneira possível com a sua brincadeira: o aviso estava dado e retirando-se, o observador deixava nas mãos destes dois seres a correcção do cenário por eles criado e ao mesmo tempo do seu próprio destino. Nem um palhaço faria melhor. E já agora que o problema criado teria que ter solução porque não agitar tudo um pouco mais e tornar a resolução deste um pouco mais complicado? Talvez servisse de lição e acelera-se todo o processo de aprendizagem: e então um clarão sobrepôs-se à iluminação natural atingindo a localidade mais próxima.

 

Seres imaginários criados no interior da realidade

 

Enquanto tudo isto se desenrolava lá em cima, no terreno a situação mantinha-se num impasse completo: os vizinhos tinham-se deixado ficar no mesmo local diante da casa, como se o tempo para eles tivesse deixado de existir. Quanto aos elementos que ainda se encontravam no interior da sua habitação, se a sua situação já era confusa antes da ocorrência deste novo episódio – a vertigem provocada pelo salto ainda era tremenda e compreensivelmente de muito difícil aceitação – não ajudou mesmo nada a desanuviar um pouco que fosse este denso nevoeiro cognitivo, o que viram de novo acontecer diante dos seus olhos emprestados: se a situação deles já era profundamente anormal e de consequências imprevisíveis – as causas eram para eles incompreensíveis – a quem é que poderiam eles agora recorrer em busca de auxílio imediato se verificavam que mesmo ali o fenómeno se repetia num processo em tudo idêntico mas num espaço-tempo diferenciado? É que analisando muito racionalmente todos os factos e vendo o que os rodeava no exterior da habitação, a normalidade nas áreas envolventes também poderia ser esta. O mais estranho ainda fora o facto de todos aqueles que se encontravam no exterior se terem transformado em seres imaginários da banda desenhada, com muitos deles representando animais familiares e com um único indivíduo à vista: tudo seria mais difícil. Mesmo assim resolveram abrir a porta e sair e foi aí que viram as pequenas luzes atravessando o céu, parecendo dirigir-se rapidamente na sua direcção. O grupo formado pelos vizinhos virou-se então subitamente para oeste respondendo como que por instinto a um rumor desconhecido que crescia vindo daqueles lados, podendo todos a partir da posição onde se encontravam observar a aproximação dum largo número de indivíduos provavelmente vindos da vila mais próxima. Alguém os comandava na sua caminhada e à medida que se iam aproximando mais eles confirmavam o que já tinham imaginado: como um grupo desordenado e desenquadrado de diversos tipos de seres imaginários mas já anteriormente concretizados na nossa mente (a imagem faz parte do objecto) e como tal reais, estes elementos nunca teriam uma contribuição directa para a resolução do problema com que todos se debatiam, aumentando com a sua presença a dificuldade de encontrar uma rápida e eficaz solução pelo forte impacto do seu volume. Reuniram-se todos num enorme grupo muito ruidoso mas sem objectivo definido. Olharam para o céu e viram as luzes agora muito próximas a desacelerar, acabando poucos segundos depois por parar até ficarem suspensas sobre eles. Juntaram-se e formaram um único ponto. Talvez tivessem sofrido um erro colectivo de paralaxe e o objecto tivesse sido sempre só um, distorcido como no deserto por deslocações de massa de ar entre diferentes camadas da atmosfera e provocando alucinações e originando miragens. À superfície e vindo do fundo do terreno vizinho surgiu então um artefacto por eles nunca visto e completamente desconhecido, do interior do qual surgiu uma plataforma brilhante nos seus vértices e apresentando a forma dum trilátero. Todos olhavam para o ponto luminoso que pairava cintilando sobre eles, enquanto calmamente pareciam aguardar que algo de extraordinário se passasse – que alguém surgisse da luz e com toda a sua sabedoria e poder entrevisse sobre os seus crentes, os absolvesse e os salvasse deste inferno, repondo de novo a sua modesta e pura vida anterior:

- “Por volta do meio-dia, depois de rezarem o terço, as crianças teriam visto uma luz brilhante; julgando ser um relâmpago, decidiram ir-se embora, mas, logo depois, outro clarão teria iluminado o espaço. Nessa altura, teriam visto, em cima de uma pequena azinheira (onde agora se encontra a Capelinha das Aparições), uma "Senhora mais brilhante que o sol".

