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Aquário Modelo TP 13.5 XXL

Terça-feira, 05.02.13

Tara Perdida – Histórias Sobre a Intervenção


(fragmento de registo de observação extraterrestre da Terra realizada a partir de órbitas afastadas e independentes)

 

Texto confidencial recentemente libertado dos arquivos secretos da Trilateral/SS – confederação exterior tendo a seu cargo a manutenção da segurança e estabilidade no planeta Terra – reconhecendo a fragilidade da manutenção da vida no nosso planeta, face à utilização de uma forma desproporcionada e completamente injustificada das suas matérias-primas, podendo levar em última instância o planeta à sua exaustão total e à extinção maciça de muitas das suas espécies, incluindo nessa cadeia interligada e necessariamente interdependente o próprio Homem.


Banco de corais com peixes e outras coisas mais

 

A Maioria – I

O Zé Sidónio e o Zé Paupério – pertencentes à maioria minoritária – eram dois peixes convencidos que habitavam um banco de corais existente num local secreto da costa atlântica portuguesa, considerado pelas autoridades responsáveis pela preservação do património natural um caso raro e susceptível de estudo, não só pela sua originalidade e persistência no tempo, como pela aceitação por parte de todos os outros peixes vivendo nas vizinhanças – pertencentes à minoria maioritária – de um mundo alternativo sem cor nem movimento.

 

A Minoria – I

O Zé Pessoa, o Zé Picareta, a Zé Bela e a Zé Beatriz – admiradores da minoria maioritária – eram quatro peixes que partilhavam o banco de corais com os outros dois peixes convencidos, deslocando-se nervosamente pelo interior e pela periferia do mesmo mundo submarino e simultaneamente aparentando ausência – como se dele não fizessem parte – tentando com a sua movimentação reforçar o poder associado à sua presença e sinalizar a sua solidariedade para com a triste situação dos outros peixes adversários da maioria minoritária.

 

A Assembleia – I

Juntaram-se os quatro Zés e as duas Zés numa das zonas mais bem preservadas do banco de corais onde viviam e tinham montado casa, para analisarem – tal como faziam regularmente – todas as situações importantes que pudessem lá ter ocorrido e suas possíveis repercussões, internas ou externas. Os seis Zés tinham sido escolhidos em eleições livres e democráticas realizadas entre as seis respectivas equipas de apoiantes, tendo as mesmas optado por nomear o seu líder como seu representante natural, para as representar e defender nas reuniões ordinárias da assembleia local.

 

 

A Maioria – II

Como adjunto principal do seu chefe Zé Sidónio – o peixe graúdo da direita, apresentando perto da sua barbatana caudal, uma listazinha laranja – Zé Paupério – o peixinho chato e amarelado nas traseiras, aparecendo nadando sobre o seu chefe – estava sempre atento a todas as movimentos dos restantes peixes da oposição, de modo a prevenir-se e proteger o seu chefe contra todas os eventos negativos que pudessem ocorrer. Nunca esquecendo que também teria a sua imagem a defender, marcando com a sua forte presença e ideias constantes, a sua posição imprescindível ao lado do líder.

 

A Minoria – II

Zé Pessoa – o peixinho branco e vermelho que vemos debaixo da pala do recinto – esperava já há quinze minutos que os restantes peixes comparecessem no local da reunião – como acontecia semanalmente – enquanto ia dando umas largas golfadas de água do mar, de modo a melhor oxigenar as células cerebrais e assim ajudar na apresentação das suas ideias. Zé Picareta e a sua colega Zé Beatriz estavam a chegar vindos de cima – o peixe azul e o peixe às listas – enquanto Zé Bela – o peixe no canto inferior esquerdo – deixara a companhia de Zé Pessoa para uma pequena excreção.

 

Os Peixes – I

Nos dias de bom tempo no mar e quando começava a chegar a hora da maré começar a baixar, era ver junto do esporão que defendia a vila dos efeitos das ondas, diferentes cardumes de jovens peixes a juntarem-se em grandes grupos e a dirigirem-se em alvoroço em direcção ao alto-mar. Acabavam sempre por formar uma grande fila que se estendia ao comprido da costa até junto de uma bóia vermelha, aí se aglomerando em densos cardumes, comunicando entre si: vivendo o seu dia-a-dia em lugares cinzentos e pobres, todos afirmavam vislumbrar o paraíso.

 

 

O Investidor – I

Os viveiros experimentais eram da responsabilidade de uma multinacional ligada simultaneamente à indústria química e ao ramo alimentar, que tinha dirigido recentemente alguns dos seus investimentos prioritários para a reestruturação dos ambientes de reprodução e crescimento em animais vivendo em meio marinho, tendo seleccionado este local da costa atlântica, por sugestão das próprias autoridades portuguesas. A primeira fase já tinha terminado – e os seus resultados normalizados de acordo com a lei – seguindo-se agora a fase de consolidação.

