ALBUFEIRA
Um espelho que reflecte a vida, que passa por nós num segundo (espelho)
Dois
Dois aspectos de um mundo que está á nossa frente e que nós não queremos ver
Aspecto Um
Beleza simples e ao natural
Namíbia – Foto N.G.
Existem acontecimentos que nos envolvem constantemente e que não reconhecemos utilizando apenas os nossos órgãos dos sentidos.
Mesmo a beleza que nos surpreende pela sua imediata penetração – sem sequer nos deixar tempo para catalogá-la e esmagá-la debaixo de toneladas de adjectivos – consegue pôr-nos noutro nível mais interessante de consciência: para isso servimo-nos dos substantivos.
A abstracção pode ser interessante. No entanto o tempo e o verbo, levados a um nível elevado de interesse e abstracção, acabam sempre por corromper o espaço, a única realidade existente e através do qual toda a nossa vida evolui.
A vida no fundo é muito mais simples, ao contrário do que nos têm contado. Porque será?
Aspecto Dois
Jardim à beira-mar plantado agora submerso
Granada/Índias Ocidentais – Foto N.G.
Vivemos num país de mortos, que se levantam de dia e lá partem adormecidos, cabisbaixos e compenetrados, para o seu emprego remunerado. Trabalho, é coisa que já não há. Para isso teriam que existir mestres e aprendizes e o amor pelo seu ofício, teria que ser o seu único sonho. É claro que teríamos que viver e comer. Mas a arte reside na forma como vivemos e nos exprimimos e o trabalho é apenas uma consequência da alegria do nosso corpo em movimento, que forçosamente se cruzará com outros espaços de trabalho, efectuando todas as trocas necessárias à continuação da nossa vida, no interior do espaço que nos rodeia. O emprego é uma prostituição do sujeito ao objecto, em troca duma miserável e insultuosa, escala de remunerações.
Vivemos submersos num mundo estranho e sem retorno, como figurantes de um teatro sem movimento, sem comunicação e sem espaço ou condições para evoluirmos. Estamos mortos.