- “O sol, assemelhando-se a um disco de prata fosca, podia fitar-se sem dificuldade e girava sobre si mesmo como uma roda de fogo, parecendo precipitar-se na terra”. (Wikipedia)

 

Bruxas, Diabos e Companhia

 

Naquele fim-de-semana festejava-se na vila O Dia das Bruxas e do Diabo, uma tradição ainda muito recente na memória cultural desta terra algarvia mas apoiada sem reticências desde a sua primeira realização pelo padre da freguesia, apesar das fortes características pagãs do evento e de algumas criticas veladas das entidades oficiais religiosas e até políticas: mas era o povo que exigia a concretização anual deste bizarro acontecimento, aproveitando a data para a realização dum convívio sem limites e aberto incondicionalmente a todas as gerações aí nascidas ou que a tinham escolhido para viver (morando na própria terra ou obrigados a emigrar), para aí porem em dia as suas vidas e as dos outros e em complemento e como prova de amizade e solidariedade geral, se ajudarem uns aos outros e fortalecerem assim a sua identidade e os seus laços sem preço – por inesgotáveis e impossíveis de troca – com a maravilhosa e profunda tradição local. E o auge era atingido com o tradicional e imperdível Dia dos Saltos, onde a lenda era mais uma vez transformada em realidade e a troca de corpos era o seu mote: dizia-se que há alguns anos atrás uns seres estranhos tinham chegado às vizinhanças da vila e transformado todos os seus habitantes num outro que não ele, colocando a terra em polvorosa e fazendo toda aquela massa popular dirigir-se num grande e denso grupo à procura dos seus causadores. Como o povo dizia “os estranhos tinham-se assustado com os seus gritos e força exterior e face a este povo que não se calava, tinham dado o passo necessário e obrigatório em frente, retomando a normalidade e recolocando os corpos nas suas referências originais”. Ainda hoje a tenda da Bruxa Ermelinda era a mais solicitada pelas crianças, dada a capacidade da mesma em cativar os jovens com as suas histórias de sonhar e de encantar, em que uma das situações recorrentes do seu guião era a da introdução do troco de corpos entre pessoas e até de animais, construindo cenários de mundos puros e infantis onde tudo era possível de visualizar e acontecer. Como a prova final deste Festival onde uma corrida de sacos era o símbolo desse salto físico mas também e sobretudo mental: uma contribuição segura e eficaz para a abertura da nossa mente a todas as possibilidades propostas pelo mundo, mesmo tratando-se daquelas consideradas até aí impossíveis (os melhores casos para resolver, não só pela fome como pelo apetite).

 