 

A Assembleia – II

Os seis peixes representantes da comunidade residindo no banco de corais, reuniram-se em assembleia deliberativa por volta do meio da manhã e começaram desde logo a discutir o principal tema da sua ordem de trabalhos – vindo como não podia deixar de ser dos lados da oposição: falta de contrapartidas mínimas vindas do exterior e de garantias evidentes de desenvolvimento futuro. Como presidente da assembleia Zé Sidónio demonstrou-se mais uma vez enfadado com a questão, ignorando os gritos indignados dos seus colegas da oposição. Resultado (e mais uma vez): moção recusada.

 

Os Peixes – II

O viveiro ocupava uma vasta área da costa situada ao largo da vila piscatória, estando rodeado por uma protecção electromagnética que impedia os peixes aí residentes de se aproximarem em demasia dos seus limites físicos, sem sentirem um ligeiro e quase imperceptível incómodo físico e uma forte sensação de incerteza, face ao cenário vazio e em tons de cinzento que lhes era oferecido. A vida decorria normalmente nesta rede artificial de recifes e de corais, repleta de grupos numerosos e saudáveis de diferentes espécies marinhas: o único problema residia na falta de perspectivas dos assimilados.

 

 

O Investidor – II

A decisão da implantação dos viveiros na faixa costeira adjacente à vila piscatória, inseria-se num plano mais abrangente de reactivação desta zona – já há muitos anos abandonada e em ruínas – tendo como objectivo final de projecto a criação de todas as infra-estruturas básicas para a edificação de um complexo habitacional seguro, de qualidade superior e auto-suficiente e com capacidade para se expandir ou replicar. O projecto seria financiado com um investimento inicial de 100 milhões de euros e comparticipado maioritariamente a fundo perdido pela CEE (90%).

 

Os Pescadores – I

Uma dezena de antigos pescadores desta antiga vila piscatória da costa alentejana, tinham sido convidados pelo antigo dono de uma fábrica de conservas há muito desactivada, para um trabalho de manutenção e segurança de umas instalações provisórias ligadas à pesca a serem ali instaladas. Como o pagamento e o espaço de tempo de serviço eram muito aceitáveis – apesar das instalações serem constituídas por contentores sem ar condicionado – estes reformados aceitaram de imediato a proposta. Pouco ou nada faziam e até agora só um barco desconhecido parara ao largo da vila.

 

Os Pescadores – II

Os dias sucediam-se na agenda diária da vila, sem que nada de significativo se passasse por lá e sem que os pescadores se preocupassem muito com o que aconteceria no dia seguinte: pagavam-lhes, era o que interessava. Mas o pescador – mesmo velho e reformado – era sempre um pescador e a sua relação com o mar jamais poderia ser apagada. Era vê-los negociando os seus artefactos de pesca com o mar aberto e solidário que diante deles se oferecia, para percebermos a sua ligação profunda com a natureza marinha e com os peixes que aí habitavam: os homens respeitavam os peixes e estes deixavam-se levar nas suas redes.

 

 

O Aquário – I/II

A MCS (Mental Control System) era uma subsidiária da multinacional ligada à exploração e transporte espacial ISC (International Space Corporation), empresa esta dirigida prioritariamente à prospecção mineral – devido à obtenção de elevadíssimos proveitos na transacção de metais – em corpos celestes orbitando na área de influência do Sistema Solar e logicamente – se a evolução do processo assim o admitisse – à sua consequente colonização. Neste contexto o papel a desempenhar pela sua subsidiária MCS restringia-se à simulação de cenários experimentais em situações reais, com garantias de não alterar as condições presentes e estabelecendo directivas pré-definidas e correctas de intervenção futura.

 

O espectáculo decorreu conforme planeado. As câmaras já estavam ligadas e a gravar, ainda a aeronave não tinha arrancado para a pista do aeroporto que a encaminharia para o seu destino. Os técnicos atarefavam-se em torno do aparelho – tentando acelerar todo o processo – de modo a cumprirem integralmente todo o plano de voo. O aquário que iria ser utilizado como recolha encontrava-se já seguro e protegido, enquanto que um outro técnico qualificado pertencente à MCS, trabalhava em exclusivo na composição da simulação temporária de substituição – conhecida como o “remendo sem cicatriz” – que iria aplicar como real em toda a zona que rodeava a vila piscatória. Os pescadores sentiram um flash e foram imediatamente projectados; os peixes foram recolhidos em contentores de alta pressão, sendo postos momentaneamente suspensos; e no fim, tal como planeado, todos regressaram de novo ao Aquário.

 

 

(este fragmento de registo foi descoberto nas instalações de apoio à placa giratória de salto e manutenção GJS.2M13 – entretanto desactivada e reposicionada – durante a investigação realizada na zona periférica do espaço ocupada pelos planetas interiores, à passagem de um objecto intrusivo sem comunicação e não identificado e referido como incidente TE44/X5-EP75; no registo é solicitada ainda e adicionalmente a realização de pesquisa em ficheiro de segurança, sobre entidade PKD1928 – ou possível réplica)

 

 (imagem – google.com)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 14:11