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Todos Somos Objetos

Quinta-feira, 04.02.16

Porque não gostamos do que somos

 

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Será que nos queremos mesmo distinguir dos objetos?
É que de facto vivemos numa sociedade materialista (por nós escolhida) e que só (cada vez mais) despreza o sujeito – desvalorizando-o face ao objeto e elevando este último aos Céus:
De simples objeto (matéria-prima) a referência (moeda).

 

O sujeito é um subproduto imaginado por um objeto que abandonou definitiva e integralmente a teoria do caos (em todas as suas componentes) – julgando-se diferente por optar exclusivamente pela ordem (no caos) desprezando completamente o caos (na ordem). Como se não fossem uma entidade única (real) e absoluta (complementar). O Imaginário é como a antimatéria nunca um resultado de uma ideia qualquer (uma construção mental adotada por estratégica).

 

Se simplificarmos as coisas e olharmos com olhos de ver, a vida nunca surgiu porque esteve sempre presente: só que nem sempre com a forma que nós hoje apresentamos, juntamente com o resto da criação. No resto tudo é igual: ordenado (quando o compreendemos) ou no caos (quando procuramos desesperadamente regras, que definindo-as entre limites, as possamos controlar). O problema surge quando esta espécie única e extraordinária (que nós somos) e num momento imprevisto e experimental do seu processo de evolução, utiliza pela primeira vez um artefacto de alcance nunca visto (no resto da criação) mas sempre presente e à disposição: o artefacto era o cérebro e o nunca visto era a sua capacidade.

 

O Homem. Uma espécie que cria o mundo à sua imagem, se isola na sua ilusão e constrói o que considera a perfeição: um espaço de vida onde a Natureza respeita as regras por ele estabelecidas e onde tudo o que possa contestar essa união perfeita e interior (estabelecendo e interiorizando o Homem como um dos pontos centrais do nosso Universo) é inaceitável por o convidar à extinção. Aceitando à discussão a procura da verdade sobre qual o nosso papel em toda esta engrenagem na qual nos inserimos e sobre a qual até pensamos (mais uma prova da nossa diferença positiva sobre a generalidade que nos rodeia) poderemos estar a negar a nossa posição no mundo e a impedir definitivamente a nossa capacidade futura de o conquistarmos – tornando-nos meramente em mais uma espécie deste viveiro terrestre.

 

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Depicted vs Dissected Heart

(iflscience.com)

 

Achamos que o que nos distingue do resto que existe (aqui na Terra), também será aplicado indefinidamente no seu exterior replicando-se num tempo eterno (parâmetro imaginário utilizado para controlo) e até ao infinito (como seriam os deuses por nós inventados): aceitando que a Terra possa não ser o centro (com o Sol a girar à sua volta) mas com a mesma contendo algo de belo, prometedor, concentrador, evolutivo e fulcral – nós! Substituindo o Sol pelo Homem e com as ideias deste revolucionando as ideias sobre o Universo. Uma manifestação da maior característica demonstrada pelo Homem (autoinfligido por medo) ao longo dos milhares de anos da sua ainda curta existência: sendo o centro de tudo mas temendo ficar só (tal como nos nossos átomos, aprisionando todos ao centro – positivos e neutros – à exceção dos negativos).

 

O que se passa é que na realidade o Universo é todo constituído por Coisas. Uma dessas coisas que nós distinguimos das outras coisas até pelo interesse que nos desperta e por sermos a parte mais interessada nisso é naturalmente a coisa designada como Homem. O que não impede que essa coisa (maior) usufruindo de todas as possibilidades postas por si própria e como por artes de magia (o Divino) à sua disposição (e como é evidente sem qualquer tipo de utilidade para as outras coisas menores), não possa tomar a iniciativa, intrometer-se e até ter um papel extremamente importante na evolução de todas as coisas: como assim ensinaram-me na escola que se deslocasse um pequeno grão de areia numa praia (a minha parte como sujeito), poderia estar inconscientemente a alterar (a minha parte como objeto) o equilíbrio geral do meu planeta.

 

Todos somos Objetos porque não gostamos do que somos.
Ou então talvez gostemos, mas sem sabermos bem como.

 

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"Facial Dissection'' and "Laminectomy"

(iflscience.com)

 

No início eram as coisas. Distribuídas num espaço indefinível e sem limites e que as próprias coisas constituíam (como um) e formavam (como um todo). Entre várias e extensas planícies, entre vales e montanhas, entre buracos e coincidências, as coisas foram-se espalhando construindo estruturas e espaços vazios. E tal qual um caleidoscópio do caos surgiu ordem (das coisas) e da ordem surgiu caos (porque nada se mantem – nada se cria, nada se perde, tudo se transforma). E assim sucessivamente e sem começo nem fim (tal como na nossa vida sem bem e sem mal – mas sendo erradamente interpretada no nosso percurso individual, como um período de espaço de pura abstração temporal). Coisas das mais diversas e com organizações diferentes, no interior do caos ou da ordem das coisas. E talvez com momentos de Inspiração Superior e da mais pobre deformação inferior (onde a coisa que observa pensa estar num milagre, refletindo nesse evento algo mais que a sua imagem – uma espécie de super-coisa): mostrando-se aí o Homem como coisa destacada.

 

Com esta Super-Coisa a dividir-se literalmente em duas e a impor-se espetacularmente no mercado Universal: de um lado o sujeito-super e do outro a coisa-inferior. E no hífen insuspeito estando a bela mercadoria. E assim como sujeitos-super tendo a obrigação de tratar das coisas-inferiores (deste universo Mercantil), assim como de zelar pela mercadoria (restante) e dispondo dela como seu usufruto. Por isso hoje esta coisa aqui aparecida num canto perdido (ou achado) do Espaço proveu-se na sua Essência (a que pomposamente chama Alma) e subiu a outro nível – mais elevado e separado (alienado): de objeto passando a sujeito mas (irreversivelmente) fossilizando na origem. Desintegrando-se. E passando despercebido (mas existente) como tudo num Todo.

 

(imagem inicial: chadecerebro.com.br)

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publicado por Produções Anormais - Albufeira às 01:32