Com os mais velhos a lembrarem-se de muitas situações ocorridas com eles ou então com outros seus vizinhos e conhecidos da terra – como eram belas as histórias então contadas pelos avós – e que ao relatarem entusiasmados e duma forma pedagógica e cativante estes fragmentos fantásticos de muitas das nossas vidas (para o usufruto, entretenimento e aprendizagem de toda esta comunidade unida e colectiva) faziam a delícia de todas as crianças aí presentes dos 7 aos 77. Como o eram as história para crianças contadas na barraquinha da catequista – com o nome curioso de Porquinhos Que eram Três – aqui e agora transformada numa Bruxa Má querida e especial, que no interior iluminado da sua tenda central e com um único candeeiro de petróleo como ponto luminoso, ia desfiando sem fim aventuras contadas e recontadas entre sucessivas gerações, terminando sempre as mesmas com a sua frase emblemática e consequência da sua função social e religiosa, “A conta que Deus fez” enquanto se benzia em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E com todas as crianças aí presentes – agarradas como um viciado a todo este enredo e cenário criado em torno dos seus mais belos e profundos Sonhos e dos seus tempos ainda disponíveis para a Imaginação – a acompanharem-na talvez inconscientemente mas como verdadeiros fieis e seguidores no seu caminho previamente idealizado, não fosse perderem-se e o Diabo tecê-las. Nunca esquecendo as tradicionais e concorridas barracas de comida muito bem guarnecidas de febras, sardinhas assadas, caldo verde e vinho tinto, os diversos carrosséis e carrinhos de choque que sempre acompanhavam os mais novos nestas festas populares, um lugar especial e este ano inovador para um pequeno bungee jumping e ainda como complemento e de forma a melhor decorar de mistério e suspense a paisagem aqui posta à disposição de todos, o ponto talvez mais relevante e estranho do evento – um grande atrelado que fora ali instalado antes do início da festa e que só abriria as suas portas na tarde do último dia. Era grande, muito colorido, com algumas antenas na sua parte superior, sem janelas visíveis e de noite emanando à sua volta uma luminosidade forte mas estranha, parecendo não ter uma origem específica mas sendo no entanto envolvente e cativante, como se estivesse a acompanhar e a proteger as pessoas ali presentes. Lateralmente um símbolo em forma de triângulo decorava o atrelado, apresentando no seu centro um ser estranho que parecia olhá-los e fixá-los – parecia mesmo os olhos da Mona Lisa – como se nos quisesse transmitir algo: mas só mesmo no fim saberiam o que era. Tinha sido ali colocado este ano – e sem informações adicionais prestadas pela comissão organizadora do festival – a pedido da entidade anónima que desde o início o patrocinara e financiara. Entretanto as bruxas continuavam por lá, os Diabos faziam o seu papel e a restante companhia gozava ao máximo deste momento: a vertigem lúdica era tal que até alguns indivíduos já viam extraterrestres a saírem do atrelado, que por acaso não dispunha nem de portas nem de janelas.

 

Presentes na sala de comando e de análise como simples e modestos operadores

 

Num ponto perdido do espaço e no entanto situado num local tão próximo da Terra – a nave alienígena circulava livremente numa órbita bem chegada ao planeta e à vista desarmada dos ocupantes da ISS – os dois estranhos seres extraterrestres esperavam ansiosos e um pouco preocupados pela chegada dos responsáveis pelo acompanhamento do seu processo: estavam à espera não só do Instrutor como também contavam com a presença obrigatória do Avaliador. Conjuntamente com um terceiro elemento representativo do seu grupo biológico, o qual iria analisar todos os factos e medidas tomadas no decorrer de todo o processo de investigação e de resolução (e não de punição moral e substitutiva, sem consequências úteis e correlacionadas com a ocorrência) de modo a expressar aos elementos da sua espécie aqui postos em causam, a independência da mesma e a pedagogia colectiva e partilhada que tal procedimento implicava. Jamais seria um julgamento de um pelo outro mas o aproveitamento dos responsáveis pelo acontecimento em causa para conjuntamente com os estranhos seres e aceitando as suas novas participações, sugestões e até mesmo algumas concretizações voluntárias e assumidas (a que não tinham sido obrigados ou mesmo dado conhecimento prévio) resolverem o cenário imprevisto com que se tinham deparado nessa altura, transformando-o de novo e reintroduzindo-o no seu normal ciclo evolutivo e desse modo tão simples e eficaz, equilibrando-o na globalidade do conjunto onde sempre tinham estado (como tudo e como todos) inseridos.

 

Na sala de comando e de análise o procedimento adoptado era o habitual para casos isolados e de nível de intrusão mínima como este. Feita a constatação de que o evento passado não tinha acarretado qualquer tipo de consequências negativas que pudessem afectar a normal evolução do sistema, externa e artificialmente afectado, o assunto fora definitivamente encerrado. E apesar de tudo a estratégia escolhida pelos dois seres extraterrestres para repararem o que de mal poderiam ter feito, tinha sido positiva, eficiente e até mesmo divertida: desde o estabelecimento do Dia das Bruxas e do Diabo até à ideia do atrelado – uma pequena prenda deixada por eles em nome de todos os desconhecidos reais, imaginários ou nem isso, como prova e confirmação que para além de tudo o que vemos, pensamos ou imaginamos, outros mundos nos esperam aguardando apenas a nossa chegada, para assim se completarem e explodirem de novo (em chamas), replicando-se por atracção, repulsão e simples contacto. É que o Universo só existe enquanto a Vida existir e o municiar com movimento, energia e matéria: o caldo vem do caos organizado em torno da nossa Alma e com vista para a Eternidade.

 

A Projecção parou e esta História acabou. A Ilusão seguinte seria melhorada.

 

Fim da 2.ª parte de 2

 

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 20:59

Pulsações (2/3)

Sexta-feira, 07.02.14

Ficheiros Secretos – Albufeira XXI

(Mundo Sequencial – Transmissão Indiferenciada por Pulsação e Contacto)

 

“Acordei às oito no cumprimento do dever: duas horas depois abdiquei definitivamente dos meus direitos”. Simplesmente por Intervenção Exterior: Divina, Alienígena ou Humana.

 

Duas horas depois abdiquei finalmente dos meus direitos

 

 

Duas horas depois o meu despertador tocou o alarme: eram agora seis horas da manhã. Mas o quadro que me rodeava deitado na cama no meio da penumbra do quarto parecia-me algo estranho e deslocado: pensava que era um pouco mais tarde do que a hora que o relógio indicava e tinha a sensação de que já o ouvira a tocar antes. Mas na verdade o despertador só estava programado para as seis ou para as oito. Acendi a luz do candeeiro e pus-me a olhar para a janela: lá fora ainda era de noite e não se via ninguém a circular. Levantei-me e dirigi-me até à cozinha. Ao passar perto do hall de entrada a campainha exterior soou e alguém bateu ao de leve do lado de lá da porta, chamando-me com um sussurro pelo meu primeiro nome. Ainda um pouco confuso com a situação e dada a insistência na minha presença, ignorei um pouco a minha segurança e lentamente abri a porta: três elementos parecendo fardados esperavam-no à sua porta, apresentando-se como pertencendo a uma organização governamental de segurança ambiental e solicitando para que eu os ouvisse. Espantado com esta situação que agora vivia e presenciava, nem me lembrei sequer de me opor à sua entrada: sentaram-se os três no amplo sofá da sala – um dos elementos era do sexo feminino – abriram os fortes sobretudos que os protegiam talvez de frio – e aí eu reparei nas armas que transportavam consigo – e logo foram ao assunto que ali os tinha trazido – eu. Segundo a sua apresentação inicial a terra donde os três vinham não seria a minha, não deixando no entanto as duas de pertencerem à mesma Terra. Logo aí fiquei ainda mais confuso e comecei de imediato a perguntar-me no meio de quem me teria enfiado: já antes tinha deixado em pleno bar alguns amigos bem despachados e não era agora que tinha vontade de os ouvir. No entanto eles continuaram com uma conversa que não consegui acompanhar na sua totalidade, em que falavam dum acidente que iria cronologicamente ocorrer dentro de muito pouco tempo e que poderia ter consequências terríveis para uma das linhas reprodutivas e evolutivas fundamentais do que seria a base da humanidade futura: e eu faria parte dum desses links fundamentais a preservar antes da concretização temporal desse acidente, razão pela qual justificavam a sua presença no local e a necessidade urgente de darem início à sua intervenção preventiva. Apresentaram-se então a Máxima – muito parecida com uma miúda com a qual trocara alguns olhares no interior da Universidade – e explicaram-me de seguida o que tínhamos que fazer. Resumidamente e para não causar muita confusão, o que me diziam e pediam que fizesse era apenas isto:

- Os três elementos ter-se-iam deslocado do seu futuro para o meu presente – que pelos vistos pertenceriam ao mesmo mundo e sequência – com o único objectivo de manter intacto no seu futuro uma ligação aparentemente imprescindível para o funcionamento das suas estruturas e que por diversas ligações e cruzamentos iam dar a um ponto do passado em que ele era o foco assinalado na sequência genética a defender. A Máquina Preservadora havia detectado uma possibilidade de incidente numa das curvas passadas do tempo, como consequência da tentativa de intrusão agressiva no sistema de segurança da base de dados centrais, que se suspeitava ter sido bem sucedida e poder estar relacionada com uma tentativa de eliminação dum ramo inteiro dum grupo de orientadores importantes, tentando criar o caos social e uma janela de oportunidade para a concretização das suas ambições no futuro de onde vinham. Mas sendo ele o ponto vermelho assinalado como o mais que provável foco deste incidente passado, os técnicos vindos deste futuro em perigo e sequencial e desconhecendo a data dessa intervenção intrusiva (que deveria estar mesmo muito próxima), só viam a aplicação dum método preventivo directo e contando com a presença dos dois principais interlocutores, como a única solução viável. Então desisti de vez de compreender o que se estava na realidade a passar e enquanto dois dos elementos abandonavam o apartamento dirigi-me pela mão de Máxima para a cama do quarto. O espaço-tempo de sexo foi de mais e acho que foi a partir daí que cheguei à conclusão que tinha mesmo de conhecer a miúda com a qual trocara olhares na Universidade.

 

Abdiquei provavelmente de muitos momentos de felicidade, mas aquele não sabendo bem porquê, parecera que sempre fizera parte de mim: só que não percebia muito bem se tinha sido pelo momento passado, se por outra coisa qualquer que me sugerisse algo no futuro, que não conhecendo ainda parecia querer dizer algo. O corpo dela ainda se enrolava quente e ávido em torno do meu, tentando puxar-me de novo para a luxúria e para a volúpia contorcionista dos nossos corpo ávidos de contactos e de novas e poderosas sensações, quando repentinamente me desequilibrei, cai da cama e acordei: eram oito horas da manhã.

 

 

Finalmente chegara o dia em que eu previra antecipadamente que caíra no chão proveniente desta cama traiçoeira: os lençóis tinham a tendência para caírem sempre para o mesmo lado – talvez por ser por este lado que na maior parte das vezes entrava na cama – enquanto o colchão se deslocava em sentido contrário, criando uma ligeira depressão susceptível de causar acidentes. E eu tinha caído num deles e batido mesmo que levemente com a cabeça no chão: estendido no soalho sob a acção dos primeiros raios do Sol que atravessavam a janela e que pareciam já querer começar a trabalhar em módulo extra, aquecendo o meu corpo e despertando-me a alma, comecei progressivamente a recordar-me do sonho vivido na noite passada, lembrando-me do tempo passado com a gostosa e simpática “miúda da universidade” e dos seus dois acompanhantes, ausentes da cena principal mas pertencendo ao grupo dela. Parecia tudo tão real neste sonho persistente e incoerente, que a própria realidade ambiental que me envolvia ainda mais me confundia – sentimento causado por uma mistura sem critérios de todos os parâmetros de tempo e de espaço envolvidos, mas nem todos descortinados e compreendidos – dado esta ser para além do mais sempre a mesma, mas com algumas alterações pontuais (de imagens) projectadas. Dirigi-me à casa de banho e fui molhar abundantemente a cabeça para ver se arejava a mente e organizava um pouco mais as ideias: as pessoas começavam já a aparecer nas ruas e a vida regressava de novo à cidade. Pensei em arranjar-me e ir dar um salto até à Universidade. Certamente que os meus amigos me iriam contar o que tinham feito no resto da noite após os deixar, tal como eu estava ansioso por lhes falar desta minha experiência. Foi aí que notei no quarto dois pequenos detalhes que me despertaram a atenção: a cama estava fora do sítio e mais desarrumada do que seria normal e junto a ela, já encoberta pela placa que quase ao nível do chão suportava o colchão, encontrava-se uma pequena bolsa que não era minha contendo pequenos objectos e uma identificação com retrato – a imagem da miúda que agora não me largava.

 

Dos meus direitos pelos vistos ninguém queria saber. Telefonei para alguns dos meus amigos e ninguém me atendeu. Tentei ligar o computador mas a rede apresentava-se sempre “não acessível”. Se antes o cenário ilusório dos sonhos me proporcionara momentos agradáveis e repetíveis, a realidade pura e dura que eu agora percepcionava pouco se importava comigo, muito menos com os meus inoportunos e inconfessáveis desejos: tinha que me desenrascar sozinho e esperar que o guião se melhorasse. Liguei então a TV e apanhei-me a olhar fixamente para uma notícia transmitida por um canal informativo local, que se referia ao avistamento nos últimos segundos de um pequeno meteorito atravessando os céus em direcção ao centro da cidade. Desloquei-me até à janela e pus-me a olhar para os céus: o Sol já iluminava a cidade e em todo o seu redor o céu apresentava-se claro e azul, prenúncio de mais um dia de bom tempo e duma vida agradável. Do lado oposto surgiu um pequeno rasto luminoso, acompanhado dum ruído em crescendo, muito semelhante ao dum avião. Em menos de dez segundos o objecto que atravessava os céus explodiu, lançando dezenas de fragmentos em todas as direcções e provocando múltiplos impactos sobre a superfície que agora atravessava. A sua grande maioria não trouxe consequências significativas para a cidade, mas três fragmentos de maiores dimensões ainda atingiram zonas industriais e habitacionais: dois deles com locais de impacto situados muito próximos um do outro e atingindo uma fábrica abandonada e um bloco de habitações em construção e o terceiro mais grave além de bem visível e que teria provocado algumas vítimas num prédio habitacional no centro da cidade.

 

Fim da 2.ª parte de 3

 

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 01:19

Deixem-nos Viver

Quarta-feira, 01.01.14

Vós que mandais em nome de Deus:

Ide todos dormir!

 

 

Enquanto eles estiverem a dormir deixam em paz e sossego todos aqueles a quem só lhes resta mesmo dormir, dando-lhes ainda uma hipótese de ao ressuscitarem viverem um sonho (ainda que fictício), pelo menos num dos seus (e poucos) momentos neste mundo.

 

O problema é que os pesadelos perseguem os mandantes, mantendo-os em alerta e activos (por delegação provisória de competências) apesar de inconscientes.

 

(imagem – Web)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 15:37

O Coelho

Sábado, 17.03.12

A confiança de todos era total e as brincadeiras não tinham fim

 

O meu amigo coelho sempre foi um animal muito estimado por todos os outros habitantes da terra onde vivia desde o seu nascimento, tendo para além disso um grande espírito de ajuda e de solidariedade, para com todos os seres que o rodeavam e que ele achava serem todos muito importantes, não só para a sua felicidade como para a preservação da natureza que a todos protegia sem distinção. Gostava muito de passar horas a fio a passear pelos campos, observando o mundo irrequieto que o rodeava e a vida saltitando entre os vales, planícies e serras, que formavam num conjunto para ele inconfundível, o retrato do seu belo e apaixonante percurso de vida.

 

As recordações de infância são a luz que nos ilumina no nosso caminho

 

Em criança era um coelho muito atrevido, divertido e que gostava muito de viajar. Os seus pais não o largavam na sua educação, acompanhando-o em todos os seus episódios mais importantes da vida e participando nas suas aventuras como se de seus colegas se tratassem. Como qualquer outro animal, o gosto pela aventura e pelo desconhecido misterioso, levava-o muitas vezes a sonhar com terras fantásticas, onde tudo era belo e natural e onde todos os seres viviam em paz e harmonia, mantendo sempre e sem hesitar, um espírito forte e sem cortes e no entanto puro e juvenil, com amizade, amor e partilha. Ainda recordando em imagens profundas de memória e de cultura de grupo, o seu pai partindo para mais uma viagem, a sua mãe companheira de brincadeiras com as amigas preparando o almoço e ele feliz com a sua presença, nesta bela paisagem oferecida: os sentimentos são como que uma aragem que percorre levemente o nosso corpo, acariciando-nos sempre que acha importante assinalar a sua presença e voltando de novo, sempre que nós queremos e precisamos dela.

 

Os momentos de rutura fazem parte da consolidação da nossa personalidade

 

Na vida do coelho aconteceram coisas boas, más, outras nem tanto como isso, momentos dos quais já nem se lembrava e aqueles intervalos que mesmo sem noção de tempo e de espaço, o moldaram para a vida e para a compreensão do mundo que o rodeava. Qualquer episódio da sua vida poderia ser interpretado como uma fase da sua caminhada de aperfeiçoamento e adaptação ao meio ambiente que com os outros partilhava e deste modo compreender muito mais facilmente, que tudo isto não passava de uma sucessão de acontecimentos imprevisíveis, que ocorrem por acaso e por necessidade na vida de todos e que devemos aceitar por respeito aos outros, mas sempre com a certeza de que só uma atitude de diálogo e compreensão, nos pode oferecer tudo o que o mundo põe à nossa disposição: mesmo um espetáculo imprevisto e negativo – como a destruição do nosso refúgio permanente – pode transformar-se numa nova festa de iniciação e na criação de um novo mundo, como se de um renascimento se tratasse. E disso precisa a alma de todos, mesmo as do coelho.

 

As regras até poderão ser importantes mas não podem ser anteriores ao facto ocorrido

 

Um dia de brincadeira infantil e irresponsável, é um momento de felicidade para qualquer animal, que ficará registado para sempre na sua memória e que terá repercussões importantes na sua relação com as outras espécies, também partilhadas pela natureza. Mas porque será? A partilha de espaços postos à disposição de todos na reprodução de momentos de ócio e de prazer – sem a intervenção de regras exteriores a essa atividade – só pode proporcionar o aparecimento de polos de desenvolvimento e inovação comportamentais, que podem levar a um envolvimento societário progressivo e à criação de novos elos de convivência e compreensão, opondo-se deste modo a um mundo descaracterizado e crescentemente egocêntrico. Ora o coelho não era burro e imediatamente compreendeu na sua inconsciência juvenil – ainda desprovida de ética e de moral – que todos os momentos postos à nossa disposição devem ser sofregamente aproveitados, pois só das emoções fortes, é que resultam os sentimentos profundos. A convivência informal e sem objetivos predefinidos é fantástica e fundamental – como o movimento e o nomadismo são sintomas da presença de vida!

 

O comportamento num espaço depende da interpretação dos sonhos

                                

Os coelhos também sonham, mesmo quando estão a dormir. Os sonhos são um alimento importante para a nossa alma e o nosso corpo é o primeiro a reclamar a sua presença. Sem eles, os sonhos da nossa vida acordada não teriam qualquer interesse, pois o nosso ego não teria a indicação necessária para uma correta escolha do caminho a percorrer, no nosso quotidiano coercivo e por vezes aviltante – pela negação da nossa infância – mas dito real – pela opção do mercado pelo cliente adolescente, pós-armário. Mas os coelhos também pertencem aos sonhos. E este é um dos fatores mais importantes na concretização dos anseios de todas as coisas existentes à face da Terra, face aos acasos da vida, que só o são, porque ninguém os pretende compreender, nem integrar na história verdadeira da sua evolução – o mundo é um Universo Vivo em constante transformação e de aplicação não definitiva.

 

A vida proporciona-nos emoções coletivas como complemento ao vazio solitário da morte

 

A vida dos coelhos passa por diversas etapas. Essas etapas indicam fases de adaptação da vida desse animal, ao meio ambiente que o irá alimentar e socializar. A mais variada graduação da oferta vivencial, é-lhes oferecida como um bem escasso e difícil de reconstruir. Por isso é que alguns afirmam que tal estado e dimensão económica se irá forçosamente sumindo como o nosso prazo de validade, à medida que o tempo vai passando e o nosso corpo se vai desvalorizando. A teoria de mercado poderá estar correta, mas a natureza não é um desses mercados em crise ou expansão, conforme os gostos e intenções, mas e somente o espaço onde tal transação decorrerá: se eu adquiro algo transformo imediatamente esse sujeito de desejo, num mero objeto decorativo e dispensável.

 

(Ilustrações – O Livro das Histórias do Coelho – Tom Seidmann-Freud – Berlim – 50 Watts)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 00:11